Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Maria Augusta Tibiriçá
Entrevistado por Paula Ribeiro e Mirella Fontes
Rio de Janeiro, 11 de abril de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_HV032
Transcrito por Transkiptor
00:00:29 P/1 - Eu gostaria de começar a nossa entrevista, então, pedindo que você nos forneça o seu nome completo, seu local e data de nascimento.
00:00:37 R - Completíssimo é muito grande. Completíssimo. Nossa senhora, então vamos lá, lugar. Maria Augusta de Toledo, Tibiriçá, Miranda. Mas eu não uso isso tudo, é muito nome.
00:00:48 P/1 - Onde você nasceu e data de nascimento?
00:00:49 R - São Paulo, capital, 6 de maio de 1917. Com o que estão vendo, 6 de maio próximo, completo 86 anos.
00:01:03 P/1 - Um pouco da sua origem, Maria Augusta, nome dos pais e profissão dos seus pais, por favor.
00:01:08 R - Meu pai, João Tibiriçá Neto, paulista de uma família de políticos paulistas da antiga oligarquia paulista antes de 30. Ele era engenheiro e exerceu a profissão em parte em São Paulo, em parte no Maranhão, que ele foi construir uma estrada de ferro, mas dominantemente em São Paulo. E a sua mãe, o nome dela.
00:01:34 P/1 - E a profissão da mãe?
00:01:36 R - Alice de Toledo Ribas Tibirissá. Ela fez um curso completo de piano, como era comum à época. Ela era profundamente autodidata. E escrevia muito bem. Chegou a lecionar português e era moradora exímia. Agora, se você me perguntasse profissão, eu diria patriota. Ela se emprenhou muito em campanhas médicos sociais. Desde 1927, exatamente quando meu pai estava no Maranhão construindo a estrada de ferro, meu irmão mais velho tinha dois anos, há quatro anos de diferença entre nós, ele já faleceu. Ele tinha dois anos e foi para o Maranhão. E minha mãe saía às vezes à tarde, ia para as praças com ele, e via os leprosos, como eram chamados à época, e é o nome, depois houve uma conotação que ela própria trabalhou para mudar. Ela via os leprosos a cavalo, à distância, pedindo esmola, e ela ensinava o filho, o meu irmão, a levar para eles os óbulos. E aquilo marcou a vida de Alice Tibirissá, que era o nome dela. Alice Tibirissá, resumindo. Ela ficou muito impressionada e quando voltou, primeiro para o Rio e depois para São Paulo, onde foram morar, onde eu nasci dois anos depois, ela pensava sempre nos Ancenianos do Maranhão. E resolveu fazer um trabalho para eles. Criou, primeiro, uma quermesse para levantar fundos, depois uma sociedade. E logo, vejam o nome com substância, todo um programa, porque ela havia muito largo. O nome era Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra. Ela dizia o seguinte, não adianta eu fazer. um hospital para 100 doentes. O Brasil está cheio deles. Não adianta eu atender crianças apenas, filhos deles. E aqueles doentes do Maranhão, e como são escorraçados. Resolveu. Eu vou fazer uma campanha, um barulho tão grande neste país, que povo e governo passem a se interessar pelo problema. E fez. Ela fez uma campanha tão forte que, em poucos anos, ela criou a Sociedade em São Paulo, depois veio, criou a do Rio, depois estabeleceu uma rede de sociedades por todo o Brasil, só no interior de São Paulo, umas 100 associações chegaram a se formar. E, em seguida, ela criou uma federação de associações já criadas. E basta dizer que, com alguns anos de campanha, o orçamento do governo para Lepra, como até então se chamava, era de 12.800 contos. Era o tempo dos contos de raiz. Enquanto que para a tuberculose, que tinha uma abrangência muito maior e muito mais contagiosa, 400 contos. Isto, fruto de uma grita, de um movimento. Ela disse, vou fazer mesmo um barulho nesse país todo. E depois de criar da Federação, ela organizou, em 1933, um congresso, já aqui no Rio de Janeiro, não só com as entidades privadas, como com cientistas que trabalhavam irmanados com as entidades. E ela criou mesmo um órgão de publicidade, o Boletim, que trazia a parte científica, explicações sobre a enfermidade, a parte social e o movimento que se fazia. E o Getúlio, à época, estava no chefe do governo e mandou dizer a ela que o que ficasse aprovado naquele congresso seria adotado como plano de governo. E ela era leiga, ela não era médica. E quando ela faleceu, em 1950, nossa família, eu já era médica. E fui médica por influência de tudo isso. Eu com 10 anos vivia por hospitais. Eu recebi da Sociedade Brasileira de Leprologia Uma carta de profundo pesar pelo falecimento de Alice e eles que congregavam os especialistas, médicos especialistas, reconheciam em Alice Tibirissá a pioneira da moderna fase da campanha contra a anseníase no Brasil. Que reconhecimento sensacional.
00:06:47 P/1 - Quer dizer, tanto por par do governo quanto da comunidade científica.
00:06:50 R - Mas assim mesmo ela teve lutas muito grandes, porque em São Paulo, uma ocasião, isso despertou grande ciumeira no serviço oficial de Lepra de São Paulo. justamente quando ela organizou o congresso. Aí eles enlouqueceram. Disseram, como é que uma particular está passando na nossa frente? Então, ela vivia num hospital, num sanatório, e tinha um, então, que vivia dizendo, dona Alice, cada vez que eu venho aqui, já venho com vergonha, de tanto que eu peço. Mas, o inspetor de Leblon, de São Paulo, ele estabeleceu um decreto que podia nomear e demitir seus auxiliares. Ficou com todos na mão e desencadeou uma campanha para impedir a realização no Congresso. Uma campanha muito feia. E minha mãe adotou, então, o seguinte lema. Com os governos, se preciso. Sem os governos, se possível. E até mesmo contra os governos, se assim for necessário. E foi. Ela veio, fez uma carta, mandou para os jornais dizendo que assumia a responsabilidade de todas as coisas boas que não queriam ver e de qualquer coisa básica que pretendessem apontar, mas que ela ia trabalhar e vinha para o Congresso. Esse mesmo grupo teve o desplante de vir para o Congresso. Se apresentaram de qualquer jeito. Depois que viram o nível do Congresso, no dia seguinte já estava mais enquadrado. E, afinal, foi um grande êxito, uma grande vitória. São coisas que vocês vão me perguntando, a gente vai se lembrando e trazendo.
00:08:36 P/1 - Agora então um pouquinho dos seus avós. Lembrança dos seus avós, o nome dos avós maternos e paternos.
00:08:42 R - Olha, eu vou dizer uma coisa. Meus avós maternos eu não conheci e foi muita pena. Minha mãe era muito ligada à mãe. Sabe o nome? Eu sou Maria Augusta por isso. É, Maria Augusta. E meu avô entrou pra Guerra do Paraguai, foi levado pelo pai que levou todos os filhos quando tinha 13 anos, se engajou e ficou. Ele morreu como general do exército no hospital que tinha no Morro do Castelo.
00:09:12 P/1 - O nome do avô?
00:09:13 R - José Florencio de Toledo Ribas. Mas... Aí, quando ela perdeu pai e mãe com 13 anos, foi para o Rio de Janeiro, onde a irmã já tinha se casado e morava. Depois foi para São Paulo, para a casa de umas tias. Uma delas foi casada com o tio da minha mãe. E foram muitas chegadas a nós. Lá eu nasci. Então, foi uma... Nossa família foi enriquecida por essas tias e tios.
00:09:48 P/1 - E os avós paternos?
00:09:51 R - Avós paternos, a minha avó era de uma tradicional família e eu até costumo brincar muito que ela tinha uma postura, ela não se sentaria assim à vontade como nós, ela tinha aquela postura antiga, golinha alta. Falava sempre, e eu achava aquilo, desde criança, uma coisa muito engraçada. Ela dizia, o meu pai, o conde de Parnaíba, na minha cabeça de criança, o que tem a ver que seja conde ou não seja conde? Eu já reagia com aquilo. Mas era uma estrutura da época. E o meu avô, mais tranquilo nessas coisas, ele antigamente não era governador, era presidente. Ele foi presidente de São Paulo por duas vezes.
00:10:43 P/1 - O nome dele?
00:10:44 R - Jorge Tibirissá. Na família, o pai dele já tinha trocado Almeida Prado por Tibirissá. Uma coisa do vô índio lá de São Paulo. Então, havia uma alternância, João e Jorge, João e Jorge. Meu avô era Jorge Tibirissá. E meu irmão era Jorge Tibirissá Neto. Meu pai era João, meu avô era João.
00:11:12 P/1 - Conta um pouco, Maria Augusto, como é que era, então, esse clima da sua casa na infância? Que bairro que era? Como é que era um pouco a São Paulo da tua época de infância? Brincadeiras?
00:11:21 R - Olha, eu me lembro muito das brincadeiras. Nós morávamos numa casa que foi da família de Campos Salles. Era uma casa... Nós nunca fomos ricos, nem quisemos ser até hoje, viu? Eu tenho esse mau hábito. Não sei se é mau hábito, mas vou preferir assim. Mas tínhamos uma casa muito gostosa que povoou a minha infância. Que bairro que era? Era perto de Santa Cecília, mais ou menos, ali perto da Santa Casa, na rua Aureliano Cotinho, perto de Jaguaripe. Era um jardim que subia, Uma casa terra. Eu adorava. Ficou até hoje na minha preferência de aconchego. Essas casas terras muito agradáveis, com uma varanda na frente. E, nessa casa, minha mãe tocava piano. Ela teve o curso completo, era professora de piano. Ela chegou a lecionar no conservatório. Meu pai tocava violoncelo e violão. E um amigo dele tocava violino. Então, eles, à noite, às vezes, se reuniam e tocavam. Aquilo ficou muito... E minha mãe sempre, quando eu ia dormir, estudava piano. Mas, aos poucos, eu fui deixando de ouvir, deixando de ouvir, porque ela se engajou de tal maneira na campanha contra a lepra que não tinha mais tempo para nada. Ela teve, depois, que fazer um colégio para a nossa sobrevivência, e esse colégio mesmo ela sacrificou pela causa. E eu, garota, eu adorava meu jardim. Tinha uma árvore, que era a minha árvore. Eu vivia em cima da árvore. Tinha um galho em que eu me arrefastelava para ler. E tinha muros. Eu somia. Tinha a minha cachorra, a grande cachorra da minha infância. Até hoje eu penso na mimosa. Então, foi uma infância assim com esses lenços. Eu seleciono as coisas sempre melhores, as boas, porque as coisas, os problemas que vão surgindo na vida, o importante é como a gente os enfrenta.
00:13:38 P/1 - Irmãos, quantos vocês são irmãos?
00:13:41 R - Eu só tive um irmão quatro anos, o irmão que eu falei, de que eu falei, que aliás foi a causa da volta deles, porque ele teve uma folongulose muito grande e os médicos de lá chegaram à conclusão de que ele não se dava com o clima, tinha que voltar para o sul.
00:13:57 P/1 - Em termos de escola, você estudou algum antes?
00:14:00 R - Estudei no... Havia uma lei que eu achava meio burrinha, que só com sete anos eu poderia entrar para a escola que fiz, que foi uma beleza, era a Escola Modelo Caetano de Campos, anexa à escola normal. Mas eu tive que esperar um ano. Porque eu tinha seis anos. E eu tiraria de letra. Uma coisa, você está falando de mim. Eu disse, eu não sei falar de mim, mas vocês estão me provocando. Disseram que eu tenho de falar de mim. Então, eu não sei como foi que eu aprendi a ler. Eu achei tão tranquilo, era óbvio. Eu não tinha muita facilidade, mas tive que passar um ano. Com a minha prima, eu tinha uma família grande. A irmã dela só teve dois filhos, mas a irmã teve doze. Perdeu três, eu cresci no meio de nove primos, multifegados, sobretudo uma que até hoje, felizmente, está viva. E a gente é como irmã. Então, nós tivemos esse convívio nesse período familiar mais com esse grupo.
00:15:17 P/1 - Educação religiosa, você tinha uma coisa presente na sua casa?
00:15:22 R - Não tanto, digamos. Mas a tradição era a religião católica e eu fui criada na religião católica, fui batizada, fiz minha primeira comunhão. Depois eu fiquei muito ligada com a professora que nos preparou e às vezes saía até com ela. E ela me levou para a igreja para fazer um trabalho que ela fazia. A gente recolhia um, naquele tempo era o meu réis, o meu réis dos amigos, cada um levava, todos faziam uma caixinha e para a igreja cada entidade pedia por mês aquela importância. Não sei se foi isso, mas me passa que sim. Um dia, uma entidade que não era católica, de finalidade assim, mais religiosa, mandou pedir. E eles disseram, bom, mas essa não é. Eu nunca mais voltei. Não voltei porque, sabe, eu disse o que eu estou fazendo aqui. Eu acho que quem precisa, precisa. Não importa que a religião tenha. Não é? Bom, pode ser que isso tenha influenciado. Então, digamos, se você perguntar hoje, eu diria que eu sou uma pessoa ecumênica. Ecumênica. Se me convidarem para qualquer templo, eu entro tranquilamente, acho aquela paz. Mas eu prefiro olhar para o infinito e conversar diretamente, sei lá com quem. Talvez com a equipe de anjos da guarda que eu tenho.
00:17:04 P/1 - Então, a escola, quer dizer, qual é a tua primeira escola? O nome da escola você já tem?
00:17:08 R - A escola eu já tenho. Era uma escola pública muito boa. Me lembro com ternura das minhas professoras Cecília Bueno dos Reis, da Boroso. Primeiro, segundo e terceiro a série. Quando ela saiu, foi aquela... E depois pegamos Dona Mery Grino dos Santos. Eram quatro anos daquele tempo. Depois eu fiz o ginásio em São Paulo também e fui a última turma do ginásio de cinco anos. E quando terminamos, a Faculdade de Medicina de São Paulo criou exatamente naquele ano dois anos de pré-médicos obrigatórios. Um grupo veio para o Rio de Janeiro E como minha mãe tinha perdido os pais cedo, ela que tinha uma visão muito larga das coisas, ela não queria que nós, filhos, ficássemos muito dependentes. Então, hoje em dia, isso é tranquilo. Até a gente falar nisso é engraçado. Mas na época, não. Eu tinha 17 anos e ela veio ao Rio e disse, você vai estudar no Rio. Eu tenho muitos parentes aqui. Ela disse, você não vai para casa de parentes, não. Tinha uma amiga que tinha uma pensão familiar. Aí ela foi para a pensão familiar. E disse que me tratou tudo, uma pessoa maravilhosa, Conceição Branco, Maria Adela, os filhos foram muito amigos. Voltou para São Paulo e se esqueceu de uma coisa. Tocou o telefone. Olha, eu me esqueci de dizer que vocês não são responsáveis pela Maria Augusta, não. Ela vai dirigir a vida dela, entrar, sair, para onde ela vai, ela sabe. Quer dizer, eu achei isso tudo maravilhoso numa pessoa e pra época. Me pôs no trem, eles me receberam aqui e, como eu brinquei há pouco conversando com a Mirelle, se alguma coisa isso me fez foi aumentar um senso de responsabilidade muito grande que eu já tenho.
00:19:23 P/1 - Agora essa opção pela medicina, né? Você disse que você vivia um pouco esse ambiente.
00:19:28 R - Sim, eu tenho...
00:19:29 P/1 - Mas será que mulheres nessa época cursaram em universidade de medicina?
00:19:32 R - Bom, na minha turma, que foi a de 1941, da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, hoje o UFRJ, havia 10 mulheres para um conjunto de 170. E eu acho que já era bastante, porque hoje... Você está rindo? Porque hoje a maioria de mulheres já está passando, já está virando uma profissão feminina praticamente. Mas a nossa turma teve uma coisa de boa. Até hoje, todos os anos, nós comemoramos a formatura. Até hoje.
00:20:16 P/1 - Vocês se reúnem?
00:20:18 R - Já comemoramos 61 anos de formados. E sempre. Acabei da comissão. Tem sempre que ter quem puxa. E sempre nos reunimos, o que é uma coisa boa. É outra família que a gente tem.
00:20:38 P/1 - Maria Augusta, qual foi a sua primeira impressão ao chegar no Rio de Janeiro? Você consegue lembrar disso?
00:20:45 R - Olha, eu cheguei. Estou instalada, vamos pra frente. Eu tinha uma responsabilidade grande. Fiz direto. Saí do ginásio. Por décimos eu não entrei, mas foi bom. Foi muito bom. Por décimos. A minha média foi assim. Mas aí... Havia um curso de pré-médico ligado à própria faculdade, excelentes professores. Aí eu pude fazer um curso muito bom e me deu uma base que valeu pelo curso todo.
00:21:20 P/1 - Algum professor que tenha te marcado mais na universidade?
00:21:24 R - Principalmente os mais exigentes. E talvez o Maurício de Medeiras. Eu gostava dele no pré-médico. Ele foi professor no pré-médico. Eu gostava tanto dele que só tive dez em todas as provas e no vestibular. Porque eu gostava da matéria e gostava muito dele, a filha dele. Isso é importante também. E, na faculdade, a gente guarda... E eu tive uma coisa, eu tive que fazer meu curso trabalhando. Então, era uma correria para lá e para cá. E eu consegui e não podia ficar em dependência. Naquele tempo era dependência. Porque se eu ficasse, eu não podia as coisas mais em dia. Então, eu dava força total durante o ano. O meu trabalho não era emprego, era trabalho e muito trabalho.
00:22:18 P/1 - Qual era o trabalho, Maria Alonso?
00:22:20 R - Eu trabalhava na Inspetoria Federal de Obras Contrasecas do Ministério da Aviação, que virou transportes. E o chefe tinha pedido licença para escolher, tinha um funcionário só, para escolher outro funcionário. E a tal senhora, amiga da minha mãe, cuja casa eu morava, a pensão, foram buscar a filha dela na escola Mário Cavalcanti, mas não foram elas. E me disse, vai lá. Eu fui. Redação eu tinha. Bati a máquina furiosamente bem. E... Não sabia fazer tabela. Mas aí, Zamira, a gente guarda certas figuras já faz tempo. Chegou perto e falou, olha, faz isso, divide. Deixa comigo. Eu sou calma, tranquila, para fazer prova. Saiu bonita a minha tabela. Fiquei com o lugar, não é? Então, éramos três doidos, trancados numa sala, trabalhando, feitos processos. Quando chegava, também, de oito da manhã às sete da noite, ou eu estava na faculdade ou eu estava lá, embora o horário fosse de onze às cinco.
00:23:28 P/1 - Mas você tinha que viajar ou era.
00:23:29 P/2 - Um trabalho só no Rio?
00:23:30 R - Não, era no Rio, não dava. Aí não dava. Era aqui mesmo. E eu trabalhava numa repartição de engenharia, fazendo curso de medicina, parecidíssimo. Mandei conta dos dois, muito bem, obrigada.
00:23:43 P/1 - Ora, sobre a vida assim, quer dizer, dava tempo para o lazer? Você como moça, jovem, no Rio, o que vocês faziam?
00:23:49 R - Não dava para exagerar. Mas eu, fim de semana, eu pegava meu cinema, pegava minha praia. Isso eu sempre procurei fazer.
00:24:02 P/1 - Como é que vivia uma jovem nessa tua época? O que você via de cinema? O que tinha de cinema?
00:24:06 R - Qual era o galã de época? Minha filha era curiosa, porque eram muitos. Naquela época, a gente sabia o nome de todos. Hoje em dia, não sei mais de ninguém, não são muitos. Mas na época, você conhecia, sabia. E havia filmes. Hoje em dia, o cinema está muito voltado para uma realidade hostil, que interessa a esse sistema que está aí montado. Então, você já tem... Há filmes ainda bons, felizmente, e até de países diferentes, e até nosso cinema. Nós já podemos destacar muito bons filmes.
00:24:45 P/1 - Mas algum filme da tua época que tenha te marcado mais de juventude?
00:24:50 R - Olha, havia tantos. Eu sou do tempo do Vento Levou, daquela coisa toda, sabe? Que eram filmes que marcavam.
00:24:59 P/1 - Maria Augusta, então, como era o ambiente da universidade?
00:25:04 R - Olha, eu vivia correndo. Hoje é que eu convivo muito mais com meus colegas e o que querem é comigo. Telefonam para mim, porque eu sou da comissão. Acabei ficando mais responsável mesmo pela comissão.
00:25:18 P/1 - Mas, por exemplo, você entrou numa época onde estava acontecendo, por exemplo, uma segunda guerra mundial, né?
00:25:22 R - Foi, eu entrei em 35, eu fiz o pré-médio, em 36 eu fiz o primeiro.
00:25:31 P/1 - Mas uma questão política era presente nessa época?
00:25:34 R - Nessa época, honestamente, eu entrava, assistia às aulas práticas, me virava para estudar as aulas teóricas e saía correndo. Então, realmente, nesta época, eu não me engajei em coisa, não podia, não tinha como na faculdade, Realmente, os estudantes, com o correr dos anos, foram tomando mais consciência política. E com os diretórios que se criavam, E, por fim, depois de formada, trabalhei muito mais com os estudantes na campanha do petróleo, que nós vivíamos na UNE, na Praia do Flamengo. E aí a gente teve um convívio muito maior e político mesmo, né? Político não partidário, mas político.
00:26:28 P/1 - Agora, dentro da medicina, você, por exemplo, tinha uma área que te interessava especialmente?
00:26:33 R - Sim, eu achava e acho. Eu já tenho um filho médico, que hoje até está na presidência do Conselho Regional de Medicina. Eu dizia... Todo mundo militante, né? Abó, mãe, filho, todo mundo. Eu dizia, eu acho que o médico, antes de se especializar, precisa ser clínico, para ter noção do conjunto. Depois, eu me formei, Um ano depois, passei para o serviço médico do próprio ministério, como médica do ministério. E lá eu fazia clínica. E havia uma coisa curiosa. Tudo que era caso de psiquiatria ia bater no meu consultório. Não tínhamos psiquiatra. Eu não sou psiquiatra. Mas batia no meu consultório, eu não deixava de atender. E comecei a perceber que eu fui resolvendo muitos problemas. Não só na parte de medicação, como principalmente na parte de psicoterapia mesmo. Eu conseguia coisas. Um paciente que nunca tomava injeção. Eu consegui tudo dele. Tomava até injeção na veia. Até quando eu estava depois tendo um filho na maternidade, ele me telefonou para qualquer coisa. Eu de repente parei e disse, espera um pouco. Eu vou fazer psiquiatria. Já tinha entrado um psiquiatra para lá, mas eu já, como fiz o curso trabalhando, eu já estava com a aposentadoria à vista. Então, eu disse, vou fazer uma especialidade. E fiz o curso de saúde mental de ano inteiro. Aí foi outra, nossa senhora, outra correria. Mas consegui. Fechei o curso na Escola Nacional de Saúde Pública. Ainda saí na cabeça. Foi, desculpe.
00:28:31 P/1 - Dedicação, ué.
00:28:35 R - Fiquei representante de turma e rebati a matéria para todo mundo. Quer dizer, é um temperamento que eu tenho, que a vida me deu, que se eu tenho algum mérito é de utilizar em boas causas. Eu tenho capacidade de trabalho e isso tem me ajudado muito na minha vida, não só familiar, como profissional, como política. Nas campanhas médico-sociais em que eu entrei, nas campanhas femininas e principalmente, principalmente, que foi onde eu me dediquei mais e até hoje, nas campanhas cívicas. de defesa dos interesses, começando pela campanha do petróleo, que entrei em 1948. Final de 1947, já estava nos centros democráticos, que se integraram quando lançaram a campanha do petróleo. Veio através do centro da Tijuca.
00:29:44 P/1 - Então, conta pra gente como é que se deu, então, essa tua inserção. Como é que começou isso? O que que te despertou interesse pra participar dessa campanha?
00:29:53 R - Bom, eu vinha falando nos trabalhos médicos sociais de que eu participava. Minha mãe, ela tinha entidades aqui no Rio de Janeiro, também a instituição Carlos Chagas. E quando... E trabalhava no movimento feminino. E foi a São Paulo e criou uma federação. Isso, primeiro, isso, falar em mulheres, tinha que reportar a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino de Berta Lutz, que ela representava em São Paulo a federação. E teve uma atuação grande pelo voto feminino, etc. E depois, no pós-guerra, Houve uma eclosão de uniões femininas pelo Rio de Janeiro e entidades democráticas e contra a carestia também pelos bairros, antifascistas e contra a carestia. E no nosso bairro, ela era presidente, sendo democrática, Tete Laranjeiras. Quando a Liga Antifascista da Tijuca, que era presidida pelo general Leoclides Figueiredo, o pai. E Dona Anuta Bartlett James também era da Liga, porque morava na Tijuca. Minha mãe presidia o Seno Democrático, a Tete Laranjeiras. E o Café Filho era vice-presidente. E eu integrava também o centro. E tinha a união feminina que também funcionava ali. Ela foi para São Paulo criar a Federação de Mulheres, já lançando no programa a defesa do petróleo, porque tudo começou em 1947 com as palestras do convite do general César Obino, que era o presidente do clube militar. Ele, o general Henrique Cunha e o brigadeiro Francisco Teixeira, que eram da Comissão Cultural, sugeriram que abrissem a discussão e a diretoria e o general César Obino prontamente concordaram e convidaram os dois, o general Juárestávaro, que na palestra se mostrou entreguista, como nós chamamos, e o marechal Lorta Barbosa, que defendeu e apresentou e defendeu a tese no monopólio estatal do petróleo. E, nesta época, Alice Tibirissá, minha mãe, foi para São Paulo criar a federação, já incluindo no programa a defesa do petróleo. Enquanto que a Liga Antifascista da Tijuca, no dia 4 de abril de 1948, fez um ato na BI e lançou a ideia do centro de petróleo. Lançou a ideia do centro de petróleo no dia 9. Eu estava nesse ato e... No dia 9, já se reunia a comissão organizadora. Eu estava na comissão. Logo, sou sócia fundadora do centro, que desencadeou o movimento em torno do Brasil. No dia 9 de abril. Quando foi dia 20, uma pequena nota, que eu até tenho aí e vou mostrar para vocês, noticiava no dia seguinte uma notazinha, a criação do centro. Isso no dia 9. No dia... Não, sobre... Quando foi lançado no dia 4. Quando veio a ideia, dia 9, se reuniu a comissão, e dia 21 de abril, um grande ato no Automóvel Clube. nós já tivemos a alegria de ver lançado o Centro Nacional de Estudos e Defesa do Petróleo. Um ano depois, por proposta do general Raimundo Sampaio, ele ampliou seu nome para Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional para ser mais abrangente, Amazônia, minérios, etc, etc. Mas o que te levou a participar? Sim, foi a pergunta sua. Mas eu vinha dizendo que a minha mãe foi já para São Paulo. E quando ela voltou, eu já estava... Olha, ela tinha uma frase que talvez responda você. Ela dizia que consciência política é como um tapirulã. Você põe o pé no tapete, ele vai subindo e não tem volta. E nós já participávamos desses movimentos democráticos. E eu estou te dizendo, eu fui representar o centro do Catete lá, foi lançado o centro de petróleo, eu já engajei. E a minha mãe, quando voltou, disse uma coisa muito interessante. Ela se engajou direto na campanha do petróleo e disse, Ela tinha realizado muita coisa, principalmente na campanha contra a ansiedade, depois contra a tuberculose, conseguiu unificar as entidades, era difícil, trabalhou para os cegos, psicopatas, ela criou entidades, ela criava e entregava para os outros, agora não falta quem queira. Ela tinha feito todo esse movimento, ela parou e disse, perdi praticamente 20 anos de minha vida em lutas parciais. Só quando o Brasil for emancipado economicamente é que pode resolver todos esses problemas. E entrou de cabeça. Ela fez, nós tínhamos no centro, eu já vou dizer nós porque eu me integrei direto no centro de petróleo. Primeiro, minha mãe ficou na vice-presidência e eu estava no conselho encarregada da comissão de propaganda e de intercâmbio com os estados. Como é que se faz a propaganda? Como é que se fazia propaganda? Bom, então vamos sentar e conversar. Era uma beleza. A propaganda, olha, você veja, até hoje a mídia é mais ou menos fechada e as multinacionais que sempre quiseram nosso petróleo se encarregavam de fechar ainda mais. Mas o nosso movimento parecia que tinha fermento. se multiplicava. Logo que nós nos constituímos, vai entrar a resposta da propaganda nisso. Foram sendo criados vários centros dos estados. Eu fui designada para ir a São Paulo. Criei o Centro Paulista a partir do núcleo estudantil do Centro Onze de Agosto. E pouco tempo depois, o centro se lançava no Teatro Municipal, lotado. E saíram em passeatas já pelas ruas. Então, foi um movimento realmente muito grande. E a propaganda era o seguinte, visava especialmente a esclarecer o povo sobre o que era, o que estava acontecendo. Não era apenas, vamos lutar pelo petróleo. Era isto também. Mas vamos lutar pelo petróleo por quê? Eu tenho um documento que trouxe aí, vou mostrar a você. Esse documento quem redigiu fui eu. tamanho, papel, ofício, porque o centro, tínhamos o Centro de Estudos, a Comissão de Propaganda, a Comissão de Finanças. Quiserem me pôr lá de Finanças, eu digo de jeito nenhum. Eu vou para a de Propaganda e acabei acumulando por um tempo de intercâmbio. O Centro de Estudos elaborava as teses, estudava, estudou o que era o Estatuto Petróleo, que tinha um lançado no congresso era um terror de entreguismo. Eu peguei aquilo, organizei em itens. Você sabe que há na Câmara Federal um projeto de estatuto do petróleo que dá concessões por 30 anos para os estrangeiros, renováveis por mais 10 e ainda renováveis. E você sabe que no fim disso tudo, se houver desistência, teremos que indenizar todas as despesas e mais o petróleo que não tem embaixo da terra. Você sabe. Então, A primeira página era uma análise, em termos bem claros, para qualquer um entender. E, no verso, nós imprimimos opiniões de personalidades, marechal-general, desembargador, sei lá, sobre que a adesão era de todas as categorias e todas as classes. E distribuímos na rua, onde fosse. Eu me lembro de eu entrando no ônibus para casa e distribuindo para todos os passageiros que pegavam e liam.
00:38:59 P/1 - Você está falando de que ano, Maria Augusta?
00:39:01 R - Eu estou falando de 1948.
00:39:03 P/2 - E como era uma mulher? fazer campanha, ir para a rua...
00:39:06 R - Essa pergunta já me fizeram, mas era igual. Eu nunca me senti... Você não, mas.
00:39:14 P/2 - Como as pessoas te viam? Como você era recebida?
00:39:16 R - Muito bem, porque eu nem pensava em como iria ser recebida. Eu sabia o que estava fazendo e tinha tal convicção que passa. Eu fui representar. É curioso que já me fizeram essa pergunta em outro depoimento, que eu fiz exatamente a mesma pergunta, Mirelle. E eu me lembro de que fui, por exemplo, para Goiás. Eu era bem moça, né? Mulher e bem moça, bem jovem. Eu fui para Goiás com a carta de apresentação do nosso então presidente, que era o deputado Domingos Velasco, goiano. Mandaram pedir alguém no centro, lá fui eu. Cheguei, fomos direto para o comício. Eu tenho facilidade de falar. Outro dom que não é virtude, porque eu recebi esse dom. Me empolgo, falo. Fui para o comício e tal. Depois, o meu mérito é aplicar em uma boa causa. É isso que eu digo. O meu mérito é isso. Fui para o comício e falei. E sempre em linguagem que pudesse ser, é claro. E, como eu sabia que eles dali iam para a sede, não é porque fosse sede do Partido Socialista, é porque a campanha era suprapartidária e qualquer partido que funcionasse podia ser lá, todo mundo ia, sem se importar se era isto ou aquele. Eu vou enfatizar esse aspecto que é importante, não me deixa esquecer. Mas, então, nós fomos para a sede. Não, eu, de público, disse, olha, nós vamos organizar, reorganizar o centro aqui. Quem quiser se engajar e puder fazer parte das comissões, vamos embora, vamos conosco. Direto. E fomos, e veio um grupo atrás. Lá, então, nós pudemos reestruturar o centro, organizamos as comissões. E deixamos, porque eu fui para Anápolis e Pires do Rio, onde eu fiz palestras, conferências, Pires do Rio com um teatro lotado. Mas cheguei a Pires do Rio, Parei, pensei e disse, eu preciso reorganizar aqui o centro. Como é que eu vou fazer? Chamei meus goianos que estavam comigo lá do centro e disse, olha, me levem para os médicos locais e para as professoras. Eu tinha um dia. Passei a tarde visitando médicos e professoras. Eu digo, são elementos conhecidos e que têm contato. E trago as mulheres também, porque eu acho que nessa campanha não é homem, é mulher, é brasileiro. Consegui deixar formado e estruturado o Sendo de Petróleo. E fiz uma palestra, me lembro bem, descendo a detalhes bem explicados. Quando acabei, veio uma senhora dizer, primeira vez que eu uso uma palestra, entendo tudo. Então, consegui minha intenção. Porque eu expliquei tudo o que se passava, mas com linguagem. Olha, lá vem o petróleo. Do petróleo a gente fazia isso. Até batom, sabia? E o quórum?
00:42:47 P/2 - Tinha muita mulher nesse quórum, dessas palestras?
00:42:50 R - Olha, não vou dizer que tivesse muita, mas tinha mulheres. Bom, isso tudo para responder à pergunta que você me fez, de eu, jovem e mulher. Bom, quando acabou tudo, voltamos e tal, voltamos e estavam... esperando na Assembleia Legislativa para posse que eu ia dar em nome do Senado Nacional. Desembargadores, uma comissão toda cheia de altas personalidades. Eu fiz meu discurso e ainda pediram que eu ampliasse para a Amazônia e eu acrescentei e dei a posse e tal coisa. Depois, beijos e abraços, vamos embora. Quando eu saí, foram me levar de volta e disseram, agora a gente pode dizer. Quando a gente pediu uma personalidade do centro e fomos buscar você, a gente dizia, mas a gente precisava. Agora nós temos que dizer, poxa, que trabalho bom. Então é esse o problema. É você saber o que faz. Você conhecer o que está fazendo. Você confiar em você. Eu confiei plenamente em mim. Quando eu tenho que fazer uma coisa, eu me emburo daquilo e aí parto com confiança. ou procuro conhecer bem, e foi o que eu fiz, para ganhar confiança e poder desempenhar. Com isto, eu não senti nenhuma diferença, nem discriminação. Sou uma jovem, jovem nem tão jovem, eu estava com 30, 32 anos, 31, 32, por aí, e mulher, Sem problema nenhum. E assim foi feita toda a campanha.
00:44:30 P/1 - Você falou, né, que depois você teve contato com a União Nacional dos Estudantes.
00:44:35 R - Sempre.
00:44:35 P/1 - Sempre teve. Como é que era essa parceria com a UNE?
00:44:39 R - Olha, logo que o general, depois Marechal Lorta Barbosa, lançou sua tese, os estudantes foram, reconquistaram a Praça Pública. Tenho fotos aí também. Tudo que eu estou falando está documentado. E tudo, tudo, com detalhes, documentadíssimo, como dizia... Não, um exaustivamente documentado livro de Mário Augusto, dizia Barbosa Lima Sobrinho, nos artigos dele. Depois ele veio me explicar. Olha, aquele exaustivamente documentado. Eu disse, adorei, doutor Barbosa. É isso mesmo que eu queria. Eu queria falar e provar, falar e provar. Está lá. Mas tudo isso está lá no livro. Eu vou deixar um, oferecer um a vocês. Vocês vão encontrar tudo que eu estou falando. Episódios, mas foi uma campanha toda ordenada, organizada. E os estudantes foram os pioneiros, foram para a rua. E depois, no centro, Os presidentes da UNE eram sempre presidentes de honra no centro. E também os militares do Clube Militar, que lançou a final da campanha durante a gestão de César Albino, repito. Agora estão mudando o nome da rua César Albino para Ronaldinho porque ele nasceu lá. Ronaldinho merece todos os nossos aplausos, mas não tirando o nome do César Robino. Então, nós estamos fazendo um movimento para, pelo menos, dar a um outro logrador expressivo o nome do general César Robino. Mas, então, você veja, havia essa integração. E o Centro de Petróleo, como ficou conhecido, foi realmente o coordenador em nível estadual e nacional da campanha Petróleo é Nosso, que durou ininterruptamente, até hoje não acabou, mas durou inintensivo, intensivo, intensivo, durou oito anos. E eu tenho três causas para a vitória, que não foi fácil. Foram tiroteados, houve prisões, mortes.
00:47:05 P/1 - Conta um episódio.
00:47:06 R - Conto, contei muitos. Agora, peraí, eu estava dando as três causas. O que que eu falo primeiro? Pode falar um tiroteado. Bom, falando o episódio que eu vou contar o da Praça Floriano.
00:47:19 P/1 - É, pois é.
00:47:20 R - Mas eu primeiro vou arrematar esse pensamento para não ficar solta. Três causas eu atribuo à vitória da campanha. Uma, um objetivo definido que unificou todas as correntes de opinião. Era a luta pelo monopólio estatal do petróleo. Segundo, um caráter rigorosamente suprapartidário. Não era apartidário, porque os partidos praticamente, dois oficialmente, os outros liberaram. Para quem quisesse vir, nós tínhamos elementos, muitas correntes, quase todas. Rigorosamente suprapartidário. E terceiro, importantíssimo, a organização. Era o centro, aqui no Rio, que era o Distrito Federal na época, era o centro. O centro nacional era, ao mesmo tempo, centro do Rio de Janeiro e nacional. E cada estado tinha o seu centro. E foram se criando, e rapidamente, comissões de bairro, de empresas femininas, de fábricas. Camponesa, aqui em Xerém, tivemos comissões. Eu fui lá, estive lá, distribuí um ocular da história. Então, no Brasil todo isso acontecia. Foi uma penetração pelo Brasil todo. Vocês viajavam? Vocês podiam fazer...
00:48:57 P/2 - Mas isso partiu do núcleo... Você, sua família, como?
00:49:04 R - Eu só não. Eu e todos que se integraram no Centro de Petróleo.
00:49:08 P/2 - Quem era esse núcleo principal?
00:49:11 R - Era um lucro interessante. Até eu vou passar a vocês pelo menos uma diretoria. A primeira... No livro está tudo isso. Era uma diretoria múltipla que tinha... O primeiro presidente foi um parente do general Horta, foi o engenheiro Luiz Hildebrandt Horta Barbosa. Tinha um número grande de vice-presidentes de representações diferenciadas. Depois o secretário-geral, Henrique Miranda, que foi meu ex-marido. Durante a campanha nós nos casamos. E foram nascendo os filhos que eu estava brincando, contando para vocês. Minha filha diz, nós somos derivados do petróleo. É verdade. E eu, quando quero me lembrar de um fato, de um congresso, de uma convenção, eu fico pensando, ah, eu estava esperando fulano. Não, eu viajei grávida de cicrano. Porque foi durante a campanha, foi ainda... E isso, eu digo na introdução do meu livro, leia. A meus filhos. Foi a parte mais... Mas, assim, foi a maior doação. Os filhos nascendo, crianças pequenas, eu tinha uma boa retaguarda, mas era uma parte que, às vezes, você viajava, assim, com o pensamento e o coração, e queria contato, queria notícias, e deixar pequenos e voltava, né? Esse pedaço foi uma coisa muito importante na nossa vida.
00:50:52 P/1 - Fala o nome dos quatro filhos, Maria Augusta.
00:50:54 R - Aloysio mais velho, que mais tarde, quando eu escrevi, eu até conto isso, eu dizia, vocês se lembram, quando a gente viajava, quando o meu mais velho estava, que vocês reclamavam, porque um dia ele me disse, eu quando crescer vou ficar muito perto dos meus filhos. Deu um nó. Deu um nó. Quando eu expliquei a ele, você se lembra da ausência? É que a gente estava viajando para defender o petróleo. Ele olhou para mim e disse, por que você não me dizia que era para defender o petróleo? Aí desmanchou o nó. Esses aspectos são muito importantes. É o mais velho. Qual é a profissão? É médico e hoje presidente do Conselho Regional de Medicina. O segundo, Carlos Henrique, é economista, trabalha na Fundação Getúlio Vargas e também engajado numa associação e na vida política em geral. E Maria Alice, o nome da avó, esta mais engajada em trabalhos assim, ela se preocupa muito, ela é muito mãe, ela tem três filhos biológicos, três adotivos, que é tudo igual e não fale que é, é tudo filho e é, tudo neto, perfeitamente integrado. E ela passou a trabalhar com esse problema de meninos de rua na Fundação São Martinho, foi para Teresópolis, trabalhou lá com os meninos. Então, ela foi mais para esse campo. É psicóloga e trabalha no consultório em que eu trabalhei como psiquiatra, trabalhando em psicoterapia. Ela trabalha como psicóloga, fazendo também alguns clientes meus até quiseram ficar com ela. Ela trabalha no consultório com um irmão que é cardiologista e clínico, o Aloísio. E o caçula eu perdi. Era o Alberto. Esse não chegou a se formar. Então, desses três filhos que se casaram, eu estou com 13 netos e 3 bisnetos. Uma já vai fazer amanhã. Depois da manhã. Ela vai fazer 11 anos. 12 anos.
00:53:21 P/1 - E esse namoro?
00:53:22 R - Não, não. 11 anos.
00:53:24 P/1 - E o namoro com o Henrique, no meio da militância?
00:53:27 R - Ah, foi. Isso foi curioso, foi curioso. Quem era o Henrique? Era o Henrique Batista Aranha Miranda. Ele foi sempre secretário-geral do centro e teve uma atuação muito expressiva na campanha. E a gente se conheceu e começou lá nas reuniões.
00:53:48 P/2 - Você se conheceu nas reuniões?
00:53:50 R - No Centro de Petróleo.
00:53:52 P/2 - Sim, essas reuniões, como você chegou aí ao Centro de Petróleo?
00:53:56 R - Mas eu já estava, desde a primeira reunião, já fui, já me engajei, já ajudei a fazer estatuto, em tudo, tudo, tudo, tudo eu participei. A minha atuação foi realmente muito grande, permanente. e efetiva. Ele, como secretário... A organização interna era assim, havia as comissões e ele, como secretário-geral, coordenava as comissões que se reuniam para cada uma, então, depois, poder sair fazendo seus trabalhos. E começamos, então, saímos da... Nós trabalhávamos na sede do centro até 11, meia-noite. Havia trabalho para isso. Era um grupo todo lá. E tinha um, Jair Pereira, não preciso lembrar. Jair Pereira de Amorim. Ficou muito conhecido aqui no Rio, porque ele faleceu há pouco tempo. Meu querido amigo Jair. Ele era o pé de valsa, porque ele gostava muito de dançar. Aí conversa em qualquer meio boêmico e sabe quem era. Ele passava a noite. Nós saímos à meia-noite. Íamos para a minha casa. Minha mãe... Lá nós tomávamos o lanche. Aí ele ia embora pra casa dele em Copacabana. Hora que hora já era isso. Eu, às oito horas da manhã, entrava na quarta enfermaria da Santa Casa, onde eu ia dar aula pra sexta-niça de medicina. E dava. E dava. Quando a gente quer. Eu só acredito em gente ocupada. Gente desocupada não tem tempo pra nada. Não é mesmo? Pois é. E então o Jair ficava a noite adentro respondendo a correspondência. Ele era secretário. Duas horas, duas e meia da manhã. Aí, nós já nos casamos no ano seguinte. Ele tocava lá para a nossa casa. Olha, recebemos uma carta de Pernambuco, assim, assim, mas é um problema. Como é que a gente vai fazer? A gente acordava e resolvia os problemas. Então, assim se fez. E quando saímos à meia-noite, havia um correio que ficava aberto lá na primeira de março. A gente ia lá e botava toda... e era volumosa a correspondência para os estados, para mostrar como era intensivo o trabalho. Eles mandavam. Eu, da propaganda, tirava da correspondência tudo que acontecia, diariamente fazia o noticiário. Um de nós, ou quem fosse, não havia escolha de trabalho. E tinha um Inácio, um Inácio também já falecido. Ele saía de noite percorrendo as redações. E eu muitas e muitas e muitas vezes ia também. E nesta questão, você perguntou, estou completando agora. Um dia eu estava passando, não passeando, passando com o general Felicíssimo Cardoso Pela em frente à Galeria Cruzeiro, que hoje é o edifício central, e na frente funcionava o jornal, o Radical. Eu comentando com ele, olha, general, estamos aqui, vamos aproveitar, vamos fazer uma vida, porque a gente tinha que furar a empresa. Subimos. Menina veio, fotógrafo... Eu estava com uma barriga muito grávida, eu ficava exageradamente grávida. E veio o fotógrafo e tudo, nós três, eu e ele. Fotografaram e no dia seguinte éramos primeira página, manchete. Encham-se os cárceres, mas os patriotas lutarão pelo petróleo. Quer dizer, assim a gente conseguia propaganda. E o Globo tinha duas edições, uma de manhã e uma tarde. E eu descobri, subindo minhas escadas, fiz amizade com um repórter lá da manhã, e ele sempre que podia passava as notícias. E o Diário de Notícias, que abriu mesmo, um dia publicou uma matéria do outro lado. Até matéria paga, assim. Eu disse, vou lá falar com Orlando Dantas. Trabalhava lá também o Fernando Sigismundo, atual presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Sucedeu a doutora Barbosa, mas sempre trabalhou na BEM. Eu vou falar com ele. Fui lá para Orlando Dantas. Disse, doutor Orlando Dantas, como é? Ele disse, olha, é um jornal. Eu abro para quem quiser falar. Eu digo, muito bem. Então, vamos combinar o seguinte. Tudo que eu tiver, pode mandar. Então, eu mandava tudo que era notícia, mandava entrevista, mandava, pegava um deputado, faz uma entrevista aqui, mandava para o jornal. E tivemos essa abertura. O jornal de debate do Matos Pimenta, no começo, pôs o encarte, porque era jornal só de opiniões assinado. O encarte com o noticiário. E fomos, afinal, obrigados a criar o nosso órgão de publicidade, que se chamava Emancipação. Eu tenho aí um volume para vocês verem, se quiserem até fotografar, porque também funcionou anos a fio, e sob a direção de membros da Comissão de Estudos, em que se destaca Fernando Luiz Louro Cardeiro, Puxem, e muitos outros. Eu não gosto de falar em nomes, porque às vezes você esquece de um que não podia ter esquecido. Mas eu estava falando exatamente que o Emancipação era um jornal que tinha uma circulação grande e importante, porque ia para todos os parlamentares com matéria explicativa do que estava acontecendo no curso da Câmara Federal, porque o nosso público-alvo era a Câmara Federal, onde circulava o projeto do Estatuto do Petróleo, que nós conseguimos paralisar. Depois foi que... Isso tudo tem... Acho que faz parte de ficar aí na história. Vamos organizar. Mas emancipação... Ele tinha artigos da comissão de estudos, aplicativos e noticiário da campanha em geral. E de outros, como era e da economia nacional, também de outros assuntos pertinentes. Então, era muito requisitado, sobretudo pelos parlamentares, como subsídio. E até do exterior mandavam pedir emancipação. E tínhamos que mandar para os estados, porque era a nossa ordem. Então, tinha que ter uma tiragem grande. E se vocês me perguntarem, e com que dinheiro? Aí é que eram elas. Era uma situação séria.
01:00:55 P/1 - Vocês estão companhas de fundos?
01:00:58 R - Eu estou te devendo uma resposta da Praça Floriano, mas, antes disso, vou responder.
01:01:04 P/1 - Para não perder tempo.
01:01:06 R - Olha, eu vou contar um episódio, porque os episódios ilustram. Havia rifas, havia quadros que doavam, que a gente leiloava. Quem, por exemplo?
01:01:18 P/1 - Qual era o pintor que doava um quadro?
01:01:19 R - O Enimar José de Paula era integrado. O Isaac Jambrum era integrado. Eram dois muito integrados que nos ajudaram muito. E o Enimar hoje está valendo. Mas...
01:01:36 P/1 - A campanha de fundos.
01:01:37 R - A campanha de fundos, é. Eu vou contar um episódio que vai esclarecer bem. O então coronel Arthur Cardaúba, depois general, era um dos que viajavam. Tinha um grupo de nós, eu era uma delas. Enfim, essa viagem era dele. Ele estava percorrendo o Nordeste. E, lá, no meio da viagem, acabou o dinheiro. Ele mandou um telegrama. Preciso prosseguir. Acabou o dinheiro. E, nesse dia, havia muitos atos públicos. Havia o ato público na BI. E nós levamos o telegrama e foi lido. E nós temos... Quem tem de responder esse telegrama é essa assembleia. Passamos um chapéu. Mandamos dinheiro e ele continuou. O modesto de Sousa, um ator muito conhecido. Ele é muito empolgado. Ele fazia leilões, até curioso o nome, leilão americano. Qualquer quadro, qualquer doação, qualquer livro, qualquer coisa. E arrecadava fundos. Então, isso... Rafael de Carvalho compôs um hino para a Liga de Emancipação Nacional, que já é outra etapa. que eu sugiro que seja o hino da nossa emancipação. Um dia nós vamos cantar esse hino. Era cantado.
01:03:05 P/1 - Só um trecho.
01:03:06 R - A minha voz... Só um trechinho. Convenção, convenção, convenção Pela emancipação nacional Convenção, convenção, convenção Repete o povo confiante e triunfal Convenção, convenção, convenção. Não mastradores, entreguistas ou tiranos. O Brasil há de ser dos brasileiros. E não será colônia de americano. E depois tem a segunda parte. Só que eu tô com problema de corda vocal, que eu tenho que adaptar o tom, porque ela não tá fechando direito, eu acho que de tanto que eu falo.
01:03:50 P/1 - Mas, por exemplo, esse hino, vocês cantavam em que situação?
01:03:53 R - Nos atos públicos. E ele tinha uma voz possuínte de comandante. Bom, mas aí, assim, nós íamos conseguindo. Em geral, nós pagávamos as passagens e os centros, as hospedagens. Era uma coisa mais ou menos assim. Bom, eu fiquei, eu estou devendo uma resposta da Praça Floriana.
01:04:14 P/1 - Então, falasse eu sobre queria que você esse episódio da Praça Floriana.
01:04:17 R - É, porque eu estava dizendo que não foi fácil a campanha. Nós fizemos muitas sessões nossas, eram tiroteadas ou nós evitávamos, impedindo os acontecimentos. E nós chegamos até a procurar o chefe de polícia e dizer, nós queremos que designe uma pessoa para acompanhar os nossos atos. Oficialmente. E eles designaram o Cantuária. Primeiro nome e agora me falha. Cantuária. E ele ia. E foi vendo o que era a campanha. E ele estava até nesse dia lá. Do episódio que eu vou contar, foi a instalação do Congresso de Defesa do Petróleo do Distrito Federal em setembro de 1948. Quando ia terminando o ato, Os atos eram mais tarde, não havia essa guerra que está agora, que a gente não quer ficar de noite na rua. Começava às oito, nove, acabava às onze, meia-noite. Ao terminar o ato, sugeriram que se levassem as flores para a estátua do Floriano na Praça Floriano. Havia vários generais com suas famílias, o general Lorta Barbosa, o general Estêvão Leitão de Carvalho, o general Raimundo Sampaio. E, justamente, a filha de um deles fez questão de levar a mãe tudo para verem, porque eles tinham receio, ela falou, para ver como era uma coisa que também elas deviam participar. Fomos todos, as famílias e a assistência, fomos. Se não tivesse havido problema nenhum, depositaríamos as flores, saudaríamos o general e iríamos dormir. Mas a Polícia Especial, famigerada Polícia Especial, ali do lado da Carioca, de bonezinho vermelho, vocês não conheceram essa polícia, já estava lá nos esperando. Quando o general Cardaúba saudava o marechal, o folariano Peixoto, começou a bomba lacrimejante e nos atacaram violento. E eu me lembro bem que o pessoal chorando, lagarto, lacrimogêneo, se afastava e voltava. Começamos a cantar o hino nacional e nos afastávamos e voltávamos e nos afastávamos e voltávamos. Até que o filho do general Lorta Barbosa, ele hoje é coronel, Luiz Augusto Horta Barbosa, foi para o telefone e tocou para o exército. Disseram, olha, aqui na Praça Floriana, outras patentes do exército, suas famílias estão sendo atacadas pela polícia especial. Daí, a pouquinho, chegava uma viatura da Polícia do Exército, que foi recebida, obviamente, com polvas. E ali seria o confronto, tinha que acabar. A família Gerardo foi embora. E, assim, nós concluímos, cantamos o Hino Nacional e pudemos nos recolher. Resultado? Todo o Brasil falou nisso. Os jornais todos. Tem aí uma foto que está no livro também de recortes. Houve uma arrumação de, os fotógrafos aí que devem gostar de saber disso, de manchetes. Foi uma repercussão que não teria tido... Puxa, ajudaram a gente. Agora, o primeiro secretário, José Junqueira, da Câmara Municipal, estava de branco. Me lembro que eu estava lá. E foi ferido na perna e sujou a roupa de sangue. O Eusébio Rocha, deputado de grande nome na campanha do partido Getúlio, muito meu amigo, hoje a filha dele me pôs no lugar dele, me chama de tio. Ele também foi atingido por estilhaço. Então, no dia seguinte, Jéssica Junqueira fez questão de colocar roupa suja para a Câmara. Suja de sangue. Simbólica, né? Simbólica. Então, houve aquele proteste e continuou. E o Eusébio Rocha Câmara era no Rio, o Senado era no Rio, foi também ferido e tal. E outros também foram atingidos ali. Esse foi um dos episódios.
01:08:44 P/1 - Maria Augusta, eu queria te perguntar então, quer dizer, Quer dizer, tem tanta coisa.
01:08:48 R - Pra contar e comentar, mas a gente vai tentando... Meu livro tem 551 páginas.
01:08:55 P/1 - A gente realmente não vai conseguir dar conta. Eu quero te perguntar...
01:08:57 R - Eu gostaria, se fosse possível, porque eu vinha com a ideia de falar mais na campanha. E vocês me fizeram falar mais de mim, de mim, na campanha. Mas aí também fica mais leve, a gente vai contando as coisas em episódio, tá certo.
01:09:14 P/1 - Eu queria te perguntar assim, quer dizer, como é que foi a sua participação, quer dizer, chega um momento que se consegue barrar no Congresso, não é isso?
01:09:20 R - Ah, isso é importante.
01:09:21 P/1 - O Estatuto do Petróleo, não é isso? Então, como é que foi a sua participação nesse episódio?
01:09:24 R - Bom, a minha, eu digo a nossa, porque foi a força. Nós, para cada etapa, havia um congresso estadual em cada estado. Antes do Congresso, aí vocês vão entender a organização, as comissões faziam conferências. Nós, do Centro Nacional, mandávamos as teses. O que ia ser debatido. As comissões debatiam, tiravam elementos para os congressos estaduais, que geravam delegações para a Convenção Nacional. A primeira, Foi em 1948 com a finalidade de barrar o Estatuto do Petróleo e também contra as concessões de refinarias e defendendo que a grande refinaria de que já se cositava não fosse para o Pará e sim para Cubatão. Foi vitória nossa. Então, a força da campanha, porque quando acabava, aqueles delegados todos baixavam no Congresso, enchiam as escadarias, entravam. Então, foi uma pressão permanente nos congressistas, que também sofreram pressão do outro lado e violenta. Por aí vocês imaginam como foi a força da campanha. Isto foi em 1948. Em 1951, nós tivemos que realizar a segunda, com a mesma estrutura, viu? A segunda convenção nacional, porque houve tentativa de fechamento do centro. Nós convocamos imediatamente a convenção para reforçar as teses aprovadas na primeira convenção de paralisação do estatuto contra o fechamento do centro. E realmente conseguimos a sobrevivência do centro, vencemos a tentativa. Realmente paralisamos o Estatuto do Petróleo. Em agosto de 1900, isso é 51, julho de 51, a convenção. Em julho, agosto, já era Getúlio. Quem mandou o Estatuto do Petróleo foi Dutra. Em fevereiro de 48, já está para trás, ficou levado. Mas em agosto, Gustavo Capanema, que era líder do Getúlio na Câmara, quis reviver o Estatuto do Petróleo, mas não podia. Não havia clima. Então o Getúlio preparou o anteprojeto da Petrobras, que enviou dia 12 de dezembro de 1951 para a Câmara. Mas com dispositivos permitindo É uma coisa que é muito, um conceito muito importante. Sociedades organizadas no país. Porque a sociedade organizada no país Só se você explicitar com capitais nacionais e com brasileiros dados e tal, é que é genuinamente nacional. Porque a ESO podia fazer uma filial ESO do Brasil registrar numa sociedade. E havia essa brecha que era a maior. E outras coisas que analisamos. E foi, então, não havia clima mais para o Estatuto e morreu. Morreu de morte batada pela campanha. Sufocou. Parou. E começou o curso do 15-16, que era da Petrobras, anteprojeto da Petrobras. E nós tivemos que prosseguir com a mesma intensidade a campanha, porque, realmente, Não podia ser como eu estava. E continuamos a esclarecer. Tenho folhetos que eu trouxe para vocês. Depois vocês vão ver como aproveitar uma nova forma de entreguismo. Até que fizemos a terceira convenção, já em 1953. Mas, ao contrário, aí nós fizemos a convenção, depois desdobramos em congressos regionais. Congresso Regional Norte, Congresso Regional Centro, Sul, tem mais um, Congresso Regional Norte, Nordeste, Centro e Sul. E cada um de nós foi para um do centro, uma delegação para cada um desses congressos. Em todos eles, esclarecendo o que era Petrobras e por que precisava ser modificada. Isto já pegou setembro de 1953. A pressão estava muito forte. E havia na Câmara, porque eu não tive ainda a oportunidade de falar aqui, havia muitos parlamentares de vários partidos que faziam par do Centro e eram da Câmara e do Senado. Era o que se podia chamar o embrião da frente parlamentar nacionalista. Chegou um ponto em que O Getúlio, através do Capadema, mandou chamar os representantes dos vários partidos e disse, reconhecemos que a campanha venceu, então queremos fazer um acordo. E propôs o seguinte, Vou começar por coisas. Que se mantivesse o nome Petrobras, nada ou pôr, um nome até muito simpático. Que a Petrobras seria executora do monopólio estatal, que seria o monopólio estatal, a pesquisa Lavra e Refino. Beleza? e a executora seria a Petrobras. A Petrobras ficaria, o governo ficaria com 51% das ações da Petrobras. E as subsidiárias da Petrobras já seria a Petrobras que ficaria com 51% das ações. Agora vejam que eu parei no refino. O comércio grossista ficou de fora, que é muito lucrativo, porque já estava instalado. Nós estávamos fazendo um acordo. Acordo, a gente tem que ver pra ganhar. Uma parte tem que... E mais, ele propunha que as refinarias já concedidas, que em duas convenções nós já contrariávamos, queríamos que fossem canceladas as refinarias particulares, ele queria que ficassem. permanecessem, porque já tinham a concessão. Era a base principalmente a de São Paulo, Soares Sampaio Correia Castro e Droer Nani aqui no Rio de Janeiro. E tinha Ipiranga e outras pequenas, mas basicamente essas duas. Concordamos através do Frente Parlamentar, que atuava no centro também, desde que não pudessem ser ampliadas. E elas ficaram congeladas até agora. E, com este acordo, ficou de fora mesmo o comércio grossista. Com este acordo, foi aprovada na Câmara. E subiu para o Senado. No Senado, ele... Nossa, a luta não foi, mãe, eu não falei nas violências. Houve até morte de militantes. No Congresso, Ismar de Gós Banteira apresentou emenda 32 estabelecendo os contratos de risco. Foram aprovados no Congresso e desceu para a Câmara. Foi no ano em que voltou para ser aprovado e o Artur Bernardes, que era deputado, e já aparecia menos na Câmara, voltou no dia da votação. Voltou no dia da votação e foi uma correia, até de funcionário, para ouvir o discurso. Ele fez um discurso contundente, definitivo, e foi votado e derrubaram as emendas para serem fiéis ao acordo que tinha sido firmado. Foi o acordo que salvou. Então, nestes termos, já era setembro e o 3 de outubro foi sancionada a lei 2004 por Getúlio Vargas, criando a Petrobrás, a executora do monopólio estatal.
01:19:13 P/1 - Onde é que você estava nesse dia?
01:19:16 R - Olha, você me pegou assim de surpresa nesse dia. Eu sei que eu estava acompanhando de perto, era possível que eu estivesse no próprio congresso. Eu acredito que eu estivesse lá, porque nessas ocasiões a gente estava mobilizada mesmo. Mas, para ser muito honesta, não posso te dar com precisão. Bom, e com isto, você veja, veio um pós. depois de que o Getúlio concordou e assinou, ele que tinha, e tinha precedentes que eu nem entrei as legislações anteriores, ficou para trás, muita coisa. Mas desde o momento em que ele cedeu, Ele criou também a sua própria sorte. Mas não se prendia apenas ao problema do petróleo, se prendia muito, mas se prendia também à sucessão. E o Carlos de Lacerda, que era opositor, derrubou aquela campanha violenta, ajudada pelos jornais da América do Norte. Então, começaram a dizer, nas vésperas de 24, que foi o dia do suicídio, parece que 17. Eu posso esquecer as minhas coisas, mas na campanha eu tenho as datas quase que com precisão. No dia 17, os jornais americanos diziam que o Getúlio Baschi podia dizer que ele não fazia nada. Coisas assim. E o... Embaixador americano, já foi visitar o Café Filho, que era um progressista, até era vice-presidente do Centro Democrático. Foi pena. É o que eu digo, que o sistema engole os que chegam. Ele foi convidado a visitar a América do Norte, já prevendo que o Roger Tully cairia. Isso 17. As coisas se precipitaram e houve o suicídio de Getúlio, que virou. Você quer minha história? E tem mais coisa para comentar, importante politicamente. Você quer que eu fale de mim? Nesse dia, estamos equilibrando, nesse dia eu participei de toda a ocorrência que estava aqui, e já tinha sido criada, na terceira convenção, a Liga da Emancipação Nacional, com praticamente os mesmos elementos do centro, mas era um reforço, o centro e a Liga caminharam juntos. E a Liga percebeu que haveria um golpe. Então, promoveu um simpósio, um encontro E me mandou para o sul e mandou um outro companheiro para a Bahia para arregimentarmos os políticos para este ato da liga em defesa da legalidade que estava ameaçada de ser roubada. Aí eu fui para o Rio Grande do Sul. Fui visitar vários políticos e me lembro de um deles, disse, mas minha senhora, eu estou com um comício, porque era o ano de eleição, eu estou com um comício marcado na minha base eleitoral exatamente para o dia da convenção que vocês vão fazer no Rio. Eu não posso, e eu olhei para ele, e o que adianta? Eu perguntei a ele, o que adianta? O senhor ir para seu comício se não houver eleição. Ele olhou para mim, olhou para mim, eu vou para o Rio. Então, era assim que a gente trabalhava. E eu consegui trazer uma boa delegação no Rio Grande, no Paraná. Eu parei, ainda fiz finanças com a Comissão do Paraná para financiar os do Paraná e Santa Catarina. Eu pulei Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. Então, cheguei com eles. Me lembro até que eu peguei uma bronquite e eu nunca adoeço. Eu nem sabia mais como é que eu... Quando eu entrava no avião, aquele, aquele... Então, era um terror. Acompanhei toda a convenção da Liga, participando diretamente dos trabalhos. Quando acabou tudo, eu procurei um colega e disse... Eu estou já quase boa, mas agora é que você vai começar a se tratar. Não dá, não lembro nem disso. Bom, mas isso é um detalhe sem importância. Você quer fazer uma pergunta?
01:24:20 P/1 - Eu tava querendo agora, tentando costurar um pouquinho, quer dizer, a gente infelizmente tem.
01:24:25 R - Tanta coisa bacana pra abordar, mas eu.
01:24:27 P/1 - Acho que tem alguns pontos importantes, né? Uma, me interessa muito tentar entender, quer dizer, esse teu envolvimento tão a fundo, né, que te levou a escrever um grande livro, que é um livro de referência hoje sobre esse episódio quase histórico e grande campanha. Então eu gostaria que você falasse um pouco desse teu processo para escrever. Por que quis escrever e esses anos todos?
01:24:52 P/2 - Eu emendo a minha pergunta de, assim, é a nossa opinião por que o petróleo está importante para o Brasil, por isso você escreveu o livro e também por que você elegeu o petróleo, né?
01:25:02 R - Não fui eu que elegi o petróleo. A campanha surgiu como um imperativo nacional. Abra a primeira página do meu livro. Pega aí o livro. Na primeira página, o que eu digo aqui? Ao povo brasileiro, verdadeiro personagem deste livro. Porque realmente houve uma mobilização total. E eu que era uma engajada, porque me interessava por esses problemas, Desde o primeiro momento, se você perguntar por quê, eu digo por patriotismo, por compreensão de que isso era de uma importância vital para a nossa emancipação. Você quer um exemplo atual? O que está acontecendo no Iraque? E por quê? Eu respondi. Eu tinha consciência plena disso, da importância, porque o Horta Barbosa, o general, na tese dele dizia, petróleo é uma indústria altamente monopolista, ou é monopólio do truste, Hoje é multinacional, transnacional, vazou o nome da época. Ou é monopólio do truste ou monopólio do Estado. E, diante dessa certeza, nós nos atiramos de corpo e homem não tinha, não dava para parar. É o tal do tapirrolã que você, a consciência política subiu, não há volta. Respondi? Respondi.
01:26:42 P/1 - E o porquê da dedicação?
01:26:45 R - Ah, sim, o livro.
01:26:45 P/1 - Ele escreveu o livro.
01:26:46 R - Ah, sim, o livro foi uma boa pergunta. Esta campanha, eu não tenho a menor dúvida, vocês são historiadoras, eu peço que meditem, porque podem dizer a ela, emocionalmente, friamente. Posso analisar que esta foi a maior página da história do Brasil, em profundidade, em tempo de duração, em abrangência, em justeza e em vitória. Porque vocês não me dizem, e se disserem, eu gosto de aprender, uma campanha que tenha levado oito anos de trabalho diurno, de dia e noite. Não houve outra. Agora, vocês vejam. que muitas pessoas dão um pulinho sobre esta campanha e passam da abolição da escravatura para as diretas já. Meu Deus, está aqui, que não me deixa mentir. Como dizia a doutora Barbosa Lima, o exaustivamente documentado livro da doutora Dona Maria Augusta Gomes de Chabal.
01:28:02 P/1 - Por que você quis escrever esse livro?
01:28:05 R - Quis escrever esse livro, exatamente porque eu sei que a memória nacional é curta e que, propositadamente, a campanha do petróleo seria congelada. E eu disse, eu me impus, eu me impus. A minha preocupação era que eu não podia morrer antes de escrever esse livro. Eu sabia que era um livro de fôlego.
01:28:26 P/1 - Quando é que você começou a escrever esse livro?
01:28:29 R - Quando eu comecei, eu não me lembro bem, mas eu sei quando eu terminei. Quando é que foi? Eu terminei, eu já falei isso, já falei.
01:28:38 P/1 - A gente deixa gravar.
01:28:39 R - Já falei. Então, realmente, eu trabalhava intensivamente, porque, nesse tempo, eu também estava fazendo um curso de saúde mental, quando eu mudei de especialidade. Então, eu andava com tudo embaixo do braço. Quando eu tinha uma máquina, era máquina de escrever naquele tempo, eu escrevia e depois tinha que cortar, não era computador que encaixa. Eu estava com a ideia fixa de que eu não podia, porque eu fiz a campanha desde o primeiro dia até hoje. Porque a campanha teve três etapas distintas. Eu tinha o material na mão, porque eu tinha participado de tudo. Da diretoria, que do conselho eu passei para a vice-presidência, encarregada da propaganda, encarregada mais diretamente do intercâmbio com os estados, E eu tinha muito material. Eu estava com o material. Eu disse, isso não é meu. Isso precisa... Os jovens, como vocês, precisam saber disso. Mas saber de forma que leu, viu e está provado. Então, eu meti a cara, minha filha. Meti a cara e...
01:29:56 P/1 -
Mas você demorou quanto tempo para conseguir publicar o livro?
01:29:59 R - Para publicar demorei, porque teve toda a ditadura no Ipermeio. Eu publiquei uns 18 anos depois que escrevi. E foi bom, porque nesse período uma outra geração surgiu e que não conhecia o problema. E para essa geração foi importante esse livro. E eu acredito que ainda seja, tanto que eu procurei colocar em pontos de referência, bibliotecas, e não está em todas como eu gostaria. E até já me perguntaram por uma segunda edição. Agora, isso já foi uma edição heróica. Eu digo, não morro sem publicar esse livro. Está aqui. É um filho.
01:30:56 P/1 - Por que você diz que a campanha não acabou?
01:30:58 R - Sim. Então, eu divido em três etapas distintas. A primeira, que vai até a criação da Petrobras. A segunda etapa, vamos assim dizer, Não, não acabou aí, não. É porque não dá para contar. Está aqui, viu? Depois você lê. Depois de criada Petrobras, ainda vinham em curso outros projetos, reestabelecendo tudo. Na Câmara, tinha um na Câmara e um no Senado. Reestabelecendo tudo. Então, nós tivemos que combater ainda esses outros projetos, derrubar esses outros projetos e fazer manter o acordo que tínhamos feito inicialmente. Bom, depois, isso durou mais um ano, dois anos, tanto que a campanha não acabou. com a assinatura da Petrobras. Nós prosseguimos e ainda começamos a trabalhar quando se criava e se organizava a Petrobras. E a segunda etapa foi durante a Constituinte. Quando criamos, eu participei, eu estou falando na minha participação, tem que falar, eu não gosto na primeira pessoa, vocês me obrigaram, do singular. é a campanha contra os contratos de risco e pelo monopólio estatal. Esta campanha já foi presidida pelo grande brasileiro Barbosa Lima Sobrinho, que à época da campanha era governador de Pernambuco. E lá ele recebia, de uma maneira especial, os viajantes do centro. E tinha dois secretários, Pelópida Silveira e Miguel Arraes, que eram os secretários dele, e que faziam parte da campanha. Nessa segunda etapa, digamos, Barbosa Lima presidiu essa comissão junto com a Associação de Engenheiros da Petrobras, a IPET. E foi exatamente quando quiseram estabelecer os contratos de risco que fizemos um movimento intensivo justamente para combatê-los. Isso foi durante a Constituinte. E conseguimos estabelecer o capítulo da ordem econômica, que era um primor. um capítulo da ordem econômica, porque há vários pontos que tinham que ser vistos ali. Era o problema do monopólio estatal para todas as fases da indústria do petróleo, ampliando que tinha que ficar de fora principalmente o comércio grossista. tinha o conceito de empresa brasileira de capital nacional, empresa de capital estrangeiro, que nós conseguimos distinguir perfeitamente. Isso era muito importante. E outros pontos da ordem econômica que foram influenciados diretamente por essa campanha, já com a participação da Associação dos Engenheiros da Petrobras. Então, as reuniões eram na ABI. Doutor Barbosa Lima, o presidente da EPET à frente, os sindipetos já criados. Então, tivemos uma atuação muito intensiva nessa fase. Campanha pelo monopólio estatal do petróleo e contra os contratos de risco. foi uma fase de uma atuação muito intensa e que a vitória foi a inclusão do capítulo da ordem econômica como nós quisermos na Constituinte. Terminada esta fase, em 1989, Doutor Barbosa Lima foi procurado, eu estava presente. Eu participei de todas as fases, inclusive dessa dos contratos de risco. E viajávamos, íamos para Brasília procurar os deputados, foi uma fase intensiva. O doutor Barbosa Lima, idoso, indo e vindo, foi uma fase muito intensiva. Depois, fomos procurados pela Frente Parlamentar Nacionalista, que precisava de uma entidade que representasse, que trabalhasse junto à Frente Parlamentar Nacionalista. E foi então que foi criado o Movimento em Defesa da Economia Nacional, sigla Modecon, sob a presidência de Barbosa Lima Sobrinho, e uma série de vice-presidentes, eu uma delas, e que tive o privilégio de trabalhar junto à Barbosa Lima, como eu tive o privilégio de trabalhar na primeira fase junto à Felicíssimo Cardoso. Eu acho que eu contei a vocês que subimos no Radical, que foi junto com o presidente-general Felicíssimo Cardoso. E nós éramos... Toda manhã ele tocava para a nossa casa, para saber das notícias e tudo isso. Então, eu trabalhei... Eu tive esse privilégio de trabalhar com gente de grande valor. Era o general Felicíssimo Cardoso, que era o presidente, sendo petróleo à época. Depois, o doutor Barbosa Lima, sobrinho. que ficou como presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional, que foi criado a pedido da Frente Parlamentar Nacionalista para terem aqui uma representação. Eu sempre trabalhando junto ao doutor Barbosa Lima como vice-presidente. Havia vários vice-presidentes, mas eu era, digamos, a vice-presidente executiva, que trabalhava sempre, porque o doutor Barbosa estava presente em todas as nossas reuniões, que eram semanais, como era também, no mesmo dia até. Nós nos reunimos na comissão quanto aos contratos de risco, nas segundas-feiras na BI. Depois, criado um movimento de defesa da economia nacional, o Bodeco, continuamos a nos reunir nas segundas-feiras na ABI e nesse período para atender o pedido da Frente Parlamentar Nacionalista. Eu me liguei muito ao doutor Barbosa Lima, então eu era das vice-presidentes a que trabalhava mas junto ao doutor Barbosa Liba. Ele presidia todas as nossas reuniões de trabalho. E até quando teve um acidente que fratorou a perna, aí nós íamos a ele. Quer fazer alguma pergunta?
01:38:49 P/1 - O golinho de água.
01:38:50 P/2 - Destaque da terceira etapa da campanha.
01:38:55 R - O que a Mirella fala?
01:38:56 P/2 - Bom, sobre a campanha agora, privatizar faz mal ao Brasil, o que a senhora pensa?
01:39:03 R - Bom, nós estamos no Modecon, que é a sigla do Movimento em Defesa da Economia Nacional, com lamentável perda do doutor Barbosa Lima Sobrinho, eu assumi a presidência, me indicaram, era um cargo irrecusável. Até porque eu estava muito integrada e temos uma equipe que continua trabalhando. em geral, nos problemas nacionais em geral, já não é só petróleo. Mas nós estamos fazendo um estudo da parte de petróleo. Eu quero dizer que o Modecon, que é a sigla deste nosso trabalho, dedicou grande parte ao estudo também do petróleo e a defesa, porque Era um ponto que é uma conquista do povo brasileiro. Veio com um espírito diferente, realmente, a Petrobras tem um espírito diferente de qualquer outra empresa, embora qualquer empresa nacional, nós levamos a preservar com todo carinho. Mas houve um espírito coletivo, popular, que deu um tom de patrimônio público. A Petrobras. E esse espírito nós temos procurado preservar. Mas, lamentavelmente, já começou a ser quebrado esse monopólio. Nós tivemos os contratos de risco. Nós tivemos... Quem participou com entusiasmo, que nós participamos dessa campanha, O próprio doutor Barbosa Lima, que também se integrou, nós tivemos um sofrimento muito grande quando começaram a pegar pelas miradas. Primeiro foram o setor petroquímico, petrofértil e foram todas as empresas de petróleo mesmo, as multinacionais, esses ramos fazem parte da empresa. e foram tirando os suportes da Petrobras. Agora, a Petrobras, que foi criada com outro espírito, vem resistindo a todos esses embates e ainda sendo a grande Petrobras que se destaca do consenso das nações. Então, nós continuamos, não só no Modecon, como junto às outras entidades, porque o nosso movimento agora, do Bandecom, é justamente congregar as entidades da vida social brasileira e defender todos os pontos que estejam sendo agredidos ou atacados. Já defendemos o lado da Embratel, já defendemos a questão dos resseguros, já defendemos o Loiro Brasileiro. Agora, o petróleo sempre nos mereceu muita atenção e nós temos procurado manter essa defesa até hoje. Mas, lamentavelmente, as multinacionais não dormem em serviço e conseguiram já quebrar aquela conquista do povo brasileiro. Mas nós ainda estamos lutando e estamos vendo que, apesar de todos esses lanços para derrubar a Petrobras, nós ainda vemos que ela, mesmo já dilapidada, ela ainda é uma grande empresa, de grande destaque, com um nome internacional e ainda um orgulho do povo brasileiro e daqueles que trabalharam para construí-la. Eu me orgulho disso.
01:43:25 P/1 - Além dessa tua vida e desse engajamento cívico, em termos de vida particular hoje, como é ser avó, mãe, concilia tudo isso?
01:43:37 R - Olha, realmente eu tive que dividir minha vida. Eu tenho um hábito, viu? Quando eu faço uma coisa, eu gosto de fazer bem feito. Não sei se é mau hábito ou não, mas Eu sou assim. Eu tenho o lado da minha vida pessoal, particular, privada, familiar. Tenho o lado exatamente das campanhas cívicas. E tenho o lado profissional. O lado profissional... Levei. Houve um período em que eu tinha que me dividir muito. Porque eram as três frentes funcionando. E eu, quando me empenho, é para procurar fazer o melhor possível. E no consultório eu não faltava. Não faltava porque eu não tinha dinheiro. Eu trabalhando em psiciatria, psicoterapia. O horário não era meu, era dos meus pacientes. Então eu tive que ajeitar e abria segunda-feira. para ser o dia dos trabalhos lá na BI, onde nós íamos trabalhar com o doutor Barbosa Lima e a parte cívica. E, na parte do consultório, eu, quando terminava, ia para a BI. Às vezes não dava, porque eu terminava às oito horas da noite. Enfim, eu consegui Às vezes, eu me pergunto como. Hoje, que eu não tenho mais tempo para nada, eu me pergunto como é que eu consegui. Consegui, viu? Eu não faltava consultório. Mas, realmente, chegou um ponto da campanha. No dia que eu fiz 50 anos de formada, foi isso. No dia em que eu completei 50 anos de formada, eu comemoro sempre dia 5 de dezembro. Eu disse o seguinte, 50 anos de formado, eu acho que agora eu vou me dedicar mas a família já precisando ainda um pouco da minha estesa, mas já tinham crescido. Os filhos já se casando. Eu digo, agora eu posso me atirar mais para a pátria amada, para as campanhas. Então, foi isso que aconteceu. E com 50 anos, quando comemorei 50 anos de formado, eu preparei Eu trabalhava em grupos de psicoterapia no consultório e nunca faltava. E disse a eles, olha, eu vou tirar as férias, mas já fui preparando, já fui encaminhando, já não peguei casos novos. Minha filha, como psicóloga, começou a trabalhar também em terapia na linha dela, eu na minha. Quando eu saí, Eu resolvi fechar. É preciso ter coragem. Eu tive. Fechei o consultório e disse para... Foi uma choradeira geral, aquela coisa que você imagina. Mas eu disse, 50 anos de exercício profissional, família, pátria e profissão. Agora eu... Porque a campanha estava também exigindo muito. Então, nessa ocasião, eu disse para elas, olha, vamos nos despedir, eu vou sair de férias. E encaminhei quem quis. Ficou com a minha filha, que trabalhava no consultório. E pedi, vocês vão se... Eu já tinha... Encaixei as que ainda precisavam, não recebi novas. Fui preparando. Então, quando fiz 50 anos de formada, saí de férias e não voltei. Foi um ato meio heróico, porque era um lado muito importante para mim, o campo profissional. Eu gostava muito do que eu fazia e fiz um relacionamento muito bom com meus pacientes. E aí eu pude me dedicar mais ainda ao que a família já crescida, os filhos se casando, já tendo sua vida própria. Eu pude me dedicar mais sem deixar de olhar. E até hoje eu cultivo muito, acho a família muito importante para mim. e me dedicar à parte final, que foram os contratos de risco e o movimento em defesa da economia nacional. É o mapa do Brasil, com o nome dele em cima. Porque nossas campanhas nacionalistas, desde o tempo da campanha do petróleo, foi sempre em defesa dos interesses nacionais. É aquele nacionalismo que querem deturpar, que querem dizer que isso é xenofobia, eu digo, não, é o próprio. Eu tenho até uma frase, eu vi isso aí no material, uma frase de... do Artur Bernardes. Bendito nacionalismo que defende os seus... Ele tem uma frase muito bonita que eu dou depois para vocês. E esse nacionalismo que faz com que nós, que somos um país rico, nós que temos os recursos naturais, nós que temos, que conseguimos a vitória na campanha do petróleo e que temos a Amazônia cubiçada, que temos, que estamos vendo o cerco, que já tivemos o imperialismo português, o imperialismo inglês, agora o imperialismo americano. E nós estamos percebendo que eles estão fechando o cerco. Hoje eles estão, eles começaram pelo Afeganistão, depois foram para o Iraque. O que que eles querem? Petróleo. Então, Vocês vejam, nós da campanha estamos alerta porque sabemos que corremos um grande perigo porque temos bases norte-americanas e já anunciaram a tríplice fronteira que na tríplice fronteira haveria, a tríplice fronteira é aqui no Paraguai, Argentina, Uruguai, o americano gritava, eles queriam justamente nos cercar por todos os lados. E o governo disse que não havia nada de extraordinário, pesquisou, mas os americanos descobriam que haveria terrorismo na tríplice fronteira e descobriam no sul do Brasil, andaram prendendo gente e que afinal ficou comprovado que não tinham ligações diretas. E eu tenho até recortes, é uma nova etapa, uma nova fase, mostrando que o próprio governo brasileiro disse que não encontrou terrorismo nenhum, mas interessa ao imperialismo americano, que sempre cobiçou as nossas riquezas e o nosso petróleo. Eles querem fazer o que estão fazendo, sob qualquer pretexto. E sem pretexto nenhum, eles invadiram o Afeganistão, invadiram agora o Iraque. Já falaram da Síria, no Irã e na Coreia. Então, nós estamos preparados para defender o nosso país. Porque não sabemos até onde vai a loucura dos que querem as nossas riquezas, porque é isso que eles querem, as nossas riquezas, o nosso petróleo. E a Amazônia, eles descobriram, na Colômbia, as parques, E falaram que estão penetrando pela Amazônia. Então, nós temos que ter os olhos voltados para defender exatamente o nosso território, o nosso país. E é o que nós temos feito. Nosso movimento nacionalista é um nacionalismo sadio, defensivo. nacionalismo que não quer permitir que outros países se intrometam na nossa vida, mas estamos numa conjuntura diversa, estamos numa conjuntura muito séria em que temos que estar alerta porque Eles já andaram descobrindo terroristas nas fronteiras e tudo isso. Quer dizer, já lançaram a semente para se precisarem. Não é nada disso que eles querem. O que querem é a nossa Amazônia. E nós temos feito um grande movimento em defesa da Amazônia. O que eles querem é o resto do nosso petróleo, que já abriram. o que eles querem, nossas riquezas, e contra isso nós ainda estamos teimosamente de pé.
01:53:45 P/1 - Bom, Maria Augusto, então eu queria agradecer muito o seu depoimento e para finalizar de forma muito sucinta, o que que acha desse projeto de memória dos trabalhadores da Petrobras?
01:53:55 R - O que vocês estão realizando, olha, eu acho que é da maior importância, porque, veja, a memória nacional às vezes é curta e é preciso ser reavivada. Eu tenho de confessar que eu não conheço ainda os detalhes. Até gostaria que vocês me esclarecessem. Ficaram de me mandar, mas eu acho que esses e-mails da vida ficam pelo caminho até chegar, né? E eu não recebi em tempo. Hoje eu vou pegar. Então, eu realmente ainda não pude me enfranhar mais, mas quando me chamaram, eu disse, contem comigo. Porque para dizer o que foi a campanha do petróleo, para dizer que nós estamos ameaçados, que nós temos que nos mobilizar, que a campanha não está encerrada. Ao contrário, eu considero um período muito sério. que nós estamos atravessando, quando o imperialismo está lançando suas garras por todo o mundo e descobre que tem terroristas, antigamente era comunista, agora é terrorista, mudou, que tem terroristas e já descobriram terroristas nas nossas fronteiras. Então, nós temos que estar organizados, preparados para opor uma barreira e esclarecer o nosso povo, que foi sempre a nossa função, esclarecer o porquê dessas loucuras. E mostrar a nossa necessidade de permanecer de pé, de continuar. Já em outra etapa, nós tivemos a primeira etapa da campanha do petróleo, a dos contratos de risco durante a constituinte, estamos na campanha. da emancipação nacional e estamos agora diante da perplexidade que o mundo está acompanhando, preparados, porque eles já lançaram insinuações de lances que teriam encontrado por aqui. Então, nós temos que estar ali.
01:56:07 P/1 - Muito obrigada pelo depoimento.
01:56:09 R - Eu que agradeço a vocês.
Recolher