[11/4 21:21] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA
Há 45 anos atrás, na primavera de 1977, esse menino assustado, vestido com \\\"roupa de Missa\\\" na fotografia, na frente da casa dos avós paternos, na outrora inesquecível Praia Grande, seu berço e jardim de infância, não fazia a mínima ideia dos desafios que a vida iria lhe impor!
Nascido 5° filho de uma família de 7, mais novo dos 4 filhos homens de João Vitor de Souza e Juraci Brockweld de Souza. Neto paterno de Vitor Veríssimo de Souza e Rosália Maria de Souza, materno de Braz Leandro Brockweld e Eduarda dos Santos Brockweld.
Registrado Eduardo João de Souza, nascido a 20 de novembro de 1974 e batizado no dia 25 - Natal, daquele mesmo ano, o Nene da Jora da Praia Grande encarou muitos e pesados obstáculos e contratempos para chegar onde está hoje!
O aprendizado para crescer era árduo, fadigante, mas ao mesmo tempo também era mitigante e necessário!...
...continuo numa próxima postagem!
\\\"Às vezes, quase sempre, ainda me pego procurando meu umbigo enterrado no \\\"combro\\\" da Praia Grande, onde minha mãe diz tê-lo enterrado, seguindo tradições peculiares desse pedaço de chão com tanta riqueza histórica!\\\"
[11/4 21:21] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (2°)
Era novembro do ano de 1.981. Eu já estava aprovado na 1° Série, cuja Professora fora a Dona Bernardina do Seu Chiquinho - excelente Educadora e Alfabetizadora - então eu já sabia ler, escrever e fazer contas!
Também já sabia nadar, tirar goiá, male-male fazer um fundo de samburá e tecer algumas malhas de tarrafa, graças ao meu avô Vitor, que me obrigava a acompanhá-lo na sua lida diária. Na época, pra mim, era uma tortura não poder ir brincar pra fazer isso, mas Graças a Deus hoje ainda pratico essas artes, graça ao meu saudoso avô, que fazia o papel de pai pra mim, devido ao fato de meu pai ser embarcado na Praça de Santos SP. Às vezes, meu pai demorava meses pra vir em casa, lembro...
Continuar leitura[11/4 21:21] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA
Há 45 anos atrás, na primavera de 1977, esse menino assustado, vestido com \\\"roupa de Missa\\\" na fotografia, na frente da casa dos avós paternos, na outrora inesquecível Praia Grande, seu berço e jardim de infância, não fazia a mínima ideia dos desafios que a vida iria lhe impor!
Nascido 5° filho de uma família de 7, mais novo dos 4 filhos homens de João Vitor de Souza e Juraci Brockweld de Souza. Neto paterno de Vitor Veríssimo de Souza e Rosália Maria de Souza, materno de Braz Leandro Brockweld e Eduarda dos Santos Brockweld.
Registrado Eduardo João de Souza, nascido a 20 de novembro de 1974 e batizado no dia 25 - Natal, daquele mesmo ano, o Nene da Jora da Praia Grande encarou muitos e pesados obstáculos e contratempos para chegar onde está hoje!
O aprendizado para crescer era árduo, fadigante, mas ao mesmo tempo também era mitigante e necessário!...
...continuo numa próxima postagem!
\\\"Às vezes, quase sempre, ainda me pego procurando meu umbigo enterrado no \\\"combro\\\" da Praia Grande, onde minha mãe diz tê-lo enterrado, seguindo tradições peculiares desse pedaço de chão com tanta riqueza histórica!\\\"
[11/4 21:21] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (2°)
Era novembro do ano de 1.981. Eu já estava aprovado na 1° Série, cuja Professora fora a Dona Bernardina do Seu Chiquinho - excelente Educadora e Alfabetizadora - então eu já sabia ler, escrever e fazer contas!
Também já sabia nadar, tirar goiá, male-male fazer um fundo de samburá e tecer algumas malhas de tarrafa, graças ao meu avô Vitor, que me obrigava a acompanhá-lo na sua lida diária. Na época, pra mim, era uma tortura não poder ir brincar pra fazer isso, mas Graças a Deus hoje ainda pratico essas artes, graça ao meu saudoso avô, que fazia o papel de pai pra mim, devido ao fato de meu pai ser embarcado na Praça de Santos SP. Às vezes, meu pai demorava meses pra vir em casa, lembro de uma vez que foram 7 meses!
Mas nessa data ele veio, passar o fim de ano em casa, e trouxe, para cada um dos 4 filhos, uniforme completo - camisa, shorts, meião e conga - do Vasco da Gama RJ, clube do qual era torcedor fanático, e na época tinha como maior ídolo ninguém mais que Roberto Dinamite.
No dia 25 de novembro de 1.981 o Vasco veio a Itajaí disputar um jogo amistoso com o Marcílio Dias, no qual ganhou por 1 a 0, e meu pai foi ao jogo e levou meu irmão mais velho (Jair) ao estádio Dr Hercílio Luz. Fiquei tão bravo que dei fim ao uniforme cruz maltino naquele dia e decidi que ia escolher outro time pra torcer!
Junto a estes presentes, meu pai trouxe uma TV preto e branco, semp toshiba TVC 100 14\\\", com uma tela plástica multicolorida, tipo arco íris, pra deixar a imagem multicor! Era o top da época! A saudosa Dona Zizia e seu filho Nordo - vizinhos nossos de porta, vinham na minha casa todo dia assistir novela com a minha mãe. Também apareciam a Dona Maria do Seu Jó, a Dona Glorinha do João Dimiço e a Dona Lurde do Cissí, às vezes.
Em dezembro daquele ano, o Flamengo - de Zico, Nunes e Cia - jogaria o Mundial de Clubes e seria campeão em cima do Liverpool da Inglaterra. Naquela madrugada, reuniram-se lá em casa vários torcedores de times cariocas pra assistir, entre eles meu saudoso tio Antônio - Tonho do Vítor, e minha mãe mandou nós dormir cedo: \\\"Os rapash pequeno vão tudo durmi, isso não é coisa de criança!\\\". Eu não consegui pregar o olho e escutei todo o jogo, lá do quarto escuro, cada lance, cada gol.
O futebol, naquela época, tinha alma própria, tinha vida, vibração e alegria, fazia a gente quase anoitecer na estrada chutando as bolas dentes de leite!...
...continuo numa próxima postagem!
\\\"Adotei a cor azul como minha preferida desde pequenino, isso era lei pra mim! Era bico (chupeta), roupa, caneca, etc. Acho que queria conquistar o mar e o céu! E os dois estavam sempre ali, na frente de nossa casa, na Rua da Tainha!
[11/4 21:22] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (3°)
Naquele natal de 1981 ganhei um dos melhores e inesquecíveis presentes da minha vida: uma máquina carregadeira de brinquedo, com alavancas para manipular. Foi a minha eterna Madrinha Maria Aparecida de Souza a Cida do Jóca que me deu!
Me recordo como se fosse hoje, a satisfação e alegria de receber, brincar por uma (quase) eternidade. Durou muito, mas muito tempo mesmo, pois eu lavava e limpava ela toda vez que a usava pra brincar, e corria escondê-la para longe de meus irmãos.
Passado o verão esperávamos ansiosíssimos pelo inverno, pois no outono, entre os meses de abril e maio era estruturado na praia o Rancho da tainha. Vinha nova safra para a rede de cerco.
Desde o patrão, o saudoso tio Teodoro Mariano, passando pelos também saudosos canoeiros: Tomázinho da Marica - o Lua (chumbeiro), Seu João Maurício (redeiro de bóia), Toke do TiVentura (proeiro), Seu Quinho da Cucha, Seu Salvador, Seu Jó, Mirto do Seu Jó, Nene da Lurde do Cissí e Pida do Seu Olindio (remadores), Tio João da tia Bola e o filho Genésio, meu pai João Vitor e tio João da tia Beata, Seu Maneca Padeiro e Seu Dodô da Dona Eta (vigias das Pedras do Meio e da Cerca), os camaradas de praia, muitos jovens de famílias da Praia Grande, e figuras tradicionais na puxada da praia, como o Nordo da Dona Zizia, o Seu Bem da TiMila, o Janjão do TiDoro, o Seu João da Dona Glorinha, e tantos outros que minha memória por hora não colabora!
TÃO LANCEANDO!!!!!
Era o alarme que ecoava da Rua da Tainha para além das fronteiras da Praia Grande. Chagava até na região da Praia da Armação e Mato Grosso, lá fora, como aqui todos diziam, através do boca a boca. Meia hora após a largada da canoa, e chagava gente de todas as bandas da Armação!
Era ajudar a puxar o cerco, a guardar a rede, puxar a canoa, para ganhar uma fritada com pirão!
Ser \\\"camarada\\\" da rede da tainha, ganhar um \\\"quinhão\\\", era um sonho que me consumia, apesar de eu estar ali, todo dia, vivendo e vivenciando as experiências da pesca de cerco de praia. Realizaria este sonho tempo depois, num outro causo!...
...continuo numa próxima postagem!
\\\"Aí eu já sabia fazer uma boa arapuca, armar uma esparrela ou laço de chão. Gaiola ou alçapão de flechas e bambu eu já esboçava. A arte misturava-se com as brincadeiras e vice versa!\\\"
[11/4 21:25] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (4°)
O ano de 1.982 foi muito marcante pra minha vida, pois foi quando conheci a verdadeira paixão pelo futebol através da Seleção Brasileira.
A Copa do Mundo na Espanha iria receber uma das mais belas seleções brasileiras de todos os tempos:
Time titular:
Valdir Peres (São Paulo); Leandro (Flamengo), Oscar (São Paulo), Luizinho (Atlético Mineiro) e Junior (Flamengo); Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Falcão (Roma-ITA), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo); Éder Aleixo (Atlético Mineiro) e Serginho Chulapa (São Paulo).
Reservas:
Goleiros: Paulo Sérgio (Botafogo) e Carlos (Ponte Preta);
Defensores: Edevaldo (Internacional), Juninho (Ponte Preta), Edinho (Fluminense) e Pedrinho (Vasco da Gama);
Meio-campistas: Paulo Isidoro (Grêmio), Batista (Grêmio) e Renato (São Paulo);
Atacantes: Roberto Dinamite (Vasco da Gama) e Dirceu (Atlético de Madri).
Técnico: Telê Santana
Um futebol mágico, que encantava o mundo e enchia de esperança os brasíleiros em busca do tetracampeonato mundial. Era minha primeira Copa do Mundo (a de 1978 eu tinha só 4 anos e não tínhamos TV), agora com 8 anos de idade, já arrumava uns trocados ou moedas de cruzeiros aqui, ali, capinando um terreno, limpando um quintal, e aí chegou o Álbum da Copa: o inesquecível Álbum da Ping Pong. No Bar do Genésio, que também era Mercearia, com Secos e Molhados, havia fila pra comprar os chicletes e arrancar logo a figurinha!! Até há alguns anos atrás eu ainda tinha meu álbum completo, mas resolvi digitalizar, ouvindo conselhos de um amigo, pois se perderia com as agruras do tempo.
Havia chicletes pela casa toda, nos bolsos de todas as roupas, ninguém dava conta de mascar tantos!
Vez ou outra, íamos na Venda do Seu Doro da Dona Nair, quando as figurinhas so Genézio vinham muito repetidas, buscando sempre achar aquela que faltava!
Também haviam as trocas de figurinhas e o \\\"jogo do bafo\\\", que juntava uma raça de rapaz pequeno.
Copa do Mundo sempre em época de São João (maio, junho ou julho), nós \\\"cavava a estrada\\\" da Praia Grande até a Praça São Pedro da Capela de São João Batista de Itapocoróy, ia e vinha trocentas vezes por dia. Barracas de doces, cocadas, maria mole, pé de moleque, brinquedos como iôiô de elástico, bilboquê, jogos de roleta, de argolas, etc. E a Praça enfeitada, arcos de bambu com folhas de palmeiras, som no alto falante com a voz inesquecível do Seu Milton Fonseca e a grande fogueira, ali, majestosa, pronta pra \\\"ardê\\\" na noite de sábado. No domingo encontrávamos ela estarrecida ao chão, virada em brasas e cinzas!...
...Continuo numa proxima postagem!
\\\"Naquele fatídico 5 de julho de 82, nossa Seleção seria eliminada da Copa pela Itália de Paolo Rossi, derrota que ficou conhecida como \\\"Desastre de Sarriá\\\". Me lembro que foi a primeira vez que chorei de tristeza. Homem chora sim!
[11/4 21:26] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (5°)
O ano de 1.983 foi, sem dúvida nenhuma, o mais desafiador e transformador na minha vida e da minha família. Meu pai, aí com 40 anos de idade, era Mestre Proeiro da traineira Margus, do saudoso Seu Arizom, e em fevereiro descobriu que sofria de uma doença do coração, que o impedia de continuar embarcado, pois deveria passar por cirurgia urgente, já agendada em Curitiba PR.
Foi aí que, por influência de meus avós paternos, Vô Vitor e Vó Rosália, ele começou a frequentar a Igreja Evangélica e ouvir um programa de rádio chamado A Voz da Libertação, da Igreja Pentecostal Deus é Amor, através do então presidente e missionário David Martins Miranda. Na hora da oração, orientado pelo missionário, o(a) ouvinte deveria colocar um copo com água em cima do rádio, exercer a oração e bebê-la após o ato. A fé realmente faz com quê os milagres aconteçam! Em pouco tempo, e sempre retornando ao médico para exames pré‐operatórios, o médico chegou à conclusão de quê nao haveria mais a necessidade de intervenção cirúrgica. Misteriosamente o problema havia desaparecido e então liberou meu pai para o trabalho!
Viria , então, o maior desafio: convencer os empregadores das firmas de pesca que estava apto, porém sem cirurgia que previamente era a única solução!
O ser humano, apesar de muita evolução, ainda sente a necessidade de \\\"ver pra crer\\\"! Os dois anos que se seguiram, 1983 e 1984, seriam desafiadores e marcantes: uma família de 9 - pai e mãe com 7 filhos, sobreviveriam com o quê os costões e o mar poderiam oferecer - mariscos, búzios, goiás, siris e peixes!
Uma história épica impensável nos dias de hoje!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Foi em 1.983 que descobri meu sangue azul, ao assistir ao Grêmio RS ser Campeão Mundial sobre o Hamburgo ALE com 2 gols de maestria do imparável Renato Gaúcho!\\\"
[11/4 21:26] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (6°)
Bastaram 2 meses com nosso pai desempregado (e desacreditado por todos pelo milagre recebido) para que chegássemos ao colapso finaceiro familiar. A solução foi vender nosso terreno, e o comprador foi o saudoso Seu Jahiel da Dona Zélia Souza Tavares - ainda é proprietária até hoje - e nossa casa simples de madeira, com sala, 3 quartos e cozinha estendida atrás com piso de terra batida e fogão à lenha foi desmanchada para ser reconstruída atrás da casa do vô Vitor, lá no morrinho, terra que ainda é da nossa família até hoje, onde moram minha irmã mais velha, Janete - a \\\"Grila\\\" - e suas filhas.
À época não tínhamos banheiro, usávamos a famosa e inesquecível \\\"patente\\\" ou \\\"casinha\\\".
No negócio do pedaço de chão com meu pai, o vô Vitor pediu que fosse lhe construído um banheiro, pois também não o tinha, e assim foi realizado o negócio. Na nova morada meu pai reconstruiu a casa e fez 2 banheiros: um pra nós e outro para meus avós, agora com caixa d\\\'água intalada para abastecê-los. Mas a transação de venda, reconstrução da casa e os banheiros levou quase todo o dinheiro do negócio! Em menos de um mês já estávamos novamente na pinimba. O socorro vinha dos costões, principalmente do marisco da pedra.
Lembro-me de várias vezes irmos, ainda de madrugada, para o São Roque. Lá na \\\"Sala\\\", entrada do Pesqueiro Raso, montávamos acampamento e começava a tiração. Já íamos cozinhando em camburões, descascando e colocando \\\"de molho\\\" em baldes o marisco da pedra descascado. A lenha usada no fogo era obtida ali mesmo, pois no São Roque tem fartura de madeira trazida pelo mar. A gente levava um ou dois molhes de bambu seco de trás de casa, so bambuzal do Seu Olindo, pois além de começar o fogo mais fácil, proporciona um fogaréu, que cozinha o marisco mais rápido. Desde a Ponta do Varrido - norte - até a Ponta do Cantagalo - sul, os costões do São Roque eram quase diariamante frequentados por nós. Também íamos nos costões da Praia Grande, da Vigia e do Farol. Na Praia Vermelha era muito raro, mas também era visitada.
Trazíamos o marisco descascado e minha mãe já lavava bem, ensacava em quilo pra vender, e o maior e melhor comprador e pagador era o Seu Zezinho, que tinha um restaurante em Piçarras - tinha um papagaio na parte de trás da cozinha. Eu adorava ir lá pra \\\"falar com o Louro. Dessa venda vinha nossos primeiros alimentos do dia!
Nossa balança era um bastão de madeira de 1m com 2 furos nas extremidades, onde se amarrava 2 anzóis grandes. No meio tinha um furo com uma alça de corda para equilibrar a balança. Numa extremidade pendurava-se um pacote de quilo de qualquer coisa - farinha, sal, arroz, etc. e na outra um saco com marisco até atingir o equilíbrio da nossa balança caseira, arte de nosso vô Vitor.
Tinha também a época dos \\\"buzos\\\"\\\' e dos goiás, e a época dos \\\"nadas\\\", com tempo ruim e \\\"maré nas arueiras\\\", as tribuzanas de rebojos e lestadas brisadas com chuvas.
Foram meses e anos de muito sacrifício, muito suor, cansaço, mas também de aprendizado pra vida toda, por toda a vida!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Minha saudosa avó Rosália, que Deus a tenha em sua infinita misericórdia, muitas vezes ajudou a matar a nossa fome, repartindo conosco o pouco que tinha! Ainda sonho muito com ela, acordo achando que está entre nós!\\\"
[11/4 21:26] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (7°)
Com meus pais passando a frequentar a Igreja Evangélica - primeiro a Assembléia de Deus junto aos meus avós, depois a Igreja Pentecostal Deus é Amor, toda a família foi levada a frequentar também. Ou seja, na linguagem popular, \\\"viramos crentes\\\"!
Meus irmãos mais velhos Jair e Janete (Li e Grila), que já haviam largado a escola para auxiliar na economia da casa, foram morar em Itajaí para trabalhar, ele de cobrador na antiga Coletivo e ela de empregada doméstica. Lá, frequentando a IPDA, conheceram seus únicos e atuais cônjuges e se casaram. Meus outros dois irmãos, ⁸mais velhos que eu, Jailson e Daniel (Mimo e Né), ajudavam na lida dos costões e logo começaram a fazer vigia nos barcos ancorados em Armação do Itapocoróy. Muitas vezes meu pai e meu avô iam fazer as vigias com eles, principalmente na parte da noite, pois eram vários barcos. Tudo numa \\\"chata\\\" de palamentas, que mais parecia um caixão. Mas a vontade de vencer era sempre maior que os desafios e dificuldades.
Eu vendia picolés no verão, numa caixa de isopor à tiracolo. Foi meu primeiro \\\"serviço oficial\\\", com o Seu Pedro do Iate. Minha mãe cuidava de algumas casas de veranistas na Praia Grande, abria para arejar, limpava os cômodos uma vez por mês, pelo menos. Eu limpava o quintal, varria, capinava, etc.
Minhas irmãs mais novas, Joelma e Adriana - Nana e Diana, sempre na lidança com a mãe, a acompanhando.
Todos meus irmãos e irmãs abandonaram a escola antes de terminar a 8° Série, ou para trabalhar, ou para ajudar em casa, ou por pouco interesse mesmo. Eu fui a exceção! Chegava a chorar, aos berros, quando a mãe via que tava chovendo, ou trovejando, ou muito frio, e dizia: \\\"Hoje tu não vásh!\\\" Aquilo pra mim era o fim do mundo, eu tinha que ir!
Nunca me acostumei no mar, no balanço das ondas. Pouco tempo, talvez minutos, eu já estou \\\"soltando os bofes\\\"! Talvez isso tenha colaborado para eu me fincar no desejo de estudar!
Na 2° Série minha Professora foi a Dona Marisa Souza Holtz do Seu Nilton chumbeiro, na 3°Serie foi a minha kiridíssima Madrinha Maria Aparecida de Souza - a Cida do Jóca, e na 4° Série a Dona Marlene (ex do Vilson do Seu Tonico). Mulheres Educadoras que irei amar e venerar até meu último suspiro neste plano de vida!
Eu estava na 4° Série, em 1984, quando o Estado de SC criou um concurso de desenho para divulgar e conscientizar a população sobre o ICM - Imposto sobre a Comercialização de Mercadorias, que futuramente, na Constituição de 1988, virou ICMS - e Seviços. No concurso, minha arte foi escolhida em 1° lugar, fui o Campeão! Os prêmios, uma bicicleta Calói Cross, uma bola oficial de futebol e outra de vôlei, minha mãe foi na escola pegar e vendeu todos, para ajudar no sustento da família! Cheguei a vê-los, peguei nas mãos, mas foi como se apenas eu tivesse sonhado! Demorei muito a digerir e entender aquilo, mas superei, absorvi!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Ganhei certa vez, ao limpar o quintal pra Dona Frida, uma maleta, daquelas de couro, com duas trancas de chaves, tipo para documentos, de gente rica e importante. Acho que era do seu falecido marido ou de alguém da família dela. Durou muito tempo na minha mão, nem sei precisar, mas acho que mais de 4 anos! Eu ia pra escola me achando um Doutôri, como dizia minha vó!\\\"
[11/4 21:26] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (8°)
Lembro-me de tantas vezes ser dispensado da escola porque não passava na inspeção do uniforme! Camiseta branca e calça azul marinho era a ordem, pra quem não tinha o uniforme oficial da escola. Apenas quando chegava o uniforme que o Governo mandava - calça de tergal azul e camisetas brancas, até com meias e a famosa conga - e isto já se íam semanas ou até meses de aulas.
Junto do pacote vinha também material escolar: cadernos, cadernos de desenho e caligrafia, lápis, lápis de cor, réguas, borracha, e um guarda lápis de madeira. Tudo muito simples, mas era a nossa maior alegria!
Acho que a ausência de uniformes e materias também corroboraram muito para que meus irmãos desistissem de estudar. Mas eu nunca iria cometer o mesmo sacrilégio, esta era a minha convicção!
Já na 4° Serie em 1984, com 4 meses de aula, quebrei a perna direita, ao pular o muro pra buscar a bola e na volta, engatei o pescoço no varal da mãe, que ficava bem próximo ao muro. Foram quase quatro meses, entre a perna engessada e o retorno a andar e correr normalmente. Foi-se o ano letivo, tive que refazer a mesma série novamente em 1985.
Viria uma nova fase, novos desafios e novos colegas de classe.
Nessa época a estrada da Praia Grande ainda era de barro, tanto a José Camilo da Rosa como a Estrada Nova, hoje Av Antônio Carlos Konder Reis.
Nossas brincadeiras de infância eram muito variadas, e tínhamos as épocas: da pipa ou pandorga, da pêca - triângulo, bóca e corridinha, do jogo de tacos - com latas de azeite, da \\\"corrida de champrinhas\\\", pega-pega, esconde-esconde, cabana no mato, etc. Mas duas delas eram contínuas e essenciais: jogar bola - na estrada, na praia, em campinho de terra, num quintal, e descer de calha de coqueiro no morro do Seu João Braga - isso tinha até competição!
Aliás, o pasto e o morro eram nossos caminhos pra ir e voltar da escola, pois fazia fundos lá no morro da Paiva e frente em toda Praia Grande, até o morro da saudosa Dona Paulina do Torradela. Nesses caminhos e trilhas já tínhamos arapucas, esparrélas, laços de chão e, claro, nossa calha de coqueiro escondida!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Eu colecionava pêcas com o Nordinho Arnoldo Costa Júnior Costa e íamos jogar até lá fora, na esquina da Armação. Era mais de centenas ou até milhares, de todos os tipos: carambolas, de leite, bagalões e bagalinhos, coloridas e de variados tamanhos! Eu também colecionava gibis, dos quais eu era aficcionado e inveterado leitor! Acho que isso me ajudou muito a desenvolver a capacidade de interpretação, leitura assídua e facilidade em dialogar e me expressar! Mas eu era mesmo aficionado por matemática, problemas e cálculos!\\\"
[11/4 21:27] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (9°)
O ano de 1.985 foi um tempo de recomeços. Retornei pra escola, e com a ajuda de meu tio Véte - Silvestre, meu pai conseguiu, em janeiro, embarcar de Mestre no Confrio IV, de uma grande frota pesqueira com base na Bertioga, em Santos SP, e filial aqui em São Domingos - Navegantes SC, comandados pelo Seu Alfredo Rosa da Dona Rute da Costa. A retomada e a estabilidade financeira ainda levou algum tempo, pois foram 2 anos numa batalha diária muito desafiadora.
Haviam outros Mestres da Armação e da Praia Grande nos Confrios: Seu Picucho da Dona Almira, tio Véte da tia Catarina, Seu Batista da Dona Tita, o saudoso Chenco, meu pai João do Vitor. São os que me lembro agora. Tenho em casa uma réplica em miniatura - 70 ou 80 cm, do Confrio IV, que meu irmão Cíntia Verrilo Jailson Souza Mimo fez pra mim.
Eu agora com 10 pra 11 anos, seguia meu vô Vitor pra tudo que é banda. E ele me obrigava a ficar sentado com ele, ora fazendo samburás e balaios de cipó e taquaras de bambu, ora remendando ou entralhando uma rede ou uma tarrafa, ou queimando e linhando um caniço, empatando anzol ou fazendo a fracassa nos caniços. Era tanto peixe que dava robalos no porto do Genésio, na linha, no caniço era marimbá, canhanha, carapéva, panchuda, pargo, galinho, etc. no Pesqueiro e no Fundão da Laje da Pedra do Meio, no Fencapé e no Costãozinho. No Canto - da Praia Grande, inúmeras vezes fui com o vô pescar salgos de dente e de beiço, garoupetas e pargos, no caniço. As garoupas eram pescadas em pesqueiros de costões de fora, como no Moraes da Vigia, no Pesqueiro Fundo do Fencapé e no Paióle, no Varrido e Cantagalo do São Roque. Também recordo de várias vezes que fui com o vô, ou com o tio João da tia Bola ou com o Seu Genésio, tirar isca de capa na lajinha da Pedra da Cerca. Lá, por terra da lajinha, tinha - penso que ainda tem, uma colônia dessa que é uma das melhores iscas pra peixes da pedra. Com um varão de ferro - pontudo e chamado de xuxo, era \\\"xuxado na moita\\\" das iscas e elas vinham pra cima, daí um breve mergulho e as duas mãos vinham cheias de encher o samburá.
Também era usada a tatuíra, tirada na areia da praia, guerras de goiá, búzios quebrados, e também camarão miúdo. Dependia que tipo de peixe se queria, usava-se a isca tal.
Nos invernos, eu ia de gancheiro, acompanhando o vô nas tarrafadas de praia. Fazendo \\\"hora\\\" pra dar tempo de outra caída, era rara a noite que a gente vinha pra casa de mãos vazias!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Um dos meus maiores desafios era tomar banho de mar e jogar bola de calças compridas, pois em casa era a ordem do pai e da mãe: \\\"Crente não usa bermuda nem shorts. Só quando for maior de idade, tu vai poder escolher\\\". Mas a minha vontade era mais forte que isso, e superar tornou-se uma meta, apesar dos abusos da turma, dos escárnios, das risadas, eu focava na bola, no jogo!\\\"
[11/4 21:27] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (10°)
Hoje vou relatar casos e causos que vivi ou vivenciei na minha primeira infância, no meu berço natal, a Praia Grande.
As primeiras lembranças são das festas de Natal e Páscoa. Era regra geral fazer o \\\"ninho\\\" de Natal! Podia ser uma bacia, uma caixa ou até um cestinho raso. Enchia de capim, barbas de velho e papel picado. Eram pelo menos 3: um pra vó, uma pra casa e um pra Madrinha. Era correria só e a angústia de esperar até o dia de ir buscar!
Na Páscoa eram as cestinhas, enfeitadas, coloridas. Pessoal vinha entregar por encomendas, em 2 pessoas, vara de bambu com umas 10, 15 ou 20 cestas penduradas.
Época de Natal os embarcados em Santos vinham todos passar as festas com as famílias, o Bar do Genésio era só lotado dia e noite. Seu Genésio chegava fechar a Venda e ficava servindo as bebidas pelos fundos. A briga era certa com a Dona Lurde. Estórias e causos eram contados aos montes! Por inúmeras vezes a Dona Graça ( Hruummm Bastião, vão pra casa seu marvado, o pirão já iscardô) vindo buscar seu amado e saudoso Bastião do Seu Jó; o Seu Olíndio - o Cata, saindo darrasto, com boné torto na cabeça; a bicicleta monark barra forte levando o Tomáz da Marica - o Lua pra casa; o Cissí chutando as toiças de capim pela beirada da estrada; Seu Quintino contando umas \\\"mintirinhas\\\" pra enterter a turma; Seu Manéca da Dona Milita e o Calinho - o Jacuva agarrado nos braços: \\\"bamo, pai, bamo. A\\\'a\\\'a\\\'a mãe já\\\'já\\\'já\\\'já tá quase vindo aqui ti\\\'ti\\\'ti buscá!\\\" Tio João da tia Beata certa vez se encrencô com o Genésio e só ia beber na Venda do Seu Dóro. Quando voltava, mais pra lá do que pra cá, largava o chapéu de palha na beira da estrada e deitava pra dentro do mato. Marcava o local pra ser achado, e achamos muitas vezes e o levamos pra casa.
De 10 em 10 minutos era uma mulher que chegava na venda, discreta, ia lá pro canto do balcão e saía com a garrafa da \\\"mardita\\\" escondidinha pra levar pra casa. Eita gente pra beber cachaça! Diz a lenda da Praia Grande que o Genésio tinha até um caderninho, onde ele anotava todos (as) que sua cachaça já tinha levado dessa vida. Já era um caderno de seu avô, lá da Venda do Seu João Inácio.
Quando chegava o caminhão da cachaça que abastecia a Venda, o ajudante do Seu Genésio era o Milton do Seu Jó, o Rapa. Kkkkk, puxava do barril do caminhão para o barril da venda na mangueira, e a puxada - com a boca, já dava aquele golão de meio litro. O caminhão do \\\"galho\\\" trazia carne fresca pra Venda, uma vez cada 15 dias. A cabeça do boi com os chifrão o Seu Genésio colocava em exposição. Ôta bicho medonho!
Na Quaresma era a Farra do Boi. Naquele tempo era boi solto na rua, corda de arrasto, ou boi na corda. Vinha descendo o morro lá pra perto do Seu João Braga, vinha a turma gritando: \\\"olha o boi, olha o boi!\\\". Era quem mais podia, subir em árvore ou correr pra baixo do assoalho! Numa dessas me lembro que o TiZeca Gerardino levou uma chifrada na barriga, ali pras bandas da Praia do Canto, perto da Vigia. Todos procurando o boi à noite, no mato. TiZeca com o fachiléte, entrou no mato e enfiou a luz na cara do boi. Foi um salseiro só, gritaria. Ficou um tempo adoentado, mas se salvou!
Tem também o caso da Pitanguera que bateu no Leomar do Seu Vilásio, que tava passando de bicicleta, acho que indo na Venda. Foi bem na frente de casa, jogou ele lá dentro do muro, com o braço estrofiado e desmaiado! Êta correria, Dona Maria cas duas mãos na cabeça, um \\\"arvoroço\\\"! Ele ainda carrega a cicatriz e o braço meio rengo até hoje!
Certa vez o Enilson da tia Catarina do tio Véte comprou uma moto, sem cano de escape, barulhenta que só! Quando descia o Morro dali do Seu Belo pra baixo, a Dona Lurde do Genésio já gritava: \\\"Córri, rapazi! Lá vem o timbinga da Catarina!\\\"
Outro fato, e muito mais triste, o assassinato do Nene da Lurde do Cissí, fazendo vigia no barco do Elói na Armação. Foram roubar o porão do barco na madrugada e dizem que ele enfrentou os ladrões com uma faca. Daí levou um tiro de calibre 22. Vi o corpo chegar na praia, não dava pra dizer, parecia dormindo! Coitada da Dona Lurde, nunca mais prestou!
Pra não falar só em tristeza, vou contar da coça de caniço que o Seu Léza da Lelena deu num guarda do Vandir, lá no Cantagalo. Dizia ele que nunca mais viu aquele guarda, agarrou o mato e sumiu!...
...Continuo numa próxima postagem!
As melhores lembranças sempre nos fazem pensar em alguém que já nos deixou! Neste dia triste pra nossa Praia Grande, registro a partida do nosso \\\"Magaiver\\\", o Fabiano do Seu Péca da Dona Mazilda do Seu Jó. Que na espiritualidade, você encontre teu pai e tua mãe, para que eles cuidem de ti, kiridão!
[11/4 21:27] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (11°)
No final dos anos 60 e inicio dos 70 Abelardo Corrêa era Prefeito de Penha. Numa imagem, ele está em Armação do Itapocoróy diacutindo com lideranças políticas da época o aterro do \\\"Curral\\\", que hoje é a Praça Sebastião Aurélio dos Santos - popular Praça do Coreto. O muro de arrimo tinha sido construído numa gestão anterior, a pedido do então Vereador Zé Leite. Depois veio a Gestão Eugênio Krause/Arão da Costa. Em 1982 - dois anos antes de sua morte, em casa, Abelardo seria novamente candidato a Prefeito, não conseguindo êxito, como mostra o relatório eleitoral junto às imagens.
Fiz este breve relato pra chegar na foto onde apareço com a camisa da campanha do Abelardo, com o slogan \\\"É hora de acordar\\\", acompanhado do desenho de um despertador. Junto a mim, meu irmão Jailson - o Mimo, minha mãe Jora com minha irmã caçula Diana no colo e minha tia Arminda do Brás Padeiro, que casou com o tio Jorge, um ex palhaço de circo chamado Poióca, que hoje moram em Curitiba.
Nessa época, a gente vivia impázinado de tanta fruta nativa que achávamos , tudo, claro, à sua devida época.
Era mamão, abacate, laranja crava, pitanga, cereja (joão bolão), siriguéla, gabiroba, carambola, jabuticaba, goiaba, jambo, fruta do conde, ameixa amarela, nona, ticum, ingá, goiaba, bacupari, araçá, coquinho amarelo, baga de sombreiro madura e com certeza outras que não me alembro agora. Não se comprava frutas, se achava em qualquer lugar!
Dotada da habilidade de \\\"padeira\\\" minha mãe tinha muita presteza na confecção de proditos de padaria, principalmente pão caseiro. A tia Zela - viuva do tio Cacá da Dona Guida, que havia falecido no Rio Piçarras quando foi procurar o filho - Mano, que caiu da lancha, morava no Morro do Ouro, atrás do Salão Paroquial, vizinha da Dona Baca e agora já casada com o tio Mário Vicenzi, tinha um forno de tijolos no quintal, pra assar pão na brasa de lenha. Duas vezes por semana a mãe ia lá fazer aquela fornada de pão caseiro - era no mínimo 20, que trazíamos mais da metade pra casa, a pé, saco de pão quentinho nas costas, pela estrada de cima, até a Praia Grande. Era pelo menos 2 dias de fartura!! A gente levava pão pro costão, e às vezes não tinha nada pra passar nele. Minha saudosa vó Rosália ora ou outra nos dava um pote de mussi que, quando não tinha açúcar, adoçávamos o café com ele.
Uma xícara de café com açúcar e farinha de mandioca de manhã cedinho, e a gente ia sentir fome só quando o sol já tava a prumo, perto do meio dia!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Como não tinhamos mais TV, eu ia quase que todo dia na casa da tia Zela, assistir. Ou desenho, ou filme, enfim, era minha segunda casa. Uma loucura pensar isso nos dias de hoje, mas era minha rotina, que eu mantinha com muita satisfação!\\\"
[11/4 21:27] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (12°)
O ano de 1986 foi mais que especial. Eu na 5° Série, e acabou o negócio de só uma professora, a tensão pela novidade aumentava a cada dia que se aproximava o início das aulas. O professor de Educação Física era o Mojanga do Seu Salvador. Muitas vezes fiquei fora das atividades, pois ele só permitia fazer com shorts ou agasalho, pra mim coisas de luxo! Eu não podia usar shorts ou bermuda e agasalho nem me recordo de ter usado um naquela altura da vida. Só que o \\\"Nanga\\\" é um ser humano sensacional, ele sentava, fazia uma psicologia com a gente. Não tinha como ficar com raiva dele. Pra compensar, eu fazia pesquisas pra ganhar nota. Penso que isto colaborou demais com meu hábito atual de leitor e pesquisador. Obrigado Mojanga, podes crê, tu era fera kiridão.
Eu compensava a ausência destas atividades com o futebol antes da entrada e no recreio. Era raça de gente, chegando cada vez mais cedo. Na quadra antiga, de cimento bruto, muita gente deixou a batata do dedo, muitas congas, kichutes e tênis estrelinha do Paraguai foram destroçados! Quando não tinha futebol, era a brincadeira de \\\"assar\\\"! Eram 3 ou 4 bolas largadas no meio da galera. Era ajeitar, mirar em alguém e largar a \\\"bicuda\\\"! A melhor bola era a de borracha, que vinha como material de Educação Física pra escola. Só quem viveu essas aventuras ainda sente na pele o arrepio da bola passar raspando ou assando o couro!
Uma nova Copa do Mundo estava chegando, e a Ping Pong lançou novo álbum de figurinhas no chiclete. Tinha novidade: chiclete com 2 sabores! Toda aquela saga de 4 anos atrás recomeçando, mais um álbum pra preencher. O Brasil inteiro na esperança do Tetra, na Seleção comandada pelos agora experientes Zico, Sócrates e Cia. E foram exatamente esses 2 jogadores que protagonizaram a eliminação, agora para a França de Platini. Zoco perdeu o pênalti no tempo normal, chutou o chão. Com o empate, a decisão nos pênaltis reservou para Sócrates uma triste situação: o Doutor, exímio cobrador de pênaltis, perdeu sua cobrança e o Brasil chorou novamente. Pra terminar um roteiro épico, a Argentina seria Campeã, com Maradona carregando a seleção nas costas, comendo tudo, com ajuda da \\\"Mão de Deus\\\"!
Chegou na Praia Grande buxixo que no Beira Mar tinha uma Escolinha de Futebol. Fui junto com uns amigos lá pra ver e a surpresa: o Professor era o Tilinho Gentil Serpa da Dona Bia do Seu Tilo! Fiquei lá no cantinho, encrocado, como quem não quer nada. Nunca imaginei que seria notado, de calça comprida, arregaçada até meia canela, chinelo arremendado com preguinho mata junta. O Tilinho me viu, foi até mim e fez a pergunta: \\\"Quésh jogar?\\\" Faltava um pra completar e eu fui, corria que parecia gazela, habituado já, dei uma arrancada num lançamento e meti uma bicorra na bola, na gaveta! O Tilinho gritou: \\\"Ôôó nêgo, ôta bixo bom!\\\" Continuamos o jogo até acabar o treino e o Tilinho me mandou vir novamente, mais vezes. Cheguei a ir mais outros dias, mas meu irmão dedurou pra mãe o que eu tava fazendo e ela me proibiu de continuar.
Desculpa Tilinho, mestre da rapaziada, eu nunca tinha te contado isso. Apenas falei que não queria mais ir, que tinha vergonha de estar jogando de calças!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Eu com essa idade, carregava 10 ou até 20 carrinhos de mão cheios de algas marrons, do Cascalho até a Praia Grande, pro Seu Robertão. Ele mandava a gente colocar em volta dos pés de limão galego e de cocos da Bahia. Carregava os pés de frutas! Na época era 1 cruzeiro cada carrinho cheio. Dias de glória, chicletes e figurinhas garantidas. Metade, porquê a outra metade era pra casa, na mão da mãe!\\\"
[11/4 21:28] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (13°)
Como eu vivia com meu Vô Vitor e meu pai João do Vitor pelos costões e praias, decorei cada cantinho, cada espaço geográfico de localização entre o Boqueirão, na Ponta da Cruz, no Cascalho, e a Praia Vermelha. Também qual tipo de pesca ou produto havia em cada um deles.
Vou relatar agora, para que fique registrado e vocês possam identificar ou se lembrar deles:
*Boqueirão na Ponta da Cruz - final do *Cascalho: sulapão, goiá e siri santola.
*Buraco do Pato - atrás da Ponta da Cruz: goiá e siri Santola.
*Paciência: goiá e pesca de linha e tarrafa.
*Gaivira: goiá.
*Vigia - lado norte: marisco e búzio.
*Ilhote - Ponta da *Vigia: marisco.
*Moraes - lado sul: marisco e búzio; pesca de linha e caniço.
*Marimbá: goiá, marisco e búzio; pesca de caniço e tarrafa.
*Laje da Arbina: marisco e búzio; pesca de linha e tarrafa.
*Igrejinha do Canto: marisco e búzio; pesca de linha e caniço.
*Fundo do Canto: marisco e búzio; pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Santo Antônio do canto: marisco, búzio e goiá; pesca de caniço e tarrafa.
*Praia do Canto: tatuíra, pesca de linha, tarrafa e cerco de canoa.
*Corredor da Laje: pesca de caniço e tarrafa; isca de capa.
*Laje da Pedra do Meio: marisco e búzio.
*Fundo da laje: isca de capa; pesca de tarrafa e cerco de trulho.
*Tarrafada do Maneca Padeiro: goiá, búzo e pesca de tarrafa.
*Rego da Pedra do Meio: marisco, búzio, goiá e pesca de caniço.
*Pesqueiro da Pedra do Meio: marisco e pesca de caniço.
*Cabeça da Mana: marisco e pesca de linha e tarrafa.
*Porto do Genésio: pesca de linha e tarrafa.
*Praia do Cerco: tatuíra, pesca de linha, tarrafa e cerco de canoa.
*Lajinha da Pedra da Cerca: goiá, pesca de tarrafa e isca de capa.
*Pedra da Cerca: goiá.
*Porto da Dona Mimi: goiá.
*Praia da Chica: goiá e pesca de tarrafa.
*Pedra da Figueira: goiá, pesca de caniço e tarrafa.
*Pedra do Poá: goiá e pesca de caniço e tarrafa.
*Praia do poá: pesca de tarrafa.
*Canto do Poá: goiá, búzio e sulapão.
*Costãozinho: goiá, siri Santola, pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Chegada do Fencapé: goiá; pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Ponta do Fencapé: goiá, marisco e búzio; pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Rego da tábua: goiá, pesca de linha e caniço.
*Pesqueiro Fundo do Fencapé: marisco, búzio; pesca de linha e caniço.
*Pesqueiro do Seu Bem: pesca de linha e caniço.
*Chegada do Paiól: marisco, búzio; pesca de linha e caniço.
*Paiól: goiá, marisco e búzio; pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Pedra da Pescada: marisco e búzio; pesca de linha e caniço.
*Ponta Comprida: marisco; pesca de linha e caniço.
*Varrido: marisco; pesca de linha e caniço.
*Pesqueiro Raso do São Roque: goiá, búzio e marico. Pesca de caniço.
*Sala do São Roque: goiá, marisco e búzio; pesca de caniço e tarrafa.
*Chegada do São Roque: marisco e búzio; pesca de caniço e tarrafa.
*Poço da Cobra: goiá, marisco e búzio; pesca de caniço e tarrafa.
*Lajinha do São Roque: goiá e pesca de caniço.
*Abelha: marisco, búzio e goiá; pesca de caniço e tarrafa.
*Pesqueiro Fundo do São Roque: marisco e búzio; pesca de linha e caniço.
*Praia da Estrela: marisco e búzio; pesca de linha, caniço e tarrafa.
*Ponta do Cantagalo: marisco e búzio; pesca de linha e caniço.
*Praia Vermelha: goiá, marisco e búzio; pesca de linha, caniço, tarrafa e cerco de canoa.
Fora os pontos das redes de espera, por toda a orla!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Por inúmeras vezes, na maré baixa, vi e vivenciei as saudosas tia Bola, Dona Glorinha, Dona Maria do Seu Jó, tia Catarina, Dona Mazilda do Seu Jó, Dona Lurde do Cissí, tia Biata, Dona Marica do Tomaizinho, etc. com samburá cheio até a rodilha de marisco dali, da beira da praia. Ou da Cabeça da Mana ou da Pedra do Meio.
Sem falar na kiridona Lurdes da Bola da tia Bola e seus mariscos e búzios da Laje da Pedra do Meio. Goiá então, dava de puxar de rodo. Ô riqueza e fartura naquele tempo!\\\"
[11/4 21:28] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (14°)
Na década de 80 do século passado a Praia Grande passou por muitas transformações de grande impacto social e paisagístico.
Na Praia do Canto, desde a década de 70, já existia o Edifício Samburá. Dizia meu avô Vitor que deveriam ser dois: Samburá e Sambaqui. Mas no meio da execução do projeto, o dono veio a falecer e o 2° nunca saiu do papel. Está lá até hoje, imponente!
Já lá na Praia do Cerco, ao lado da Grota da Fanha, no pé do Morro do Pires, vigiando a Mamica da Custódia, onde a Pitanguêra faz a curva, foi erguido o 1° prédio com 10 pavimentos da cidade.
As famílias tradicionais da Praia Grande já haviam iniciado o processo de migração da beira da praia para as ruas mais afastadas e até pra a Armação. As terras do Seu João Inácio de Souza, pai do tio João da tia Bola, do Seu Doro da Venda, da tia Dinha do Tidoro, do Seu Olíndio da Dona Arminda e da Dona Eta do Seu Dodô, serviriam para abrigar uma construção nova. Bem na curva, no lugar do antigo bambuzal, onde tinha pés de jambo e ingá, começou a limpeza do terreno. Enormes máquinas chegavam pra iniciar os buracos das sapatas da obra. Gente, era buraco que cabia um pé de flechas dentro! A mão de obra era de fora. Junto a essa turma, que dormia num alojamento comprido de madeira, construído em 2 dias, pra trabalhar na cozinha e refeitório da obra, um tal de Pedro. Gente boa, nos dava café ou prato de comida pra gente ir no Genésio buscar cachaça pra ele.
O Pedro veio a se casar com a saudosa Ivone da Dona Arminda, que eram vizinhas do prédio na época. A casa da Dona Arminda ficava bem na frente da Grota da Fanha. Foi uma das maiores festas que eu já fui na minha vida. Casamento em casa, churrascada, bebidas, então, nem se fala. A Ivone era mãe solteira, tinha um menino. Diziam que ela havia tomado banho no Santo Antônio, lá no Canto da Praia Grande, e por isso arrumou casamento.
Nessa época o Seu Dodô da Dona Eta tinha plantação de aipim, milho e café atrás da casa do Seu Olíndio, o Cata. Colocaram o Elói do Seu Jó pra cuidar das bebidas, numas caixas d\\\'águas enormes, lá perto da roça. Amanheceu dormindo, grogue, debruçado numa caixa. O Pedro e a Ivone tiveram mais 2 meninas, mas a Ivone veio a falecer uns anos atrás. O Pedro ainda anda por aí, trabalha com pintura e ainda degusta uma marvada!
O prédio é o encontro de 3 ruas: antigo Caminho da Praia Grande e atual José Camilo da Rosa, que começa no antigo Bar do Seu Osmar Onofre e antiga Peixaria do Tonho Perú; a Estrada Nova, atual Avenida Antônio Carlos Konder Reis, que começa na Praca do Baiano, e a antiga Estrada do São Roque, hoje Rua do Turismo, que passa pelo Poá, São Roque, Praia Vermelha e sai na Rua do Fogo, na Olaria do Seu Pedro. Só seguir reto toda vida, como dizia o saudoso Seu João Dimiço da Dona Glorinha. Não camba nem descamba, nem pras derêita nem pras isquêrda!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Confesso e entendo que o esvaziamento da beira da praia pelas famílias tradicionais foi uma necessidade, mas também uma enorme perda em termos de tradicões, hábitos, usos e costumes! Um processo irreversível, que nunca mais será vivido ou visto novamente!\\\"
[11/4 21:28] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (15°)
Engana-se quem pensa que os únicos álbuns do cicle de bola PING PONG foram os das Copas do Mundo de futebol de 1982 e 1986. Também tivemos as Copas de 1990 e 1994, mas sem os jogadores!
Mas estes, só apareciam de 4 em 4 anos!
Nos anos que intercalavam ou separavam uma Copa da outra, vários outros álbuns eram lançados, com temáticas diferentes, mas sempre atrativos para as crianças, ou seja, nós!
Vamos.a conferir algumas:
*AMAZÔNIA
*FUNDO DO MAR
*PANTANAL
*RECORDS GUINNESS
*VOLTA AO MUNDO
*FÓRMULA 1
*ALADDIN
*REI LEÂO
*TOY STORY
*LOONEY TUNES
*WITCH
*CORCUNDA DE NOTRE DAME
*GAMES NINTENDO
*SUPER HERÓIS 1 E 2
*CRAQUES DA BOLA 1 E 2
*PIADINHAS DOS TRAPALHÕES
São os que eu lembro de ter colecionado. Fora os álbuns do chicle de bola PLOC, do chocolate SURPRESA da Nestlé e outros tantos álbuns diferentes daqueles com pacotinhos de figurinhas e figurinhas premiadas. Ou completava a página pra ganhar um prêmio!
É muito álbum e muita figurinha para apenas uma infância! Eu merecia ter pelo menos umas cinco! Kkkkkk
Eu daria tudo que possuo para viver toda mjnha infância novamente, sem tirar nem pôr nadica de nada, sem mudar um único segundo!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Fora os gibis que eu colecionava, principalmente da Disney, quadrinhos do Tex Willer, Coleção Seleções da Reader\\\'s Digest, etc. A afeição pela Literatura e o facínio pelo conhecimento sempre habitaram a minha existência. Ah, eu colecionava as Revistas Veja e Playboy pra arrancar a página da Crônica do Luiz Fernando Veríssimo\\\".
[11/4 21:29] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (16)
Já nas séries finais do Ensino Fundamental - de 87 a 90 (da quinta até a oitava séries), as coisas mudaram bastante de figura, e as turmas mudavam constantemente, pois muitos rapazes desistiam de estudar para embarcar, principalmente. A Pesca era a maior fonte de renda das famílias até o inicio da década de 90. Tínhamos matérias já erradicadas das escolas, como OSPB - Organização Social e Política do Brasil, PPT - Preparação para o Trabalho e EMC - Educação Moral e Cívica.
Éramos 4 turmas lotadas (entre 35 e 40 alunos) de 5° Série em 1987, 2 turmas de 8° Série em 1990 e nos formamos numa turma de 8 alunos no Ensino Médio em 1993, na Escola Paiva. Algumas famílias também mandavam seus filhos e filhas estudar em cidades vizinhas ou escolas particulares.
Estudávamos em carteiras de madeira compartilhadas (2 em 2), depois na individual, que eram feitas de madeira maciça.
As disputas eram contantes na turma, ou por notas azuis ( 7,0 ou mais) ou pelas maiores notas, que geravam o famoso Cartão de Louvor.
Diferente de hoje em dia, passávamos horas a fio debruçados em enciclopédias, revistas e livros diversos pesquisando conteúdos para realizar tarefas. Hoje praticamente tudo está na \\\"palma da mão\\\", no celeular através da net.
Destaco os meus ex professores Ricardo Vani - Língua Portuguesa, Paulo - Matemática, Mara Rubia Vieira - Educação Artística, Joca - Educação Física, Gertrudes - História, entre outros.
Lembro-me que na 8° Série em 90, o Professor Plínio levou uma TV para assistirmos o jogo de Abertura da Copa de 90 da Itália na sala de aula. Era Argentina de Maradona (Campeã de 86) contra Camarões de Roger Milla. A seleção africana surpreendeu e venceu por 1 a 0. Mas a Argentina viria a eliminar o Brasil e chegaria à final pra perder da Alemanha por 1 a 0 também!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Nessa época arrumei serviço de garçom na Lanchonete PIRATA, da Dona Rute do Seu Alfredo Rosa, que depois virou Restaurante. Éramos eu e o Paulinho da Cuca, o Canjica. O Toninho do Antônio Inácio ia todo dia lá beber uma Brahma Extra, era de praxe!\\\".
[11/4 21:29] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (17°)
Hoje tenho 2 \\\"causos\\\" pra contar: como virei Camarada da rede de cerco de tainha da Praia Grande e a coleção de OMO. Isso mesmo, sabão em pó OMO!
O saudoso Nene da Lurde do Cissí era Camarada da rede e fazia vigia nos barcos na Armação junto com o João da Lurde do Zequinha e o filho da Dona Lola do João Izac. Eu ia todo dia pro rancho, cedinho, antes de amanhecer. Ninguém nunca chegava antes do Seu Salvador da Dona Araci e do Nordo da Zizia. Eram sempre os primeiros!
Certo dia de lanço, escuro ainda, o Genésio e o Seu Maneca Padeiro igual uns loucos abanando na Pedra do Meio. A canoa tava no rancho ainda. Foi uma correria só! Nesse dia o Nene da Lurde tava na vigia e não apareceu. Cercamos o cardume, duas redes, era muito peixe. Eu, como sempre metido, participei de todo o processo, até guardar a rede na canoa e puxar em meia praia.
Aquele monte de peixe, côsa másh linda!
O Toque do TiVentura era quem fazia os quinhão para o pessoal do rancho. Contava de 10 em 10, mas sempre fazia um montinho de 10 separado. Dizia ele que era pra dar pras mulheres e pros véios da praia.
Percebi que ele fazia a partilha e falava o nome do Camarada. Num monte (quinhão) ele dizia: Nene da Lurde! E foi fazendo os montes, levou mais de 1 hora pra dividir. Cada um foi sendo chamado e pegando o seu: \\\"Lua!\\\" Seu Tomaizinho ia lá e pegava o monte dele. \\\"Sarvadô!\\\" Seu Salvador ia lá e pegava. Assim foi indo, até ficar só o monte dele e o do Nene! Daí olhou pra cá, pra lá, e perguntou: \\\"Cadê o Nene?\\\"
No quê alguém respondeu: Só tem o Nene da Jora do João, que ajudou bastante, em tudo. O da Lurde não veio!
Então o Toque olhou pra mim e: \\\"Tu ajudássi mermo? Até na rede?\\\"
Eu só balançava a cabeça verticalmente, afirmando. Então o Tidóro - Patrão, gritou de lá: \\\"Dá pra ele mesmo, caiu até na água pra erguê a cortiça!\\\" O Toque só falou: \\\"Carréga qui é tudo tua!\\\"
Gente, dei umas 5 viagens levando tainha pra casa, era tanta que a mãe até escalou algumas! Acho que o ano era 1988. Um ano de grande safra de tainhas, como foi 1998, 2008 e 2018. Diz a lenda da Praia Grande que é a cada 10 anos esses arrombos de paixes.
A partir desse dia, o rancho tinha 2 Nenes Camaradas. O da Jora e o da Lurde.
Tenho em casa uma réplica - de 1m10cm, de uma canoa bordada, artesanal, que coloquei o nome de meu saudoso Pai JOÃO DO VICTOR e PRAIA GRANDE, em memória desses bons e insuperáveis tempos!
Já emendando, geralmente era eu que ia na Venda pra mãe. Certo dia, no ano de 1990, fui comprar sabão em pó e a caixa do OMO tinha uma coisa diferente: HISTÓRIA DAS COPAS. A parte de trás da caixa trazia informações sobre Copas realizadas - de 1930 até 1986, e uma sobre a Copa da Itália 1990 que seria realizada em breve. Ja peguei 2 de uma vez. A mãe ficou louca, porquê OMO era mais caro, ela comprava sempre outra marca. Mas eu compensava a diferença, pois já tinha minhas economias. Às vezes, eu ia lá fora, no SUPERMERCLÁUDIO ou no GIRABEM pra achar uma diferente!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Pisar na tralha do chumbo em movimento no fundo, erguer a tralha da bóia - cortiça, o mais alto que puder, mudando o passo no ritmo da puxada da praia, ainda sentindo as tainhas dando cabeçadas no corpo todo, foi uma vivência única, inesquecível, pra vida toda!\\\"
[11/4 21:29] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (18°)
Nas décadas de 70 e 80 do século passado a Marinha do Brasil realizou algumas atividades no litoral catarinense, e Penha também foi privilegiiada. Era a OPERAÇÃO DRAGÃO, realizada nas cidades de Imbituba e Itajaí (Penha). Os navios descarregavam os soldados, equipamentos e veículos na Praia de Armação, mas as atividades eram realizadas principalmente na Praia Grande, entre os Morros da Vigia e do Farol, onde um destacamento montou um acampamento no Combro da Praia do Canto. Minha melhor memória eram das racões - comidas enlatadas, dos fogareiros de lata e das cápsulas de festim que a gente colecionava. Nós ganhávamos dos soldados para levar cachaça da venda pra eles, pois a Marinha proibia bebidas alcoólicas no acampamento.
Era caminhão de soldados toda hora rondando, tropas nas praias, um salseiro pra uma comunidade que só conhecia soldado pela TV! A mulherada adorava, e penso que ficaram alguns descendentes daqueles soldados por estas bandas! Calati boca!
Nessa época meus 2 irmãos - o Mimo e o Né, faziam vigia nos barcos na Armação e atrás da Ponta - Buraco do Pato e Paciência. Era cada bateirada de peixe que ganhavam, côsa mash linda! A Dona Preta e o Seu Caçula, moradores do Cascalho, sempre compravam tudo, desde mistura até os baitas, como corvinas, linguados, bagres, etc. Eles consertavam tudo em casa pra revender.
Me alembro que o saudoso Getúlio da Dona Esperança que ancorava bem pertinho da Coroa, com as portas no tangone, trazia altas caixas de camarão pra casa e dizia: \\\"Trabalho igual um cavalo, nesse mar de Deus, enfrento tempestades e tribuzanas. Eu, minha mulher e minha família vamos comer o melhor de tudo, só \\\"pistolao\\\"! É, não, não é! E tem mais: o dono que se lasque. Não gostou, me bota pra rua, tô ligando eu!\\\"
Já os Confrios ancoravam no Buraco do Pato. O também saudoso Batista da Dona Tita - o Batistão, ancorava tão fora, que parecia que tava na Ilha Feia. Era pra não deixar a turma ir em casa e sair bem cedinho com a calma do rebojo. Certa vez o Enilson do tio Vete e o Orestes da Dona Arminda se jogaram na água e vieram a nado, numa tribuzana daquelas, quase morrêro os ishtepô, kkk. No outro dia, o Confrio III ia pra Itajaí pra desembarcar os dois. Batistão era f○d@!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"O Morro do João Braga era o ponto de espera dos barcos que vinham pra Armação ancorar. Tinha dia que era aquela renca de gente, de olho no horizonte do Oceano, pra ver se apontava algum. Entre um ninho de tico tico com chupim e outro, rolava umas corridas de calha! Ô raça aquela!\\\"
[11/4 21:30] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (19°)
O ano de 1991 marcou muito, pois iniciei o Ensino Médio. Estudar à noite no Paiva, inaugurando o 2° Grau instalado na Escola Paiva naquele ano! A última Pitangueira Piçarras/Navegantes, que passava na Praia Grande era das 8h da noite. Os professores que vinham de Navegantes e Itajaí dormiam na Escola, como os inesquecíveis Professores Ocimar, Paulo e Joca. A Diretora era a kiridíssima Dona Lincilda Flores.
Professor(a) ter carro era muito raro naquela época. Com exceção do saudosíssimo Professor Nereu Moair Nereu Nunes Nunes e seu Fusca verde!! Empurramos muito hein rapazi? Kkkkk
O vigia da Escola era ninguém mais que o Seu Maneca Padeiro, vizinho da mesma. \\\"Istimádush\\\", dizia ele, sempre bem humorado, palheiro no canto da boca e tocando o sino com uma colher de pau e panela velha. Nesse tempo só tinha iluminação pública até o morrinho do Seu Belo da Dona Belmira. Dali pra baixo era um breu só, não se enxergava um parmo na frente do nariz! O mais difícil era passar na frente da casa do Seu Astrogildo, no morrinho, entremeio a baitas pés de cereja. Diziam que era assombrada!
Como em casa há tempos não tinha TV, eu assistia direto na casa da Dona Lelena do Seu Léza. Eu era amigo de infância de seus kiridíssimos filhos Ronaldo Lopes - Escamoso, e Rodrigo Lopes - Tixa, desde a época em que eles ainda eram vizinos nossos de porta na Praia Grande, enquanto o Seu Bernardinho - Mija Canto, era vivo e morava nos fundos, casinha simples de madeira no morrinho, chaminé sempre com fumaça a sair!
Neste ano, exatamente no dia 20 de maio, uma segunda feira, estreou na TV aberta do Brasil, na Tela Quente, o filme RAMBO 3.
Imaginem se eu ia perder! Já estava quase um mês anunciando. Fugi da Escola no recreio (21h) e fui pra casa da Dona Lelena. O filme começou perto das 22h. Deve ter acabado já varava 1h da madrugada. Saí correndo, e ao chegar perto de casa, lá estava Dona Jora, no portão, sem pregar o olho e muito nervosa. Com uma vara, me deu uma baita surra, fiquei lanhado, por fazer ela passar por essa situação! E ainda no dia seguinte me fez ir com ela lá na casa da Dona Lelena pra confirmar que eu realmente estava lá na noite anterior!!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Me recordo de ter ficado em exames em Química, Física e Português no final do ano. Mas passei nessas provas com facilidade, sem precisar de 2° Época!\\\"
[11/4 21:30] Prof° Eduardo Bajara: AUTOBIOGRAFIA (20°)
Após o verão de 1991/1992 eu saí do já então Restaurante da Dona Rute do saudoso Seu Alfredo - e fui trabalhar no Restaurante Churrasco na Tábua, do Duda na Praça de Alimentação do recém inaugurado Parque Beto Carrero. Um enorme trecho de terra que servia de pasto e fazenda, agora iniciava um dos projetos mais arrojados e ambiciosos do Brasil e do mundo: o sonho de um caubói! Ficava \\\"lá pras bandas do Mato Grosso, no caminho do Gravatá e Itajaí\\\", como dizia meu saudoso vô. A economia brasileira sofria uma bolha inflacionária e entrou em cena a mudança de moeda. Foram algumas \\\"traquinagens\\\" pra camuflar a hipermegainflação até a afirmação do Plano Real, no ano de 1994. Tivemos Cruzeiro, Cruzeiro Novo, voltou pro Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo, voltou pro Cruzeiro, foi pro Cruzeiro Real e enfim, a URV - Unidade Real de Valor, transitando para o Real que temos até hoje que e equivalia em 94 a 1 dólar americano e 2.750 Cruzeiros Reais!
Quem conhece o Parque BCW hoje nem sonhando chega perto de como era na época. Quando chovia muito, alagava tudo, emendava lagoa com estradas, inundava até a Praça de Alimentação! Os atrativos principais eram o Show da África Misteriosa, o Desfile das atrações, o Show do Beto e o Excalibur. Mas nossa maior farra era o Show das 4h da tarde na Praça de Alimentação, com o Cover do Michael Jackson, muito top demais! Em pouco tempo fui trabalhar no cachorro quente e crepes do Arãozinho do Seu Arão da Costa, na mesma praça, onde o Ronaldo Lopes do Léza era Gerente e coordenador. Depois que eu saí e o Ronaldo também, o Nordinho Arnoldo Costa Júnior Costa assumiu por bom tempo essas funções lá. Foram quase 3 anos que trabalhei ali. Nesse tempo consegui comprar minha primeira bicicleta. Era usada, barra circular Monark azul, que fui buscar lá em Navegantes. Em meia praia ela já estragou e tive que vir empurrando até a Praia Grande. Mas arrumei, fiquei um tempo com ela, vendi e comprei uma zerada, na Casa Ary em Itajaí, uma de 18 marchas que ficou anos comigo, até praticamente não servir mais. Era minha condução pra trabalho e lazer. Cheguei a ir até a Barra do Sul de bike, na casa do meu irmão Jailson - Mimo.
O Beto vivia passando no Parque, olhando tudo, conversando com todos. Volta e meia ia almoçar ou no Churraco na Tábua ou no Frutos do Mar, da Dona Jorda do Seu Nestor. Ele adorava o contato com o povo, dizia que era o \\\"combustível da minha vida\\\"!...
...Continuo numa próxima postagem!
\\\"Em 1993 eu terminava o Segundo Grau no Paiva, agora já com o Diretor/Professor Ricardo, que também era nosso Regente. Éramos em 8 e fizemos a excursão de Formatura para Curitiba de busão de linha apenas em 6 alunos! Éramos eu e o Marcos Hercilio Caldeira do Seu Silo Piriquito. As meninas eram a Simone Tailon Celestino , a Marilda Reis Albano, a Marcia da Dona Catarina e a Sandra Regina Arendarchuk . Nessa viagem fomos de trem de Morretes a Paranaguá. Muito show esse passeio!\\\"
[11/4 21:30] Prof° Eduardo Bajara: Aos amigos e amigas que estão acompanhando minha AUTOBIOGRAFIA, que chegou hoje no 20° episódio, agora vou dar uma pausa para reorganizar as memórias de uma fase na qual iniciei na vida pública como Professor. Foram 24 anos de 1994 até 2018, várias Escolas das cidades de Penha, Navegantes, Balneário Piçarras e Itajaí. Incontáveis ex alunos(as), parcerias de trabalho e quase um quarto de século ensinando e aprendendo. Daqui a pouco eu retorno.
Sou grato pela companhia de todos vocês!!!
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