Infância
Eu Nasci em São Paulo, dia 27 de março no ano de 1965, meu nome completo é Luiz Antônio Farias, meus pais Ildefonso Farias e Maria Auxiliadora da Silva Farias, tive duas irmãs, mas faleceram no primeiro dia de vida, então sou filho único.
Meu pai era chefe de zeladoria e minha mãe prendas domésticas. Morei nessa região que leciono, aqui no Butantã, teve uma época que morei em Osasco, também morei na Rua Sergipe, na Jaguaribe naquela região de Higienópolis, depois fui para Taboão da Serra e nos últimos trinta anos, eu devo estar aqui onde leciono. Talvez o que mais me marque na lembrança dessa minha moradia é o verde, grandes espaços, os espaços para você andar, para você conhecer, para você se divertir, na época que mudei para cá muitas ruas ainda não estavam urbanizadas, não havia às vezes iluminação e o transporte era mais deficitário.
Agora o que lembro com muito carinho é a arquitetura da escola -que ate hoje existe, é o Educandário Dom Duarte, era um lugar de crianças internas que estudavam conosco, ou seja, atendia a clientela externa do bairro e os alunos internos do Educandário controlado pela Liga das Senhoras Católicas. E a escola era muito bonita, cercada de verde, com uma estrada de pedra, era bonita a imagem de você ir para essa escola tinha essa coisa meio sagrada, pelo menos para mim, encontrar o saber, o que mais talvez se destaca, é isso, esta lembrança da escola da infância, não da adolescência.
O que eu lembro da infância que era favorito, gostava muito de ler, leitura era o que eu mais gostava de fazer e televisão, nunca fui muito de jogar futebol, esse tipo de coisa não era muito fã, e gostava de conversar.
Não me lembro como foi o primeiro dia na escola, não me recordo, tem uns flashes, de situações em sala de aula, de professores, de pessoas amigas, mas o primeiro dia de aula não.
Na quinta e sexta série eu me lembro que era uma nissei que dava aula para mim, não me lembro o...
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Eu Nasci em São Paulo, dia 27 de março no ano de 1965, meu nome completo é Luiz Antônio Farias, meus pais Ildefonso Farias e Maria Auxiliadora da Silva Farias, tive duas irmãs, mas faleceram no primeiro dia de vida, então sou filho único.
Meu pai era chefe de zeladoria e minha mãe prendas domésticas. Morei nessa região que leciono, aqui no Butantã, teve uma época que morei em Osasco, também morei na Rua Sergipe, na Jaguaribe naquela região de Higienópolis, depois fui para Taboão da Serra e nos últimos trinta anos, eu devo estar aqui onde leciono. Talvez o que mais me marque na lembrança dessa minha moradia é o verde, grandes espaços, os espaços para você andar, para você conhecer, para você se divertir, na época que mudei para cá muitas ruas ainda não estavam urbanizadas, não havia às vezes iluminação e o transporte era mais deficitário.
Agora o que lembro com muito carinho é a arquitetura da escola -que ate hoje existe, é o Educandário Dom Duarte, era um lugar de crianças internas que estudavam conosco, ou seja, atendia a clientela externa do bairro e os alunos internos do Educandário controlado pela Liga das Senhoras Católicas. E a escola era muito bonita, cercada de verde, com uma estrada de pedra, era bonita a imagem de você ir para essa escola tinha essa coisa meio sagrada, pelo menos para mim, encontrar o saber, o que mais talvez se destaca, é isso, esta lembrança da escola da infância, não da adolescência.
O que eu lembro da infância que era favorito, gostava muito de ler, leitura era o que eu mais gostava de fazer e televisão, nunca fui muito de jogar futebol, esse tipo de coisa não era muito fã, e gostava de conversar.
Não me lembro como foi o primeiro dia na escola, não me recordo, tem uns flashes, de situações em sala de aula, de professores, de pessoas amigas, mas o primeiro dia de aula não.
Na quinta e sexta série eu me lembro que era uma nissei que dava aula para mim, não me lembro o nome, mas a imagem dela vem com flashes de muito carinho, devido a maneira generosa que ela lidava com aquela matéria, é um dos poucos períodos da minha vida- que me lembro onde pedia lição de casa além do que a professora dava, matemática nunca foi minha prioridade, então é pouco por ai que me recordo desses momentos. Também tem uma outra professora que me marcou positivamente, foi a Conceição Cabrini, naquela época era muito pobre, mesmo meus pais sendo preocupados e amorosos o repertório que tinham não seria natural me levarem ao cinema, teatro, então a primeira vez que entrei numa projeção cinematográfica foi Snoopy com a Conceição Cabrini. A segunda vez no cinema também foi com ela, eu assisti Queimada, o primeiro livro e primeira pesquisa numa universidade foi com Maquiavel na oitava serie e até me lembro do xérox da faculdade de ciências sociais da Usp, quando fui tirar meu pai trabalhava lá, a pessoa que estava tirando a xérox falou: "você esta na rede particular?” Para você ver esta lembrança que me percorre até hoje; na época Conceição Cabrini também organizou uma peça de teatro, do Jorge Amado, Capitães de Areia.Este momento foi interessante porque foi um momento da minha vida onde estava muito religioso, bem diferente da minha realidade atual, mas era um momento onde acreditava muito na igreja católica, alguns palavrões, algumas coisas me incomodavam na peça, era interessante, de qualquer maneira essa professora ela me causava questionamentos e esses questionamentos eu acho que no futuro, se fortificaram, encontraram suas respostas e seu amadurecimento, ela é uma das pessoas que realmente... Uma das grandes lembranças que eu tenho da minha infância é que a Conceição Cabrini me proporcionou além de ir ao cinema e ver coisas de qualidade, vi no original Os Saltimbancos, se não me engano foi no teatro da Puc no original? Foi um momento mágico, você imagina uma criança da periferia, que nunca teria-se não fosse através dessa professora, contato com esse universo, o que representava você chegar num teatro, uma arquitetura, um espaço totalmente diferenciado e assistir uma peça com essa qualidade, são fatos que até hoje, tenho flashes muito positivos desta época e a Conceição Cabrini era de historia.
Cotidiano da Escola
Extremamente tradicional nos sentávamos em mesas, que eram para a dupla, de madeira maciça e ferro, sentavam em dupla, se não me engano usávamos a cartilha O Caminho Suave... Caminho suave, ba-be-bi-bo-bu, mas lembro com bastante gosto, havia uma seriedade, sei que me saia muito bem na escola e era um ambiente gostoso, eu gostava de ter lição, fazer a lição, aprender, tinha um excelente relacionamento com a professora e minha mãe era muito presente nas reuniões de pais e mestres, isso é o que eu lembro dessa época. O que mudava era a disposição pelo estudo, entendeu? Talvez minha motivação maior de estar ali para aprender, quanto outros estavam ali para conviver, até para brincar, o que vai diferenciar foi isso, mas com certeza no geral a classe se comportava, faziam atividades sem maiores problemas. Hoje nós temos a questão da violência, então na época, você vai ter as brigas normais, mas não no grau que você encontra hoje.
São vários professores, no primeiro ano foi Dona Edi, que era uma pessoa zelosa com os seus alunos, no segundo ano, essa pessoa, professora especial, Dona Celina, era tão mágica essa relação que ate hoje aos 43 anos me recordo da vez que dona Celina pegou a borracha e me ensinou a apagar, como era um aluno que sempre estava tirando a nota máxima, aquela observação, que eu tinha feito alguma coisa que não foi com zelo total, me marcou até hoje, não no sentido de trauma nem nada, mas na minha relação com ela eu a colocava num pedestal e isto marcou um pouco uma das lembranças, na terceira série dona Ieda também, na quarta serie... Já não lembro tanto o nome da professora, mas no geral a maioria lembranças são boas, vou ter lembranças muito negativas, quase traumáticas com matemática na sétima e oitava serie, apesar de tirar notas excelentes, mas a relação com a professora até hoje é uma relação de ódio.
Vou te falar de um encontro que tive no CEU Butantã, de uma colega que virou professora e falou que ficou bloqueada com matemática, a professora chegava para te humilhar mesmo, se você, por exemplo, tivesse quinze exercícios e o que todo aluno fazia; contava a sua vez de chegar, se começou naquela fileira você vai contar um, dois, ela pulou na décima, quando a professora percebia esse movimento te humilhava, te colocava em outro número para você responder uma outra questão para ver se você realmente sabia ou não e era irônica muitas vezes, a relação dela com a classe; essa minha colega, teve um bloqueio que só foi superado quando a prefeita Marta Suplicy abriu as vagas para a formação de professores que não tinham curso superior e lá encontrou uma professora que afirmava sua capacidade em aprender matemática mostrando que ela tinha capacidade, coisas que essa professora de sétima e oitava serie a tachou de incompetente, quando ela foi pro curso superior, não só se descobriu uma pessoa que tinha capacidade para matemática, como começou a gostar de matemática.
Juventude
Morei no mesmo bairro quando era adolescente, o que muda... Vou ter a sorte histórica de viver no momento o Brasil, a consciência que eu tenho é hoje, na época não tinha essa consciência clara de luta pelos espaços democráticos, peguei uma igreja aqui no bairro marcante na minha idade de doze a treze anos, foi à religião e um catolicismo apoiado na teologia da libertação, apesar de ser um irlandês que comandava a paróquia aqui, era uma pessoa que tinha muita relação com a política da seguinte maneira: “não é possível adorar a Deus se você não ama o próximo”, esse patamar é que me colocava a ação política, de você da organização do bem comum, como requisito para ser um bom católico, nessa época eu tinha curso de testemunha de Jeová de manhã, isso por minha opção porque meus pais não influíram na religião, soube através de colegas na classe, que tinham catequese e eu queria saber o que essa tal de catequese pediu para os meus pais ate me levarem, mas eles não tinham muito interesse nisso, fui com meus colegas e gostei, então toda as duvida das testemunhas de Jeová faziam de sábado de manhã, eu deixava a minha catequista louca à tarde fazendo perguntas, foi nesse ínterim que conheci esse padre Leo, que queria saber quem é essa criança que ficava questionando tanto e fiz a opção pelo catolicismo, isso vai ser um grande diferenciador na minha juventude e minha vida adulta.
Vocação/opções•ai novamente vem uma serie de coisas que se misturam, com o advento da minha vida a religião, eu comecei ler a bíblia, com treze e catorze anos já tinha lido toda a bíblia já... Quando li em Gênesis que contava Adão e Eva, mas puxa, sair da costela que coisa Eu comparava com a escola, fui buscar na biblioteca, meu pai trabalhava na USP, a teoria da evolução das espécies e ao mesmo tempo, que meu pai trabalhava na faculdade de filosofia na época do Fernando Henrique e essa turma toda e ele muitas vezes recebia livros de filósofos, por exemplo, de Rousseau, ta certo que para mim na época era Russeau, mas alguma coisa conseguia captar, me propiciava assim: “poxa no futuro eu quero entender melhor esse cara”, então era uma coisa que teve significado, seja para responder algumas questões oriundas da religião ou questões da minha própria sexualidade que muitas vezes... Um marco também foi Edições Paulinas que é próximo aqui na /Raposo Tavares, já não é mais o inicio da minha adolescência e mais na minha juventude, me lembro que uns quarenta por cento do meu salário era para comprar livro das Edições Paulinas, Padre Zezinho, vários autores religiosos que faziam reflexão de como se relacionar com o próximo, de como ser relacionar com a política, como se se relacionar com a fé, propiciaram uma bagagem muito interessante de vida e de leitura, eu era ávido por ler, isso me recordo muito bem. Aconteceu depois, o padre Leo era uma inspiração, aquela positividade, era época de dom Paulo Evaristo Arns, que eu me lembro com muita saudade, acho que São Paulo deve... O Brasil deve muito a essa personalidade que lutou tanto pelos direitos humanos, ate por isso muitas vezes incompreendido esse padre fazia parte desse processo todo, acabei influenciado que eu teria vocação para o sacerdócio, quando fui para dezenove vinte anos, fiz uma opção por entrar no seminário e optei por fazer um curso de filosofia e tive a possibilidade de ver Maquiavel na pratica, uma das versões dele, o que é o poder religioso na sua pratica, duas coisas eu tive contato, eu tive contado Com essa igreja povo de Deus essa igreja que, em um determinado momento da historia do Brasil foi à voz desse povo sofrido, mas ao mesmo tempo vi a contradição, o que significava obediência e o que significava na pratica os bastidores da igreja católica e de outras religiões e como eu tinha uma crença na virgindade, ate então; quando você começa a perceber essas contradições, você já não tem mais o sustentáculo para aquelas crenças, optei por sair duas vezes do seminário e acabei tendo uma outra visão da religião, acho ainda continuo achando, se tivesse um filho e se fosse desejo dele, acho que muito dos meus valores hoje ate minha entrada no mundo político, foi pelos princípios religiosos, de comunhão com o próximo, a minha abertura que talvez por ser filho único, pudesse transpor para minhas relações pessoais para uma coisa de mimo, ela não aconteceu, acho também por conta da religião; por exemplo, 15 e 26 anos já dava catequese aqui no bairro; com quinze e dezesseis anos já tinha mulher meio que se confessando os seus problemas de relacionamento com o marido; com quinze e dezesseis anos e dezessete anos já tinha jovem, às vezes se abrindo comigo, ele estava pecando, estava se masturbando, então acho que tudo isso me levou não só para a dimensão da leitura para obter respostas tendo em vista minha idade, a religião representou para mim uma porta de entrada de concretização para minha da auto-estima, eu podia ser uma liderança eu podia ser alguém, acho que minha vida seria Totalmente diferente, se eu tivesse que ter apenas o espaço da escola, essa igreja que participei me possibilitou exercitar e descobrir e as minhas capacitações, que são de uma outra ordem, não apenas uma capacitação da ordem teórica, era valorizada a disponibilidade de ação pelo outro e é difícil você encontrar, esses espaços e a religião foi esse espaço, depois a contradição se fez quando fui para o seminário, foi dolorido, mas eu acho que hoje estou mais critico, dezessete anos quando te falei. Eu estava nessa fase, vou para o seminário ou não, me recordo por decisão minha ter queimado o livro de Allan Kardek sobre o espiritismo, quando a Conceição Cabrini, falava na sala de aula alguma coisa mais critica na visita do papa ao Brasil, eu baixava um pouco um cardeal da inquisição, mas ao mesmo tempo em que tinha esse movimento de incomodo, me levava à reflexão, que não se amadureceu naquele tempo, mas com certeza teve conseqüências posteriores, tanto é que estou lembrando, disto hoje, então a escola como espaço de discussão também nessas aulas de historia da Conceição Cabrini, eu acho que elas possibilitaram fermentar questionamentos que não teria no universo do catolicismo, a verdade revelada era para ser aceita, ainda que vivesse em clima de comunidade, onde os leigos eram muito valorizados, então tem esses contrastes, ao mesmo tempo conheci uma igreja que, valorizava a opção pelos pobres e a comunhão com o próximo e o trabalho do leigo, quando eu fui para o seminário o outro lado, a questão da dominação, da opressão, da obediência, as contradições do catolicismo.
Lembro do primeiro trabalho, foi com o artista plástico Mario Gruber, era para ser aprendiz, o professor da Universidade de São Paulo, foi pedir um emprego para ele; o professor tinha amizade com esse artista e fui trabalhar, ate aqueles painéis que tem no metro da Sé, Ele que fez os desenhos, foi à equipe nossa para poder subir lá e fazer os desenhos, na verdade ali só era um trabalho de pião, a obra de arte era somente dele, mas hoje por outros caminhos eu trabalho muito a historia relacionada com a arte, é uma necessidade minha hoje em dia, a arte plástica, comecei uma especialização na Unesp por conta dessa necessidade de subsidiar, a minha formação, que foi deficitária nesse campo das artes.
Pela experiência profissional não, nada a ver, no momento algum abriu as portas para esta questão, acho que talvez mais a experiência religiosa, como um sentido de você, tentar se descobrir qual a sua missão no mundo, gostar do próximo, de gente, isso e as leituras que fazia, agora a arte na minha vida tem a ver com o fato de ser professor de historia e por conta de quando eu comecei há quatro anos atrás a me questionar o que seria um professor de historia, seguiria a historia das mentalidades e ao tomar conhecimento pelos livros de Conceição Cabrini, perceber que tinha uma imagem de um artista, eu não me senti seguro comentar sobre aquele artista, essa insegurança me fez procurar a formação, e ao procurar tive sorte em parar no centro cultural do Banco do Brasil, lá comecei a fazer os cursos, "Diálogos e Reflexões", que é uma antologia muito dialógica, não foi de decoreba nada, mas de inserção de vivencia desses artistas, foi uma discussão em cima dos significados dessas obras e isso eu tento passar para os meus alunos, ser professor de historia, se descobrindo optante para historia das mentalidades e ao mesmo tempo o desafio de que eu poderia colocar de produção de conhecimento nas minhas aulas me levaram ao universo artístico.
Eu acho que primeiro foi aquele exercício de catequese, segundo todas as minhas indagações religiosas, da onde eu vim para onde eu vou e o que sou, levaram para o campo da historia, então eu fiz o teste vocacional no colégio Rio Branco, consegui gratuitamente porque minha tia trabalhava lá e deu três profissões: Rabino ou Sacerdote, qualquer coisa do campo religioso, advocacia, talvez medicina, mas pelas condições econômicas não teria como pagar para fazer uma faculdade de medicina e no final não segui nenhuma delas, quer dizer, segui a religiosa e através da filosofia, eu virei professor de historia, que simultaneamente fui fazer opção por historia.
Formação Profissional
Infelizmente meu primeiro dia eu comecei na rede publica estadual dando aula de geografia. Na qual não tinha formação nenhuma, estava com um emprego já estabelecido, e surgiu no segundo ano da faculdade em Carapicuíba a possibilidade de ser professor substituto, não conhecia Carapicuíba, não conhecia a Vila Creti e a primeira vez que fui de ônibus lá, não imaginava que existisse um local como aquele, como se estivesse na noite do terror no Playcenter, o que tinha era aula de geografia e língua portuguesa, a diretora foi com a minha cara e falou: “Olha você não quer pegar também as de língua portuguesa?” Na época você podia pegar de tudo, quando o professor não aparecesse no estado, eu peguei de geografia, um momento que aprendi muito, tudo que não aprendi de geografia no ensino fundamental e no ensino médio, esse dois anos de professor de geografia, eu aprendi e pegando em Melhen Adans que é um dos autores mais... Então foi interessante em todos os sentidos, me lembro muito bem que eu tremia como uma vara verde na sala de aula tirando essa lembrança, no restante foi mais uma lembrança positiva do que negativa, mas no primeiro dia fui com muito, muito, muito medo. Não demorou dois anos, cai para historia, fui reconciliando, depois que amadureci no seguinte aspecto, seria ético, legitimo eu não tendo a formação de geógrafo dar aula de geografia? Isso foi pela convivência, ate com esse grupo de Conceição Cabrini, nessa reflexão, eu entendi, podia ser bem intencionado, eu era, preparava minhas aulas, mas eu não tinha formação para aquilo e chegou um ponto da minha vida que eu falei, ou vou achar aquilo que fui preparado ou não teria, eu cortei, não me lembro quantos anos eu convivi com historia e geografia, mas pelo menos dois anos com certeza, chegando a ponto do absurdo de uma vez o diretor me convencer, porque uma classe do colegial não ia fechar o ano, tive que dar química, língua portuguesa e historia, foi um momento triste da minha vida, porque fiz a concessão por conta de uma solicitude de um grupo, o grupo foi bárbaro, mas me senti muito mal porque na verdade tapei o buraco com decência, mas nunca com a qualidade que seria de um professor de química, porque não tinha formação, nunca mais na minha vida fiz essa idiotice, acho que era melhor, os alunos ficarem sem as aulas e aprender via comunidade a reivindicar um professor formado para aquilo, do que ter esse tapa buracos, acho que ate mudou recentemente no estado, parece que ultimamente esta mais difícil acontecer esses absurdos que aconteceram no passado.
Alguns alunos tinham consciência disso, minha relação com eles foi muito legal, nenhum momento, vamos dizer assim eu os desrespeitava, então essa minha relação pessoal com eles, possibilitava uma análise deles no seguinte aspecto: “Poxa esse professor esta tentando nos ajudar ali”, modéstia a aparte eu também preparava minhas aulas, havia também nessa classe havia irmãs religiosas, então são varias coincidências, havia poetas e a relação que estabeleci na sala de aula de debate de discussão, facilitava assim esta ação lamentavam-se eles e eu que o Estado estivesse naquele ponto, mas havia uma compreensão que era para eles não ficaram sem o ano.
Porque isso mistura também, quando fui fazer filosofia em si, ela é um ritual de indagações e para respondê-las tem um universo da literatura, da historia, da sociologia, das diversas áreas do conhecimento, eu acabei tendo esses contatos dessas diversas áreas, me ajudou não só a preparar as aulas de historia, mas para a vida, nesse momento que entrei na faculdade de filosofia, eu havia passado em letras na Universidade de São Paulo, porem isso causou no seminário, a seguinte indagação do bispo: “Você esta causado, ciúmes aqui você vai optar ou você desiste da USP ou sai do seminário” eu desisti da USP, mas no tempo que eu fiz alguma coisa na USP, foi interessante, eu gostei, Gloria de Mello e Sousa, Maria Luiza Tutti, Doraci também, foi bem interessante à postura dessas professoras, na verdade seguia uma coisa meio que historia das mentalidades também, as analises iconográficas, as diversidades de fontes históricas, essa passagem pela USP contribui muito com isso, e na filosofa os meus professores de historia, que muito deles também foram ex-padres ou eram padres e dentro de um ambiente da teologia da libertação; num ambiente de pós-diretas, tudo isso possibilitou realmente uma reflexão sobre a história, não foi uma aprendizagem de conteúdos de historia, os autores desfilavam junto comigo como se fossem, soldados para essa luta pela liberdade democrática, foi bem nesse momento que estava na faculdade, se hoje você pega alunos, que no geral das faculdades, muito preocupados com a carreira, em se dar bem na vida, naquela época tive a sorte de ter um pessoal muito preocupado em ser cidadão, em lutar, a palavra é essa para estabelecer uma sociedade mais igualitária, nesse ambiente se misturava, a questão do catolicismo, a formação minha na filosofia, tudo isso vai ter um significado profundo na vivencia de professor de historia e na minha vivencia como ser humano
Minha primeira experiência como professor foi em uma Escola Estadual na Vila Creti, município de Carapicuíba. Era um grupo de alunos e professores divertido, unido, acolhedor, toda sexta feira praticamente não havia aulas, sempre tinha um motivo, sempre os alunos estavam saindo para suas festas, quando não eram eles, eram os professores não tinham alunos para dar aula nas sextas feiras, era uma coisa estranha, para mim, era um grupo... Bom eu gostava, dava medo, porque era um município que nunca havia estado antes, uma região, cidade dormitório, vai dizer assim o atrativo físico não era dos melhores, era a periferia da periferia, dentro de quase um fosso a escola ficava, assim era um ambiente estranho, um ambiente de sobrevivência dentro do imaginário, na pratica tudo bem, foi uma relação sossegada, mas você imagina chegar num lugar totalmente diferente, periférico total, com os manos lá na rua, circulando e você tendo que dar avaliação, você tendo de dar matéria, tendo de cobrar isso, mas no final foi uma relação boa, deixou saudades, a diretora era uma pessoa amigável, a secretaria da escola, a equipe eram um pessoal amigável, foi uma experiência positiva. O normal de vir para uma reunião de pais, era uma comunidade extremamente carente, se você chamasse para a reunião de pais muitos compareciam, mas não poderia determinar que aquela comunidade fosse participativa
Eu utilizava o livro de Melhen Adans de geografia, usava rigorosamente no começo, rigorosamente, você não tinha outras fontes, não me recordo também dessa época, eu me lembro que eu usei de revistas, era claro para mim, sempre foi esse percurso desde o começo, ainda que exercesse atividades a qual não tinha a qualificação na faculdade, como a geografia, a preocupação com cidadania levar alguma coisa como debate na televisão, usar o recurso do jornal, sempre foi algo que eu fiz, havia também a utilização de outras fontes, não tanto como hoje, mas havia essa preocupação, o básico mesmo era o livro, isto é o que era seguido.
Ai era uma coisa interessante, eu era super jovem, já se passaram vinte anos, tinha menos idade do que hoje, eu tinha alunos na classe mais velhos que eu, não é a toa que eu estava tremendo no primeiro dia de aula, você achar o tom de ser solicito com todo mundo e também tem a questão de gênero, como você se relaciona com as meninas, como você se relaciona com os meninos, agora é uma coisa que comecei a aprender naquele ano, talvez ate por machismo, você demonstrar carinho pelas meninas, quando eu estou falando demonstrar carinho dentro de uma normalidade, dentro de uma relação saudável, às vezes proporcionava um incomodo para os meninos também, porque na verdade ali, desde o primeiro ano esta facilidade que eu tenho de... Vou exagerar, nunca tive pretensão de cair na figura paterna, mas era uma autoridade masculina que estava ali na frente, então sentia que eles cobravam esse carinho, não precisava de mesma maneira expressa, mas atenção, ali sentia que eles meninos e meninas tinham essa necessidade da atenção, as meninas têm mais facilidade; dando um exemplo mais concreto, de vim trazer o caderno para eu ver, mas tinha de tomar iniciativa para ir para os cadernos dos meninos, entendeu, e tem aquela disputa de grupo, na adolescência o cara não quer ser o Caxias da classe, mas ao mesmo tem ele quer receber o elogio também, então foi uma aprendizagem mesmo esse primeiro ano de magistério, foi uma aprendizagem muito positiva, me lembro também que nessa questão de carinho que falo, tinha uma senhora que eu dava aula na quinta serie e o filho dela estava comigo na oitava e ela sofria violência, quero dizer, o marido dela o padrasto da menina que estudava também naquela escola, abusava sexualmente da filha dela e eu dei muita atenção, essa atenção foi confundida com outras questões, então ali já comecei a aprender na prática a ter jogo de cintura, de como trabalhar com esses afetos, dentro do universo da escola a questão presente no dia a dia.
Como cheguei no Echegoyen? Foi pelos concursos, primeiro entrei como professor do estado com eu disse lá atrás, eu era o famoso ACT, comecei como estudante, depois me formei, não era concursado na época, não havia concurso na época de quando estava lá e assim quando surgiu o primeiro concurso, quando estava formado prestei na prefeitura e entrei como adjunto, foi na época de Maluf, depois de adjunto passou dois anos, se abriu para titular, então fui para uma escola, depois fiz o curso de informática educativa e por desejar um outro ambiente e não aquela escola que estava acabei optando por vir para cá, também é mais próximo a minha residência, é do mesmo bairro, então há dez anos atrás eu cheguei aqui, já como professor titular e optando como um trabalho mais próximo da minha residência.
Rede de Ensino
Eu acho que mudou, mas tem os paradoxos, por exemplo, a relação professor/aluno, hoje, queira o professor ou não, as relações estão mais democratizadas, o professor não é o único que detém o saber, acho que essa relação é mais questionada, pelo aluno, talvez ele não tenha consciência dos tramites teóricos, mas ele sabe sacar se é um enrolador que este ai na frente, ou se é alguém que realmente tem uma sede de conhecimento e tem esse conhecimento ou tem vontade desse conhecimento, então hoje acho que o aluno, esta mais instrumentalizado para isso, para discutir essa relação, há professores quando entrei no magistério, me recordo que teve uma professora que tinha o maior orgulho de mostrar uma caderneta com cem por cento da classe com notas vermelhas, coisa que hoje já não vejo ate porque é ciclo, mas as pessoas teriam ate um certo constrangimento em afirmar isso hoje como uma qualidade de um mestre, isso é um avanço para melhor, o que é complicado com o estabelecimento do ciclo na rede municipal de ensino e também na estadual, o que era para ser uma experiência extremamente positiva, acabou sendo um meio econômico de você fazer ajuste de economia, como não há mais reprovação, os gastos públicos diminuem, se você antes tinha uma reprovação alta na quinta serie, esse aluno esta passando direto, ai vem o paradoxo, uma coisa que era para ser boa acabou se tornando uma opressão para o aluno mais pobre, porque esse acesso não esta garantido também a qualidade, o grande desafio com certeza, é aliar esse acesso que temos hoje, com a qualidade e a formação profissional, se o magistério não acaba de ser um atrativo financeiro principalmente para a ala masculina, ainda acho essa questão de gênero merecia a ser estudada melhor, porque muitas vezes você percebe professoras, que ainda possuem discurso de que tem um marido, então é uma profissão que precisa ser mais resgatada, em que sentido como profissão e para isso deveria ter uma política publica, de afirmação. salarial, isso deveria ter uma política publica de continuidade, de ações, o estabelecimento do ciclo, o que teria de vir atrás disso, aqui funciona em ciclo a rede municipal, aqui são quatro anos de primeira a quanta e de quinta a oitava são mais quatro anos, só que o professor muda, a atribuição de aula é anual, as cadernetas, o registro ainda tem essa experiência do bimestral, então o que é isso uma ausência de uma política publica, cada gestão muda, uma vai priorizar o CEU a outra vai para a educação comunitária, às vezes você não percebe ações articuladas e permanentes, ela meio que vai ao sabor do governante, isso é muito prejudicial.
Acho que existe uma abertura, mas não há uma concretude, com certeza a maioria esmagadora das escolas estaduais e municipais, não tem um conselho de escola efetivo e grêmio efetivo, então isso não mudou, existe o espaço, o que mudou foi isso, quando comecei a dar aula hoje a já se consagrou que a escola é o espaço da comunidade de professores, alunos e pais, então isso é um ponto comum para os discursos, o problema é efetivar uma pratica, nesta minha escola toda essa região aqui no Butantã, aqui e talvez uma ou duas escolas tem grêmio, ou seja, a maior parte não tem grêmio, conselho da escola todas tem pela obrigação da lei, agora efetivamente uma discussão que os pais discutam currículo, os pais discutam a aplicação financeira, isso só em alguma pouquíssimas que... Isso também falta uma política publica que possibilite a construção dessa participação da comunidade, tem que ser uma política publica, não basta apenas o marketing na televisão, dizendo que a comunidade esta aberta, a escola esta aberta à comunidade, tem que ter realmente uma ação, que possibilite esses pais se apropriarem do espaço, trabalhar as equipes técnicas para que tenha o discurso que possa ser atraente uma reunião de pais, nem sempre o pai vão para uma reunião só para ouvir mal do seu filho ou só para a discussão da relação das notas de filho, precisam também instituir talvez a figura da gestão democrática, que efetivamente isso ainda falta concretizar.
Prática pedagógica
Que nos temos agora nesses últimos anos, isso é muito bom, o programa nacional de livro didático, porque acredito em que seja fundamental para que o aluno leia e tenha o material; o alunado da escola publica, não tem como o aluno da escola particular, ate pela condição de seus pais aquela vivencia cultural, de uma diversidade de um material de leitura em suas casas, eu acho que o livro didático adquire importância, por isso ele tem que ser muito bem selecionado, enquanto você opta pelo livro didático também esta optando pelo um caminho; caminho que eu particularmente nos últimos anos tenho optado é primeiro livros que tenham uma abordagem segundo a linha da a historia das mentalidades e geralmente deslocando o quer era na sétima serie, historia antiga, para a quinta serie, para evitar que você fique apenas no conteúdo, no decoreba, todas essas temáticas estão relacionadas a nossa vivencia, me interessa muito que o aluno perceba as permanências e mudanças; Se você estar discutindo no Egito, como você presenciou na quinta serie aparece uma imagem e nessa imagem o homem, aparece à maquiagem e sai na sala de aula: “Nossa como tinha viado no Egito”, isso já te possibilita, o resgate para discutir a função de gênero o que é ser masculino e o que ser feminino e relacionado com preconceito, então as opções didáticas que eu faço são calcadas nisso essa questão de trabalhar o transversal e Paulo Freire falava de temas geradores, é uma questão que me preocupa, na sétima serie ate no ano passado trabalhava a temática terra, o livro didático da Conceição Cabrini, dava esse recorte, se eu vou estudar Roma, se vou estudar Brasil é nesse recorte, e nesse recorte vou perceber aquilo o que é permanente e aquilo o que é diferente, também vou estar relacionando os diferentes tempos, então se eu estou discutindo o artigo de jornal ou um depoimento de um livro didático falando do movimento do sem terra hoje, alem do aluno tomar conhecimento que esse movimento social é Importante que ele saiba, ele esta tendo consciência do que é latifúndio o que é reforma agrária e ao mesmo tempo em que eu volto para Roma, eu vou estar discutindo a relação com os patrícios, à questão da posse da terra, a questão da propriedade, então nesta ótica que eu procuro desenvolver o curso de historia, nunca, ou pelo menos é uma opção minha não apenas relacionar com uma serie de personagens, eventos e datas. Olha do primeiro ano que dei aula ate hoje, não existiu um planejamento igual, todos os anos eu refaço, não vou me lembrar exatamente o ano, mas um ano que peguei à sexta serie e coincidentemente havia uma campanha da fraternidade falando sobre a criança abandonada, então todo o recorte que eu dei em Brasil foi à cima dessa problemática, desde discutindo a origem dessa criança abandonada, a questão da urbanização, a questão da migração, a questão da reforma agrária, e procurando que esse aluno no final dessa reflexão pudesse fazer alguma ação, nesse caso eles fizeram uma fotonovela, onde faziam o ciclo da criança abandonada e passavam para outras classes, um ano que eu trabalhei com a questão da mídia, eles foram à Rede Vida, que era um programa de debates, onde aquele dia estava falando da telenovela, então toda a temática de historia, por exemplo, se pegava Roma você vai discutir a função da arena, a política do pão e circo, você traz uma reflexão sobre os programas populares que existem hoje e vai discutir a questão do espetáculo, quais são as permanências daquela época, da política de pão e circo e quais são as estratégias políticas que são usadas hoje como forma de dominação e de ocultação nessa relação de opressão, claro adaptando, para uma linguagem acessível a serie que estou trabalhando e é bem interessante o resultado tem sido muito positivo, tanto para eles como para mim, porque cada ano, uma coisa que nunca tinha dado China, nos últimos dois anos eu tenho incluído isso, África nunca havia trabalhado sistematicamente, com o tema África, então isso é um desafio para mim, nesses vinte anos de magistério, se torna necessário uma pesquisa, a motivação renasce, se já tivesse o mesmo programa todo o ano produzido, seria realmente, não só cansativo, mas não seria nada estimulante, agora que percebo o que é muito legal mesmo todo ano acaba tendo questões, que sou obrigado a pesquisar e isso me leva as novas leituras e às vezes a procura de novos cursos, para eu ter a capacitação.
A aceitação dele foi de cem por cento, porque primeiro realmente é um trabalho de grupo, então aqueles que tinham facilidade na leitura e na escrita, ficaram com a redação e aqueles que não tinham essa facilidade, tiveram de ser cenógrafos, fotógrafos, tiveram que ajudar na concepção, porque tinham de fotografar as cenas, tinham de pensar aonde, então, uma das fotonovelas, eles criaram era a mansão dos Albuquerque, a família, que ia se contrapor com a família que vivia na zona rural, a mãe teve de abandonar a zona rural, para procurar emprego pros filhos e um dos filhos vai ser morto, toda a situação eles tiveram de problematizar na escola, por exemplo, um dos meninos que vai ser atropelado durante o assalto, onde foi criada essa cena? Aqui na escola, na frente dela, então foram atrás da diretora para emprestar o carro, ela disse que não, mesmo sabendo que era só para tirar uma foto, não queria atropelar ninguém só por causa de uma foto, eles foram ao publico que estava passando, o senhor de mala, “olha que ótimo, o senhor tem cara de executivo, o senhor vai ficar perto do carro, você vai ser assaltado” todos esses movimentos, eu acho que são interessantes, eles terem o contato com o outro para pedir que aquele cara participar daquela cena é desenvolver a comunicação, alem do conteúdo de historia, habilidades que eles conseguem desenvolver ao exercitar essa fotonovela, seja da comunicação, da solidariedade, muitas vezes há brigas porque alguém faltou, eu tenho de fazer o meio de campo, entre a expulsão, o pelourinho para esse que faltou, não tem meio termo? Porque ele faltou vamos ouvir? Merecia mesmo o pelourinho, mas vamos dar mais uma oportunidade? Essa dinâmica foi muito rica, o que é mais legal, a nossa diretora fala a questão de dar visibilidade, como se sentiram orgulhosos por a escola esta fazendo isso e quando eles viram o resultado, você projetar a telenovela, o ano passado, quando a gente trabalhou na sétima serie, dentro dessa ótica de mídia, reforma agrária, a questão de Roma, nos pegamos à política de pão e circo, só que no ano passado, não quis trabalhar com fotonovela, o que eu quis fazer: programa de radio e coincidentemente era o referendo e coloquei para eles: “Olha agente tem muita defendo, eu me posicionei, mas deixei a liberdade para eles, olha eu particularmente defendo o sim do referendo, quer dizer a proibição de armas no Brasil”, Ok, ai nos fomos para os jornais, vimos os pros e contra e todo os programas de radio, foram: “diga sim a vida” esta foi uma das atividades mais marcantes na minha carreira, porque efetivamente eles ficaram autônomos, eu dei o tema pedi para que fizessem roteiro de um programa de radio e depois me entregaram e foi surpreendentemente, cem por cento dos programas de radio foi de uma qualidade, que foi para a coordenadoria e o programa modelo escolhido para cinqüenta e cinco escolas aqui da região, lembrando que dentro da estrutura do Butantã a escola tida como modelo não é a nossa, por conta de alunos “classe media” e a nosso alunado é caracterizado como pessoal que mora em Singapura, que mora em favela, um publico mais carente, então muito bom você ver isso, melhor ainda quando eles ouviram o programa de radio, melhor ainda quando nos fizemos uma homenagem a eles chamando todos os pais entregamos certificado, porque o espaço da escola também tem que ser um espaço de congratula-se, não apenas de repreender, nos chegamos lá no pátio, falamos para toda a escola que iríamos homenagear essa sétima serie, então foi um dia muito bom, os pais ficaram exultantes, ficaram alegres, os alunos ficaram alegres quando eles viram que o programa de radio, foi selecionado para Ficar como modelo na coordenadoria, ficaram mais exultantes, tanto é que esse ano não são mais alunos e não sou mais o professor deles, mas eles toparam em fazer a continuidade de fazer o programa de radio para esse ano, o que é melhor ainda, que aquilo que nos defendíamos que era sim ao desarmamento. Estávamos no caminho correto, porque depois... ta ai as armas no Brasil, o PCC, então a problemática não era ter arma ou não ter arma é uma outra problemática, isso acho que foi um ganho para eles que perceberam isso, cada um vai perceber de acordo com sua dádiva e capacidade, alguns vão ter um poder de argumentação e relacionar a questão da desigualdade e outros só ter a percepção, “Po é verdade, tem arma, mas a violência não diminuiu”, esta memória espero que no futuro, dependendo do rumo de cada um deles tiverem, em algum momento estiverem lendo uma revista, uma televisão ele possa relacionar, “olha o problema é muito mais em baixo, não é simplesmente a posse e propriedade de um armamento, talvez seja políticas de igualdade social, distribuição de renda, reforma agrária”, então essa é minha expectativa.
Ser professor é exercitar todos os dias a necessidades de ter crenças, porque ate alguns anos atrás, eu sempre fui uma pessoa politicamente posicionada, nunca fui à cima do muro, sempre fui petista, já estou falando sempre fui, então me parece que o porto seguro que eu tinha, minhas convicções política, que não é só o meu porto seguro, eu não estou sozinho nesse barco, tantas pessoas que acreditavam no projeto político desse pais e viram o que aconteceu, exige, você ressuscitar sua crença se eu perder a esperança... Se não tiver a crença, e o que virá? No futuro e no presente? Quando você tem; ontem, por exemplo, eu estava distribuindo mexerica aqui na porta da escola, porque a merenda deles sobrou e os alunos tiveram acesso a isso e vem uma mãe e pede, ate porque não tem isso em casa, talvez um arroz, um feijão, se eu como professor de historia achar que a minha missão; não estou falando em missão em sentido religioso, no meu caso coincide também com isso, mas que acho que ser profissional da história é você ter consciência do seu tempo, é da profissão de ser historiador é ter a esperança, a possibilidade de outro ser, de reconstrução, se ao mesmo tempo ausência desse porto seguro, que eu tinha, ele não existe mais; por outro lado me das possibilidades infinitas de construir alguma coisa, descobrir novas formas de participação, modificar cada vez mais minhas aulas, cada vez mais me reciclar, cada vez mais acreditar que o outro possa ser, para que o outro possa ser, eu tenho de ter uma convicção, qual a minha convicção? Se você oportunizar, os espaços de encontros, de formação o outro vai ser, se eu recordar que só pude ser liderança na igreja porque alguém acreditou na minha pessoa, na minha possibilidade e ali, daquele espaço religioso, se expandiu para os espaços acadêmico e profissional, acho que essa mesma experiência que tive em minha vida pessoal eu tem de proporcionar aos estudantes, e também uma outra crença que eu acho que é necessária que esses vinte anos, a minha formação sempre esta em aberto, sempre a cor... , uma coisa que esta gritando em eu agora ter o domínio da língua inglesa, por quê? Dentro dos trabalhos de historia, surgiu, a possibilidade e desejo dos alunos se comunicar com outros países, então isso vai me empurrar, vai criar a necessidade e eu vou ter que dar vazão a isso a buscar uma forma nisso, concretizar esse desejo, achar que ser historiador é isso, e isso é a alegria de ser historiador; noutro dia eu estava pensando em casa e acho que não vou ser arrogante no que vou falar, é perceber que você fez e faz a diferença na vida de alguns alunos, que lá na hora do voto, aquele cara vai lembrar não da tua indicação política, eu não faço, mas ele vai estar lembrando da problemática social que vive, ele vai estar relacionado com o passado que apreendeu na sala de aula e vai recuperar isso no seu presente, dali vai produzir seu conhecimento, a sua analise e a sua visão de mundo, que pode ate não ser a minha visão de mundo, mas só de contribuir para que esse aluno faça esse exercício, acho que estou satisfeito; e também isso é uma dificuldade, essa pretensão que a gente que cem por cento, de que temos de atingir todo mundo, acho que o objetivo é esse, se colocar a disposição, mas tem a humildade de também aceitar que nem sempre a maturação disso se da em um mês, dois anos três anos, às vezes o clique na pessoa vai se daqui a dez anos, quinze anos, vinte anos.
Pois é qual meu sonho? Os mais imediatos, Concluir o primeiro museu virtual do Brasil, a gente começou, mas falta achar uma parceria para fazer o site, o projeto de três escolas envolvidas, então isso é uma coisa muito gratificante, é um sonho concreto; sonho pessoal estava te dizendo o domínio de uma outra língua, e o sonho talvez eu descobrir novas formas de participação política, já que o meu porto seguro se perdeu, o que eu vou substituir no lugar? Agora o que é legal é que existe essa capacidade de sonhar é que existe essa crença que ainda é possível alguma coisa de modificar, então essa possibilidade que e, anima que me faz sonhar mesmo.
Ai volta na pergunta que você falou o que é ser professor de historia, ao falar da minha vida, como eu gosto de falar, entendeu, e é uma coisa que você percebe no aluno, e esse é o meu desafio, em cada vez em quando eu tenho um insight, no caso assim o estagio para mim foi muito legal, você estar como estagiário, porque muitas vezes eu sinto na aula de historia, a necessidade de um doutor, alguém que veja de fora para você, ate descobrir o obvio, quais óbvios? Que é legal você usar o jornal, você dar voz aos alunos; e às vezes com boa intenção você acaba, seguindo modelos tão tradicionais que você tem que passar um conteúdo, quando na verdade qualquer conteúdo que você vai passar, deve estar articulado com a vida, ter um significado, estão esse exercício de contar minha memória, me faz, recordar a necessidade de possibilitar, isso também ao meu aluno, esse prazer que eu tive, porque sempre eu acho que é uma reelaboração, no mínimo para você reafirmar alguma coisa, mesmo que você não descubra nada, mas só o fato de ontem, estava engraçado na quinta serie A, a professora Flávia de português, como é folclore que estávamos trabalhando, nessa serie especial, com projeto especial, ela começou a contar um causo do pai dela, do avô dela, lá no interior, eles iam visitar que contava sobre o saci, a professora de matemática fez alguns exercícios também em encima disso, usando a matemática, o surgiu novos causos que foram contados e no final eu trabalhei na sala de leitura sobre folclore chinês, quando nos chegamos à sala de professores, não estávamos mais com alunos, a Flávia começou contar e foi interessante, a partir daquele momento, todo mundo que estava ali de professor, parou e cada um começou a contar seu causo, fui descobrir que a Flávia tinha trabalhado na São Patrício, fui catequista lá, enfim, como as pessoas necessitam terem a sua memória, a sua historia e como é gostoso compartilhar isso, daí bateu o sinal e tivemos de dar uma interrompida, parar os causos e cada um tinha seus, então concretamente isso foi muito positivo, recordar essa memória, e obrigado pela oportunidade.
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