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História
Por: Museu da Pessoa, 25 de setembro de 2020

Cultura: Uma vacina da violência

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Cultura: Uma vacina da violência

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Hoje sou considerado mestre, mas se eu for falar dos meus mestres, a primeira é a minha mãe. Ela não te ensina a tocar um instrumento, mas te ensina a reverenciar as coisas, as pessoas, e quando você for tocar um instrumento você leva esse quê de casa, essa educação, um amor, um carinho, uma segurança, uma verdade, que você leva pra vida e se reflete no instrumento. Por isso a grande mestra da minha vida é a minha mãe, ela não me ensinou nenhum instrumento, mas tudo que me foi ensinado está dentro dos instrumentos.

Quando eu era pequeno, a gente ia na roça e meus pais plantavam milho, arroz, feijão, melancia... Quando se ia plantar feijão, eles faziam a cova e um vinha com três caroços de feijão e pegava aqueles três caroços e ia jogando em cova em cova, o outro vinha e ia cobrindo a cova, botava ali e cobria. Eu também gostava muito de acompanhar meu pai, porque onde tinha música, onde tinha festa, lá estava ele. Era muito popular. Era cantor, cantava muito, compunha, um grande artista. E até eu gostava muito de andar com ele...Tinha uma lagoa muito perto da nossa casa, lagoas de água doce. Era um lugar meio mágico, encantado, aquelas águas doces, aqueles sons de mata tinham uma coisa de encantaria.

Eu tinha uma tia, a dona Edite, que virou uma segunda mãe também, ela ía de São Luis pra Cururupu. Ela me conheceu e eu tinha oito anos, e veio perguntando se eu quería ir pra cidade pra virar doutor, pra estudar? Eu na empolgação falei que queria e que queria, e o que era brincadeira acabou virando verdade. E a única vez que eu vi o meu pai chorar foi quando eu fui embora. E essa minha tia ela era empregada doméstica numa casa, eu lembro de uma situação de uma prima minha, quer dizer "Prima" eu era filho de criação do tio dela, era filho da empregada do tio, aí quando ela me viu, virou e falou: "E aí cinzento?" Nossa como eu fiquei triste com aquilo ali. Ou quando eu ía no armazém e o dono atendia todo mundo, e depois de...

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Entrevista de José Antônio Pires de Carvalho – Tião Carvalho

Entrevistado por Jonas Samaúma

São Paulo, 25 de setembro de 2020

Projeto Conte Sua História – Vidas Negras

Entrevista PCSH_HV920

Transcrita por Selma Paiva

P1: Então, muito obrigado, Tião. A gente quer muito agradecer a sua presença.

R1: Muito obrigado, Jonas. Obrigado pelo convite.

P1: E aí, eu queria começar com uma pergunta, até pra... se você quiser até fechar os seus olhos, que eu queria perguntar qual que é a sua memória mais antiga nessa vida.

R1: É... se eu pensar rápido aqui, é... eu tinha o hábito, era criança, muito pequena e eu dormia no braço do meu pai. Eu dormia no braço do meu pai. Isso aí é a memória que eu mais lembro, assim, mais palpável. As outras memórias, elas vêm meio misturado com cores, sons, com coisas assim.

P1: E aí eu queria te perguntar qual que é a cidade e o ano que você nasceu.

R1: Eu nasci em 1955, na cidade de Cururupu, no Maranhão.

P1: E os seus pais e os seus avós são dessa cidade?

R1: Todos. Todos são dessa cidade. Todo mundo nasceu... é, pelo que eu sei, todos nós, né? A tradição da família é da cidade mesmo, eu não sei nem se tem algum, porque às vezes são cidades pequenas, às vezes tem povoados e tal, mas eu acho que não, todo mundo assim, que eu tenho, né, ciência, nasceu em Cururupu. Cururupu é da região ali dos antigos quilombos no Maranhão, né? Então, a gente... nós somos quilombolas, descente de quilombolas.

P1: Beleza. Eu aí queria pedir pra você contar um pouquinho a história dos seus avós, se você souber.

R1: Então, assim, muito eu conheci a minha vó, mãe do meu pai. Foi a única avó que eu conheci, né? Chamava Silvéstria. E ela, eu sei que ela era... nós chamamos de brincante, brincante. Hoje em dia, nós chamamos de mestra, né? Foi uma mestra de... dona de terreiro. Né? Terreiro de tambor de mina, de tambor de crioula, de Festa de São Benedito, São Sebastião. Né? Divino...

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