“A obra de arte, é talvez a iminência de uma revelação...”
Jorge Luiz Borges
Revelação trazida pela memória e transfigurada com a procura do conhecimento oferecido pelo trabalho.
Novas descobertas, referidas por certo a novas recordações levadas a novos conhecimentos.
CAOS APARENTE
Intimidado pelo caos apresentado na faculdade, quando da minha entrada, entusiasmei-me pela solidez das idéias de gravura colocadas pelo então, meu professor Evandro Carlos Jardim. Entusiasmo claro, quando conheci sua obra em uma exposição no MASP no ano de 1973.
Vi.
Revivi questões em minha memória.
Vi minha infância. Morávamos então distantes duas quadras. Eu era um dos protagonistas e esse instante foi observado.
Pensei.
É interessante o que o momento dos outros faz com o momento da gente.
Questão principal:
Rememorar.
E porque com a gravura?
Pai marceneiro e sonhador ensinou-me a viver em uma oficina e a conviver com ferramentas.
“Um martelo é só um martelo quando se usa. Senão é como esse pedaço de
madeira, um objeto.”
Vi os dois e o que compunha este pensamento.
Como na gravura?
Lembro-me da grande dificuldade que tinha ao desenhar. Porque, por
desinformação minha, da época e do lugar, aceitei que esse ato ficasse ligado no da
Idéia e sua execução em uma prancheta, abordando um pensamento já concluído.
Não construído pelo desenho.
Fui à gravura como se fosse à oficina.
Entrei em um atelier.
Dialoguei. Não impus.
Época da ditadura. Amigos próximos fugidos.
Reunião na casa do arquiteto Vilanova Artigas.
“Se vocês pretendem alguma mudança será pelo trabalho, só com o trabalho.”
Fiquei no atelier.
Procurei entender seus sinais...
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“A obra de arte, é talvez a iminência de uma revelação...”
Jorge Luiz Borges
Revelação trazida pela memória e transfigurada com a procura do conhecimento oferecido pelo trabalho.
Novas descobertas, referidas por certo a novas recordações levadas a novos conhecimentos.
CAOS APARENTE
Intimidado pelo caos apresentado na faculdade, quando da minha entrada, entusiasmei-me pela solidez das idéias de gravura colocadas pelo então, meu professor Evandro Carlos Jardim. Entusiasmo claro, quando conheci sua obra em uma exposição no MASP no ano de 1973.
Vi.
Revivi questões em minha memória.
Vi minha infância. Morávamos então distantes duas quadras. Eu era um dos protagonistas e esse instante foi observado.
Pensei.
É interessante o que o momento dos outros faz com o momento da gente.
Questão principal:
Rememorar.
E porque com a gravura?
Pai marceneiro e sonhador ensinou-me a viver em uma oficina e a conviver com ferramentas.
“Um martelo é só um martelo quando se usa. Senão é como esse pedaço de
madeira, um objeto.”
Vi os dois e o que compunha este pensamento.
Como na gravura?
Lembro-me da grande dificuldade que tinha ao desenhar. Porque, por
desinformação minha, da época e do lugar, aceitei que esse ato ficasse ligado no da
Idéia e sua execução em uma prancheta, abordando um pensamento já concluído.
Não construído pelo desenho.
Fui à gravura como se fosse à oficina.
Entrei em um atelier.
Dialoguei. Não impus.
Época da ditadura. Amigos próximos fugidos.
Reunião na casa do arquiteto Vilanova Artigas.
“Se vocês pretendem alguma mudança será pelo trabalho, só com o trabalho.”
Fiquei no atelier.
Procurei entender seus sinais gráficos e o caráter da gravura para comigo.
Seria o técnico e ela a arte.
Ouvi meu próprio eco e compreendi que, o homem cria as ferramentas para
alcançar esse som interior e sair com ele.
Reconsiderei.
Não poderia ser o técnico e a gravura a arte, porque desse conhecimento surgiu
um procedimento.
Essas primeiras imagens que se formaram, ainda foram com preocupações
sociais mais evidentes.
“Reflexões sobre uma bandeira.”
“A um amigo em qualquer lugar.”
Após esse período e uma viagem pelos Andes, minha preocupação se voltou à memória da paisagem. Entendi que ao colocar uma linha para definir um espaço, ela
não poderia ser mais densa que o próprio espaço. Tinha que estar num todo. Dentro.
Contendo também.
Na natureza existe esta integração.
Em minha natureza também.
Então tracei.
Percorri a linha com um buril. Criei novos espaços e vislumbrei uma resposta
quando disse o artista Lívio Abramo certa vez:
“Em uma linha de uma gravura pulsa sangue.”
Sei onde se encontra cada veia minha.
Trabalhei com a profundidade das gravações e com as características do
instrumental adquirido, fazendo com que as linhas, os traços de uma ponta seca, de
um buril e da água forte com os pontos de uma roulete de uma água tinta se
somassem e criassem um sutil relevo, por onde a luz, a do ambiente também,
iluminasse de uma outra forma.
Ocorreu-me então, que quando gravava. Queria penetrar na matriz e chegar em
suas veredas para conhecer e se reconhecer. E que nesta caminhada foram ficando
marcas, sinais do percurso. Meu rastro.
Então entendi que estendi o traço da vida.
Fazendo gravura.
Agora penso.
É interessante o que o momento dos outros faz com o momento da gente e o que
a gente espera desses momentos da vida da gente.
“Mais cinco anos e eu me teria tornado um pintor.”
Frase atribuída a Hokusai, (1760-1849) em seu leito de morte aos 89 anos.
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