Sempre gostei de cavalos. Os filhotes eu sempre achei que são os mais perfeitos dos animais e se me perguntassem que animal eu gostaria de ser não teria dúvida alguma em responder CAVALO. Gosto de ver seus olhos grandes e brilhantes em qualquer cavalgada, seja a trabalho ou em liberdade. Gosto da altivez e da teimosia. Guardei na memória a cena do cavalo puxando a carroça, empacado, apenas para não ter que passar debaixo do trem sobre o viaduto. O dono teve que esperar e nós que vínhamos atrás também! E o cavalo do Maurício? Se ele chegasse e tentasse amarrar a rédea na cerca, o cavalo entre coices e relinchos não aceitava de jeito nenhum. Tudo bem ele esperar o dono voltar, com a rédea solta. Parece uma noção de liberdade. Fazer o que quer, do jeito que quer e não fazer o que não quer...
Acho que tenho o corpo grande, a cara grande, os dentes grandes e os olhos grandes como os deles e até os joelhos invocados e o intestino preguiçoso. O meu pai diz que meu avô Cambuta dava “Mané Magro” para os burros da tropa. Nos primeiros anos de escola era chamada de “cavalona” apesar de ter entrado antes dos 6 anos no primeiro ano de grupo. Aos dezesseis já era professora na zona rural e sorte que era grande como os três alunos mais velhos do que eu que havia na turma. Anos depois, já na rede estadual, encontrei uma diretora que disse para mim: Você que é “grandona” vai ficar com esta turma! Imaginem! E eu ainda era tida como adoidada...
Já zorongava e não sabia... Continuei enchendo minha cabeça de dúvidas e perguntas. Por que dia disso e dia daquilo? Chocolate na Páscoa, peru no Natal, flores no Finados? Não pode ser todo dia, não? Moda disso e moda daquilo. Tem que vestir balonê ou Saint Tropez se não fica bem em você? Presente pode ser o dia que pode, que tem dinheiro, que a pessoa precisa de alguma coisa! Onde está escrito que tem que ficar trocando de carro, de celular, de móveis? Tomar remédio pra quê? Melhora uma...
Continuar leitura
Sempre gostei de cavalos. Os filhotes eu sempre achei que são os mais perfeitos dos animais e se me perguntassem que animal eu gostaria de ser não teria dúvida alguma em responder CAVALO. Gosto de ver seus olhos grandes e brilhantes em qualquer cavalgada, seja a trabalho ou em liberdade. Gosto da altivez e da teimosia. Guardei na memória a cena do cavalo puxando a carroça, empacado, apenas para não ter que passar debaixo do trem sobre o viaduto. O dono teve que esperar e nós que vínhamos atrás também! E o cavalo do Maurício? Se ele chegasse e tentasse amarrar a rédea na cerca, o cavalo entre coices e relinchos não aceitava de jeito nenhum. Tudo bem ele esperar o dono voltar, com a rédea solta. Parece uma noção de liberdade. Fazer o que quer, do jeito que quer e não fazer o que não quer...
Acho que tenho o corpo grande, a cara grande, os dentes grandes e os olhos grandes como os deles e até os joelhos invocados e o intestino preguiçoso. O meu pai diz que meu avô Cambuta dava “Mané Magro” para os burros da tropa. Nos primeiros anos de escola era chamada de “cavalona” apesar de ter entrado antes dos 6 anos no primeiro ano de grupo. Aos dezesseis já era professora na zona rural e sorte que era grande como os três alunos mais velhos do que eu que havia na turma. Anos depois, já na rede estadual, encontrei uma diretora que disse para mim: Você que é “grandona” vai ficar com esta turma! Imaginem! E eu ainda era tida como adoidada...
Já zorongava e não sabia... Continuei enchendo minha cabeça de dúvidas e perguntas. Por que dia disso e dia daquilo? Chocolate na Páscoa, peru no Natal, flores no Finados? Não pode ser todo dia, não? Moda disso e moda daquilo. Tem que vestir balonê ou Saint Tropez se não fica bem em você? Presente pode ser o dia que pode, que tem dinheiro, que a pessoa precisa de alguma coisa! Onde está escrito que tem que ficar trocando de carro, de celular, de móveis? Tomar remédio pra quê? Melhora uma coisa escangalha outra... Larguei o emprego no município fiquei só com o estado onde acabei virando artista com meu projeto “Matemática, Vida e Arte”. Ainda bem que entre mim e a chegada da Mopúia, surgiu a palhaça Maria Zoronga, depois Maria Zoronga Puri, que respondeu essas perguntas e outras salvando a minha saúde mental. Eu não sou só doida, não!
E assim finalmente decidi minha identidade indígena quando minha mãe confirmou a avó, o tio e a mãe dela como “negos Puri”. Reconheci minhas várias características indígenas, mais internas do que externas e me autodeclarei. Fui logo pensar o nome de “mato” como se diz. Para isso fui dar uma volta na horta e antes de chegar no meio do caminho veio o estalo... cavalo... Como assim, não é égua? Não, de jeito nenhum! Eu tenho as “cavalices” do cavalo. Eu quero esse nome! E como a rebeldia é uma dessas cavalices tive que convencer, inclusive o nosso mais velho, o Felismar, nosso opê antár, o que domina a língua, os Falares e Fazeres de Guiricema, aqui perto na Zona da Mata. Rebeldia? Não é ser voluntariosa, Zoronga? Não, é rebeldia mesmo! Aí chegamos em um acordo. Mopúia Karúã Puri, a que tem a vontade, a rebeldia, a liberdade, a força e a determinação dos cavalos! E quem sabe as burrices, as mulices e as asnices (ou seriam asneiras) dos burros, das mulas, dos asnos e dos outros parentes também... E por falar nisso, as zebras são lindas, não são?
Ah! Esqueci de falar como consegui chegar de Fusca na Fumaça, hein, Xikito! Mopúia que o diga!
Recolher