P - Por favor então, começando pelo começo, me diga seu nome completo.
R - Alexandre Mathias.
P - E você nasceu aonde?
R - Rio de Janeiro.
P - Capital?
R - Capital, 14 de novembro de 64.
P - Maravilha. Ah, me diga uma coisa, onde você passou a sua infância, onde foi o seu período de formação?
R - É... eu nasci no Rio mesmo... na capital... na lagoa e fui criado em Inhaúma né? Um bairro na zona norte do Rio de Janeiro.
P - Hu-Hum...
R - Né? Onde eu morei boa parte da minha vida, né? Até os 17 anos quando eu acabei fazendo um concurso para a Aeronáutica, passei... depois passei um bom tempo fora de casa.
P - Hum hum... Mas pensando na Aúma ainda, Aúma é esse o nome?
R - Inhaúma.
P - Inhaúma.
R - É... um bairro pequeno, pouco conhecido até
P - Hum hum
R - É... até as pessoas poucos conhecem é um bairro pequeno na zona norte do Rio.
P - Me descreve um dia regular da sua infância em Inhaúma, ou da sua adolescência, mas enfim, da sua vida em Inhaúma, me descreve um dia.
R - É, naquela época que não tinha, como a garotada tem hoje, os Orkut’s, MSN da vida, que a garotada chega em casa e vai correndo pra ver... checar seus emails né, suas mensagens, seus depoimentos...
P - Hum hum.
R - Aquela época era da gente ir pra escola de manhã, chegar em casa almoçar, ir pra rua soltar pipa e jogar futebol né? Então, acho que a minha vida era como de... da maior parte da garotada então, pensar em final da tarde, noite, brincar de pique... então, acho que tinha uma atividade muito mais é... natural, né, do que talvez hoje em dia né? Uma das preocupações que eu tenho, né, até no nosso trabalho lá com as meninas, né, é de voltar a ter um pouco do que agente tinha antigamente que eu vejo até... as vezes eu visito o local onde eu fui criado, e a pracinha onde eu jogava pelada, né, que era um... que agente chamava de rala coco né? Um campinho de terra e... eu vejo lá, todas as...
Continuar leituraP - Por favor então, começando pelo começo, me diga seu nome completo.
R - Alexandre Mathias.
P - E você nasceu aonde?
R - Rio de Janeiro.
P - Capital?
R - Capital, 14 de novembro de 64.
P - Maravilha. Ah, me diga uma coisa, onde você passou a sua infância, onde foi o seu período de formação?
R - É... eu nasci no Rio mesmo... na capital... na lagoa e fui criado em Inhaúma né? Um bairro na zona norte do Rio de Janeiro.
P - Hu-Hum...
R - Né? Onde eu morei boa parte da minha vida, né? Até os 17 anos quando eu acabei fazendo um concurso para a Aeronáutica, passei... depois passei um bom tempo fora de casa.
P - Hum hum... Mas pensando na Aúma ainda, Aúma é esse o nome?
R - Inhaúma.
P - Inhaúma.
R - É... um bairro pequeno, pouco conhecido até
P - Hum hum
R - É... até as pessoas poucos conhecem é um bairro pequeno na zona norte do Rio.
P - Me descreve um dia regular da sua infância em Inhaúma, ou da sua adolescência, mas enfim, da sua vida em Inhaúma, me descreve um dia.
R - É, naquela época que não tinha, como a garotada tem hoje, os Orkut’s, MSN da vida, que a garotada chega em casa e vai correndo pra ver... checar seus emails né, suas mensagens, seus depoimentos...
P - Hum hum.
R - Aquela época era da gente ir pra escola de manhã, chegar em casa almoçar, ir pra rua soltar pipa e jogar futebol né? Então, acho que a minha vida era como de... da maior parte da garotada então, pensar em final da tarde, noite, brincar de pique... então, acho que tinha uma atividade muito mais é... natural, né, do que talvez hoje em dia né? Uma das preocupações que eu tenho, né, até no nosso trabalho lá com as meninas, né, é de voltar a ter um pouco do que agente tinha antigamente que eu vejo até... as vezes eu visito o local onde eu fui criado, e a pracinha onde eu jogava pelada, né, que era um... que agente chamava de rala coco né? Um campinho de terra e... eu vejo lá, todas as vezes que eu vou, que as vezes eu passo perto quando eu vou visitar meu pai que mora lá perto ainda, eu não vejo nenhuma criança brincando eu fico impressionado e pergunto: “onde estão as crianças?” né? A resposta já sei: em casa no computador, provavelmente... pendurados no MSN...
P - Mas eu quero que você me conte uma história de alguma coisa que aconteceu na sua infância, de alguma vivência na rua, algo que você teve que não aconteça mais hoje. Eu quero que você me dê um exemplo disso que cê falou.
R - Tsc... algo que não acontece mais hoje...
P - Que você fez, participou da sua infância, eu quero que você me conte essa história.
R - Ah... era muito comum agente jogar pelada, né? Chegar em casa almoçar e tal e descansar e três horas da tarde, quatro horas ia pro campinho lá jogar pelada, quando eu era garoto era aquele esquema, né? Cê era novinho... então os mais velhos, né, jogavam pelada na nossa frente e agente ficava esperando um brecha ali pra poder botar alguém, né? Ou ta em número ímpar entrar pra jogar... ou então quem tinha a bola tirava a posição e agente jogava. Mas, é... eu me lembro que não era muito aceito pelos pais... no geral, né, jogar futebol... acho que os pais preferiam que estudasse, né? Como era prática inclusive da minha mãe, que era professora, então queria que eu tivesse muito bem na escola e então, minha mãe me apertava muito nesse sentido e não gostava mesmo que eu ficasse o dia inteiro jogando bola. Mas se deixasse, eu ia jogar bola o dia inteiro, muito embora eu nunca fiquei em recuperação em nada. Mas, é uma coisa que eu me lembro muito, até de hoje, porque eu fugia, né? Eu jogava... não tinha jeito... minha mãe era professora, ficava o dia inteiro fora, né? Eu corria e chegava em casa e ia lá fazia tudo... ou então fazia antes... ia lá jogava... mas chegava em casa tinha que ta tudo pronto porque ela ia ver meus trabalhos tinha que ta legal... mas jogava pelada todo dia Não deixava de jogar. E naquela época ela não se importava porque ninguém se preocupava como hoje em dia... dos pais, né, que leva o menino pra escolinha porque tem que se tornar um jogador de futebol de expressão pra ficar rico e pra garantir a família. Na minha época não tinha isso... nenhum amigo meu de infância, né, hoje em dia... é um cara famoso no futebol... e tinha muito cara que jogava pelada comigo que pô... jogava... jogava muito mais do que muito jogador que agente vê na televisão hoje aí, né, até eu as vezes... hoje com 45 anos... pô.... não sou nenhum craque mas acho que pô... poderia estar na vaga de muitos que eu vejo as vezes pela televisão (risos)... então era muito comum agente fugir, jogar, ficar na rua o dia inteiro, né, vejo hoje a garotada aí preocupada com chuteira e tal e agente... pô se não tivesse aquele chute da época, né, que era o máximo ali era mó satisfação, então... era o sonho, né, minha vida era norteada em jogar futebol... jogar pelada. Hoje em dia tem campo de grama sintética em tudo que é lugar, campo de grama natural bom em tudo que é lugar... escolinha, eu nunca frequentei a escolinha, aprendi a jogar pelada na rua, né, aprendi a jogar, não com o meu pai... meu pai não... esquentava muito com futebol, era mais com meu avô que é fundador de um clube lá no Rio de Janeiro...
P - É mesmo?
R - É, meu vô fundou um clube no Rio de Janeiro e... foi jogador de futebol também, eu nasci, fui criado junto com ele... até minha paixão... futebol e pelo, né, ... no caso... em especial o Botafogo, né, ... deve-se muito a ele também.
P - Qual que é esse clube?
R - É o Evereste, é um clube da terceira divisão, né, no Rio, né. Já foi... teve maior expressividade, hoje em dia caiu um pouquinho... acho que problemas administrativos...
P - Mas tu participava com teu avô? Cê acompanhou... assim alguma coisa do clube, cê acompanhava?
R - A vida inteira desde criança...
P - Sim.
R - Desde quando comecei a andar já meu vô me levava direto pro clube eu tava sempre com ele, né, em todos os jogos eu acompanhava o clube onde ia nos jogos... nos campeonatos no Rio de Janeiro, né, ele chegou até a segunda divisão, né, não chegou a jogar na divisão principal, né, mas eu ia em todos os jogos com ele acompanhava... eu... os jogos né... era como se fosse um clube de coração, muito embora eu seja botafoguense até por causa de meu avô que era botafoguense também, né, até nos jogos do Maracanã meu avô ia. Meu avô era... a vida de meu avô era futebol, né, tenho meu avô como maior ídolo da minha vida, né... como pessoa e como esportista, né.
P - Então futebol cê traz... traz no sangue já, né.
R - No sangue. Eu... minha vida é futebol... eu tenho minha profissão, tenho minha atividade, família, mas minha vida sempre foi... a paixão pelo futebol sempre foi... norteada pelo futebol... televisão em casa (risos)... to preocupado com os canais de filme que eu tenho, to preocupado com os canais que eu tenho de esporte (risos) pra... assistir os jogos durante semana. Primeiro que não era uma coisa muito comum, né, antigamente quando não tinha teve acabo, quando agente tinha era o meu avô... chegava na época de Natal meu avô reclamava: “Pô Não tem um campeonato pra agente ver na televisão”, né. Então acho que eu acabei me acostumando e... isso absorveu de uma forma tão natural que eu sou o que eu sou hoje e gosto muito, o meu negócio é bola. Cês chegarem na minha casa cês morrem de rir.
P - Cê é daqueles que assiste jogo de outro time que nem torce ou se tiver passando um jogo cê assiste mesmo que seja de outro estado... ou?
R - Sempre. Eu sou carioca, né, pô nasci na Lagoa, criado em Inhaúma, moro no Flamengo, né, tenho uma paixão muito grande pelo Rio de Janeiro mas, é... não tenho nenhum bairrismo pelo Rio. Se jogar São Paulo e Penhairol, torço pro São Paulo. Se jogar Grêmio e... porra, Liverpool... torço pelo Grêmio, né, torço pelo time do Brasil seja jogar ______________ e o XV de Piracicaba... Ou esse jogo que ta passando na televisão? To lá assistindo. Eu curto futebol, to lá torcendo, né, torço pro bem do futebol brasileiro... em especial... que agente precisa ta sempre bem, ta sempre na mídia, sempre ganhando pras portas estarem se abrindo, né, pra gente, né?
P - Hum hum
R –... acho que isso é importante, né, são... é lógico... eu gosto vários esportes também mas, acho que o futebol é um grande... entre aspas, é um grande embaixador que agente tem aí pelo mundo, né, abre muitas portas aí pro nosso país, né, pro... pro nosso povo...
P - Sim.
R - Em todo o planeta.
P - Sim. Então eu quero que você tente fazer uma ponte entre como que essa sua vocação ou esse seu talento, afinidade, não sei, esse seu gosto pelo futebol, como que isso chega no seu profissional? Como que isso se liga ao seu trabalho?
R - Tá. Eu... eu... como te falei, eu com 17 anos eu entrei pra Aeronáutica, né...
P - Hum hum.
R - ... muito novo, né, e... passei um tempo fora do Rio de Janeiro tal mas, nunca deixei de lado o futebol. Até... durante um tempo eu... eu quis muito ser árbitro de futebol, né, eu dirigia de forma amadorística muitas vezes... até uma época que eu servi no interior de São Paulo, né, um amigo me convidou, eu atuava... eu apoiava em alguns jogos amadores... a arbitragem dele como assistente, tive convite até pra fazer curso de arbitragem (tosse), não fiz, né, na época, né, e resolvi fazer curso de treinador de futebol, né, depois fiz o curso, né, de... uns cursos na... Aeronáutica... é... fui é... pros Estados Unidos fiz curso treinador de futebol nos Estados Unidos, né, me formei lá, já trabalhei até com várias equipes americanas, inclusive a equipe Olímpica americana, equipe Sub-17 Nacional americana também, represento até mais entidades aqui no Brasil dos Estados Unidos, né, e por conta disso aí acabei desenvolvendo muito futebol e conhecimento até de futebol no mundo inteiro em especial até o feminino até pelos contatos com os Estados Unidos que a prática do futebol feminino é muito grande, lá quando se fala de futebol, se fala em mulher, em meninas praticando o futebol. Lá, como agente aqui o homem tem de jogar futebol, lá menina tem de jogar futebol, é o esporte número um, né. E eu... algum... exame de 13 anos atrás em 96, eu... como tinha muito material que eu ganhava, né, até da própria Aeronáutica... o pessoal ia descarregar, ia jogar fora... eles pegavam muito material que não ia ser mais utilizado e montei um nucleozinho de meninos, né, onde eu morava, né, nesse bairro de Inhaúma, né, então fazia um entretenimento pros meninos, fazia muita brincadeira com as crianças, gincana tal, atividades, né, uma coisa muito informal...
P - Espontâneo?
R - Espontâneo, né, fazia porque tinha muita garotada que tava lá não tinha o que fazer, não tinham Orkut, não tinham MSN, não tinham computadores, né, não tinha internet, né, na época assim e tal. Então eu resolvi fazer atividade com os meninos, e agente tinha... tinha um trabalho bem legal... a comunidade apoiava, ajudava e com isso até que um dia as meninas me chamaram, né, chamaram num canto... falaram “Alexandre, as meninas querem falar contigo ali” e até uma menina chamada Aline, lamentavelmente perdi o contato com ela, nunca mais vi a Aline, né, aí... queria até vê-la, né, no futuro mas nunca mais vi, se mudou perdi o contato com ela, até por que ela... se soubesse dessa história... até onde nós chegamos... conquistamos muitas vitórias legais graças a ela ter iniciado aquilo ali. Aí ela me chamou e falou “Alexandre, as meninas querem conversar com você”. Aí eu olhei aquilo, parecia, né, uma reunião sindical, né, “caramba, eu vou lá ver o que que é”,né,”tão reclamando de alguma atividade que eu fiz, uma gincana, querem melhorar... vamo lá”. Aí... “tudo bem? Oi? Que que eu posso ajudar vocês?”. Aí... elas “não, sabe que é? Agente quer jogar futebol”. Aí eu olhei pra elas e falei: “vocês, meninas, querem jogar futebol?”. Aí elas... uma delas virou pra mim, se não me engano foi a irmã da Aline, a Olívia, “não, se eles... os meninos podem jogar porque que nós não podemos?”. E eu nunca mais esqueci delas falando aquilo ali, se os meninos podem jogar futebol, porque as meninas não podem? Aí eu pensei... “é, taí Vou botar vocês pra jogar futebol”. E ali nos montamos aquele trabalho e tá ali até os dias de hoje e daquele grupinho ali de meninas, né, inclusive uma menina que começou ali com agente, né, que chegou inclusive à seleção brasileira, não através da minha equipe, né, foi através do Madureira, de uma outra equipe que ela passou a jogar no futuro, depois do futebol de campo que o nosso era só informalmente... o time de society, de beach soccer, que agente jogava era futebol de praia. Mas, ela depois teve no Flamengo, quando o Flamengo montou um time, teve no Madureira e acabou indo pra seleção brasileira.
P - Hum hum
R - Ela tinha uma menina... uma irmã gêmea inclusive, que era surda e muda que jogava conosco e que eu acho que inclusive era melhor do que ela (risos). Mas, não foi pra frente, parou de jogar, inclusive é mãe, é casada, né, e tudo, tem filho já crescido, né, mas nós começamos o... o trabalho ali, o negócio foi crescendo tomando vulto, conseguindo parceiros, né, vamos dizer assim, né, nós não tínhamos nem o nome de um time, né, depois passamos a ter, né, porque eu falei “pô Qual o nome do time que agente vai dar?”. E... comecei a conversar com os colegas, tal, “Coloca(?) lá um time de um país”. E demos o nome do time de Azurra, alguém deu a idéia lá... ah gostava muito da Itália, aí botamos o uniforme todo de azul e o nome de Azurra, né. Aí isso aí acabou que eu vim conhecer o... um amigo que é do consulado italiano, aí perguntei pra ele se algum problema usar o nome... o... uniforme da seleção da Itália... é amigo até hoje, ele é delegado do Comitê Olímpico Italiano aqui no Brasil (risos), nós somos muito amigos, já trabalhamos junto e aí cê cria um leque de amizade muito grande também e... com isso aí agente desenvolveu um trabalho que foi, paralelamente, um trabalho técnico, né, um trabalho de desenvolvimento de um _____________, um trabalho social também, né, ajudando meninas, apoiando meninas, né, e... com isso aí meninas de um cunho social acabavam se tornando até expoentes, né, tendo em vista que nós já tivemos meninas, né, desse nosso trabalho que foram para a seleção brasileira, meninas que já foram pro exterior, tem meninas que hoje estão em universidade nos Estados Unidos, né, com bolsa estudos, né, meninas que hoje agente pode dizer: “são felizes através da prática do futebol”.
P - Que bacana. Eu gostaria que você desse uma sistematizada nesse processo que você falou, achei muito interessante, mas, como uma resumida. Cê falou que isso começou a 13 anos não é isso?
R - 13 anos.
P - Foi quando a Aline puxou você de canto, essa... esse episódio de formação do grupo... certo?
R - Hum hum.
P - Então, 13 anos, 96?
R - 96.
P - De lá pra cá, me conta um pouco dessa trajetória com mais detalhes assim, tipo... como foi o começo e como desenvolveu, como... dá um passo a passo aí do crescimento.
R - Ta. Era...era... é... isso é história pra duas horas aí... (risos) nós temos que resumir bastante (risos)... que tem... tem muita...
P - Em sete minutos, vai?
R - Tem muita coisa aí...
P - Em sete minutos?
R - Tá. É... isso como eu disse começou de... muito informalmente, eu nunca ia esperar que um timezinho ali do bairro, né, de dez meninos ali que surgiram... pro cê ter uma idéia eu tinha meninas que jogavam conosco ali inclusive que eram... tinham meninas de 12 anos, tinham meninas de 25 anos, inclusive tinha uma que era... essa de 25 era mãe e tinha dois filhos, né, um dos meninos jogava comigo no time... trabalho dos meninos. Então era... idades variáveis. O negócio foi crescendo, agente foi se organizando... _____ a cidade realmente se organizar, né, e depois aconteceu um episódio interessante, eu acho que ali, talvez, foi a parte que agente iniciou um processo de organização, conheci de um convite de uma amiga que inclusive tem um programa no Rio de Janeiro chamado Bem Forte, um programa, né, uma produção independente, né, e... um programa de esportes, de variedades esportivas de várias modalidades. E... eu fui convidado pra uma festa de final de ano no programa dela e ela tinha um time do clube do Tijuca no Rio de Janeiro, um time forte e ela convidou pra fazer a festa de final de ano num campo de society... eu levei essas minhas meninas Né, que tinha ali... idades variáveis... mas a maioria ali era até 17 anos. Fizemos um jogo amistoso e vencemos o jogo. E eu senti uma insatisfação muito grande por parte dessa minha amiga, por que eu pensei “perdeu a liga”, porque ela não se conformava de ter perdido o jogo pras minhas meninas... mesmo... minhas meninas...
P - Amadoras...
R - Amadoras, né. Ao final do jogo ela veio me procurar... e falou: “Alexandre eu gostaria de fazer uma parceria e de unir o nosso time com você... e eu consigo um patrocínio pra você... agente consegue uniforme, consegue tudo”. Isso aí eu levei o meu grupo pro Tijuca Tênis Clube no Rio de Janeiro, né, é... juntamos com um grupo de meninas... fomos (?) com um grupo muito grande... representando esse programa Bem Forte, o Tijuca Tênis Clube, né, formamos uma parceria, ela conseguia tudo eu só me preocupava em treinar o time, né, desenvolvemos esse trabalho em conjunto, né, é... um episódio até engraçado que eu tenho... ah... minha namorada inclusive joga comigo hoje, né, já namora alguns anos, né, na época ela começou a jogar conosco mas ela já tinha jogado (?) duas vezes comigo, ela ficou zangada porque as duas vezes que ela jogou ela ficou no banco e, segunda ela, uma vez ela entrou e só jogou cinco minutos, aí nunca ela voltou a jogar (risos)... aí ela só voltou a jogar logo depois, né, (risos) e hoje em dia, né, ela ta jogando bem com agente já tem... tem bastante tempo, né, é uma jogadora muito boa... é elogiada por todos, é uma excelente zagueira, né, tem é... já tem bastante experiência no futebol, embora ela tenha outra profissão... seja arquiteta. Mas, ama o futebol, né, joga realmente com muita paixão, né. Então, depois nós começamos a nos organizar e um tempo depois... uns anos depois acabei em 2001 eu recebi um convite pra ir pros Estados Unidos e levar duas meninas, né, é... até 13 anos, né, pra um trabalho que tinha lá... é... numa entidade chamada Nike Sports Foundation, né, e... eles estavam levando é... um treinador e duas meninas de cada... de vários países tipo uma seleção do mundo Pra fazer um intercâmbio nos Estados Unidos com várias entidades. Então... nós passamos duas semanas, uma dessas meninas é... joga comigo até hoje, passou um tempo sem jogar, né, voltou a jogar agora a pouco tempo... já ta na faculdade mas voltou a jogar, né, a Marianinha. Na época ela tinha 11 ... dez anos, dez anos pra 11 anos. E... ali que foi um grande empurrão, né, pra eu realmente ter a motivação pra trabalhar com futebol feminino, que eu conheci o que era futebol feminino nos Estados Unidos e vi o que era possível fazer aqui e vi que era possível transformar as meninas aqui do Brasil, né, em expoentes do futebol e fazê-las felizes através do futebol assim como os meninos são. E eu não via até então horizonte pra elas, né, no futebol, hoje eu vejo, não através de se tornarem só expoentes mas através de seu dia-a-dia... daquela... da prática esportiva, da sociabilização, que tem muitas meninas que eu já ouvi de pais, né, até recentemente... “poxa minha filha era tímida, minha filha não interagia, minha filha quase não saia de casa... só queria saber de computador e ficar pendurada... hoje em dia ela tem novas amigas... tem novas amizades... ela quer praticar um esporte...”. Então agente fica feliz com isso tudo. E nessa época eu conheci um cara muito importante pra mim... meu... nome do meu time... né, time Chigado, agente tem uma organização social também, né, uma instituição de meninas do futebol, né, que é o projeto social paralelo com alto rendimento. Mas o time Chicago se deve a esse amigo Hudson Fort (?) que é dono do time Chicago nos Estados Unidos, que é um cara que... de uma origem social, de trabalhos sociais gigantesca porque desde pequeno... ele é americano mas vem ao Brasil, né, com missões indígenas, né, trabalhando com tribo Carajá... ele diz até que ele começou a falar primeiro o Carajá, depois português, depois o inglês, né, em 2001 eu o conheci em 2002 ele veio ao Brasil... ele sabia que eu tinha esse grupo, que eu desenvolvia esse trabalho... ah... e era tudo fruto de eu arregaçar a manga mesmo... as mangas mesmo... de eu fazer meu trabalho e ele vira pra mim e fala “Alexandre, você gostaria de usar o nome do meu clube e eu te ofereço todo um suporte pra você trabalhar?”. E foi aí que nós conseguimos, né, a... a criar um processo de preparar realmente as meninas pra que desse oportunidade e com isso aí algumas já foram, né, eu tenho umas jogadoras que estão na Europa, eu tenho meninas que estão nos Estados Unidos, eu tenho meninas que tão aqui mas tão estudando... tão fazendo inglês, né, mesmo que elas não se tornem expoentes elas tão tendo ali uma base... é também cultural. E agente acabou se tornando o time Chicago, que é o nome do time dele lá... agente criou aqui um núcleo chamado Time Chicago Brasil, né, agente fez essa parceria que já existe já há sete anos.
P - Bacana. E... tentando concluir cê está satisfeito com seu trabalho?
R - É... não completamente, acho que agente ainda pode fazer muito mais. É... eu procuro sempre me organizar a cada... a cada ano que passa, né, eu sempre to pensando já o que eu vou fazer pro ano seguinte. É... eu acho importante como a cada ano cresce o número de meninas, né, eu... cresço mais, até por questões logísticas, por ser no Rio de Janeiro agente sabe que tem algumas questões urbanas e sociais que impedem agente...
P - Sim.
R –... um pouquinho, né, de... do crescimento, né, eu procuro superar tudo isso, né, procurando locais como por exemplo hoje nós temos dois locais onde nós atuamos que são dois quartéis da Aeronáutica... temos nosso suporte, onde nós temos segurança... pra levar as meninas pra poder trabalhar __________ ficar mais fácil, né, então, agente não... não desenvolve maior... mais por questões logísticas mesmo mas eu fico feliz cada vez mais pessoas se aproximam, cada vez mais pessoas tentam... buscam nos ajudar, inclusive familiares, amigos que se oferecem a apoiar o nosso trabalho é... nos últimos tempos tem crescido bastante isso, né, mãos que se estendem pra ajudar as nossas meninas, né, inclusive até pessoas que já vieram até do exterior apoiando mesmo, né, é... inclusive eu já tive até convite pra uma menina nossa ir morar, jogar, estudar na Inglaterra no próximo ano, né, uma menina de 15 anos, né, que completa 16 no ano que vem, né, agente ficou muito feliz. Então quando eu vejo situações como essas, pessoas se aproximando, pessoas elogiando isso traz uma felicidade muito grande pra gente e ver que o trabalho que agente tem diário é... de uma certa forma ta sendo recompensado, agente fica muito feliz... e pela satisfação delas também, né, é... o... a minha felicidade é ver a felicidade estampada...
P - Certo.
R –... no rosto das meninas, né, seja na prática diária das suas atividades, né, seja na volta pra casa que agente... uma das filosofias básicas é que volte pra casa melhor do que é... do que chegou, melhor tecnicamente no seu treinamento, né, melhor na sua postura profissional, melhor na sua cultura e mais feliz, né, então quando agente vê que ela voltou através... tá estampado nisso, através da sua declaração agente fica muito feliz.
P - Pensando no seu projeto então, essa é a minha última pergunta, eu quero que você me diga qual é o seu ideal... como você... o ideal possível, não uma utopia mas, algo que você acha que seja viável de ser realizado nos próximos dois, três, quatro anos... onde você acha que seria o melhor lugar possível pra vocês estarem daqui a médio prazo, assim, alguns anos?
R - Onde é o melhor lugar pra nós estarmos?
P - É, assim, o... que você consegue... acho que seria o melhor pra realizar, entende? Tipo, não... não o lugar físico mas o que... qual o seu ideal possível pro seu trabalho?
R - Ta. É... eu... eu tento... agente trabalha no nosso ambiente, das meninas que são afilhadas ao nosso trabalho... fazem parte do nosso grupo, em torno de 100 meninas hoje...
P - Hum hum.
R - Ta. É vamos dizer próximo de 110, né. É... mas eu gostaria de ver isso aí... num nível muito maior, né, eu tenho inclusive propostas até com 20 pessoas que já... é se interessaram e agente já... nossa metodologia ... agente aplicar até em outros estados. E eu gostaria de ver isso aí multiplicado e por muito... em todo o Brasil. Por que eu vejo que existe o sonho, o sonho de quê? Da menina... ela jogar futebol... não é só dela se tornar uma profissional em futebol, dela ter espaço de jogar futebol, dela poder praticar o futebol e... muitas pessoas me perguntam até em entrevistas as vezes quando agente... quando agente concede uma entrevista sobre o preconceito, né. Isso na verdade existe, né, eu acho até porque o futebol para o homem ele se tornou muito comercial... então existe uma barreira muito grande porque agente vê, por exemplo, as escolinhas para os homens, os núcleos que existem, os clubes que existem... existem muito formadores de atletas expoentes ou descobridores de talentos pra... pra se transformar em... em milhões de dólares no futuro, né, então não se preocupam muito com a prática do futebol como entretenimento.
P - Hum hum.
R - Né, então. E a menina muitas vezes busca isso. Eu recebo muitos emails de meninas, né, que são formadas ou tão na faculdade querendo só praticar futebol, querendo só jogar... eu sempre digo: “venha até nós”, né, agente não tem processo seletivo nenhum... seja... eu não recebo só gente... meninas oriundas de comunidades, de... ou de projetos sociais... eu recebo meninas de classe E á A. Por que eu acho que a questão social a meu entender, né, não é só a menina que é pobre, eu vejo menina de classe A que procura um ambiente, né, de futebol... um ambiente esportivo porque ali ela ta se sentindo à vontade, que ali ela ta interagindo, ela ta descobrindo amigas que talvez ela não tenha... no outro ambiente que ela freqüenta... sabe? Então acho que essa questão do futebol tinha que se massificar, tinham que haver mais eventos e o evento que eu chamo não é aquele evento que se pensa muito, evento competitivo. Evento de futebol vale um troféu, vale uma medalha... não São eventos de confraternização, eventos que _______ possam promover geralmente (?) a paz.
P - Que bonito. Obrigado Alexandre.
R - Imagina.
P - Concluir isso.
R - Obrigado vocês pela oportunidade.
P - Que isso.
FIM.
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