P/1 - Leona, Bom dia!
R - Bom dia.
P/1 - Vou começar pedindo que você nos diga o seu nome completo, dia, o local e a data do seu nascimento.
R - Leona (Slugger?) Forman, nascida em (Kin Jin?), China dia 29 de novembro de 1940.
P/1 - Leona, o nome dos seus pais e dos seus avós, por favor.
R - O nome do meu pai é (Jacob Slugger?), o da minha mãe é (Raya Anny Slugger?). Dos meus avós dos dois lados ou...?
P/1 - O que que você se lembra, o que que você conheceu deles.
R - Sofia e (Efin?) (Slugger?) do lado do meu pai. (Bluma?) e (Méia?) (Bamarovisk?) do lado da minha mãe.
P/1 - Leona, você também tem irmãos?
R - Eu tenho uma meia-irmã quatorze anos mais velha do que eu por parte da minha mãe e tenho um irmão três anos mais novo do que eu...
P/1 - E o nome deles?
R - O nome da minha irmã é Isabela (Gatis?) e o nome do meu irmão é (Efin?) (Slugger?).
P/1 - Você conheceu os seus avós também?
R - Eu só conheci uma avó, da parte do meu pai.
P/1 - Me conta um pouco como é que foi essa trajetória, como você nasceu na China...
R - Meus avós da parte do meu pai foram para a China em 1905 com a possibilidade do meu avô trabalhar na construção da estrada de ferro que os Russos estavam construindo na China ligando a Transiberiana com o mar, com Vladivostok. Ele teve a oportunidade de trabalho e levou a mulher e dois filhos pequenos. Meu pai tinha dois anos.
P/1 - Entendi. E ele conheceu sua mãe na China?
R - Na China, já na China.
P/1 - Você se lembra, o que que você se lembra da China, da sua infância?
R - Ah, são treze anos que eu vivi lá então são muitas as memórias. Ah, vai ser longo demais para contar.
P/1 - Mas me conta um pouquinho, assim, das mais marcantes.
R - É difícil de, de escolher uma... De outras, eu tinha muitas amizades, eu fui a dois colégios, o primeiro fui em um colégio judaico onde tudo era em inglês, em um Jardim de infância e depois da Revolução Chinesa aquele colégio foi...
Continuar leituraP/1 - Leona, Bom dia!
R - Bom dia.
P/1 - Vou começar pedindo que você nos diga o seu nome completo, dia, o local e a data do seu nascimento.
R - Leona (Slugger?) Forman, nascida em (Kin Jin?), China dia 29 de novembro de 1940.
P/1 - Leona, o nome dos seus pais e dos seus avós, por favor.
R - O nome do meu pai é (Jacob Slugger?), o da minha mãe é (Raya Anny Slugger?). Dos meus avós dos dois lados ou...?
P/1 - O que que você se lembra, o que que você conheceu deles.
R - Sofia e (Efin?) (Slugger?) do lado do meu pai. (Bluma?) e (Méia?) (Bamarovisk?) do lado da minha mãe.
P/1 - Leona, você também tem irmãos?
R - Eu tenho uma meia-irmã quatorze anos mais velha do que eu por parte da minha mãe e tenho um irmão três anos mais novo do que eu...
P/1 - E o nome deles?
R - O nome da minha irmã é Isabela (Gatis?) e o nome do meu irmão é (Efin?) (Slugger?).
P/1 - Você conheceu os seus avós também?
R - Eu só conheci uma avó, da parte do meu pai.
P/1 - Me conta um pouco como é que foi essa trajetória, como você nasceu na China...
R - Meus avós da parte do meu pai foram para a China em 1905 com a possibilidade do meu avô trabalhar na construção da estrada de ferro que os Russos estavam construindo na China ligando a Transiberiana com o mar, com Vladivostok. Ele teve a oportunidade de trabalho e levou a mulher e dois filhos pequenos. Meu pai tinha dois anos.
P/1 - Entendi. E ele conheceu sua mãe na China?
R - Na China, já na China.
P/1 - Você se lembra, o que que você se lembra da China, da sua infância?
R - Ah, são treze anos que eu vivi lá então são muitas as memórias. Ah, vai ser longo demais para contar.
P/1 - Mas me conta um pouquinho, assim, das mais marcantes.
R - É difícil de, de escolher uma... De outras, eu tinha muitas amizades, eu fui a dois colégios, o primeiro fui em um colégio judaico onde tudo era em inglês, em um Jardim de infância e depois da Revolução Chinesa aquele colégio foi fechado e fui para um colégio russo, onde aprendi russo. Estudei, fui alfabetizada em russo e fiquei lá três anos.
P/1 - A língua dentro da sua casa qual que era?
R - Era russo.
P/1 - Russo. E, assim, as suas amizades de criança também eram crianças russas...?
R - Estrangeiras, grande parte estrangeiras, embora no parque que a gente brincasse com crianças chinesas também e tínhamos amigos chineses, mas grande parte era estrangeira.
P/1 - Leona, e aí, você já nasceu lá, né, esse estranhamento da cultura chinesa, o que que...
R - Bom, para mim era natural (risos).
P/1 – Pois é, era natural, não era um estranhamento. Era...
R - Não era um estranhamento, estranhamento era vir para o Brasil. Eu estava esperando ver jacarés no meio da rua no Rio de Janeiro e só vi Papai Noel de shorts com barba branca de algodão. Foi a primeira, assim, impressão. A gente chegou de bonde (risos).
P/1 - Com quantos anos você chegou aqui?
R - Eu tinha treze anos. Eu fiz treze anos no caminho, na África do Sul.
P/1 - E vocês...
R - A viagem foi de quarenta dias de navio.
P/1 - Vocês decidiram como... Como que seus pais decidiram? Eles...
R - O Brasil era um dos poucos países aceitando refugiados imigrantes.
P/1 - Mas era um trajeto... Esse trajeto pela África do Sul, como é que foi?
R - O trajeto era comum, você ia da China para Hong Kong e de Hong Kong pegava o navio e pela África do Sul vinha para o Brasil.
P/1 - Ficou marcada essa viagem, assim, de navio...?
R - Sim, claro, quarenta dias em um navio é, é muito tempo.
P/1 - E você...
R - E nós tínhamos amigos lá e nós tínhamos outras crianças, então... As memórias são boas, não são, não são traumáticas. E meus pais sempre fizeram com que a gente se sentisse bem, seguro.
P/1 - Vocês conviviam também com os chineses também lá, assim, as crianças chinesas?
R - Só na rua.
P/1 - Só na rua. E da cultura mesmo chinesa o que que você guardou? Culinária… guardou, sei lá, artesanato? O que foi uma, o que que era uma coisa que você gostava?
R - Artesanato, culinária... Fui a uma ópera chinesa que durou seis horas, que foi marcante, chamada "História da menina de cabelos brancos".
P/1 - E nesse, nessa saída então você… era o seu lugar, né? Você deixou também para trás o seu lugar de nascimento.
R - Sim, claro, claro.
P/1 - Como é que você sentiu?
R - Aventura, reinvenção. A minha, minha vida é cheia de reinvenções, de novas situações, de adaptação, de… Ah, também acho que me deu o interesse pela comunicação… Entendendo que as pessoas de onde quer que sejam têm os mesmos interesses, objetivos e sonhos. E a ideia de poder fazer com que as pessoas se comuniquem era muito importante. Eu queria ser diplomata, mas no Brasil não podia ser porque não nasci aqui, aí jornalismo foi a segunda opção e foi isso que eu fiz.
P/1 - Mas vamos também, só, só um, um pouquinho... Você contou da ideia dos Trópicos, né, do macaco, era essa mesmo essa ideia que você esperava aqui, meio selva ou, ou...
R - Bem, para uma criança que não sabia nada, não falava português, não sabia nada sobre como é que seria o Rio de Janeiro chegando aqui, a imaginação...
P/1 - Fluiu, né.
R - Até que vimos que não era nada disso.
P/1 - E aí vocês chegaram no Rio de Janeiro...
R - No Rio. Minha irmã já estava aqui, morando aqui. Ela casou e veio para o Brasil e ela já estava aqui para nos receber e nos ajudou a nos acomodar.
P/1 - E para, para onde, para onde vocês foram inicialmente?
R - Nós fomos, nós chegamos na, é interessante, Rua Augusto Severo, que fica na praça Paris. Tinha um edifício lá onde minha irmã estava morando e de lá ela nos levou para a, a... Espera lá, não era hotel, era...como é que se chamava...
P/1 - Pensão?
R - Pensão da Dona Clara, na Siqueira Campos em Copacabana. Depois meus pais começaram a procurar apartamento, encontraram um no Leme e ficamos lá até treze anos depois eu saí para me casar. Fui para os Estados Unidos e fiquei lá.
P/1 - E aí você cresceu, acabou essa fase de juventude no Leme, então...
R - No Leme.
P/1 - O que era o Leme _____?
R - Era uma maravilha.
P/1 - Podia andar sozinha...?
R - Ah, sem dúvida. Podia andar sozinha, namorar, a... Carnaval era uma coisa maravilhosa.
P/1 - Foi uma surpresa o Carnaval também daqui do....
R - É claro, tudo, tudo foi revelação.
P/1 - E sua escola? Para onde...
R - Eu para o Colégio Anglo-Americano e foi lá que eu conheci a Suzane, quando nós tínhamos, eu tinha quinze e ela tinha dezesseis anos. E aí fizemos o científico juntas.
P/1 - E você...
R - E a amizade vem de lá.
P/1 - E o aprendizado de português como é que foi?
R - Tinha um professor Medeiros que vinha lá em casa porque nós chegamos em dezembro, então até março eu, nós tivemos essas aulas em casa mesmo, meu irmão e eu para poder nos comunicar. Em março começamos as aulas já sabendo um pouquinho, mas não muito.
P/1 - Você achou difícil ou...
R - Não, porque eu, eu entrei no segundo ano ginasial com treze anos e achei fácil e fiz uma prova e me permitiram pular o terceiro, o terceiro ano e eu entrei no científico logo em seguida, aos quinze.
P/1 - Bem nova, mesmo?
R - É. Aí, quando eu terminei a universidade, a, a escola, eu queria ir para a universidade e fui falar com o reitor da... Na época era chamada de Universidade do Brasil ao lado da Maison de France. E o curso de Jornalismo era lá, a faculdade de filosofia. E ele disse que com dezesseis anos eu podia fazer o vestibular, mas se eu quisesse fazer o vestibular e se eu passasse ele deixaria. E foi assim que aconteceu.
P/1 - E você foi até o reitor direto, da universidade?
R - Fui com o meu pai.
P/1 - Maravilha.
R - Hum. Que achava injusto eu não poder entrar por causa da idade.
P/1 - E você manteve então a sua ideia de...
R - Aí ele...
P/1 - ...trabalho mesmo com esse canal de comunicação...
R - Isso.
P/1 - ...que você gostaria de _____.
R - Isso, isso. E fiz jornalismo, depois ganhei uma bolsa, fiz jornalismo nos Estados Unidos, né, o Mestrado.
P/1 - Mas aí você fez na Universidade do Brasil...
R - Foi.
P/1 - Finalizou seu curso e depois...
R - Finalizei. Depois ganhei uma bolsa para ir para os Estados Unidos fazer o Mestrado. Fiz o mestrado lá e...
P/1 – E o mestrado...
R - ...em Jornalismo na Columbia, Universidade de Columbia, né. E foi, há... E depois voltei, trabalhei no, no "O Globo" como redatora das notícias internacionais trabalhando junto com o Ricardo Valim. E trabalhei no Jornal do Brasil como repórter.
P/1 - Repórter da, da...
R - Da redação.
P/1 - Redação mesmo de ______.
R - Ao mesmo tempo. Eu trabalhei nos dois.
P/1 - Ah, é? Olha só. Como é que era essa vida de repórter também era isso em que década? De 1960?
R - Foi de...
P/1 - de 1970?
R - Foi de 1961 a 1967, então foram seis anos.
P/1 - Você pegou essa parte também da Ditadura, da passagem da Ditadura aqui no Brasil?
R - Na verdade não. Eu estava nos Estados Unidos estudando quando houve o golpe em 1964.
P/1 - Então você não pegou...
R - Eu voltei em 1964 mesmo, no final. Depois eu tive uma bolsa, 1965 e 1966 eu passei na França, fiz também o curso de jornalismo lá, só uma parte, meu pai estava muito doente aí eu voltei, não terminei o curso lá. Ah, trabalhei de correspondente para o "O Globo" na época, na França, enquanto eu estava lá e... Eu já tinha conhecido o meu marido em 1961 quando eu fui pela primeira vez aos Estados Unidos com o meu pai. Ele tinha ganho o visto para ir para os Estados Unidos. Visto que ele tinha pedido ainda na China. Veio sete anos depois. Então ele queria que eu fosse para ter uma opção, para ter um Green Card e ter uma opção de se eu quisesse ir para os Estados Unidos eu poderia. Nos Estados Unidos estava o único irmão dele, então tinha família e ele também teve a oportunidade de ver o irmão. Depois ele voltou e ficou muito doente, acabou com câncer e acabou morrendo muito jovem.
P/1 - Seu pai. Seu pai era engenheiro também?
R - Não, não, não era engenheiro.
P/1 - Seu avô era engenheiro...
R - Não, também não era engenheiro. Meu, tanto meu pai quanto meu avô eram comerciantes. O meu avô trabalhava como fornecedor de grãos, de tudo que é espécie de grãos para a construção da estrada de ferro, para as pessoas que estavam trabalhando na construção da estrada de ferro.
P/1 – Interessante.
R - E meu pai era importador e exportador e tentou fazer isso aqui, mas era muito difícil, não tinha a língua, não tinha conhecimentos, não tinha amizades. Para ele foi muito difícil, muito difícil.
P/1 - ________________. Leona, então você conheceu o seu marido na primeira ida...
R - Nessa primeira ida à Nova York porque eu fiquei seis meses lá, naquela primeira ida. E ele estava vindo para o Brasil com uma bolsa. Ah...
P/1 - Você pode me dizer o nome dele e o que que ele estudava?
R - Ele se chama Shepard Foreman. Ele ainda não estava estudando antropologia, depois ele foi estudar antropologia, mas ele estava vindo com uma bolsa de fulbright. E foi aqui que ele se interessou pela antropologia e acabou se formando em antropologia.
P/1 - Ele, aqui ele teve contato com a parte de antropologia com o quê? Com os índios... ele estava...
R - Não, ele, ele estava interessado em antropologia social econômica. Ele fez a pesquisa de doutorado dele em Alagoas em Pontal de Coruripe e estudou a Pesca de Jangadeiros e o relacionamento dos pescadores com a economia nacional. Quer dizer, era uma economia marginal se relacionando com uma economia do país.
P/1 – É muito Brasil mesmo...
R - É, ele se apaixonou pelo Brasil desde então e continua apaixonado.
P/1 - Você se apaixonou por ele assim também, foi no primeiro encontro? Como é que foi?
R - Olha, foi... É difícil de dizer porque nós nos conhecemos, nós nos vimos duas vezes em sete anos e decidimos nos casar por correspondência.
P/1 - Mas...
R - Sem ter tido uma vivência na verdade. Nós tínhamos certeza que era isso mesmo.
P/1 - Durante esse tempo...
R - São quarenta e quatro anos.
P/1 – Que beleza! Mas durante esse tempo vocês se corresponderam?
R - Nem isso. Nem isso.
P/1 – Mas o que deu esse estalo?
R - Ele disse que ele sabia do primeiro dia que se ele fosse casar ele iria casar comigo, mas ele não estava pronto para casar então ele fugiu (risos).
P/1 - E depois ele voltou a te procurar...
R - E depois coincidências da vida. Ele estava interessado no Brasil, eu estava aqui ou eu estava lá, então a gente acabou se reencontrando e, ah, e foi assim.
P/1 - Vocês se reencontraram aqui no Brasil ou lá?
R - Nós nos reencontramos, nós nos reencontramos aqui, fomos a uma festa de Carnaval, um baile de Carnaval no Copacabana Palace que os tios dele estavam visitando ele, nos convidaram e foi a primeira vez que a gente saiu juntos. Aí, depois nos encontramos para um Ano novo, uma festa, ele nos convidou, ah, desses, eu acho que foi de 1963 para 1964.
P/1 - Você já tinha o seu, sua bolsa?
R - Eu estava, eu estava lá para fazer essa bolsa.
P/1 - E aí vocês se reencontraram...
R - Nos reencontramos e... Agora, o importante é que nossa vida teve muita coisa em que a gente dependia um do outro. Ele como antropólogo, nós passamos um tempo na Inglaterra com a nossa filha que já nasceu, com sete meses fomos para a Inglaterra. Passamos um tempo lá onde ele estava fazendo Pós-Doutorado em Economia. E depois acabamos indo para Timor Leste já com dois filhos de dois anos e de quatro anos e meio. Passamos quinze meses em Timor Leste, né, na época.
P/1 - Mas Timor Leste qual era, qual foi a razão...?
R - Ele estava fazendo pesquisa antropológica.
P/1 - Dentro dessa mesma ideia de economia...
R - Não, lá era mais...
P/1 – ...paralela como no Brasil?
R - Não, lá era mais sobre, ah, as conexões entre as pessoas, as, os laços e as obrigações e os deveres que as famílias e as Clãs tinham uma com as outra. Era mais uma, uma comunidade mais... Não sei qual palavra usar, primitiva não seria o caso porque eles eram extremamente sofisticados em termos da cultura deles, mas era uma cultura muito diferente da nossa, então para desmembrar isso foi uma epopeia.
P/1 - O que que era Timor Leste nesse período?
R - Era uma colônia, foi uma colônia portuguesa...
P/1 – Ele sempre foi muito esquecido, né.
R - ...totalmente esquecida. A terra logiquinha, que eles chamam, chamavam. E foi na época que a gente estava lá eles abandonaram, os portugueses saíram por causa da Revolução dos Cravos em 1964, em, em 1974, desculpe, em Portugal. Os portugueses saíram e deixaram a população a se descobrir, a formar partidos políticos, a resolver problemas internos e, e foram invadidos pela indonésia e duzentas mil pessoas foram mortas. Foi uma tragédia muito grande.
P/1 - Mas isso aconteceu...
R - Nós já tínhamos saído.
P/1 - Já tinham saído, mas vocês passaram dois anos lá...
R - Quinze meses.
P/1 - E foi complicado para você com duas crianças pequenas também? Como é que foi isso?
R - Foi, mas isso é uma história que vai levar (risos) muito tempo para contar. Foi difícil. Em retrospecto foi interessante, mas se eu faria isso de novo? Provavelmente não.
P/1 - Você que tem aquela coisa da idade que também tem esse lado de aventura para, mesmo para enfrentar uma situação assim também, né. Você era corajosa.
R - Claro, claro, claro. Claro. Não, não duvidamos nenhum minuto.
P/1 - E de lá vocês foram para onde?
R - Olha, de lá nós fomos, ah... O primeiro emprego do meu marido era na Universidade de Indiana e quando nós nos casamos eu fui lá. De lá a nossa filha nasceu em Indiana. De lá nós fomos para a Inglaterra, da Inglaterra voltamos por Chicago onde ele ensinou na Universidade e tivemos nosso segundo filho. Eu tentei trabalhar como correspondente, tentar fazer história oral da, sobre a comunidade que viveu na China. Encontramos cinco famílias em Chicago. Eu conheci uma pessoa também nascida de lá e nós entrevistamos essas cinco famílias para contar a história da vida deles na China. De Chicago nós fomos para Timor Leste, de Timor Leste não voltamos para Chicago, fomos para Michigan, onde o meu marido também foi ensinar. Eu trabalhei em uma organização de intercâmbio estudantil chamada “Use for understanding”, onde eu fazia a parte de publicações de edição de materiais de informação. De Michigan nós viemos para o Brasil e passamos três anos no Brasil. Meu marido com a Fundação Ford, ele era conselheiro em Ciências Sociais da Fundação, em termos da escolha de projetos que eles apoiavam aqui. E eu junto com uma amiga minha, ah, começamos um negócio. Nós... Ela um dia me telefonou dizendo: "Onde é que eu compro um bom papel de carta?" Eu disse: "Em Tóquio, Roma, Nova York, Londres... No Rio de Janeiro você não encontra". Aí ela disse: "Vamos fazer o nosso?" Então começamos um negócio de fazer papel de carta. Ela desenhava, ela era designer e eu ajudei na estruturação do negócio e na venda. E a gente acabou criando uma coisa chamada Ffolio, com dois Fs e acabamos vendendo esse negócio para outras duas mulheres que continuaram um pouquinho, hoje em dia não existe mais. Mas foi na época em que no Brasil começou a surgir papel de carta, com o (Marie Paper?), como a...
P/1 - De uma qualidade melhor.
R - De uma qualidade melhor. Aí voltamos para os Estados Unidos, dessa vez para Nova York porque a Fundação Ford convidou o meu marido para vir à Nova York. Eu estava fazendo quarenta anos e decidimos que essa era a minha vez em vez de estar me desenvolvendo horizontalmente, que a minha carreira também precisava ter uma, uma possibilidade vertical. Ah, e, nossos filhos já estavam com nove e doze anos...
P/1 - Me diga o nome dos seus filhos.
R - Alexandra, é nossa filha, Alex e Jacob, nosso filho. Alexandra é fotógrafa, é escritora e hoje em dia está fazendo traduções de português para o inglês. Inclusive...
P/1 - Ela mora em Nova York?
R - Ela mora aqui.
P/1 - Ah, mora aqui.
R - Ela se mudou para cá dois anos, faz dois anos e meio.
P/1 - E seu filho em Nova York?
R - Não. Ele mora em Los Angeles, ele é roteirista de cinema e está em Los Angeles.
P/1 - Então, voltando ainda, de novo em, também em Nova York você decidiu se dedicar à sua carreira? ___________.
R - Exato. Eu comecei a procurar trabalho na imprensa. Para mim era mais difícil porque inglês não é a minha língua nativa, na verdade eu não tenho uma língua nativa e... Pensei na ONU, pensei que seria um lugar onde as minhas experiências em vários continentes, em vários países poderiam me ajudar. E depois de muitas tentativas e muitas entrevistas acabei encontrando uma vaga no Departamento de Informação Pública, na conferência sobre novas e renováveis fontes de energia, que iria ser organizada no Quênia e eles estavam precisando de um program officer e me contrataram por nove meses. Eu fui para Quênia e a conferência foi super interessante, produzimos muito material de informação pública, produzimos material local e a ONU me ofereceu um contrato permanente e eu aceitei. Trabalhei na área de avaliação e era chamado Program Planning and Evaluation Unit. A gente fazia orçamento e programação da, do trabalho do Departamento Informação Pública e depois avaliava o material produzido por vários departamentos, vários escritórios da ONU. E trabalhei...
P/1 – Vários escritórios ______ pelo __________.
R - E vários escritórios que usavam esse material para informar o, o, os povos do mundo, the people of the world, sobre o que que a ONU estava fazendo. A ONU tem cento e setenta e tantos assuntos por ano, que são discutidos na Assembleia Geral, em cinco comissões, cinco comitês. E os governos discutiam de um lado o secretariado dava o apoio e dava também a parte de pesquisa, a parte de organização de conferências e tudo isso. E a... As ONGs trabalhavam junto com o Departamento de Informação Pública para conseguir informação sobre os assuntos de interesses de cada uma delas. Tinha mais de mil e seiscentas ONG associadas com o Departamento e eu trabalhava em todos os assuntos que a ONU estava interessada. E semanalmente a gente organizava um briefing para as ONGs, para eles terem a oportunidade de fazer perguntas tanto aos representantes dos governos como a, ao secretariado encarregado do assunto específico.
P/1 - E esse contato com as ONGs você chegava a ter, por conta da ________ também?
R - Sim, eu acabei sendo chefe do, da sessão das ONGs do Departamento de Informação Pública durante uns cinco anos, então o meu contato era muito direto. E foi lá que eu vi como as ONGs tinham a capacidade, o talento, a flexibilidade, o "jogo de cintura" que nem os governos, nem o setor privado tinham. A, a rigidez é muito maior nos outros dois, eles são muito mais estruturados e muito mais inflexíveis. E a falta de...
P/1 - ________ dizer que ainda no nascimento desse, desse tipo de organização nessa época que você começou a trabalhar quanto a isso? Elas estavam já se organizando ou já era, era comum esse tipo de organização?
R - Qual?
P/1 - As ONGs mesmo.
R - Ah, já eram.
P/1 - Já era bem estruturada...
R - Olha, a ONU, a ONU deu um impulso tremendo no desenvolvimento das ONGs do mundo inteiro com as grandes conferências que começaram com o meio ambiente nos anos 1960, depois a Conferência das Mulheres foi a mais forte que realmente mobilizou pessoas para se formarem ONGs no mundo todo para defender os direitos da mulher.
P/1 – Meio ambiente foi em 1972, né, no Estocolmo...
R - Mas antes foi em... É isso, isso. Depois veio para o Rio em 1992, inclusive trabalhei nessa conferência aqui também.
P/1 - E essas ONGs que você tinha contato nesse período eram mais...
R - Do mundo todo.
P/1 - Não, mas ligadas a que área?
R - Todas as áreas.
P/1 - Todas as áreas?
R - Todas as áreas. Então a gente procurava toda quinta feira escolher as áreas de interesse para o maior número de ONGs para que elas pudessem ter acesso direto à informação sobre o assunto. De onde estava andando, como estava andando, o que estava precisando... E essa impossibilidade de participar nas deliberações da ONU até, eu acho que foi com a criação, agora o ano eu não vou me lembrar, mas com a criação da Corte Internacional da Justiça, onde as ONGs, na verdade, participaram na criação da própria Corte. A primeira vez que as ONGs e os governos se falavam diretamente para criar um órgão internacional de justiça...
P/1 - Foi um reconhecimento do seu trabalho...
R - Era o de... era a Corte Internacional de Justiça. Isso.
P/1 - Foi um reconhecimento do trabalho também, né, quer dizer dos ____________.
R - Claro, claro. E com o tempo as ONGs ficavam mais e mais envolvidas, geralmente em fóruns paralelos. E vai ser interessante ver em 2012 quando vier aqui a conferência depois de vinte anos... Vinte anos atrás o fórum paralelo era na, no aterro.
P/1 - No Aterro do Flamengo.
R - É, vamos ver como é que vai ser este ano, no ano que vem, se vai ser mais próximo ou se vai continuar sendo em várias partes da cidade... Não sei. Não estou, não estou envolvida.
P/1 – Difícil você ficar de fora, né. Mas enfim, desse período desse trabalho todo na ONU, o que que foi mais... Um trabalho seu que foi mais, que te deu mais satisfação, que te desafiou mais, assim...?
R - Eu falarei de três: Trabalhar com as ONGs foi muito bom porque conseguimos fazer coisas que antes não eram possíveis em termos de criar essa comunicação entre os três componentes do governo, do próprio secretariado e das ONGs, às vezes o setor privado; O segundo foi quando eu fui convidada em 1994 para chefiar a parte de informação pública na África do Sul com as primeiras eleições que a África do Sul iria ter, a ONU era uma observadora e nós produzimos muito material sobre as eleições, sobre o processo e também nós observávamos as eleições feitas pelos sul-africanos, quer dizer, as eleições foram feitas pelos sul-africanos. Conhecer Nelson Mandela e ver aquele primeiro dia de eleições às cinco horas da manhã com o sol nascendo tinha, assim, um, uma fila de gente para votar que já começou na noite anterior, no dia anterior. Foi muito emocionante porque você sentia que você estava presenciando o acontecimento da história, a feitura da história, então foi extremamente empolgante. Foi também difícil porque a segurança era muito precária e a gente estava em uma situação de muita proteção, mas a satisfação de ver as eleições acontecerem, do Apartheid cair, da, da democracia entrar na África do Sul foi... E o Nelson Mandela, né, que...
P/1 - É extraordinário.
R - É extraordinário.
P/1 - Mas vocês tinham o temor de...
R - Tinha, tinha...
P/1 - ...alguma represália?
R - ...tinha, tinha, tinha, tinha... Todo dia. E a terceira, ah, história que eu levo no coração da minha experiência da ONU me ensinou que se você acredita em alguma coisa e você quer que essa coisa aconteça, a persistência é essencial, não só persistência, mas como a mobilização ou o engajamento de pelo menos duas pessoas em um nível mais alto que apoiam a ideia é crucial, que aí dá para fazer. Foi uma coisa engraçada, em 1995 eu trabalhei como porta-voz do presidente da Assembleia Geral porque eu falava português, ele era português e durante um ano eu assisti, dei assistência a, de porta-voz para...
P/1 - Qual era o nome dele?
R - Diogo Freitas do Amaral. Era um professor, jurista, uma pessoa muito imponente. Foi muito interessante o ano. Mas eu vi neste ano, que era também o cinquentenário da ONU, como aconteceu muita festa, tirou-se uma fotografia lindíssima que, com cento e noventa e dois países representados. Era um bafafá muito grande em Nova York, mas quem é que se lembra da declaração dos cinquenta anos da ONU? [pausa] Ah, achei que era um desperdício muito grande de esforço, de recursos, de... E quando veio a Assembleia Geral do ano 2000 que era a minha última. Ah, na ONU você se aposenta… a palavra aposentar eu acho horrível, em espanhol, em russo a palavra é jubilar-se, então eu não me aposentei, eu me jubilei. Mas eu tive que me jubilar porque no seu aniversário, aos sessenta anos, a sua carreira na ONU termina e isso é com todo mundo e eu sabia que isso iria acontecer e era o meu último ano na ONU. E um dia conversando, no começo daquele ano, conversando com um amigo nosso que era embaixador do Canadá eu estava dizendo que seria tão bom se a Assembleia Geral do ano 2000 deixasse um legado, que deixasse algo mais do que uma fotografia com todos os presentes. E aí ele me perguntou: "E o que que você faria?". Eu não tenho a mínima ideia, são essas coisas que acontecem eu não sei como, que não sou advogada, não entendo muito de tratados e convenções, nunca tive muito contato com o Departamento Legal da ONU, direto, mas de algum lugar me veio a ideia de dizer isso para ele. Eu disse: "Se a gente aproveitasse esse ano de criar uma oportunidade para todos os países usarem os três dias da Assembleia Geral que eles estarão em Nova York de assinarem, de participarem, de ascenderem à uma das convenções da ONU, isso deixaria um legado”. Porque o que que a ONU representa mais do que tratados internacionais? Se você acordar de manhã e começar a botar a roupa, tudo o que você faz tem a ver com um tratado, tudo.
P/1 - Por exemplo?
R - Por exemplo, você vai usar o telefone, tem o tratado da telefonia internacional. Você escovar os dentes, tem o tratado do uso da água de preservação da água, de a água não ser poluída. Ah, você põe roupa, vem de algum país, tem tratados que regem as relações de importação e exportação. Você usa o açúcar, tem um tratado sobre o açúcar. Você usa petróleo, tem um tratado sobre o petróleo. Você abre o rádio, tem um tratado sobre satélites... Tudo que você fizer tem um tratado que rege, mas ninguém sabe disso e ninguém fala disso. Aí eu pensei, se mais países fizessem parte desses tratados vários o mundo seria mais organizado e o direito internacional seria mais respeitado. Ele achou a ideia ótima, aí disse: "Por que que você não fala com o seu chefe e vamos ver se dá para fazer isso”. Para que os países vindos para a Assembleia de 2000 pudessem ascender, assinar, ratificar um tratado, qualquer que seja. Aí descobri, fui saber que tem setecentos e tantos tratados depositados com o secretário geral na ONU e que o Departamento Legal que tem uma sessão de tratados faz com que os países aos pouquinhos vão se comprometendo, vão... Porque para você ratificar um tratado, o país tem que incluir esse tratado na constituição. Descobri coisas como o tratado, o convênio, a Convenção da Criança, Internacional da Criança, a que se chama Criança e Adolescente só tem dois países que não, não fazem parte.
P/1 - Quais são?
R - Adivinha? Somália que não tem governo então não, não pode, até hoje e os Estados Unidos.
P/1 - Imagino.
R - E tem outros tratados. Tem quatorze de direitos humanos, tem todos os outros que eu falei sobre uso de espaço, uso de satélite, uso de disposição de material nuclear... Tem tratado para tudo. Aí fui falar com o meu chefe que era japonês, aí ele perguntou para mim... Ele ouviu e me perguntou: "Você falou com o Departamento Legal?" Eu disse: "Não, eu vim falar com o senhor, o senhor é o meu chefe." "Ah, tem que falar com o Departamento Legal." Aí eu fui falar com o Departamento Legal. "Eu não conhecia ninguém lá, telefonei primeiro para a sessão dos tratados e perguntei se eles teriam interesse em um, em uma, em um projeto como esse. Aí, eles disseram: "Não. Não, não, não, não." O cara era de Sri Lanka, ele disse: "Como é que pode? Não, nós estamos aqui para servir os governos. Nós não podemos sugerir nada para os governos". Eu disse: "Tudo bem, se vocês acham que a ideia não tem, não tem mérito, então vamos esquecer, pronto." Meia hora depois ele me telefona e diz: "Olha, eu estou pensando na sua ideia. Eu estou achando que talvez a gente deveria preparar duas páginas para o meu chefe e apresentar". Aí preparamos. Aí levou o resto do ano para convencer, em uma casa que deveria ser uma casa de ideias, para convencer as pessoas a aceitarem uma ideia e apoiarem essa ideia. Foi muito duro. Não...
P/1 - Mas vocês conseguiram?
R - Conseguimos, conseguimos com duas pessoas apoiando, na última hora. Estava saindo o relatório do secretário geral, na última hora conseguimos inserir um parágrafo que durante a Assembleia seria oferecida uma oportunidade para os países agirem em relação aos tratados e convenções depositados com o secretário geral. Aí, eu fiz a carta do secretário geral para os, para os governos e naqueles três dias oitenta e dois países agiram. O que representa trabalho de três anos da sessão dos tratados. E desde então todo ano antes da Assembleia Geral existe essa possibilidade dos países fazerem a sua ação em relação aos tratados da ONU. Até hoje.
P/1 - Acordarem, né, assinarem...
R - Assinarem, acordarem, ah, são vários processos, são várias fases, mas, ah, é uma coisa que eu, eu tenho muito orgulho de ter persistido. As pessoas me viam no corredor e diziam: "Lá vem Leona com os tratados!"; "Lá vem Leona..." E fugiam de mim.
P/1 - É incrível mesmo, né.
R - Mas você precisa de duas pessoas e ter confiança de que sua ideia é boa. E assim surgiu a Brazil Foundation também, como ideia.
P/1 - Pois é, mas a gente vai chegar lá...
R - Estamos chegando lá.
P/1 – A gente vai virar a fita.
P/2 - ________________________.
P/1 - Não, então vamos continuar mais um pedaço. Leona, deixa eu só também te perguntar. E você passou, é, quanto tempo... Só algumas questões antes até da gente entrar na Brazil Foundation... Você passou quanto tempo na ONU?
R - Dezenove anos e meio. Eu comecei em fevereiro e me aposentei no dia do meu aniversário em novembro. Quase...
P/1 - Nove. Nove anos?
R - Dezenove.
P/1 - Dezenove anos. Bom tempo, hen? E queria... Como... Também só para a gente marcar, como o seu primeiro emprego formal o que você...o que que você data, assim, como seu primeiro emprego mesmo? ____________.
R - O meu primeiro emprego foi aqui no Rio.
P/1 - Foi pelo "O Globo"?
R - Não. Não, eu trabalhei, entrei como secretária no Citibank, passei quatro anos... Os anos que eu estudei na faculdade eu trabalhei lá e nos últimos dois eu fiz a edição do órgão interno deles, que tinha um jornal que circulava pelas várias, a...
P/1 - Agências?
R - Agências do Citibank.
P/1 - Já com essa ideia do jornalismo...
R - Já com a ideia. Entrei como secretária, mas depois acabei sendo redatora.
P/1 - E você já era estudante de jornalismo?
R - Já, já, já, já.
P/1 - E desse tempo...
R - Esse foi o meu primeiro emprego.
P/1 – Queria te perguntar, é...
R - Depois foi o "Jornal do Brasil" e "O Globo", nos dois trabalhei formalmente.
P/1 - E desse período que você ficou também entre ir para Timor, acompanhar seu marido na Inglaterra, voltar pro Brasil e Estados Unidos... Qual foi a ligação que você manteve com o Brasil?
R - Eu tentei fazer artigos, mandar artigos como correspondente. Eu publiquei na Claudia, inclusive foi um artigo interessante, muito pessoal, sobre a escolha do sexo do seu filho. Era na época, saiu um livro nos Estados Unidos, a gente acompanhou o livro e a, a, deu certo! (risos) E escrevi sobre isso para a Claudia. Escrevi sobre o Timor Leste para a Realidade, que não existe mais. Mandava matérias para eles, tanto para a Realidade quanto para a Claudia. Mas depois nós viemos, nosso filho tinha oito dias quando a gente veio para o Brasil. Meu irmão e minha mãe moravam aqui, meu pai faleceu aqui, então nós viemos ver minha mãe, apresentar nosso filho. Hã, antes disso já vim, já viemos também. Ah, meu marido fez pesquisa em Alagoas e eu fui pela primeira vez, participei nessa pesquisa. Depois, a gente passou os três anos aqui no Rio e quando eu estava trabalhando na ONU, de dois em dois anos eu tinha direito ao que se chamava de Home leave, de trazer a família para o Brasil, que erra a minha casa. Então eu vim, de dois em dois anos eu vinha. E mantive, mantive amizades, ah... Tanto Suzane quanto minha outra amiga, minha primeira amiga, a primeira pessoa que eu conheci no Colégio Anglo-Americano, estavam em Brasília durante a...
P/1 - Me diga o nome dela.
R - Eleonora (Gomma?), do Anglo-Americano também. Foi no segundo ano do ginásio que nos colocaram para sentar juntas. Ela tinha vindo do Rio Grande do Sul com a família e eu não sabia falar português, a gente se falava em mímica e escrevendo. Somos amigas até hoje. E Suzane, e a turma do científico, nós éramos nove meninas e acho que oitenta rapazes. As nove meninas eram bastante próximas.
P/1 - Representativas também.
R - E próximas. Então amizade que cresceu lá. Suzane foi para Brasília. Depois em 1977 quando a gente veio aqui, 1977 a 1980 a minha amizade com a Suzane se renovou bastante. E quando eu fui pensar na Brazil Foundation, ela foi uma das primeiras pessoas com quem eu conversei sobre a ideia e sobre a possibilidade, talvez, dela fazer parte.
P/1 - Seu irmão ainda mora aqui?
R - Meu irmão saiu daqui não sei em que ano, em oitenta e tanto, trabalhou na UNICEF e trabalhou como consultor em um Banco Mundial em Washington. Faz um ano que ele voltou para o Brasil. Ele é arquiteto e ele está aqui.
P/1 - Essa ligação tem um lado muito afetivo, né? Também.
R - Tem, tem.
P/1 - Você podia, tudo bem que tem sua mãe e seu irmão, mas tem um lado dessa volta que é interessante, né, até...
R - Eu acho que foram os anos mais formativos da minha vida de certa forma, porque foi aí que eu terminei a escola, fiz faculdade, primeiro emprego. Tudo isso você, são amizades que você não perde.
P/1 - Então vai chegando _______ você se aposentou e como é que foi também?
R - Antes de eu me aposentar no ano 2000, naquele mesmo ano da, dos tratados eu estava pensando o que que eu gostaria de fazer para me reconectar com o Brasil. E como eu vi muitas ONGs e muitas fundações trabalhando internacionalmente, ah, fundações de Diáspora, a primeira, a que eu conhecia melhor era a Diáspora Judaica que tem uma presença muito grande em Nova York em termos de arrecadação de fundos primeiro para a população nos Estados Unidos, mas depois que Israel foi formado, para ajudar a construir Israel. Até hoje, provavelmente, é uma filantropia mais rebuscada possível que arrecada mais dinheiro no mundo inteiro, tem muita coisa para aprender deles. A Diáspora Irlandesa que a população que veio da Irlanda para os Estados Unidos, principalmente para Nova York e Chicago, conseguiram se estabilizar e se estabelecer e ajudavam fazendo remessas para a Irlanda. Os chineses estão fazendo isso, os indianos estão fazendo isso, os turcos estão fazendo isso e, ah, na época o Brasil não tinha nada assim. Então eu fui falar com embaixador na ONU para perguntar o que que ele achava da ideia da criação de uma ponte entre a comunidade brasileira nos Estados Unidos e comunidade brasileira no Brasil, arrecadando recursos nos Estados Unidos para projetos sociais no Brasil. (Gelson Fonseca?) era o embaixador na ONU, ele achou a ideia ótima. Eu tive uma oportunidade de estar com Dona Ruth, falei com ela sobre a ideia, ela também achou a ideia muito boa, disse que iria me ajudar, moralmente, ajudar de, de formas de apoio moral. Falei com um jovem advogado, eu me lembro que foi no dia 20 de abril, que nós almoçamos na ONU. Um jovem advogado chamado Marcelo Hallake que estava trabalhando em uma firma grande de advocacia como advogado internacional e ele estava procurando algo na vida e uma amiga em comum nos apresentou, a gente almoçou. Eu disse para ele que eu queria criar uma fundação que captasse recursos nos Estados Unidos para projetos sociais no Brasil. Ele gostou muito da ideia e disse que iria trabalhar comigo. Eu disse: "Marcelo, eu só tenho a ideia, eu não tenho estrutura, não tenho local, não tenho dinheiro e não tenho apoio. Não tenho nada, só tenho a ideia. Se você gostou da ideia vamos saber se a sua firma tem um programa Pro Bono e se poderia nos incorporar como uma organização sem fins lucrativos". E tivemos, não sei como surgiu, porque a gente ia chamar de Brazil Foundation. Não me lembro como surgiu o nome. Mas daí ele voltou para o escritório, naquela mesma tarde ele me telefonou que eles tinham programa Pro Bono e que ele vai fazer uma apresentação para a firma dele. Isso foi em abril, em junho nós já éramos incorporados, dia 15 de junho, agora em 2000, então fomos incorporados faz onze anos atrás.
[troca de fita]
P/1 – Você terminou contando que ele viu a possibilidade no escritório, né, de fazer... Explica um pouquinho melhor essa...
R - Bom, ah, o Marcelo disse que queria trabalhar nessa ideia de criar uma fundação brasileira de Diáspora em Nova York para podermos mobilizar principalmente os jovens profissionais brasileiros que estavam trabalhando em várias firmas de advocacia, financeiras, bancos, hospitais, na academia... Pessoas que tinham a possibilidade de doar. Fui testar essa ideia no casamento de uns amigos brasileiros cujo filho casou e tinha quarenta pessoas. Fui perguntando um a um se eles tivessem a oportunidade de fazer uma doação, ter um incentivo fiscal no Estados Unidos e beneficiar um projeto social no Brasil, se eles dariam. E sem exceção, todos os quarenta disseram sim. Então eu senti que havia essa possibilidade. Inclusive uma das pessoas me disse: "Olha, eu, eu penso muito de como que eu posso ajudar no Brasil. Eu estou bem aqui e me sinto culpada". Para mim isso foi música para os meus ouvidos, quanto mais culpada melhor (risos). Então, eu vi que havia um potencial. E quando eu conheci Marcelo e ele queria trabalhar com isso, comigo nessa ideia e a firma dele se dispôs Pro Bono de nos incorporar, eu vi que a ideia tinha mérito, que a ideia tinha possibilidades.
P/1 - Essa incorporação...
R - Para, para ser incorporado nós precisávamos de três pessoas e como eu queria que isso fosse uma ponte, eu precisava de uma pessoa no Brasil. Eu tinha conversado com Suzane antes para saber se ela estaria interessada em começar algo que ela não tinha a experiência, não tinha conhecimento, não tinha contatos, não tinha, sabe, para ela estava mergulhando em um coisa muito diferente embora ela tivesse experiência de tentar fazer projetos no Brasil de, de...
P/1 - Culturais.
R - Culturais de história oral, inclusive o projeto "Heranças e lembranças". Eu vi que essa experiência seria muito valiosa e ela já tinha uma experiência de ver e uma experiência que ela não gostou, de captar recursos aqui, que era muito difícil, muito difícil mesmo. As pessoas tinham uma, não tinham os incentivos que nos Estados Unidos os incentivos faziam de captação uma coisa que, hã, as pessoas queriam fazer, doar. Porque eles também tinham os benefícios, então era um benefício duplo, o benefício de doar e se sentir contribuinte e o benefício de ter uma dedução do Imposto de Renda da doação feita. Ah, mas Suzane gostou da ideia, então era Marcelo, eu e Suzane que fomos os primeiros três diretores necessários para incorporar a Brazil Foundation. E o nome Brazil Foundation surgiu, surgiu como aquela ideia dos tratados, surgiu, veio de algum lugar que eu não sei de onde, mas surgiu. Não estava sendo usado por ninguém, nós testamos o domínio do nome, compramos o nome no domínio na internet e estabelecemos a Brazil Foundation formalmente em Nova York. Para poder começar tinha que captar recursos e nós tínhamos um amigo que trabalhou na Fundação Ford, há dois anos atrás e que estava trabalhando em uma fundação ativa no Brasil chamada Avina Foundation e a Fundação... Peter, (Peter Greag's?)... É esse o nome dele? E de repente estou esquecendo o nome dele, eu acho que é (Peter Greag's?). De qualquer forma...
P/1 - Essa pessoa que trabalhava na Avina?
R - Que trabalhava na Avina, veio para Nova York e eu tomei café com ele, expliquei a ideia. Ele disse que ele tinha recursos até vinte mil dólares que ele poderia doar sem precisar passar por um processo mais complexo de um grant, de uma doação, de um apoio. E que eu deveria mandar também duas páginas para ele sobre o projeto e de ver se a Fundação aceitaria dele dar um apoio, chama-se Discretionary Grant, discricionário dele até vinte mil. E foi assim que ele fez. Depois de sermos incorporados nós tínhamos que ter a nossa, o nosso status junto ao Imposto de Renda americano. E Marcelo fez esse trâmite também através do escritório dele. No meu aniversário me aposentei, recebemos o nosso (Five, One see tree?) e recebemos os vinte mil da Avina. E tudo aconteceu no final de novembro.
P/1 - Em novembro de 2000?
R - De 2000. Antes disso, tivemos uma reunião de umas quinze pessoas e é isso que eu queria ver, porque eu tenho um e-mail que eles depois mandaram dizendo que todos eles estavam interessados em trabalhar com a ideia. Era só ideia na época, não tínhamos nem o dinheiro da Avina, era a ideia da Brazil Foundation.
P/1 - Isso nessa reunião que vocês fizeram..?
R - Isso, essa reunião foi na minha casa, vieram quinze ou dezesseis pessoas...
P/1 - Em Nova York?
R - Em Nova York. Todas menos uma. Essa uma tinha vindo do Brasil, tinha passado por um mal bocado aqui... Porque muita gente naquela época estava saindo do Brasil por causa de segurança. E ela foi a única que teve dúvidas e não quis participar, os outros todos queriam e uma, a (Assia Stun?) até disse: "Leona, você vai precisar de um logotipo. Eu sou designer, posso tentar?" Eu disse: "Pode". Olha, ela não levou quarenta e oito horas para fazer o nosso logo.
P/1 - Você pode repetir o nome dela?
R - (Assia Stun?).
P/1 - E foi logo então ainda...
R - Foi antes de, até começarmos. Aí, aquela primeira reunião foi tão animada... Depois eu posso lhe dar os nomes dos participantes... Que Marcelo decidiu fazer uma segunda reunião em dezembro e a Suzane disse que viria para participar e ela veio. Tivemos uma segunda reunião com mais gente e aí já estávamos pensando: "Como é que a gente vai começar? Como é que a gente vai..." Isso já foi em dezembro, já tínhamos os vinte mil. Dos vinte mil era estipulado que cinco nós tínhamos que deixar de fora e quinze a gente usaria para estabelecer dois escritórios, um em Nova York e um no Rio, com as coisas básicas como telefone, um computador, não dava para muito mais do que isso. E a Suzane veio em dezembro para falarmos de tudo isso. Os cinco mil que a gente tinha que deixar de fora nós tínhamos que casar com captação de outros cinco para podermos usar. Esses outros cinco tinham que ser em quantias de quinhentos dólares ou mais, não podiam ser da diretoria ou da família. Então, tínhamos que provar para a Avina que tinha uma comunidade que estava interessada em fazer doações para projetos sociais no Brasil.
P/1 - Movimentar essa ideia...
R - Movimentar. Então, o segundo grupo dos, dos voluntários que se juntaram na casa do Marcelo e da Flávia, ah, esses a gente já podia dizer: "Olha, precisamos levantar cinco mil dólares. Vamos ver como é que vocês podem nos ajudar a captar esses recursos". E até março a gente conseguiu, ah, com uma grande doação da Roberta Mazzariol que completou, nós conseguimos e ela completou. Então, foram os primeiros voluntários e doadores. Esse espírito de compromisso, esse espírito de que, querer fazer uma diferença, esse espírito de trabalhar foi o que fez possível a Brazil Foundation. Aqui a Suzane contratou a Cátia que já tinha ajudado ela em um outro projeto, também com pouco tempo parcial. E foi muito interessante a Cátia, Suzane não sabia usar computador, Cátia sabia e a Suzane estava precisando de cartão de visitas com o logo da Brazil Foundation que alguém fez para mim já nos Estados Unidos. Eu também não sabia, eu também não sabia usar computador, não era só a Suzane que não sabia. É para dizer que a gente estava entrando realmente muito verde nesse processo. Ah... Cátia levou o cartão para casa e fez o cartão da Suzane em casa porque ela tinha computador e uma impressora que podiam imprimir em cor. E essa primeira, primeira ação dela, iniciativa dela, eu acho que ela nesses dez anos ela sempre provou ser absolutamente lá, 100% lá, de dedicação incrível, de apoio incondicional quase (risos). E esse tipo de pessoa que a gente atraiu. Depois vieram...
P/1 - Eu queria te perguntar, esse perfil também que você colocou de uma maneira muito bonita a Cátia, né, aqui. E eu queria te perguntar lá dos voluntários. Você falou da Renata... Renata ou Roberta?
R - Roberta.
P/1 - Roberta Mazzariol, falou do Marcelo, né, como profissionais liberais ou...trabalhando em Nova York. Mas eu acho que tem um perfil que vai além do profissional liberal, né, você podia...
R - É um perfil de brasileiro. De brasileiro querendo ajudar, de querendo fazer uma diferença sabendo que estava indo bem naquele... Nos anos 2000 a economia americana estava no alto, eles estavam ganhando bem. Havia, havia essa possibilidade de se envolver, de se sentir também como grupo porque houve uma coesão social, não só, não só da Fundação, eles todos viraram amigos. Produzimos sessenta e duas crianças porque o pessoal foi casando, foi tendo filho. Tivemos agora uma festa junina no dia cinco de junho, onde tinha oitenta e tantas criancinhas pequenas. O mais velho está com oito anos, oito ou nove anos. Então houve uma, construção de um grupo social que tinha um objetivo altruístico, um objetivo além deles, mas que ao mesmo tempo sentiu que podia fazer uma diferença, tinha orgulho de fazer uma diferença. Na terceira, não, eu acho que foi na segunda reunião ou mesmo na primeira reunião talvez...
P/1 - Mas você adotou esse espírito brasileiro também de querer fazer uma diferença, você estava se aposentando, o seu espírito...?
R - Eu queria dar de volta. O meu espírito era dar de volta. O meu espírito era trazer algo que eu aprendi tanto na ONU quanto através do meu marido que trabalha na Fundação Ford. Eu vi o que que uma fundação com recursos, obviamente a Ford tinha recursos, muito, podia fazer na vida de um país. E foi encontrando essa geração de brasileiros formados, capazes, talentosos, muito bem recebidos nos Estados Unidos, muito bem requisitados pelas companhias onde trabalhavam, tanto brasileiras quanto americanas. Um profissional reconhecido como de valor. E ver esses jovens querendo contribuir do seu tempo, do seu talento, da sua habilidade, dos seus recursos, para mim foi muito importante. E...
P/1 - Queria te perguntar também dessa estrutura inicial, onde ela começou a funcionar Leona?
R - Bem, a primeira reunião foi lá em casa, foi lá em casa que decidimos que para que as pessoas que queiram doar, elas precisam conhecer melhor o Terceiro Setor brasileiro. E como tinha muita gente vindo para a ONU, vindo para conferências, vindo para… das ONGs brasileiras, decidimos que quem pudesse nos ajudar... E a Missão brasileira na ONU nos ajudou muito com isso de indicar quem estava chegando, a gente convidava, porque não tinha dinheiro para trazer, para fazer uma palestra sobre o trabalho dessa ONG. Então o primeiro foi o Cristovam Buarque que estava vindo para a ONU para falar sobre a experiência de Bolsa Escola que ele tinha lançado como governador em Brasília. E, ah, e ele veio lá em casa com a esposa dele. A gente fez, a gente convidava às sete horas, fazíamos pastéis e outras comidinhas brasileiras. Uma pessoa que trabalha comigo há muitos anos chamada, a gente chama ela de Lalá, mas o nome dela é Maria, ai, ai meu Deus, Maria da Glória Mesquita, de Governador Valadares que veio para os Estados Unidos como uma pessoa sem documentos, para trabalhar, para ganhar dinheiro para mandar de volta, como tantos que fazem isso. E a Lalá fazia os pastéis e o pessoal adorava os pastéis. A gente comia até as oito, às oito horas todo mundo se sentava em volta e a pessoa falava da sua, do seu projeto e as pessoas tinham a oportunidade de fazer perguntas. Então, era uma oportunidade bastante fora do comum de estar interagindo com uma pessoa ativa no Terceiro Setor brasileiro e criar confiança. E confiança é a palavra chave naquilo que a gente faz. As pessoas tinham que ter confiança de saber que o dinheiro arrecadado iria para um lugar certo, que produzia resultados.
[troca de fita]
P/1 - Pronto? Leona, retomamos. Você estava contando da...
R - Das palestras.
P/1 - Das palestras, né. Eu queria só...
R - Porque o senhor Cristóvão foi o primeiro e foi uma palestra muito interessante porque ele até desafiou todos que estavam presentes dizendo: "Olha, Alagoas tem quatro mil jovens, meninos trabalhando cortando cana. Por que que vocês não ficam com isso como uma meta de arrecadar recursos para que a gente possa dar Bolsa Família para esses, para as mães desses jovens e tirá-los do campo?". Bem, isso não aconteceu, mas como desafio isso animou as pessoas de pensar que eles podem fazer uma diferença. E quando a gente arrecadou os primeiros trinta mil baseados naqueles cinco mais cinco, dez, e conseguimos mais, nós fizemos o nosso primeiro edital e recebemos setenta e duas propostas. E aquelas propostas, eu acho que Cátia ou Suzane tem a lista, alguém deveria olhar os títulos dos projetos que foram enviados. Porque mostram não só uma preocupação com a comunidade local, com grupos locais, com crianças, com mulheres, com, ah... Tudo que a gente apoia mostra também um senso de humor extraordinário. Por exemplo, tinha um projeto chamado "Mamãe, cheguei", e era um projeto trabalhando com meninas, mães jovens ensinando-as como tomar conta dos bebês quando nascem a como cuidar de si mesmas. Mas esse "Mamãe, cheguei" é um título maravilhoso. E dos setenta e dois tinham muitos que tinham um senso de humor maravilhoso para, para demonstrar que mesmo com a dificuldade existe a possibilidade de a gente se divertir. Hã... Palestras, tivemos...
P/1 - Mas aí, desse, desse...
R - As palestras foram em casa, foram sempre com comidinha boa...
P/1 - Na sua casa?
R - Na minha casa. Nós temos um apartamento até hoje, que não é nosso, é alugado, é um apartamento grande e tem três salas no, no formato de ângulo, então pessoas podem sentar em três lugares. Já tivemos setenta e tantas pessoas quando o pessoal ficou animado de ouvir Henrique Meirelles, na época presidente do Bankboston que estava também dirigindo uma ONG chamada "Transições", em São Paulo. E que ele pessoalmente estava envolvido com essa ONG. E ouvi dele como uma pessoa do setor privado tem um interesse e dá a importância ao trabalho do terceiro setor. Foi muito importante, a credibilidade. Eu estava dizendo que confiança era um primeiro desafio, continua sendo um desafio e tanto em termos de nosso trabalho da nossa equipe, já passamos por altos e baixos nisso, como trabalhando com projetos e coordenadores dos projetos cuja confiança a gente recebe ao formarmos nossa parceria com eles. Como a confiança dos doadores sabendo que o dinheiro vai para a proposta declarada, transparente, aberta. E a confiança dos doadores de quem dependíamos no começo, as grandes fundações como a Fundação Ford, a Fundação Kellogg, (Fundação tenquer?), Fundação Avina foi a primeira, ah... E tudo isso é muito pessoal, se não fosse pessoal não estaríamos onde estamos.
P/1 - Você fala pessoal...
R - Pessoal...
P/1 - ...pelo empenho de cada um.
R - Pelo empenho de cada um, pelo relacionamento que cada um tem com as pessoas, pela confiança que gera e pela confiança que dá. Ah, eu acho que esse é o grande, a grande força da Brazil Foundation.
P/1 - Eu gostaria de saber, você acompanhou... Você estava contando dos nomes, né, dos primeiros projetos que eram _______, esse lado humor também... Você acompanhou desde sempre...?
R - Desde, desde os primeiros projetos...
P/1 - ...o processo de seleção?
R - Projetos de seleção. Eu estive aqui, eu participei com os analistas. Eu não fiz o trabalho de analista, mas participei, ouvi, fiz muitas perguntas, empurrei muito em termos de saber mais, de ver quais são os resultados que a gente pode ter a expectativa, de ser muito transparentes para que a gente possa em Nova York dizer para os nossos doadores: "É isso que o projeto vai produzir". E foi assim que a gente foi desenvolvendo o processo de seleção. Tivemos Sheila que começou conosco como coordenadora, como, da parte de programação, a...
P/1 - Do processo de seleção.
R - Do processo de seleção. Estabeleceu os patamares e as diretrizes desse processo. Gláucio veio um pouco mais tarde. Sheila Nogueira e Gláucio... Estou esquecendo o sobrenome do Gláucio...
P/1 - _________________, Gomes?
R - Gomes! Gláucio Gomes, é isso mesmo. Eles nos ajudaram durante quatro, cinco anos, a desenvolver um processo extremamente importante. Um relacionamento que criamos com a visita dos analistas aos projetos finalistas dos quais iríamos escolher os apoiados. Esse contato direto com os projetos é uma diferenciação da Brazil Foundation de certa forma porque é um processo custoso, é um processo difícil em termos de distâncias, em termos de comunicação, em termos de... Mas conseguimos fazer isso de uma forma que até as grandes fundações nos perguntavam: "Como é que vocês fazem isso?"
P/1 - Até de logística, né?
R - De logística, tudo...
P/1 - __________.
R - ...tudo, tudo. Tem histórias incríveis de, de viagens. A Suzane é uma que um dia eu gostaria de fazer um filme. Tinha um filme francês (risos) sobre uma senhora idosa que viajava de motocicleta, isso sempre me fazia pensar da Suzane chegando à terceira idade dela e viajando de canoa, bicicleta, carro, Jipe, a pé, sozinha no meio do mato, no meio de estradas com pneus furados, faltando gasolina. Suzane tem uma coragem extraordinária e tem uma história extraordinária desses dez anos que um dia precisamos contar.
P/1 - Vamos ver se a gente consegue tirar um pouco dela, né? E do, ali... Queria te perguntar...
R - E das pessoas que ela conheceu e da confiança que ela teve nas pessoas, nos projetos, que às vezes eram muito mal estruturados ainda, mas que ela viu o potencial, que ela viu a razão para investir naquela organização. E o intuito dela, o talento dela de ver isso foi muito importante no nosso processo.
P/1 - Você fala apostar, né? No olho no olho, né.
R - É. E entre os palestrantes que vieram em Nova York cada vez a gente tinha mais gente, cada vez, cada palestra trazia pelo menos metade de pessoas novas. Então, o nosso grupo, a nossa lista para o nosso primeiro boletim, que eu tenho aqui para mostrar, ah, nós estávamos mandando para todo mundo para ver se a gente com essa lista crescia a lista e crescia o número de pessoas que queriam ajudar. Em umas, na primeira palestra vieram Patrícia Lobaccaro, veio a Vanessa Pereira e veio mais uma pessoa. E todas as três, elas não se conheciam, mas vieram falar comigo dizendo que gostariam de organizar festas para poder arrecadar recursos para projetos. Aí, eu apresentei as três e elas três juntas fizeram a primeira festa em uma boate onde elas arrecadaram, não me lembro exatamente a quantia, mas isso está tudo documentado. Também veio falar comigo um rapaz chamado Pedro... Eu estou ficando velha mesmo, sobrenomes estão me escapando. Pedro está no Brasil agora. Pedro veio me dizer que queria contribuir, depois disse: "Não, eu não vou contribuir, eu vou fazer uma festa e vou contribuir os recursos levantados através da Brazil Foundation para uma organização em São Paulo que eu conheço de uma senhora que eu admiro muito, que trabalha com crianças com câncer. Posso fazer isso?" Eu disse: "Pode." Aí ele fez uma festa, ele organizou, nós nem participando diretamente, arrecadou os recursos e Suzana e eu fomos para São Paulo para entregar o dinheiro que ele levantou. Eram, eu acredito, nove mil dólares, uma coisa assim, para essa organização que trabalha com crianças com câncer.
P/1 - Essa foi a primeira...
R - Foi a primeira __________________. Porque o doador nos disse para quem queria, Nós fizemos uma pesquisa sobre ela, conhecemos a organização, conhecemos a história e decidimos que a Brazil Foundation poderia dar o nome e servir de um mecanismo confiável para as pessoas mandarem recursos para organizações que eles queriam apoiar. E como a gente ainda estava apoiando muito poucos, para nós quanto mais organizações boas fossem apoiadas melhor. E assim foi crescendo. Hoje em dia _________________ representa uma grande parte dos apoios passados pela Brazil Foundation e um source, uma fonte de recursos para nossas operações.
P/1 - E é já estabelecida, não tem... Esses doadores são os mesmos ou...?
R - Não, são variáveis.
P/1 - ...se renovam?
R - Se renovam. Alguns são mais consistentes, alguns fazem doações duas, três vezes por ano, outros uma vez por ano, varia. São duzentos.
P/1 - Queria que você me falasse também das doações, né, como é que funciona? Vocês estabeleceram, como é que é esse padrão, apesar de parecer que todo mundo já sabe, mas enfim...
R - Bem, na primeira vez, em 2002, a gente arrecadou trinta mil dólares, na época era um bom dinheiro porque o dólar estava quase a quatro, hoje está a um e meio. Decidimos que dava para três projetos, três projetos de ideias mil, que na época eram quase trinta mil reais para cada um e sobrou um pouquinho e demos para esse rapaz, Edison Carneiro de Nova Iguaçu, que era o mais persistente de todos. Tinha dezenove anos na época, era estudante de sociologia, mas também era presidente da associação comunitária "Três corações" em Nova Iguaçu. E ele não deixava a Suzana em paz, é, o número de e-mails que ele mandava era incrível e a gente decidiu fazer um apoio de incentivo para ele. Era um projeto de contratar três pessoas desempregadas em Três Corações para serem garis e coletarem o lixo que na comunidade não era nem coletado pela prefeitura e foi assim.
P/1 - Um projeto simples e eficaz, né?
R - De uma dedicação extraordinária de um jovem.
P/1 - Mas essas doações depois vocês depois foram se transformando em, foram ampliando... Eu queria que você contasse um pouco...
R - Bem...
P/1 - ...como vocês foram conseguindo criar.
R - Como no segundo, em 2003 nós fizemos o nosso primeiro Gala que foi uma sugestão de uma brasileira, a Malu Millerman, que é uma psicóloga e que um dia me disse que vai muito a galas, festas beneficente de outros países, de outros lugares e que nunca foi a um brasileiro, um gala brasileiro. E que a gente deveria fazer e ela e o marido, Sergio Millerman que na época era presidente do Banco Safra em Nova York, ofereceram o University Club, que é um clube com… muito bonito, em um edifício muito bonito na Quinta Avenida, hã... E eles ofereceram o espaço e nós fizemos a festa. Foi uma festa muito bonita, foi a primeira, mas recebemos doação do Zezé Flores. Zezé tem uma loja de flores maravilhosa em Nova York e ele decorou o salão com flores. Tivemos o Cliff Korman e a banda dele para tocar. Cliff é um americano que adora música brasileira, mora aqui, mora lá, ensina música brasileira nos Estados Unidos e ele fez a música e ele nos informou que Paulo Moura estaria em Nova York naquela data e se poderia trazer o Paulo. E a gente pagou um pequeno cachê ao Paulo. E foi, assim, um sucesso com Paulo Moura tocando com Cliff Korman e Gilberto Gil veio para o Gala como nosso conselheiro e na hora, claro, também nos deu...
P/1 - Uma canja.
R - Uma canja. Tocou duas músicas junto com o Paulo. Foi muito bonito! As pessoas vieram muito bem vestidas, bonitas. O local era bonito, tinha mais ou menos trezentas e cinquenta pessoas porque o local só comportava trezentas e cinquenta e a gente teve que recusar outras pessoas, mas eu acho que foi a marca do Gala da Brazil Foundation, que era algo muito bonito e muito... As pessoas se sentiam bem lá, todo mundo se conhecia... Eu fui a muitos Galas na minha vida e sempre são muito frios, você senta com pessoas que você não conhece, você se sente meio perdida lá. Aqui não, todo mundo estava animado, dançaram, cantaram, ah, foi muito bom. E arrecadamos, eu não me lembro qual foi a quantia, mas foi muito maior. E fizemos um outro edital e vieram, a gente pensou no primeiro vieram setenta e dois, viriam duzentos, vieram quase oitocentas propostas ____. E foi assim...
P/1 - Você se assustou com essa...
R - Assustamos, nos assustamos. E levou muito tempo e foi aí que Gláucio, Sheila e Carlinha e Carlona que estava, Carlona estava lendo, ela era uma pediatra que trabalhou com a gente como voluntária. Eu acho que foi a primeira voluntária aqui no Brasil que trabalhou com a Brazil Foundation. A...
P/1 - Raquel?
R - Ainda não.
P/1 - Não?
R - Não, não, não. Isso foi no começo. A gente deve ter a lista, eu tenho certeza, mas a... Escolhemos os finalistas, os finalistas foram visitados e a Suzane pode contar isso muito mais do que eu. Escolhemos naquele ano, 2003, quantos foram?
P/1 - Foram...
R - Foram mais.
P/1 - Não, primeiro foram quatro, o segundo foram...
R - Dezessete, se não me engano, dezessete. E foi assim crescendo aos pouquinhos, chegamos a trinta e três um ano, mas aí o dólar foi caindo, a arrecadação continua a mesma, mas os resultados transferidos para o Brasil eram 20% menos. Começou a ser cada vez mais difícil conseguir recursos para nos manter, trabalhamos quatro anos na minha casa, até que...
P/1 - Pois é, é isso que eu queria explicar...
R - Até que um dia... Trabalhamos na minha casa, em um apartamento onde o quarto do meu filho que tinha uma cama beliche e tinha uma mesa comprida embaixo do beliche e ele até hoje diz que a Brazil Foundation nasceu debaixo da cama dele, o que é verdade. Tínhamos quatro ou cinco pessoas trabalhando lá e a nossa sala de jantar era uma sala de conferência e a sala de visitas e a outra sala que temos eram para as palestras, abríamos tudo. Então, usamos a casa até, tudo, até que um dia o meu marido disse, me perguntou de manhã às oito horas da manhã. Ele disse: "Posso tomar café de pijamas ou vem alguém?" Aí eu senti que estava na hora de… o abuso era demais (risos).
P/1 - ___________.
R - De ele não poder tomar café em casa de pijama era um problema.
P/1 - Mas ele nunca tinha reclamado?
R - Nunca tinha reclamado. Sem ele não haveria Brazil Foundation. O apoio dele do primeiro dia da minha ideia, da invasão da nossa vida, da invasão da nossa casa, da colaboração de coração dele porque ele adora o Brasil, dos conselhos que ele me dava, porque ele tinha muito mais experiência de filantropia do que eu, das apresentações que ele fez para mim de pessoas que poderiam nos ajudar... E como eu disse antes, você não capta sem conhecer a pessoa cara-a-cara.
P/1 - O apoio da Ford veio dado por ele também.
R - Veio, veio, veio, sem dúvida. Ele me apresentou às pessoas e eu levei de lá para frente e as pessoas na, nas outras fundações, uma apresentação levava à uma experiência e uma experiência levava à outra doação. Até que...
P/1 - Essa sua experiência, você, por exemplo, você está relatando, né, você até mencionou antes em uma frase, que dependeu muito de cada um, né. Essa experiência, sair buscando doadores...
R - Eu saía...
P/1 - ...você não... Como é que foi para você também? Quer dizer, você não era, você não era uma pessoa experiente.
R - Não, e não era nada que eu gostava de fazer.
P/1 - Não é fácil.
R - Não era nada natural, mas no dia que eu vi que eu não estava captando para mim... Eu nunca fui paga pela Brazil Foundation com a exceção de seis meses quando a nossa diretora executiva saiu de repente, aí o conselho diretor decidiu que o salário dela iria para mim porque eu estava fazendo o trabalho dela. Mas eu nunca ganhei, eu sempre fui voluntária. Eu acho que o meu exemplo de ser uma voluntária também criou uma espécie de exemplo para os outros trabalharem, darem muito tempo, muito tempo. Roberta trabalhou horas e horas e horas e horas. A Patrícia trabalhou em todos os eventos que a gente organizou. Nós chamávamos eles de super voluntários, tinham cinco, seis pessoas que a gente depois decidiu que tínhamos que vincular com a Fundação de alguma forma para agradecer, para reconhecer que a Fundação sem eles não estaria existindo, mas tinha que ter um papel. Então fizemos deles, cinco, fizemos diretores. Era Patrícia, Vanessa, Marquinho, Marcos Ribeiro, hã, estou esquecendo mais duas pessoas, Roberta e...
P/1 - Era a diretoria financeira?
R - Era a diretoria da... Roberta era tesoureira.
P/1 - Tesoureira.
R - Marcelo era o nosso advogado, Suzane vice-presidente, eu presidente e...
P/1 - Patrícia...
R - ...o resto eram diretores. Era Patrícia, Vanessa e mais uma que eu, que também trabalhava em um banco...
P/1 - Patrícia era diretora de eventos...
R - De eventos e os outros todo mundo, todo mundo fazia de tudo.
P/1 - Tudo.
R - E... Faziam de uma forma que eu não posso dizer nunca que eu não podia depender deles, de contar com eles. Quando eles diziam que iriam fazer algo, eles faziam. Então essa ideia de que voluntário não dá para confiar em um voluntário, que voluntário só vem quando pode, voluntário... Não é, não é minha experiência. Voluntário dá de si porque acredita na causa e quer que a causa seja bem sucedida e vai fazer tudo para que a contribuição... Essa pelo menos é a minha experiência.
P/1 - Mas de qualquer forma, Leona, essa parte, por exemplo de, de captação de recursos, né, é uma coisa, eu acho incrível realmente, poder contar com toda essa rede de voluntários. Mas isso não, não...
R - E nós tivemos um voluntário, super voluntário aqui no Brasil que é o Pedro.
P/1 - Ahã.
R - O Pedro se apresentou como voluntário e a gente depende dele, dependeu dele, sempre dependeu dele, sempre contou com ele, hã, já há quantos anos? E é uma coisa maravilhosa.
P/1 - E aí, mas dessa, dessa parte da captação...
R - Pedro Toledo.
P/1 - A gente acabou entrevistando. Já entrevistou semana passada...
R - Ele falou, ele falou para vocês que um dia, depois que a gente teve uma reunião com os coordenadores de projetos, uma das primeiras vezes que ele assistiu tudo. Ele não estava ainda participando na área de projetos quanto participa hoje. Ele começou com a parte financeira. Ele virou para mim e disse: "Leona, este Brasil é viável". Eu nunca esqueci isso.
P/1 - Muito bom. Leona, e essa formação do conselho consultivo também, como é que, como é que foi?
R - O conselho consultivo eu...
P/1 - Como foram as suas escolhas?
R - O Gelson, o Gelson eu pedi para ele para ser parte, ele era embaixador na ONU, Dona Ruth aceitou quando eu pedi a ela. Ela me convidou para a última reunião de comunidade solidária em Brasília, onde sentei ao lado de Gilberto Gil e na hora convidei ele e ele aceitou. Ah, Armando Strozenberg é um amigo de muito tempo que eu sabia que ele podia nos ajudar tanto na parte profissional dele como publicitário, como amigo, como jornalista, como pessoa que conhece muita gente. Ele aceitou. Quem foram os outros? Bacha, foi sugestão do Armando, convidamos o Edmar Bacha que também aceitou, convidamos o Marcílio, que foi a sugestão da Bacha, convidamos o Marcílio Moreira Marques, Marques Moreira. Então foi crescendo assim. Em Nova York convidamos um das primeiras doadoras e que me apresentou ao George Paulo Lemann, é a Nancy, é...
P/1 - _____________ dela?
R - Eu deveria ter, eu deveria ter a lista na minha frente.
P/1 - ____________ o nome dela?
R - England, Nancy England. Depois convidamos a Dona _________ que era embaixadora americana no Brasil. Ela veio ao nosso primeiro Gala, ela ficou muito entusiasmada, convidamos ela, ela aceitou. E o papel do Conselho Consultivo... Ah, Claudius Ceccon que eu conhecia de antes que eu também achei que ele como comunicador, como jornalista também caricaturista, como chargista tinha muito para contribuir. A (Sissip?), a organização dele estava trabalhando na promoção de grandes convenções da ONU para um público mais de professores, de ONGs, de outros... Então ele estava dentro do Terceiro Setor. Não sei se estou esquecendo de outros, mas foi assim que fomos convidando e as pessoas aceitando...
P/1 - E como...
R - Maria Elena Johannpeter convidamos ela. Ela foi conselheira durante algum tempo, mas viu que não dava para participar nas reuniões, ela nunca veio para uma reunião e ela mesma decidiu que não, não dava para funcionar assim, mas continua muito amiga, recebe todas as nossas comunicações. Ela tem uma organização chamada Parceiros Voluntários no Rio Grande do Sul, uma pessoa de muita capacidade e muito, muita dedicação. E há também, eu estava pensando em uma outra pessoa que eu tinha esquecido e que é uma pessoa muito valiosa para a gente. E também começamos a convidar os cônsules brasileiros para fazerem parte porque eles têm um âmbito grande de, de relacionamentos com brasileiro e com americanos interessados no Brasil e em grande parte se interessaram pela Brazil Foundation e o Osmar Chohfi que é o Cônsul atual até amanhã, que ele está voltando para o Brasil e se aposentando, tem um novo chegando... tem sido absolutamente generoso em abrir portas, em apresentar, em fazer recepções em casa, na residência, todos eles fizeram isso, começando com o Gelson, como embaixador. Como (Maria Luísa Biote?), como... Ela não está no nosso conselho, mas ela foi sempre muito apoiadora, foi ela quem indicou o Cristovam Buarque para a primeira palestra. Então há muita cooperação, colaboração, muita confiança.
P/1 - Houve uma participação também de apoio com a Dona Ruth, com a experiência que ela tinha...
R - Houve.
P/1 - ...comunidades solidárias...
R - Houve.
P/1 - Queria saber como.
R - A primeira apresentação da Brazil Foundation ao mundo empresarial em Nova York, nós fizemos uma recepção e ela foi a palestrante. Isso fez em um espaço que a gente teve doado e veio muita gente e principalmente pessoas da Câmara de Comércio brasileira americana, das firmas representadas na Câmara de Comércio e ela foi extrem, extremamente importante de nos dar o aval e também de falar da Brazil Foundation e do Terceiro Setor brasileiro.
P/1 - Mas alguma influência também da, do, da, de como vocês se organizaram ou...
R - Não.
P/1 - Não?
R - Não. É uma experiência bem diferente.
P/1 - E desses primeiros anos, vocês, você, essa rede de voluntários, ela foi se renovando ou ela se estabilizou?
R - Foi se renovando. Não, está se renovando, continua sendo renovada toda vez que a gente tem um evento a gente aumenta a lista. Chegamos até quase sete mil pessoas na lista. Não sei onde está hoje porque manter listas, descobrimos, é muito difícil porque as pessoas mudam de endereço, de telefone, de e-mail e não avisam e a gente perde pessoas e a gente ganha pessoas, é complicado.
P/1 - Do, do Gala, queria também recuperar com você. O que que, qual foi o Gala mais marcante para você?
R - O último.
P/1 - Então, a gente deixa um pouquinho, vamos voltar. Essa...
R - O primeiro e o último. O primeiro eu já descrevi.
P/1 - Mas o último a gente deixa mais um pouquinho. O ciclo de palestras "Ideias que transformam o Brasil" foi ideia sua? E você, você...
R - Foi ideia do grupo, daquele primeiro grupo de voluntários que se reuniu na primeira e segunda reunião.
P/1 - Esse ciclo ainda permanece ou...
R - Permanece, permanece. A última pessoa que veio falar lá em casa foi a Claudia Costin e tivemos umas cinquenta pessoas e ela impressionou muito com o que está acontecendo aqui, na área municipal de educação. Ela como pessoa é uma pessoa extremamente impressionante da dedicação dela, da vontade dela de suceder mesmo sendo uma funcionária pública dentro de circunstâncias que às vezes não são fáceis.
P/1 - Ela é muito capaz, né.
R - Muito capaz.
[troca de fita]
P/1 - Leona, vamos retomar. Queria recuperar o encontro entre as duas equipes, a de Nova York e do Rio e quais foram, quais foram os objetivos desse encontro, né, e o que, e os resultados.
R - Eu acho que desde o começo nós tivemos a preocupação de dar uma boa gestão do Brazil Foundation como instituição transparente e aberta, com relatórios ou feedback para os doadores e voluntários, para que todo mundo continuasse continuando trabalhar, querendo participar. O primeiro planos de trabalho foi feito pela Roberta Mazzariol que tem uma experiência nisso, empresarial, e ela fez os primeiros três anos. Mas os primeiros três anos, como todos os outros que se seguiram, aconteceram de uma forma mais orgânica do que estratégica. Nós tivemos até uma experiência engraçada no sétimo ano, em um grupo de empresários se disse querendo ajudar a Brazil Foundation a crescer, mas para isso nós tínhamos que apresentar resultados concretos, resultados definidos, escritos, do que foi investido, do que foi, quais foram os resultados e como, e como a gente gostaria de crescer nisso. Teoricamente parece tudo muito bem, mas na realidade foi muito difícil fazer isso porque que se a gente olhar as doações que nós fazemos, representam relativamente uma parte pequena, eu nem saberia dizer a porcentagem daquilo que a gente arrecada e daquilo que a gente gasta. Ao mesmo tempo se a gente olhar, mais ou menos naquele ano começaram os cursos de capacitação que nós estávamos dando para os nossos coordenadores de projetos escolhidos, trazendo todo mundo para Nova York, para o Rio de Janeiro, três dias de oficinas... Esforço esse que foi muito reconhecido pelos coordenadores e muitos disseram que valia para eles mais do que o dinheiro que a gente estava dando. Então como calcular essa parte toda de investimento na capacitação, na qualidade, na gestão, na comunicação dos projetos e ao mesmo tempo ver que em dinheiro a gente deu isso. Ficou mais complicado e para os empresários isso não fazia muito sentido, a gente estava gastando mais do que a gente estava dando. Eles não entendiam porque nem como. Mal sabendo dos resultados que isso produzia nas organizações apoiadas. Então, aos poucos eles se desinteressaram da gente. Nós chamávamos eles de grupo mais sete. O grupo mais sete não foi muito longe, embora sejam pessoas boas e continuem entre os nossos, entre as pessoas que se interessam, que recebem os nossos boletins, que vem aos nossos eventos. Depois decidimos, com a ajuda da Fundação Ford, decidimos trazer parte do time do Rio de Janeiro para Nova York para que houvesse uma maior integração, melhor entendimento daquilo que a gente estava fazendo lá e daquilo que eles estavam tentando fazer aqui. E foram os diretores todos mais o pessoal do Rio e nós passamos três dias junto com uma pessoa que fez a mediação, a facilitadora. E foi uma reunião muito boa, porque eu acho que deu para o pessoal do Rio principalmente, entender que para captar recursos não eram um, dois, três, levava muito mais esforço, levava muito mais tempo e não era tão fácil assim. E a expectativa que a gente pudesse ter mais e mais e mais recursos às vezes era um pouco _______, um pouco não entendendo o processo. E também não sabendo. Teve uma época em que se falava "Vocês e nós" e eu estava tentando "não é vocês e nós, somos nós juntos; se nós não fizermos vocês não fazem e se vocês não fizerem nós não fazemos". Então, há uma interdependência, há uma necessidade de entender a necessidade, por exemplo, de a gente ter histórias sobre os projetos para que a gente possa contar aos potenciais doadores dentro dos nossos, das nossas publicações. E era muito difícil conseguir daqui essas histórias, essa informação. Para tentar melhorar o entendimento dos dois lados, esse encontro foi muito bom, foi muito bom. Depois nós tivemos um encontro agora dos dez anos em que várias pessoas do escritório do Rio vieram para participar, para conhecer os coordenadores, foram para Itatiaia. Eu acho tudo isso fantástico porque ajuda na comunicação e comunicação para nós, depois de confiança, é a parte mais importante. Que a gente possa comunicar para o público que nós queremos envolver, tanto como doador, quanto como voluntário, como participante, como um incentivador, é muito importante que a gente conte a história da Brazil Foundation de uma forma que as pessoas possam fazer parte. Saber que a ação deles vai fazer uma diferença aqui. E hoje em dia aqui no Brasil também, em termos de ter mais voluntários aqui, em termos de ter pessoas aqui interessadas naquilo que a Brazil Foundation está fazendo e que possa participar de uma forma que não é de ser necessariamente recrutado e ganhando salário. Porque para isso é muito difícil de conseguir recursos, muito, muito, muito. Hoje em dia perdemos a Fundação Ford, perdemos a Kellogg, perdemos a Avina de certa forma. Temos... Todos eles sofreram crise na última queda da bolsa e crise econômica dos Estados Unidos e temos que ver se aos pouquinhos eles estão voltando ao nível deles de poderem dar. E filantropia é a primeira coisa que eles cortam. É a menos, a menos... Então temos que encontrar outras maneiras de interessá-los pelo trabalho que nós estamos fazendo. São estratégias novas e as estratégias vão surgindo com os acontecimentos históricos por assim dizer. O fato de o Rio de Janeiro ter sido escolhido como o local para grandes megaeventos esportivos nos próximos anos, está atraindo e trazendo volume enorme de capital de fora e capital federal, capital do estado e capital municipal, recursos. Muita construção, muita infraestrutura, muito planejamento mega do Comitê Olímpico, FIFA e de outros eventos. Eu senti, lendo os relatórios sobre os investimentos vindos para o Rio de janeiro, eu senti que estava faltando uma atenção para o mercado de trabalho e principalmente para o envolvimento dos jovens que hoje em dia não fazem parte dessa mira. Eles não estão na mira nem da FIFA, nem do Comitê Olímpico e muitas vezes nem dos órgãos que estão distribuindo recursos para grandes construtores e aqueles responsáveis pela infraestrutura. E em dezembro de 2009 eu recebi o título de Cidadã Honorária Carioca pela...
P/1 - O que isso representou para você?
R - O que isso representou para mim? Uma espécie de constatação de que eu realmente sou carioca e não só isso, como uma responsabilidade muito grande por ter recebido esse título, por ter merecido esse título e eu queria também de, na ocasião de recebimento, lançar um desafio para todos os cariocas para que possamos juntos prestar atenção e ajudar a integrar o grupo de jovens de quatorze a vinte e quatro anos que hoje são mais de duzentos mil que estão fora da escola, que estão fora do trabalho, que estão fora de qualquer opção que eles saibam que eles podem seguir. Então, lancei a ideia do Fundo Carioca. E a ideia do Fundo carioca vem de dois lados de inspiração para mim, um o nosso projeto no Ceará que, onde um homem conseguiu transformar a vida de muitos jovens na municipalidade dele oferecendo a eles a possibilidade de fazer o supletivo, de fazer o pré-vestibular, de entrar na Universidade. Hoje em dia ele tem, eu acredito que ele tem quatrocentas pessoas na universidade do município dele, onde não tinha nenhum em 2003 quando nós conhecemos ele.
P/1 - O município dele é Cipó?
R - Ci... Não, Pentecostes.
P/1 - Pentecostes.
R - Cipó é um vilarejo.
P/1 - Hum.
R - Hoje ele tem duas mil pessoas estudando para fazer o vestibular. Ele desenvolveu uma metodologia em que aqueles que já estudaram ensinam outros, aqueles que já passaram voltam para ensinar outros e ao ensinar aprendem mais ainda. Então há uma sustentabilidade no processo dele que é fantástica. Aí, eu pensei, por que que a gente não pode fazer isso com os jovens daqui? Dar para eles, aqueles que saíram da escola, dar uma chance de fazer supletivo, dar uma chance de eles saberem que existem cursos profissionalizantes, que existem cursos técnicos que podem ser o primeiro passo deles para atingir uma maneira de ser produtivo. E passei o ano todo o ano passado entrevistando pessoas, falando com pessoas para saber o que que esses jovens estão fazendo, o que que está sendo feito com eles, quais são as organizações trabalhando com os jovens e o que que é necessário. Até que decidimos, com recursos doados pela Brazil Foundation, a diretoria decidiu nos dar cinquenta mil dólares para começar como dinheiro seed money, de semestres plantadas para que a gente começasse um plano piloto, para realmente saber como é que é a situação do jovem, o que que é que esse jovem precisa e o que que existe que esse jovem pode, que pontes podem ser construídas. E falamos com uma organização em Santa Tereza, por razões várias aconteceu Santa Tereza. Santa Tereza só tem uma escola de Ensino Médio e tem dezoito favelas, tem mil e quatrocentos jovens nessa escola. Nós falamos com trinta e cinco desses jovens que estavam terminando o curso médio no ano passado, destes trinta e cinco acabamos com seis que se interessaram por fazer um curso de informática que os levasse para outros cursos para que os levasse para o mercado de trabalho. (som do telefone tocando) O meu telefone. Posso parar um instantinho?
P/1 - Claro.
R - E eu desligo o telefone.
[interrupção]
P/1 – ...Fundo Carioca. ____________
R - Então fizemos uma doação... Você já está?
P/1 - Então retomando...
R - Retomando. Santa Tereza. Escolhemos sem... O processo seletivo foi um projeto piloto, decidimos trabalhar com o Instituto Marquês de Salamanca que está dentro da escola com uma creche e eles se disponibilizaram a aumentar a vertente do trabalho deles para incluir os jovens. Então, eles são nossos parceiros na escola, junto com o diretor, com os professores... Descobrimos que não existe orientador vocacional dentro da escola pública de Ensino Médio, então os jovens saem ser ter a mínima ideia daquilo que existe e que eles poderiam tentar conseguir. Não conhecem as escolas técnicas, não conhecem os cursos profissionalizantes que também existem. Na mesma época aconteceu que a (Missanta?) foi criada, que é uma associação de hotéis, bares e restaurantes presidida por uma mulher extraordinária, hã, (Natasha Fink?) que virou parceira também e está dando cursos de gastronomia dentro da escola para os jovens. E diz que é importante para o setor ter gente qualificada dentro do bairro. É muito melhor ter alguém dentro do bairro que pudesse trabalhar nos restaurantes, nos hotéis, nos bares do que trazer pessoas de outros bairros. E tem museus, tem outros que querem trabalhar com jovens. Então, é um processo interessante, mas é um processo frustrante porque o jovem precisa de muito, muita auto confiança, muita confiança de saber que realmente existe algo que eles podem fazer. Eles não confiam nisso então nem, nem vão. Você marca um encontro com um potencial entrevistador, não aparecem. Então existe uma certa falta de ainda, sensação de poderem fazer o que eles querem fazer.
P/1 - Leona, eu queria entender um pouco mais como é que ele funciona. Ele funciona dentro desta escola em Santa Tereza, mas...
R - O projeto piloto.
P/1 - É, o projeto piloto. Na verdade ele envolve o quê? Ele é multidisciplinar? Você falou em gastronomia...
R - Não, não, isso vai depender dos cursos que vão ser feitos… Disponíveis para os jovens fazerem. Não somos nós que definimos isso. Isso vai depender daquilo que vai depender daquilo que vai existir na verdade. Tem cursos da Firjan que a Firjan já disponibilizou algumas vagas, a FAETEC disponibilizou algumas vagas, então para nós é fazer para...
P/1 - Ponte.
R - É para essa ONG fazer ponte para os jovens. Porque a ONG é que fica responsável pelo jovem.
P/1 - E esses seis alunos que você falou... Você falou em seis, né?
R - Os seis terminaram o curso de informática, fizeram o curso básico de informática. E nós estamos tentando ver se eles fazem outros cursos para que sejam qualificados para competir no mercado de trabalho.
P/1 - E a ideia então é sempre ter uma seleção dentro, dentro dessa escola, de alguns jovens para...
R - Os jovens que se selecionam, aqueles que querem, todos os que querem podem...
P/1 - Eles se apresentam.
R - ...podem se apresentar. Então, por enquanto ainda a demanda por parte dos jovens ainda é pequena. E ao mesmo tempo nós queremos ver se eles próprios tomam a iniciativa de falar, por exemplo, com os alunos deste ano. Aqueles que já fizeram, aqueles que estão fazendo o curso, que possam voltar, usando a metodologia do Manoel do Ceará para que os próprios jovens incentivem outros jovens a começarem se interessar.
P/1 - E fazer outras...
R - E...
P/1 - ...ampliar o universo de estudo deles.
R - É, e recebemos uma doação de uma firma, financeira que está investindo no Brasil e quer investir no social o mesmo tempo. E é um investimento de três anos que eles fizeram. Recebemos a primeira parte, fizemos um edital nas (UPTs?) para as ONGs que trabalham com jovens mandarem seus projetos para que possamos na mesma, com a mesma ideia de incentivar jovens para se prepararem jovens para o mercado de trabalho, o mercado pode ser diversificado, preparação pode ser diferente, mas cada uma dessas organizações teria a sua própria metodologia de trabalhar com os jovens. E a gente apoiaria esses jovens com o dinheiro dessa firma. Hã...e...
P/1 - Mas isso ainda está dentro...
R - Estamos fazendo agora.
P/1 - Isso é outro projeto maior que o Fundo Carioca...
R - Do Fundo Carioca.
P/1 - Faz parte?
R - Tudo isso é do Fundo Carioca. Tudo que tem a ver com o trabalho com jovens no Rio de Janeiro vai ser parte do Fundo Carioca.
P/1 - Você falou dessa doação de cinquenta mil...
R - Foi da própria Fundação.
P/1 - Da própria Fundação.
R - Para a gente começar.
P/1 - Vocês estão captando mais? Vocês estão? O que que...
R - Nós já captamos dessa firma...
P/1 - ________.
R - Três anos, cem mil dólares por ano. E captamos mais uma firma e de uma forma diferente, eles querem treinar os jovens. Eles têm uma necessidade de mão-de-obra em uma área nova que não existe aqui e eles querem treinar os jovens. Então os jovens que a gente treinou em informática, vão poder ser treinados por eles como instaladores de equipamento de segurança que essa firma está trazendo para o Rio de Janeiro. Então, mais um parceiro diferente dentro do Fundo Carioca que vai treinar jovens. Eles vão fazer o curso, eles vão ter os professores e os jovens que a gente identificar para eles através das ONGs vão ser treinados.
P/1 - A ideia é criar uma rede _______...
R - E eles já entram na linha direta no trabalho porque eles precisam de trabalhadores.
P/1 - E a ideia é então criar uma rede de apoios de, de...
R - Vários apoios e várias… Na expectativa de poder atender quanto mais jovens possível.
P/1 - Mas isso tudo vai ser focado nessa escola de Santa Tereza?
R - Não.
P/1 - Ou a ideia é ampliar?
R - É ampliar, porque o edital agora são três outras comunidades que vão ser beneficiadas.
P/1 - Ah, então você já tem a ___________.
R - Nós recebemos, nós recebemos quinze propostas, estamos lendo e na segunda-feira que vem vamos discutir essas propostas e vamos visitá-las e vamos ver quem é que a gente apoia. Temos dinheiro para três, três comunidades. Não sabemos ainda quais serão.
P/1 - E essa seleção vai sair agora. Quem acompanhou mesmo, a equipe da Brazil Foundation, como é que ela, como é?
R - Nós estamos trabalhando com voluntários e nós vamos contar com parte da equipe da Brazil Foundation para nos orientar.
P/1 - Para fazer esse processo de seleção. Vocês vão replicar então.
R - Nós vamos usar a experiência da Brazil Foundation, colher o melhor possível, mas não usa o tempo deles porque eles estão com a mão cheia, prato cheio, mas nós temos voluntários que estão fazendo isso. Voluntários na área de educação, na área de...pessoas, familiares com editais e com propostas.
P/1 - Você falou que tinham pessoas coordenando essa parte...
R - Nós contratamos uma pessoa, a Cecília Perlingeiro. Ela nos dá dois dias por semana.
P/1 - Ah... Enfim, eu queria só voltar também ainda um pouco. Você falou da dificuldade até do encontro lá, dessa parte toda de gestão que você foi caminhando até... Só para recuperar um pouco, essa parte do encontro que você comentou a dificuldade da, até da compreensão de que não é tão fácil você captar recursos lá nos Estados Unidos por uma maneira...
R - Não é fácil eu imaginar o que que o outro está fazendo.
P/1 - Pois é.
R - Então o outro fica mais outro ainda. A ideia de apresentá-los, de ver o trabalho dos dois lados, integra a ponte. Essa ponte tem duas bases.
P/1 - Você acha que o encontro isso já...
R - Aconteceu duas vezes.
P/1 - ...liberou. Não, quer dizer...
R - Uma vez lá e uma vez aqui.
P/1 - ...está mais integrado?
R - Eu acho, não posso falar da equipe, mas eu acho. Eu acho que há mais comunicação, há mais...
P/1 - E voltando a essa parte de captação, como você mesma me disse, a dificuldade, né, de captar. Vocês pensaram em… Porque existe um perfil de uma pessoa já treinada para captar, pensaram em ter também uma pessoa...?
R - Nós tentamos lá contratar alguém, mas a captação varia muito. E a captação de uma diáspora é diferente de um hospital captando recursos ou de uma universidade captando recursos para a universidade. E as pessoas se especializam tanto que é muito difícil de se adaptarem a outras coisas. Não deu certo. A mesma coisa nós tentamos contratar alguém para organizar o Gala, foi um desastre.
P/1 - Então vocês tiveram essas experiências?
R - Nós tivemos que nós mesmos fazer, porque a gente conhece a comunidade que a gente está trabalhando e é através desse conhecimento, é através do conhecimento do Brasil, é através dos conhecimentos dos projetos que a gente pode representá-los. É muito difícil alguém que tenha uma captação, uma ficha de captação maravilhosa de milhões e milhões de dólares para uma universidade ou para um hospital ou para uma escola ou para uma outra fundação que trabalha em uma área só em um lugar só, é muito diferente.
P/1 - Então vamos voltar ao Gala também. Queria que você me contasse um pouco até dessa participação de pessoas que doaram suas obras como o Vik Muniz. Conta um pouquinho também.
R - De novo, eu acho que os objetivos da Brazil Foundation são vistos com muito carinho por muita gente e essas pessoas nos ajudaram a conhecer pessoas como Vik Muniz ou como o Romero Britto em Miami ou Milhazes, Beatriz Milhazes aqui. Suzane me levou para o estúdio da Beatriz... E todos eles foram extremamente generosos de ceder a imagem para o uso no convite e no catálogo, no livro no Gala. Tivemos também designers que deram seu trabalho para fazer outros convites, brasileiros com muito reconhecimento fizeram o design dos convites. Este ano também tivemos alguém cujo nome eu não me lembro, que fez o ano da floresta esse ano, então a gente de longe está focando no ano da floresta, sustentabilidade neste Gala e o convite foi desenhado por alguém que é um design.
P/1 - Mas o Vik Muniz, o Romero Britto, a Beatriz, eles doaram quadros ou...
R - Não, eles… Sim, doaram quadros para o leilão também. Sim, sim, sim. A imagem e o quadro leiloado na ocasião, no evento. No ano passado nós não tivemos leilão, este ano eu não sei se vai ter ou não.
P/1 - E o que envolve a organização de um Gala?
R - Meses de trabalho, paciência, listas de pessoas, ter certeza que a gente está com os contatos certos, telefonemas, a tentativa de vender mesas, visitas, mesas, seis mesas pelo menos.
P/1 - Qual foi o mais marcante para você?
R - O primeiro e o último. O primeiro que eu descrevi e último foi o do ano passado que o Nizan Guanaes foi o ______, o capitão do Gala e ele tinha uma maneira muito própria de ver como fazer e o que fazer e eu sou super, sabe, presa...
P/1 - Contida.
R - Contida em termos de recursos, de medo de gastar um centavo a mais, dois centavos a mais. Para ele isso não, não, não era um empecilho. E na verdade eu aprendi que quanto mais você gasta, mais você...
P/1 - Volta.
R - Volta. E foi o que aconteceu. Nunca arrecadamos tanto quanto no ano passado e foi, assim, a visão dele, a bravura dele, o carisma dele que nos permitiu levantar praticamente dois milhões de dólares com a decisão que um milhão iria ser colocado em uma conta separada, especial, para começar o patrimônio da Brazil Foundation para nos assegurar que nos próximos dez anos a gente possa estar um pouquinho mais folgados financeiramente dos juros daquele patrimônio.
P/1 - E...
R - Sabe, em termos de aluguel, de salários, de coisas assim. Temos que levantar bastante para poder fazer isso, mas o primeiro milhão deu início à campanha e essa campanha hoje em dia está lançada.
P/1 - A ideia tem uma meta para o Fundo?
R - Olha, nós falamos de dez milhões em cinco anos. Vamos ver se vamos conseguir isso ou se vamos conseguir mais, ninguém nunca sabe.
P/1 - A ideia do fundo, Leona, é manter, é tentar alimentar uma Gala ou vocês têm outra estratégia?
R - Gala ou... Não, temos outras estratégias de trabalhar com investidores que acreditem... Nós também estamos com a estratégia de fortalecer o nosso Conselho Consultivo com pessoas mais empresariais. Eu esqueci de falar do Hélio Mattar que é outro membro de São Paulo no conselho. E estamos convidando pessoas com atuação no mercado financeiro para ver se eles nos ajudam a conseguir trazer dinheiro para o fundo patrimonial.
P/1 – Está certo. E o...
R - O que nós nunca tivemos antes. O nosso Conselho sempre nos deu conselho, mas não foi muito além disso.
P/1 - E do... Deixa eu só dar uma olhadinha aqui o que a gente ainda não falou. Você olhando retrospectivamente, a gente falou... Bom, você falou um pouco do trajeto dos dez anos, né, quais são os momentos de reavaliação, de análises de vocês. Conta um pouquinho do encontro de Itatiaia.
R - Eu não estava lá.
P/1 - Ah, você...
R - Essa foi a primeira vez que eu não fui a uma reunião dos coordenadores, ao invés disso veio o time, eu estava em Nova York.
P/1 - Ah.
R - Eu não estava lá. Eu acho a ideia boa, eu acho a ideia boa, eu acho muito importante a gente entender o que a gente conseguiu fazer ou quais foram as dificuldades ou que foram sobrepujadas ou não. Eu acho muito importante a gente dar aos projetos que nós consideramos referenciais na nossa rede de projetos, e tem muitos mais do que os vinte que foram para Itatiaia. Dar para eles uma oportunidade de olhar o que eles conseguiram e onde eles estão indo. E eu acho extremamente importante para nós usar essa informação para pensar no futuro, nos próximos dez anos. Eu acho que nós já demos vários passos, eu acho que nós estamos no caminho certo. Eu saí da presidência ativa da Brazil Foundation, Patrícia assumiu foi em outubro do ano passado. Ela decidiu quando, quando nós anunciamos que estávamos procurando uma pessoa para ficar na presidência como CEO da Brazil Foundation tivemos vários candidatos, entrevistamos vários candidatos, mas quando a Patrícia anunciou que ela estava interessada, não só ela tinha a experiência da Brazil Foundation dos últimos, desde 2002, como ela é uma doadora, como ela é uma pessoa que conhece projetos, que visita projetos, foi visitar projetos sempre que ela vinha para São Paulo onde a família dela mora e a diretoria decidiu sem nenhuma dúvida de oferecer o cargo para ela, que ela assumiu em outubro. Ela é a Chief Executive Boss da Brazil Foundation toda.
P/1 - E a sua decisão de você também, você se retira da presidência, mas você permanece no...
R - Eu permaneço no Conselho dos Diretores e eu permaneço, como diz, honorificamente como Founding President, como presidente fundadora. E eu trabalho muito proximamente com Patrícia e com a Suzane e eu tenho, assim, mais tempo não só de pensar em um futuro mais amplo e naquilo que nós podemos fazer ao invés de fazer o dia a dia, que a Patrícia está fazendo. E me dedicar um pouquinho mais ao Fundo Carioca que é uma coisa nova e é uma coisa que ainda precisa ser digerida, que precisa ser entendida, que precisa... Precisamos ver se realmente existe uma necessidade ou um nicho para um fundo como esse. Nos Estados Unidos cada estado, cada cidade tem um fundo formado pela filantropia, pela filantropia individual, pela filantropia empresarial que só dá dentro do estado. No Brasil só tem um lugar que tem isso, que é em Santa Catarina, que tem uma Fundação e com uma Fundação que arrecada no estado, para o estado entre pessoas físicas e pessoas jurídicas. E eles tiveram um papel muito importante nas chuvas e no desastre que teve em Santa Catarina. Pessoas mandaram milhões de reais para que a Fundação...
P/1 - Gerisse.
R - Gerisse, administrasse o uso desse recurso na reconstrução, na reabilitação. No nosso caso, a ideia de ter um Fundo Carioca não é, não é dinheiro de desastres, mas é um desastre que vai acontecer se a gente não prestar atenção e não der aos jovens cariocas uma oportunidade.
P/1 – Leona, você falou que também quis se afastar um pouco para poder olhar para o futuro. Você já teve tempo um pouco de poder pensar esse futuro, como você quer que ele seja? Ou de ter alguns planos para ele, para a Fundação e como é que você vê?
R - Nada muito específico, é tudo muito novo. Estou muito, muito envolvida com o Fundo Carioca para poder me afastar, mas eu estou olhando as oportunidades de captação, eu estou olhando as oportunidades de como nós nos estruturamos tanto no escritório aqui quanto no escritório lá, como os dois escritórios continuam criando maiores pontes de trabalho, o que está acontecendo. E eu acho que a gente tem responder a necessidade que a gente vê na nossa frente, de certa forma, tanto a curto tempo quanto a longo tempo. Eu acho que uma geração nova na gerência, no gerenciamento da Fundação entre os diretores, entre os conselheiros, uma geração diferente que pode levar a Brazil Foundation do passo em que nós construímos para o próximo. Eu acredito muito nisso.
P/1 - Você, olhado retrospectivamente para trás, o que que mudou nesses dez anos, assim, o que para você...?
R - No Brasil a filantropia mudou completamente, antigamente nem se podia falar a palavra filantropia, mas hoje, eu acho que hoje em dia dá para dizer investimento social, vamos dizer, ao invés de filantropia. Eu acho que no Brasil está mais séria, eu acho que no Brasil tem mais organizações e tem mais gente querendo doar, tem gente querendo fazer. Nos Estados Unidos infelizmente diminuiu, o que não é bom, mas ao mesmo tempo nós temos uma comunidade que a gente quer manter viva, quer manter ativa, manter criativa, manter participante. O fato de que a ______ do Gala desse ano, do nono Gala, a Andrea Dellal foi visitar dois projetos é uma coisa que nunca aconteceu antes. E eu acho que ela ficou encantada e eu acho que ela consegue vender melhor o Gala tendo visto os projetos, hã, ela fala com outra, outro entusiasmo.
P/1 - Com certeza. E o que que mudou na Brazil Foundation nesses dez anos?
R - Olha, eu, não mudou muita coisa. O que nós estamos conseguindo demonstrar é a nossa flexibilidade, de certa forma, jogo de cintura, a possibilidade de se fazer muito com pouco, todas as coisas que estávamos enfrentando no começo, só que agora temos a expectativa de poder arrecadar mais para criar esse fundo patrimonial que nos permite um pouquinho mais de respiração funda, de não precisar ficar abafado, afobado, abafado...
P/1 - Afobado.
R - Afobado. Em termos de como é que a gente vai fechar o ano como a Suzane costuma dizer.
P/1 - O que você acha que é o diferencial da Brazil Foundation para, o que que diferencia das outras instituições também?
R - Olha, eu acho que nós somos muito criativos. Nós começamos sem dinheiro de ninguém, nós não somos endividados com ninguém, nós procuramos manter independência dos partidos, das organizações religiosas diretamente... Nossos projetos podem ter parcerias com organizações religiosas. Nós tentamos evitar isso porque a gente não quer ser endividado de forma alguma para grupo nenhum. E nós não dependemos de um doador como muitas fundações dependem, de família ou de uma companhia, então eles fazem o que a companhia precisa que seja feito, o que um indivíduo quer que seja feito. Nós recebemos doações múltiplas de áreas diferenciadas, nós trabalhamos nacionalmente, nós temos cinco áreas muito abertas, muito inclusivas, que alguém que esteja trabalhando em uma coisa mais não definida, não é com crianças, não é com adultos, não é com mulheres, não é com saúde, não é com alguma coisa específica, dá para encaixar nas nossas prioridades porque muitas vezes essas prioridades são mescladas. Cidadania, educação, meio ambiente, mulheres, jovens, crianças, saúde, tudo isso está. E a razão porque a gente tem essas diferenciações, é simplesmente para facilitar a maneira de a gente olhar o que a gente apoia. Outros não fazem isso, outros trabalham com coisas mais específicas. Tem várias fundações maravilhosas, uma que só trabalha com crianças abusadas, crianças na prostituição, crianças... Então, existem coisas específicas. Eu acho que a nossa diferenciação de termos mais abrangentes e permitir que uma pequena organização longe do radar das grandes fundações nos encontrem, encontrem o nosso apoio. E o nosso apoio mesmo que seja pequeno, é um apoio muito próximo, que também é uma diferenciação. A gente faz o monitoramento, a gente está de perto conversando com cada projeto durante o ano todo de implementação e a ideia é que eles sejam bem sucedidos porque a falha deles seria uma falha nossa.
P/1 - O que que foi um aprendizado para você nesses anos todos? Você entrou em vários...
R - Olha, é, o aprendizado em tudo foi uma curva extremamente íngreme, eu nunca captei recursos, eu nunca fiz editais, eu nunca selecionei projetos, tudo isso é um aprendizado. Mas o que eu aprendi mais é como eu comecei, confiança. Quando o coordenador de projeto confia que nós queremos o bem dele, o dela e que nós estamos lá para ajudá-los a conseguirem fazer o que eles estão tentando fazer, isso é uma realização muito, muito boa. É uma sensação muito boa de saber que você está se comunicando com outras pessoas comprometidas, outras pessoas que querem os mesmos objetivos de melhorar a vida na comunidade, de ter mais justiça, de ter mais igualdade, de ter mais segurança e menos discriminação. Então, se a gente conseguir contribuir um pouquinho neste processo. A gente não vai resolver os problemas, mas se a gente puder contribuir um pouquinho na vida de uma pessoa, de dez pessoas ou de cinquenta mil, que a gente calculou que a gente atinge, valeu.
P/1 - A gente está encaminhando para o final da entrevista. Gostaria de saber se tinha algum, algum ponto que a gente não conversou, alguma questão que a gente deixou de lado e que você gostaria de deixar registrado.
R - Não, eu tenho certeza que tem muito se a gente for pensando, mas eu acho que cobrimos uma área enorme, dez anos. Eu acho que nós temos um time forte, nós passamos por dificuldades como eu disse antes. Nós ultrapassamos essas dificuldades, nós estamos indo para frente confiantes.
P/1 - Leona, a gente sempre faz uma pergunta meio assim, para pegar o perfil de cada um. O que que você gosta de fazer nos seus horários de lazer?
R - Eu gosto de fotografar, eu gosto de estar com a minha família que diz que eu não passo bastante do meu lazer com eles, eu gosto de ler, eu gosto de bons filmes, boa música.
P/1 - Tem netinhos também?
R - Não, não tenho.
P/1 - ___________, né. E, enfim, queria perguntar se você gostou de ter participado também do projeto?
R - Claro, gostei muito e estarei antecipando o resultado disso.
P/1 - A ideias de, assim, para... Vocês estão, você e Suzane pensando o que que vocês vão fazer com o material, vocês têm uma ideia?
R - Não.
P/1 - Publicação...
R - Não tenho, porque vai depender muito dos recursos. Porque vai depender muito dos recursos e... Eu não sei como o Museu da Pessoa faz, se prepara material editado ou se faz material bruto como está sendo feito agora, um material de muitas horas ou se resume em uma coisa em que a gente pode olhar isso ou dentro das nossas mãos ou no nosso site, ou um filme. Não sei, não sei o que a gente terá recursos para fazer. Suzane gostaria de fazer uma conferência e eu acho que seria ótimo ter uma conferência dependendo da daqueles resultados que a gente obtiver dos nossos coordenadores, dos nossos parceiros se tem lições, se tem ideias que a gente pode compartilhar disso com mais pessoas. Seria fantástico.
P/1 - Ótimo. Bom, a gente a gente vai terminando. Eu gostaria de agradecer todo esse tempo que você também dedicou aqui.
R - Eu também agradeço a vocês e a você...
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