Ana Regina de Paula Sena Gomes. Nasci no Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1964.
Eu fiz estágio na Fronape [Frota Nacional de Petroleiros], que agora é Transpetro. Na época em que eu estava fazendo estágio de técnica de manutenção teve prova para ajudante de manutenção, aí eu fiz a prova. Eu nem estava a fim de fazer, mas aí o pessoal falava: “Faz, o negócio é entrar” Fiz a prova e tirei em 15° lugar. Um ano depois entraram os três primeiros colocados, aí um ano depois [disso] me chamaram. Eu trabalhava em uma firma como auxiliar técnica, mas o salário da Petrobras era maior, eu saí da firma e fui para a Fronape. Trabalhei como ajudante de manutenção, [pois minha formação] era técnica de manutenção. Quando eu entrei para a Fronape comecei engenharia mecânica e em 2004, fiz pós-graduação em segurança do trabalho. [Fiz engenharia] na Souza Marques e pós-graduação no CEFET [Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca].
Na Fronape, na prova que eu fiz, só tinha eu de mulher. A única inscrição feminina foi a minha. Foram quase 800 inscrições, eu não lembro direito. Quando eu passei ficou o questionamento: “Mas pra esse cargo não pode mulher”. Eu fazia estágio na oficina e aí ficou aquela polêmica: “Por que não pode?” Mas ninguém dizia o porquê. Ficavam assim: “Mas não tem banheiro, como é que vai fazer?” Eu tomava banho num banheiro do setor de treinamento, que era outro prédio, andava bastante. Ia de manhã, mudava de roupa e a tarde ia pra lá. Depois eles conseguiram um banheiro que tinha na oficina, que era usado pelos engenheiros. Era um banheiro que tinha até chuveiro, mas era um banheiro bem pequeno. Eles arrumaram armário e botaram lá para mim e eu ia lá só tomar banho. Durante o dia usava outro banheiro, de outro prédio também, fora da oficina, que era mais perto, e assim foi. Trabalhei lá quase dez anos, no Caju. Ia pra navio, fazia reparo de regulador no...
Continuar leituraAna Regina de Paula Sena Gomes. Nasci no Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1964.
Eu fiz estágio na Fronape [Frota Nacional de Petroleiros], que agora é Transpetro. Na época em que eu estava fazendo estágio de técnica de manutenção teve prova para ajudante de manutenção, aí eu fiz a prova. Eu nem estava a fim de fazer, mas aí o pessoal falava: “Faz, o negócio é entrar” Fiz a prova e tirei em 15° lugar. Um ano depois entraram os três primeiros colocados, aí um ano depois [disso] me chamaram. Eu trabalhava em uma firma como auxiliar técnica, mas o salário da Petrobras era maior, eu saí da firma e fui para a Fronape. Trabalhei como ajudante de manutenção, [pois minha formação] era técnica de manutenção. Quando eu entrei para a Fronape comecei engenharia mecânica e em 2004, fiz pós-graduação em segurança do trabalho. [Fiz engenharia] na Souza Marques e pós-graduação no CEFET [Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca].
Na Fronape, na prova que eu fiz, só tinha eu de mulher. A única inscrição feminina foi a minha. Foram quase 800 inscrições, eu não lembro direito. Quando eu passei ficou o questionamento: “Mas pra esse cargo não pode mulher”. Eu fazia estágio na oficina e aí ficou aquela polêmica: “Por que não pode?” Mas ninguém dizia o porquê. Ficavam assim: “Mas não tem banheiro, como é que vai fazer?” Eu tomava banho num banheiro do setor de treinamento, que era outro prédio, andava bastante. Ia de manhã, mudava de roupa e a tarde ia pra lá. Depois eles conseguiram um banheiro que tinha na oficina, que era usado pelos engenheiros. Era um banheiro que tinha até chuveiro, mas era um banheiro bem pequeno. Eles arrumaram armário e botaram lá para mim e eu ia lá só tomar banho. Durante o dia usava outro banheiro, de outro prédio também, fora da oficina, que era mais perto, e assim foi. Trabalhei lá quase dez anos, no Caju. Ia pra navio, fazia reparo de regulador no navio... Mas essa discriminação, na verdade não tinha fundamento, porque para estagiar podia ser mulher, por que para trabalhar na oficina não? Teve estagiárias anteriores de engenharia mecânica, que normalmente não ficavam muito na oficina, ficavam mais na parte de engenharia, fazendo algum projeto, iam na oficina muito pouco. Ficar direto, o dia inteiro não. Até porque estágio de técnico antes era de 720 horas, aí ficava o dia inteiro. No nível superior era estágio de quatro horas só, então se ficava ou a parte da manhã ou à tarde. Tinha poucas mulheres e a maioria não ficava lá, eu fui a única que fiquei. Depois, quando eu comecei a trabalhar o tempo, fui eu a única mulher lá na oficina. Na verdade essa informação ninguém sabe de quem foi, porque as pessoas que trabalhavam comigo e o próprio gerente, que na época a gente chamava de chefe de seção, eles não tinham isso. Ninguém sabia porque essa informação. Só que eles não botaram no edital que não podia mulher, e aí quando surgiu: “Ah, mas como a mulher vai trabalhar como ajudante de manutenção? Vai para o navio? Vai pegar equipamento pesado?”. Então tinha esse mito, mas o mito, não se justificava. [O tratamento] era normal. O pessoal se adaptou com a minha presença, porque em alguns momentos, quando eu estava muito perto não se falava. Eles se comportavam bem melhor, bem diferente. Nunca tive problema nenhum. Todo mundo me respeitava. Quando eu ia a bordo, eu tinha o mesmo cuidado de quando eu ia sozinha. Nunca ficava sem lanterna, sempre ia com alguém acompanhada na praça de máquina. Porque navio, apesar de eu conhecer, sempre tinha gente que a gente não conhecia, e navio é um lugar muito fechado. Bom, de qualquer forma eu tomava as minhas precauções. Não ficava andando a toa e sempre tinha alguém perto de mim, alguém do navio que acompanhava nos testes, no reparo. Então eu tinha esse cuidado dentro do navio, sempre tive. O equipamento com o qual eu trabalhava é um equipamento que tem turbina, turbo gerador em motor de combustão. O equipamento é pesado, mas todas as vezes que eu precisei movimentar sempre chamava alguém, ou usava uma talha, um equipamento que fica pendurado. Tem um olhal, você amarra e o movimenta. No máximo eu usava isso, mas sempre tinha alguém perto, quando não tinha eu chamava. O pessoal sempre fazia pra mim.
Quando entrei pra Fronape achei que eu ia me aposentar lá. Sempre gostei muito do serviço. Muita gente [foi] se aposentando, o pessoal de nível superior viajava pra acompanhar obras de navio em outros países. O gerente da oficina saiu e ficou um ano afastado, depois ele ficou mais outro tempo, quase um ano. Aí entrou outro gerente lá. E esse outro gerente a gente não tinha muito... Ele não concordava porque eu tomava conta de uma seção. Nunca ganhei por isso, mas já tomei conta [da seção] por mais de um ano, por quê? Eu fazia faculdade, então pra eu viajar era muito ruim, atrapalhava nos estudos. Só quando não tinha mais ninguém na equipe é que eu viajava, ou ia aqui no navio. Isso depois que eu comecei a fazer a faculdade, em 1989. Eu viajei muito [durante] uns três anos. Depois fazendo faculdade isso atrapalhava muito, aí eu evitei viajar. Teve um período em que a máquina de teste que a gente precisava estava com defeito, aí a gente vinha para a Reduc [Refinaria Duque de Caxias], porque na Reduc tem essa máquina. A gente vinha fazer reparo aqui. O chefe da seção aqui perguntou se a gente queria vir pra cá – perguntou para mim e mais dois colegas – porque das pessoas que trabalhavam com esse equipamento que eu trabalhava lá, um ia se aposentar e o outro estava querendo ir para Macaé. Aí não ia ter ninguém treinado. Na época eu não queria, só que em 1993 começou aquele movimento de quebra do monopólio, e as [notícias de que] a Fronape seria privatizada, que a oficina ia fechar. Começou um monte de coisas assim. Em 1993 muita gente se aposentou na oficina. A oficina se reduziu quase à metade e a tendência era acabar. A minha intenção não era sair da oficina. Depois, em 1995, teve uma greve, um movimento grande na empresa que foi quase um mês, foram 29 dias. Depois dessa greve teve a proposta de novo, aí eu vi que a oficina passando muito serviço para a contratada, aí eu achei melhor sair. Eu falei: “Vou ficar aqui fazendo o que?” Daqui a pouco vão me botar para o escritório e eu não quero. Aí eu aceitei e vim para a Reduc, trabalhar na oficina, em 1996
Fui pra vários estados. [Para] fora do Brasil quem ia era [o pessoal] de nível superior, engenheiro e chefe de seção que ia acompanhar o navio. A gente, técnico, viajava aqui internamente, até porque tinha que ter passaporte. Acontecia um ou outro caso. Quando o navio estava fora do Brasil e tinha um problema eles chamavam uma autorizada. Não valia a pena levar um técnico pra lá para fazer o reparo. Ou então, dependendo do prazo, a gente mandava o equipamento para fora pra ser trocado, então não precisava da presença de um técnico.
O local [que era a oficina] hoje – que é agora a Transpetro, lá no Caju –, na última vez que eu tive lá, há uns três anos, era depósito de material de escritório, de cadeira, de mesa. O que está funcionando lá é um prédio com o estoque de peças. O rancho do navio eu acho que ainda é por lá, ou pela Praça Mauá, não tenho certeza. Existem alguns trabalhos lá, mas muito pouco. O trabalho de oficina acabou. A empresa vai no navio, volta pra oficina dela. Ela lá não tem mais nada. O que tinha lá há um tempo era reparo nos motores das lanchas que fazem o transporte de equipamentos para os navios. Eu não sei como é que está isso hoje.
Quando eu vim pra cá, a gente passou umas duas semanas internamente, dentro da oficina. A Reduc me fascinou pelo tamanho, pelos equipamentos diferentes do navio. Mas o equipamento que eu [operava] era o mesmo. Então em termos de aprendizagem disso, não teve. Tive que aprender [a operar] os outros equipamentos, o que era refinaria, como é que era o processo. Mas quando eu saí de lá foi por opção, [porque] a oficina ia acabar e eu não queria ir para escritório. Hoje em dia até estou em escritório, mas não era a intenção na época. A diferença era os outros equipamentos mesmo, [diferentes] do regulador de velocidade. Às vezes tem gente que chama de governador de velocidade. Ele funciona em ventiladores, em turbinas, em motor elétrico. Lá na Fronape esse equipamento estava acoplado, por exemplo, a uma turbina, a um motor a diesel e aí tinha que se conhecer o motor, tinha que conhecer a turbina, conhecer o gerador, conhecer o quadro elétrico. Aqui na Reduc ele é colocado mais pra controlar, ele aumenta e diminuiu a velocidade, assim: ligou e desligou. Na Fronape não, lá se tinha um controle dele, por quê? Ele variava a carga, oscilava, aí tinha que se regular. Num motor ele faz a mesma função do carburador. Aqui na Reduc, em termos de aprendizado há pouco, porque ele só fica variando velocidade, aliás nem varia, só para ligar e controlar a velocidade. Mas o que me interessou foi que eu ia ficar na oficina e que eu ia conhecer outros equipamentos.
Na oficina tinha umas meninas que eram contratadas, mas elas eram delineadoras, elas faziam projetos. Elas iam na oficina, fazia medição, faziam as anotações e subiam para o escritório, que tem dentro da oficina mesmo. Ficar direto na oficina não, só tinha eu [de mulher]. Na oficina de manutenção mecânica e instrumentação tinha duas mulheres, ainda tem uma, [mas] é outra oficina.
Você vai em determinadas unidades porque aquele equipamento está com defeito, você não vai em outra unidade para conhecer. No início eu até conhecia um pouco, mas depois com a rotina, você não pode sair daqui: “Ah, hoje eu vou na unidade 1250 para conhecer o processo”, não é assim. Com o passar do tempo é que eu fui conhecendo, e é muito interessante o processo, eu gostei muito. Na Fronape não existia programação de nada. Assim: “Ah, você tem que viajar agora pra Salvador” Então a gente ia, tomava banho, ia pra casa pegar roupa e ia direto para o aeroporto pra viajar. Era assim e não tinha prazo para voltar. Isso era ruim porque mudava tua vida toda. A gente não tinha uma rotina, de repente tinha que viajar e era naquele dia, por quê? Porque o navio estava parado por causa daquele equipamento, então tinha que ir o mais rápido possível. Aqui na Reduc não; viagem foi muito pouco. Porque os equipamentos estavam aqui, estão aqui. Você traz para a oficina, leva para outras unidades, mas tudo aqui dentro. Na Fronape não, o regulador você tinha que levar ou ir atender em outro navio. Às vezes o navio estava em Manaus, estava em Natal, estava em outro estado. Então essa correria, a gente se adapta, mas é uma coisa que quando passa, tu vê que era um sufoco.
Dentro do navio é uma experiência que não dá pra explicar, porque você está numa situação que não se vê o tempo: você não sabe se está chovendo, se está frio, se está sol, se está calor, porque você está lá e às vezes se ficava o dia inteiro dentro, lá embaixo. Os equipamentos... Aquele barulho. Aqui na Reduc não, você vai num determinado local, por pior que seja o ambiente, você está vendo o tempo, você está sentindo um vento ou não está. Foi outra experiência. Não dá pra comparar o que era melhor. Mas em termos de forma de trabalho, na Fronape, em termos de amizade, as pessoas se ajudavam muito mais. Na Reduc eu vejo que isso mudou um pouco, mas não sei. Os amigos que estão em outros lugares, a gente lá tinha uma cumplicidade, era uma coisa assim de um precisar do outro e um ajudar o outro quando precisava. Até hoje um fala com o outro, a gente procura ajudar. É como se fosse um irmão. Não sei se porque era um ambiente menor, menor assim, na oficina. A gente ficava muito afastado, porque um viajava pra um lugar, às vezes a gente passava uns dois meses sem ver uma pessoa que trabalhava na mesma seção, mas às vezes você estava viajando e o outro chegava ou o outro viajava. Então era um período que a gente não tinha muito contato. Mas não sei porque, a ligação ficou muito forte entre os colegas. Não sei se a culpa é da Reduc ou, se na Reduc tem muitas amizades, mas em termos da ajuda que a gente sentia necessidade na Fronape é diferente. Essas coisas que a gente às vezes sente falta. Mas eu acho que tudo também é um período, uma época, tinha outra idade, eu não era casada, depois eu casei. Então isso tudo muda, tu constrói família. Então essa visão muda.
Agora eu estou indo para uma gerência de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, SMS. Quando eu vim para a Reduc, fiquei na oficina por quatro anos e pouco. Acho que ainda tem na Petrobras um trabalho de Projeto Acesso. Hoje em dia acho que não tem mais ninguém com primeiro grau, talvez tenha um ou outro sem segundo grau, mas acho que não tem também. Mas tinha muita gente na época que não tinha o primeiro grau, que não tinha o segundo grau, então a empresa fazia um trabalho de estudo a distancia: a pessoa recebia apostila, estudava, depois fazia a prova e ia passando de ano. Tinha muitos colegas que faziam isso aqui na Reduc. Uma vez eles estavam precisando de alguém que pudesse ajudar as pessoas a aplicar a prova e tirar dúvidas. Como eu já tinha acabado a faculdade, não estava fazendo nada depois do horário – e isso era depois do horário – e duas vezes na semana eu ia ter crédito de horas, então pra mim era vantajoso. Eu me inscrevi e fiquei fazendo esse trabalho. Depois disso, eles acharam que eu tinha um perfil para trabalhar em RH [Recursos Humanos]. Engraçado que até hoje eu não vejo esse perfil, (riso) mas eles falaram isso. O que eles precisavam? De alguém com conhecimentos de manutenção para identificar os treinamentos para o pessoal da manutenção. Então aí o pessoal me chamou para ir para o RH. Como quando saí da Fronape e vim para a oficina, conversei com o gerente e disse o seguinte: “Eu quero aprender outras coisas”. A ideia era eu ensinar pessoas – lembra que eu falei que uma pessoa ia se aposentar, e a outra ia pra plataforma? Eu ia ficar e a intenção era treinar pessoas para trabalhar ali. Então eu treinava. Quando a pessoa estava bem, eles tiravam e botavam em outro lugar, aí botavam outro e eu fui ficando ali. Aquilo foi me desmotivando. Não desmotivar no sentido de não querer fazer mais nada, não é isso, mas eu queria aprender outras coisas, eu queria ir para o setor de válvulas, ou para o setor de turbina. E ali eu não via essa movimentação. Fiquei muito chateada com o passar do tempo, e eu naquilo ali. Naquilo que eu fazia eu não tinha nada para aprender. Eu aprendia com os novos equipamentos que tem na refinaria. Quando me chamaram para o RH, aí eu pensei: “Caramba, não existe mais aposentadoria especial, estou aqui”. Eu tive a minha primeira filha, a gravidez toda foi na oficina, eu ia para a unidade, eu fazia tudo, normal, trabalhei até numa sexta-feira e ela nasceu na terça. O médico falou pra eu ficar na segunda em casa, mas eu estava bem, só com um pouco de cansaço, porque ela nasceu em março; dezembro e janeiro aqui é muito quente. Aqui é muito quente, dentro da Refinaria. Essa área aqui de Caxias é um terror. No frio ela fica bem. [Então] eu pensei: “Vou ficar fazendo o que aqui? Não estou conseguindo fazer outra coisa que eu queira. Estou aqui no barulho, indo para a área, cheirando produtos, em condições que eu vou trabalhar o mesmo tempo e, provavelmente, a minha condição física até a aposentadoria vai ser outra, [melhor] eu ficar no escritório, no ar condicionado”. A minha visão foi essa. Não sei se uma visão errada ou não, mas era o que eu estava sentindo na época. Eu resolvi aceitar e fui para o RH. Trabalhei com treinamento. Quando eu fui para o RH eu vi que esse setor de SMS era um setor que me chamava a atenção. Eu nunca quis pedir pra ir para determinado lugar, para trabalhar em determinado lugar. Acho que tudo tem a sua hora e o momento. Eu falei: “Um dia eu vou para esse setor, vamos ver quando”. Aí fui para o RH e trabalhei lá. Com um ano eu já via que não era aquilo que eu queria, não pelas pessoas, mas pelo tipo de trabalho que não tinha nada a ver comigo. Mas aí eu não consegui liberação e foi passando, passando, fiquei três anos e pouco. Depois eu fui para outro setor: Planejamento e Controladoria, que é o setor em que eu ainda estou em transição. Nesse setor eu trabalho com auditorias e eu gosto muito, fazemos essa administração dos sistemas, controle de padrões, de sistema mesmo. Tem também o Sistema de Informação de Gestão de Anomalias. É quando você vê uma não conformidade e aí você registra. A gente faz as atas gerenciais. SMS-NET é onde tem o controle das não conformidades e requisitos legais. Então comecei a fazer esse controle e auditorias, no Planejamento e Controladoria. Fiquei lá uns quatro anos. Ano passado o gerente da SMS me chamou para trabalhar lá e aí eu achei legal, [pensei]: “Agora está na hora É o que eu estava pretendendo”. Até porque eu fiz engenharia de segurança, acho que trabalhando nessa área tudo vai ajudar. Acho que tenho muito a contribuir. Estou nessa fase, estou praticamente num outro setor, estou migrando, o computador já está lá e tudo. Mas aí ficou a questão de sair da oficina. Essa coisa da oficina, não vou dizer que eu desisti, mas na Reduc não tenho interesse em ir para a oficina. Não sei outro lugar, também não estou pensando nisso agora não.
A área de SMS na empresa é como estou falando, por exemplo, quando eu trabalhava na Fronape, trabalhava numa oficina, não tinha um banheiro, isso hoje nunca ia acontecer. Existiu aqui até na Reduc mesmo, começaram a entrar operadoras, aí teve que fazer. Eu não sei hoje como está, mas teve operadora que se deslocava muito pra chegar num banheiro que fosse só feminino. Então, isso é visto. Quando eu entrei na empresa não tinha isso. Fiquei dez anos e nunca providenciaram um banheiro pra mim. Por eu ser mulher e o ideal era usar um banheiro feminino. Nunca se teve essa preocupação, eu falava, falava, mas não adiantava. Essas questões, essa cultura, com certeza, mudou na empresa e a tendência é melhorar. Hoje está assim e a gente sempre tem muito a aprender, porque isso é uma coisa de cultura das pessoas. As pessoas têm que entender que é necessário. Se você faz porque é mandado, você não dá o valor. Mas se você entende que é necessário para tua vida, para tua vida pessoal mesmo, para o teu trabalho, então você assume aquilo e passa a fazer. Por exemplo, por que você tem que subir a escada ou descer segurando o corrimão? É básico, mas tem gente que não acha importante. Não é porque o gerente falou que tem que fazer isso, é porque você tem que perceber que aquilo é importante, que você segurando o corrimão, se você tropeçar você não vai sofrer tanto. Então o SMS é o valor, é uma cultura interna que acaba sendo controlada, exigida, pedida, mas que enquanto a pessoa não internaliza isso, não acha que isso é importante. Por exemplo, eu seguro o corrimão aqui, vou segurar em outro lugar também, não é? Por que essa cultura não é só daqui, se eu for aprender a cuidar pra um colega não se machucar eu vou fazer isso em casa também ou em outro lugar. A pessoa deve entender que aquilo não é obrigação só aqui, é fora, na sua vida. E isso é o que está faltando. Acho que também existe a forma de falar, como você pede, como você exige. Essa forma de falar, essa forma da exigência é o que muitas pessoas não dão valor, não assumem. Ou fazem aquilo: “Usar o cinto de segurança, por quê?” Você vai usar o cinto só aqui? Não, tem que usar no carro também. É bem explicado, mas eu acho que como é exigido, [algumas] pessoas não querem fazer. Explicado é, tem folhetos, tem um monte de informação. [As pessoas] criam uma resistência interna, não sei. “Porque está mandando, não vou fazer.” Mas se a pessoa se conscientizar que aquilo é importante para a vida ela vai fazer.
Quando eu fui chamada para esse setor, o gerente me chamou para ir para Meio Ambiente, mas eu falei pra ele: “Não tenho capacitação para Meio Ambiente, eu vou ter que sair do zero. Para a [área] de Segurança eu tenho, Meio Ambiente, não”. Mas meio ambiente é uma área em que eu sempre quis trabalhar, só que quando eu fiz a pós-graduação, Meio Ambiente era muito caro, eu não tinha grana. Consegui pagar Segurança que era mais barato, por isso que eu fiz, mas a minha intenção era fazer Meio Ambiente. A Reduc hoje faz controles, até por conta das exigências da legislação que mudou, mais o acidente que teve da Bahia de Guanabara em 2000. A empresa aprendeu muito, então começou. Essa questão de meio ambiente é muito forte, o controle de emissões, de tratamento de esgoto é básico, mas os resíduos que você gera, como é que você devolve ao meio ambiente, então isso tudo tem vários tratamentos. As emissões como saem, como são controladas; tem controle das emissões; tem estações de monitoramento; tem tratamento das áreas impactadas, que são áreas que já tiveram algum tipo de vazamento e agora estão sendo tratadas para voltarem a ser áreas férteis. Tem vários trabalhos mesmo. A empresa, não só aqui, fora da Reduc, a empresa toda faz um trabalho muito legal, que é muito interessante. Mas como eu falei, pra eu trabalhar lá agora acho que está bem recente assim, não sei para o futuro. Não sei se eu vou ficar na Segurança mesmo, que eu também gosto, mas que eu não conhecia tanto.
A hierarquia das gerências para com o empregado mudou. Não vou dizer 100%, mas mudou muito, porque antigamente existia a obrigação, hoje em dia existe a conversa. É você pedir e não você exigir, você mostrar porque está pedindo aquilo: “Por que você tem que usar o corrimão?” Não é: “Você tem que usar o corrimão” É a importância de usar o corrimão. A forma das informações, da cobrança, mudou bastante na empresa. As questões [relacionadas] ao empregado, acho que ainda tem muita coisa pra melhorar. O governo Lula mudou a empresa 100%. A conversa com o sindicato: “Ah, o sindicato está do lado do PT” Então tem essas coisas. Eu faço greve, sempre fiz. Não me arrependo. Sou sindicalizada pelo Sindipetro [Sindicato dos Petroleiros] de Caxias. Se eu sozinha vou fazer [greve] no setor, realmente isso não me importa, não fico nem um pouco constringida com isso. Acho que o que vale é o meu pensamento. Se eu estou fazendo errado também é o que eu estou achando, com certeza, disso eu não tenho dúvida. O governo Lula deu uma alavancada na empresa. A empresa hoje com certeza está do jeito que está por causa do governo. Se não fosse o governo a empresa nem sei como é que estaria hoje. A empresa, a forma de tratar, está bem melhor Tem muita coisa pra melhorar, ainda tem. Acho que a empresa ainda peca muito hoje pela forma, eu ainda vejo uma forma diferenciada no tratamento para nível médio e nível superior. Isso continua, não vi muitas melhoras não. Teve outras melhoras, mas se valoriza muito o nível superior, e [quanto] ao nível técnico, não se vê a valorização na minha opinião. Mas a forma de tratar e de mostrar hoje em dia é muito [melhor]; mostrar o que é necessário e não exigir. A gente tem um GD, que é o Gerenciamento de Desempenho Pessoal e a gente tem que cumprir as metas, isso fica bem claro para as pessoas. A empresa tem um objetivo, esse objetivo é desdobrado, chega até a gente e a gente tem que cumprir. Eu fazendo a minha parte vou contribuir para a empresa alcançar [o objetivo]. Mas a forma de cobrar hoje em dia, vejo que está muito mais amigável. Na época da Fronape não tinha nem comparação, era um regime totalmente militar. Aqui não, aqui é um outro regime. Hoje, em relação ao passado, a empresa está não tem nem comparação Eu acho que tem sempre que melhorar, mas em relação ao que era, vejo que a empresa melhorou na forma de tratar as pessoas. No geral acho que melhorou a forma de tratamento, como eu falei, dos níveis. Você vai descendo as informações, se mostra que é necessário fazer aquilo e não só cobra que se faça. Existe a cobrança, mas de forma que você entenda que é necessário fazer, e aí você faz.
Para mim, o que me marcou muito foi essa questão na Fronape, de eu ser a única mulher. Tinha situações lá, por exemplo: várias vezes eu atendi telefone e o colega estava na minha frente, ele dizia que não estava e eu dizia para a pessoa que ele não tava. Menti muito (riso) Por quê? Porque era necessário, eu não tinha nada com aquilo. Ele dizia que não estava e estava. Eu dizia que ele não estava e ele estava na minha frente: “Ah, não veio ainda ou está viajando” [Outra coisa] que aconteceu em uns três navios: uns colegas que trabalhavam comigo, eles “se aproveitavam” das pessoas que trabalhavam no navio: “Tem que movimentar isso aqui” Então eles falavam com um cara do navio que eu estava pedindo, mas na verdade não era eu, eram eles. Então o cara ia e movimentava a peça, e eles ficavam lá na boa, usavam como se eu tivesse pedindo e na verdade nem era eu. Isso aconteceu várias vezes. Eu achava engraçado, eu ficava na minha, vou falar o quê? Às vezes tinha que subir a peça, às vezes tinha que levar lá embaixo, então era pesada aí: “Ó, a Ana pediu pra fazer isso”, aí os caras iam lá rapidinho e faziam.
Quando eu vejo noticiário e até quando a imprensa fala mal da empresa, eu me sinto muito mal. A gente internamente vê o que a empresa busca, o que ela fez e o que ela está fazendo. Infelizmente, a sociedade não dá o valor. Até lembro das palavras do Paulo Roberto, gerente do Abastecimento, acho que foi em maio, ele deu uma entrevista e falou assim: “A Petrobras é reconhecida fora do Brasil, no Brasil ela não tem reconhecimento”. Eu vejo que a Petrobras é [como] uma pessoa que faz, como se fosse uma pessoa que está trabalhando, está fazendo, está dando resultado. Mas que não fala. E aí, outras pessoas dizem que ela não está fazendo nada, que ela está à toa e divulgam outras coisas. Acho que a empresa tinha que divulgar mais. A empresa peca nisso, ela não divulga, não responde o que se fala dela e se fala muito. Essas coisas chateiam muito. Eu me sinto privilegiada de estar aqui, o ideal seria que todo mundo estivesse. Dizer que eu ganho absurdo não. Existem pessoas que ganham? Até existe: com o passar do tempo, com o cargo que se ocupa, isso eleva o salário. Mas existe o compromisso que você tem, com o seu trabalho. Eu ganho um salário e eu tenho que trabalhar por isso, se não é o que eu acho, ou o que eu mereço. Isso aí é fruto de várias situações. Acho que a empresa é realmente um ganho para o Brasil, não só porque eu estou trabalhando, pois eu acho todo mundo devia ter essa oportunidade, ou até outras empresas serem iguais. O ideal não seria ser só a Petrobras, teria que ser outras empresas, dar chance pra outras. Acho que a empresa está no caminho certo, não sei como é que vai ser daqui a uns anos. Mas eu me sinto uma petroleira, sinto orgulho disso e acho que é importante a empresa continuar crescendo, e as pessoas ajudando, principalmente quem está dentro, [ou seja], tentar levar isso para outras pessoas. Antes de entrar na Fronape eu nem sabia que a Fronape era da Petrobras, não me ligava nisso, não tinha essa ideia. Depois que eu entrei foi que eu vi.
Eu acho interessante. Até se botar uma frase, qualquer informação que se tenha, ou o meu nome, acho que já é uma contribuição. Com certeza tem pessoas que devem ter coisas mais interessantes para falar do que eu, mas acho que tudo é uma soma, acho que é um projeto legal. Eu gostei, achei legal. Acho um trabalho interessante. Muito obrigada.
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