P/1 – Boa tarde, seu Antônio. A princípio, já queria agradecer por ter vindo dar o seu depoimento para Votorantim e para o Museu da Pessoa e eu gostaria que o senhor se apresentasse, falasse o seu nome, data e local de nascimento.
R – Muito bem. O meu nome é Antônio Corsaro. Eu nasci em São Paulo, no Bairro da Penha, isso em 06 de agosto de 1939. Modéstia parte não parece, mas foi essa data. (risos)
P/1 – Seu Antônio, seus pais eram de São Paulo?
R – Desculpa, posso falar uma coisa que seja fora?
P/1 – Pode, pode.
R - Essas brincadeiras podem ser introduzidas?
P/1 – Pode, pode. Senhor Antônio, os seus pais são de São Paulo?
R – Meu pai é de São Paulo e a minha mãe é de Portugal. Os dois falecidos.
P/1 – E eles trabalhavam em São Paulo em quê?
R – Trabalhavam. O meu pai era alfaiate e a minha mãe era do lar.
P/1 – E o senhor tem mais irmãos?
R – Tenho mais uma irmã, mais velha do que eu. Tenho dois sobrinhos, aliás três sobrinhos por parte dela, evidente. São duas gêmeas e um garoto.
P/1 – E o senhor quando... O senhor morou toda a sua infância na Penha?
R – Não, não. Morei na Penha... Eu não sei avaliar o tempo. Da Penha eu vim aqui para Moema, para a Zona Sul e depois fiquei lá. Voltei para Penha e lá fiquei até me casar na Penha. Depois de lá fui para outros bairros: Parque São Jorge, Tatuapé, Vila Maria. Tem uma certa...
P/1 – O senhor caminhou bastante. Foi um pouco cigano?
R – Não, não foi muito bastante. Morei na Penha, da Penha para Parque São Jorge. Vila Maria, Tatuapé, onde eu moro agora. Foram quatro casas, vai? Ou quatro endereços. (pausa) Bom, então, continuando, eu tenho uma irmã. Dessa minha irmã eu tenho três sobrinhos, duas meninas que são gêmeas e um garoto. Eu tenho dois filhos, um com 39 anos e outro com 36... Desculpa, um 39, outro com 33, se eu não me engano.
P/1 – Já...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, seu Antônio. A princípio, já queria agradecer por ter vindo dar o seu depoimento para Votorantim e para o Museu da Pessoa e eu gostaria que o senhor se apresentasse, falasse o seu nome, data e local de nascimento.
R – Muito bem. O meu nome é Antônio Corsaro. Eu nasci em São Paulo, no Bairro da Penha, isso em 06 de agosto de 1939. Modéstia parte não parece, mas foi essa data. (risos)
P/1 – Seu Antônio, seus pais eram de São Paulo?
R – Desculpa, posso falar uma coisa que seja fora?
P/1 – Pode, pode.
R - Essas brincadeiras podem ser introduzidas?
P/1 – Pode, pode. Senhor Antônio, os seus pais são de São Paulo?
R – Meu pai é de São Paulo e a minha mãe é de Portugal. Os dois falecidos.
P/1 – E eles trabalhavam em São Paulo em quê?
R – Trabalhavam. O meu pai era alfaiate e a minha mãe era do lar.
P/1 – E o senhor tem mais irmãos?
R – Tenho mais uma irmã, mais velha do que eu. Tenho dois sobrinhos, aliás três sobrinhos por parte dela, evidente. São duas gêmeas e um garoto.
P/1 – E o senhor quando... O senhor morou toda a sua infância na Penha?
R – Não, não. Morei na Penha... Eu não sei avaliar o tempo. Da Penha eu vim aqui para Moema, para a Zona Sul e depois fiquei lá. Voltei para Penha e lá fiquei até me casar na Penha. Depois de lá fui para outros bairros: Parque São Jorge, Tatuapé, Vila Maria. Tem uma certa...
P/1 – O senhor caminhou bastante. Foi um pouco cigano?
R – Não, não foi muito bastante. Morei na Penha, da Penha para Parque São Jorge. Vila Maria, Tatuapé, onde eu moro agora. Foram quatro casas, vai? Ou quatro endereços. (pausa) Bom, então, continuando, eu tenho uma irmã. Dessa minha irmã eu tenho três sobrinhos, duas meninas que são gêmeas e um garoto. Eu tenho dois filhos, um com 39 anos e outro com 36... Desculpa, um 39, outro com 33, se eu não me engano.
P/1 – Já estava aumentando três anos a idade.
R – É isso mesmo, porque um é de 1963, o outro é de 1967. Então é 36 e outro vai fazer 40, tem 39, está certo. Tenho dois netos, um de 18 anos, vai fazer agora em agosto, e outro de três anos. A família pequena, os meus pais são falecidos. Então família, assim, essas pessoas que eu citei.
P/1 – São bastante, não são poucos.
R – São poucos, família muito pequena.
P/1 – Hoje em dia as famílias estão ficando menores.
R – É, mas a minha é pequena. Já faleceu o meu pai e a minha mãe, então acabou se reduzindo mais ainda.
P/1 – Seu Antônio, quando que o senhor começou os seus estudos?
R – Eu comecei, eu tinha... Que o normal, tinha uma idade que podia entrar na escola para estudar, não sei se era seis ou sete anos.
P/1 – Eu acho que com sete.
R – Eu não me recordo bem a data, a idade que podia estar entrando. Antes disso não podia estar entrando para estudar. Eu acho um absurdo, mas em todo caso... Então foi por conta disso, idade normal que podia se começar estudar.
P/1 – E quando o senhor estava estudando, o senhor já pensava num futuro, num curso que você gostaria de fazer, aonde o senhor gostaria de estar atuando?
R – Não, não, não vinha... Inclusive naquela minha época não tinha nem aqueles testes vocacionais que tem atualmente. Então não tinha esse teste vocacional. Trabalhava porque estudava. É preciso estudar para a pessoa ser alguém, tem que ter um estudo. Não tem estudo, não tem oportunidade, também acaba ficando a mesma... Mas estudava para ter instrução, tudo mais, depois não decidi meus estudos porque precisava trabalhar. A gente vem de uma família pobre, então precisava trabalhar. Então motivo pelo qual não dei andamento aos meus estudos, coisa que deveria tê-lo feito. Mas, necessidade obrigou que eu parasse onde parei para começar a trabalhar. Comecei a trabalhar com... Eu precisei até tirar papel do juiz para trabalhar, que começava a trabalhar com 14 anos. Eu comecei a trabalhar seis meses numa firma, depois passei para o Grupo. Então, comecei trabalhar praticamente... Se não entender o que eu falo, então eu falo muito rápido e a pessoa não entende.
P/1 – Ah, não, mas o que eu não entender, eu volto.
R – É.
P/1 – Eu peço para o senhor falar de novo.
R – Está legal. Isso. Então, comecei a trabalhar com essa idade. Então eu trabalhava muitas vezes nessa firma que eu comecei trabalhar, fiquei uns seis meses, isso em 1953. Era um escritório de uma firma que era a Serraria Sortino, tinha a serralheria em Santo André e tinha o estoque em São Paulo. Então eu ia de manhã lá para atender telefonema, enquanto não vinha o pessoal de lá, que vinha depois do almoço. Era telefonema, correspondência em correio, levava, trazia, coisa bem simples. É uma coisa no escritório bem simples do que eu fazia porque eu não sabia nada. Bom, lá eu fiquei... Essa sequência do meu currículo profissional, do meu andamento ou você tem alguma coisa para perguntar no meio?
R – Não, eu gostaria que o senhor me contasse dessa época mesmo, do seu primeiro emprego como foi. O senhor estava falando, que o senhor entrou com 14 anos, foi isso?
R – 14 anos.
P/1 – O senhor começou a trabalhar. Falar um pouquinho de como foi isso e aí o senhor poderia depois passar para...
R – Para o Grupo.
P/1 – É, porque depois desse trabalho, o senhor foi para o Grupo?
R – Sim, nesse trabalho eu comecei, fiquei lá uns seis meses, de agosto de 1953 até janeiro de 1954. Foi uns seis meses, por aí. Me atualizar no processo, correio, atender telefone, levar uma carta para cá e para lá. Isso depois em 1954, que eu passei para o Grupo. Passei como office-boy da seção, da seção de vendas de cimento e cal. Fiquei o maior tempo lá como office-boy, normal, é sabido o que é. Enfim, pegava correspondência de todas as seções da empresa lá. Levava, entregava, serviço de boy, normal. Passado pouco tempo, passei para ser arquivista dessa seção de vendas de cimento e cal. Então eu fazia todo o arquivo de venda da seção. Tudo que tinha que arquivar eu tomava conta. Passou uma temporada em curto espaço de tempo, eu passei para o faturamento. Tudo isso dentro da seção de cimento e cal.
P/1 – O senhor começou na cimento e cal com quantos anos?
R – Saí de lá da Serraria Sortino, passei para lá. Saí em janeiro, praticamente com 14 anos.
P/1 – Isso foi em que ano?
R – 1954. Primeiro de fevereiro de 1954, que eu entrei no Grupo. Então, em pouco tempo, passei depois para faturamento, era auxiliar de faturamento. Faturamento, o que consistia? Consistia você fazer, datilograficamente, como está mencionado no que eu fiz, que eu escrevi, a confecção das faturas e duplicatas de todas as vendas do produto para os clientes. E outros serviços referentes à área. Passado pouco tempo também, a minha ascensão foi, assim, muito rápida para as coisas. Eu passei a ser encarregado desse setor de faturamento. As condições já mudaram um pouco: invés de seu estar fazendo as duplicatas datilograficamente, eu já preparava esse tipo de documento para alguém fazer a confecção das duplicatas, que eu fazia antes de ser encarregado e outros serviços também correlatos à função. Passado também um pouco tempo, eu fui transferido para o setor de Caixa. Antigamente era Caixa, não era Tesouraria. E lá eu fazia pagamentos externos em bancos, bancos e firmas comerciais, duplicatas, porque a firma tem que pagar em banco, em firmas comerciais. Passado mais um pouco de tempo, eu passei a ser o caixa recebedor da empresa. Isso aí eu recebi o quê? Era pessoal que vinha pagar a compra de cimento propriamente dito, que vinha pagar as duplicatas que tinham sido emitidas lá atrás. Preparava os depósitos que era para ser feito em bancos - coisa que eu fazia antes de ir para lá, caixa propriamente dito. Aí fiquei uma temporada um pouco maior. Depois com a saída do tesoureiro - chamava-se Bontempo, não é piada, ele chamava-se, chama-se ainda, que ele é vivo, Roberto Luís Bontempo - eu assumi o lugar dele como sendo tesoureiro da empresa. E lá fiquei... Não me lembro a data, eu sei que fiquei até 1988... Até 1988, quando eu passei para a Baltar, Votorantim DTVM, depois Banco Votorantim, que é atualmente. Eu passei.
P/1 – A gente já vai para o Banco. Voltando um pouquinho, o senhor entrou como no Grupo Votorantim?
R – O rapaz é amigo meu, que trabalhava lá que me apresentou lá.
P/1 – E o senhor já conhecia, então, o Grupo, você já tinha ouvido falar da Votorantim?
R – Já, já, sim, inclusive por ele, que ele trabalhava nas antigas seções mecanizadas que tinha antigamente. As máquinas, não sei se vocês conhecem, talvez não seja do vosso tempo, são novos ainda, que faziam as contabilidades. Era um carrilhão aquele treco lá. Então ele trabalhava lá, agora era amigo meu, morava perto de casa, morava na Penha. Então ele comentou: “Conversa com alguém lá” - estava precisando trabalhar - “me apresenta lá se há condições de eu trabalhar lá”. E ele me apresentou lá, fui bem recebido. Também não tinha muito que não ser, porque era bem raso o começo da coisa, era boy. E comecei daí.
P/2 – Em qual unidade da Votorantim o senhor foi trabalhar? Onde ficava esse escritório?
R – Na S/A Indústrias Votorantim mesmo. Comecei aí na Rua XV de Novembro. Depois mudamos ali para o Anhangabaú, na Rua Riskallah Jorge. Tem o Viaduto Santa Ifigênia ali?
P/1 – Tem.
R – Então, embaixo daquelas imediações ali. Fomos para lá, não sei avaliar o tempo que temos ficado lá. Depois de lá voltamos para... Voltamos, não. Nós mudamos para a Praça Ramos. E lá que eu fiquei, que depois eu fui transferido para Baltar e para o Banco Votorantim.
P/1 – E o senhor se lembra como foi o primeiro dia de trabalho na Votorantim?
R – Veja bem, me lembro até de um ponto pitoresco, porque eu desci ali na Praça Clóvis, que agora é tudo Praça da Sé, aquele negócio todo. Eu sempre dependia de condução, então estava sempre correndo. Então descia lá para pegar a Rua XV onde estava o escritório lá da Votorantim. Uma das vezes, estava meio chovendo, eu dei uma escorregada na calçada lá. Pumba! (risos) Foi pela pressa de você querer, não chegar muito atrasado. Chegar atrasado, não é muito chegar atrasado, mas eu chego no horário. Então, aconteceu isso daí. Primeiro dia de trabalho, ele foi... Ele foi, vamos dizer assim, você nunca havia feito nada. O que eu fazia lá na anterior, fiquei lá uns seis meses, era atender telefone... Então era um outro mundo porque ali tinha duas, três pessoas no primeiro emprego e lá não. Lá era constituída, tinha umas seções. Era diferente do que o primeiro. Então, você sentia aquela expectativa de aprender mais as coisas. Enfim, de ter uma bagagem maior para você começando de office-boy e passando pelos setores que eu passei. Então, comecei com muita vontade e tenho até hoje, modéstia à parte.
P/1 – O senhor lembra um pouquinho de alguma coisa de que o senhor fez com o seu primeiro salário na Votorantim? Alguma coisa que foi especial, que o senhor tenha comprado?
R – Não lembro, não porque seria para ajudar em casa realmente. Então, alguma coisa, assim, de especial, mas eu não lembro.
P/1 – Nesse tempo que o senhor ficou na Cimentos, que o senhor trabalhou com a Votorantim Cimentos, o senhor poderia falar um pouquinho de como...
R – Não é Votorantim Cimentos, porque Votorantim Cimentos identifica uma empresa agora.
P/1 – Ah, sim.
R – Era uma seção da S/A Indústrias Votorantim, seção de Cimento e Cal.
P/1 – O senhor poderia falar um pouquinho sobre elas, o que o senhor lembra, o quanto ela se transformou nesses anos?
R – Quando eu comecei, a Votorantim S/A evidentemente não era o que é hoje, potencial que eles são hoje. Então houve bastante desenvolvimento nisso, graças ao dinamismo deles, doutor Moraes e os filhos, tudo mais, como sempre foi o caso para o nascimento da empresa, que é Brasil, que eles são muito Brasil. Agora, uma coisa, assim, de especial... Fala uma outra pergunta porque muitas vezes eu estar explanando alguma coisa é até mais difícil do que você perguntando, eu estar te respondendo.
P/1 – Você quer perguntar, Charles?
P/2 – Eu queria que o senhor contasse para gente... O senhor sempre ficou nessa área um pouco mais administrativa dentro da Votorantim. O senhor começa ali na Cimentos no escritório, aí o senhor passa por toda a questão de caixa, chefe de seção, como que o senhor vai se encaminhando cada vez mais nessa área, que vai dar na questão financeira da empresa, no setor financeiro da empresa? O senhor compreendeu?
R – Não.
P/2 – Eu queria que o senhor... O momento que o setor financeiro da Votorantim, de fato, passa a fazer parte da vida do senhor? Quando o senhor entra, por exemplo, na Baltar. Então, retomando a história... Vou deixar mais simples. Conta para mim como é que foi o início da história do Banco Votorantim? De alguma forma, o senhor participou dessa...
R – Ah, sim. Então, essa Baltar, inclusive, ela começou como Baltar, Baltar DTVM e Baltar de uma... Como é que chama? De uma... Como é que chama? Não vou me lembrar o que era. Então, quando começou realmente a Baltar DTVM, que eu passei da Votorantim, me transferi para Baltar DTVM para trabalhar com as empresas do Grupo, que eu também desconhecia. Para mim, essa Baltar para mim era um urso branco, que eu não sabia nada dessa parte financeira. E lá ficamos, para ser o quê? Para ser os investimentos das empresas, passavam por lá, tudo mais, todas as empresas do Grupo.
P/1 – Passavam pela Baltar?
R – Passavam pela Baltar.
P/1 – E esses investimentos, passando pela Baltar...
R – Eu digo investimento, assim, investimento na... Eram investimentos, não era bem investimento. Investimentos no setor financeiro, aplicações e tudo mais. Não é investimento em si das empresas, investir lá na... Certo?
P/1 – Quando eles começaram a passar, neste momento a Votorantim viu a necessidade dela estar montando mesmo o Banco Votorantim?
R – Ah, depois sim. Depois ela passou de Baltar, que era DTVM, depois mudou para Votorantim DTVM, depois passou, então, para Banco Votorantim, que é atualmente. Depois criou-se numa outra Votorantim, essa quem administra os fundos e tudo mais, que é um apêndice do banco.
P/2 – Essa empresa Baltar sempre administrou esse setor financeiro das indústrias Votorantim?
R – É, depois foi se fortalecendo mais.
P/2 – Certo.
R - Depois com o tempo foi entrando outras firmas, não é só exclusivamente para o Grupo e empresas do Grupo.
P/1 – Exclusivamente para o Grupo?
R – Não, não.
P/1 – Não era exclusivamente.
R – Não. Com o tempo foi se alastrando, aí vieram outros clientes.
P/1 – Eu perguntei da criação e se tornar o Banco Votorantim porque até estarmos no Projeto Votorantim, começarmos a nos inteirar da história do Grupo, confesso que não sabia que tinha um Banco Votorantim.
R – Foi transformação da DTVM para o Banco já foi em 1991, que foi criado o banco.
P/1 – É recente.
R – É, 10, 12 anos...
P/1 – Recente. Hoje em dia...
R – É novo, é um Banco novo.
P/1 – O senhor poderia comentar, um pouquinho, como é esse trabalho, os ramos que o Banco trabalha, como que ele funciona?
R – Bom, o Banco como todo banco, ele... É investimentos, empréstimos para empresas e tudo mais. E esses empréstimos são religiosamente autorizados mediante uma análise de crédito da empresa, tudo mais, desse tipo de trabalho do Banco. Tem outras atividades do Banco que ele faz, que muitas vezes são coisas que eu desconheço. Como depois que eu passei para o Banco para essa outra Votorantim, fiquei na área prática, mais direcionado para os acionistas. Então são coisas que o Banco opera automático, direcionado, mais focado para determinada área, determinada atuação. Então, muitas coisas do Banco, você não tem muita participação, mais ou menos por cima das coisas, tudo mais.
P/2 – Senhor Antônio, como que é o relacionamento do Banco Votorantim com as empresas do Grupo Votorantim? Ele faz empréstimos a essas empresas?
R – Não, não pode fazer empréstimos às empresas do Grupo.
P/2 – Essa relação se constitui como?
R – Investimentos que eles fazem em fundos, outros tipos de segmentos que o Banco oferece.
P/2 – E quando que... Nessa trajetória que o senhor está dentro do Banco Votorantim, em que momento o senhor acha que a atividade dele ficou mais dinâmica e fez com que ele surgisse no cenário financeiro? Em que momento o senhor percebe isso?
R – Explica um pouquinho a pergunta outra vez, que não entendi bem. Momento em que se...
P/1 – Ah, sim. Em que momento o senhor acha que o Banco Votorantim, ele cria uma autonomia e começa aparecer dentro do contexto das Indústrias Votorantim? Porque, até então, ele era uma coisa que estava dentro da Baltar. E, de repente, tem-se a intenção de criar um banco. Em que momento...
R – Porque na criação do Banco, ele teria outras atuações, outros procedimentos, outros segmentos que ele poderia estar atuando para as empresas do Grupo, como para as empresas fora.
P/1 – E existe muita concorrência nesse setor financeiro que o Banco Votorantim enfrente normalmente ou não há isso?
R – Concorrência há, em toda parte há concorrência. Em todo setor há concorrência. Então não poderia deixar também de ter uma concorrência do Banco com os outros. Mas ele também tem focado as coisas. O Banco está indo muito bem, de vento em popa e tem muitos clientes na atuação deles. Ótimos negócios tem feitos e instituiu a preferência com uma gama muito grande de interessados em aplicar.
P/2 – E o Banco Votorantim só trabalha com empresas ou ele trabalha com...?
R – Não, trabalha com empresa, trabalha com pessoa jurídica, pessoa física, tudo mais. Quer dizer, já fica mais a parte também dessa Votorantim que é administradora de fundos de investimentos de qualquer natureza, mas não só para pessoa jurídica, como pessoa física também. As duas.
P/1 – O senhor acredita que... O senhor falou nesse momento da procura do quanto ele está sendo procurado por empresas, por pessoas e está crescendo. O senhor vê isso por ele ser um Banco com nome Votorantim, que está ligado à família, à toda essa tradição...?
R - Sem dúvida. A confiabilidade que o nome, que a bandeira dá. Realmente a bandeira Votorantim dá uma confiabilidade enorme em qualquer ano... Qualquer atividade que venha fazer, a bandeira Votorantim abre fronteiras.
P/2 – Senhor Antônio, na opinião do senhor, qual seria o contexto mais complicado para esse setor financeiro da Votorantim?
R – Qual seria?
P/2 – A época mais complicada, a crise que vocês enfrentaram dentro desse setor financeiro que demonstrou fragilidades que necessitou de uma intervenção maior por parte...
R – Dos dirigentes.
P/2 – Exatamente. Houve alguma crise no Brasil...?
R – Sei lá. Essa crise da Ásia, outras crises mais que houve no mundo. Mas não chegou, houve também assim a necessidade do desempenho deles, da direção, tudo mais, dos administradores em fazer. Mas saíram a contento de todas essas crises que houve até então. Se saíram a contento porque não chegou abalar o Grupo em nada.
P/1 – Complementando um pouquinho a pergunta do Charles, quando nós pensamos nisso, nós pensamos o quanto é difícil para um empresário, um grupo, manter um negócio numa economia como do Brasil, que oscila muito. Agora, parece que ela está mais estável de uns anos para cá, mas teve épocas muito difíceis. Então, principalmente pela Votorantim ser um grupo tão grande e com um leque de funções - porque ele não tem um ramo só, a Votorantim não é só o cimento, a Votorantim não é só energia.
R – Tem alumínio, tem minério.
P/1 – Tem muita coisa. Então quando o Charles pergunta e nós pensamos nisso é exatamente pensando no país em que vivemos, na nossa economia. E o senhor é da área financeira, deve saber melhor do que nós. Pode nos dar uma aula...
R – Uma aula, não, porque veja bem, vou falar para vocês: a minha participação não tem muito assim, não era muito enfronhado nesse tipo da parte de economia, tudo mais. Então, vou falar alguma coisa, vou estar pecando alguma coisa. Então, me limito a não comentar nada porque estaria comentando uma área que não tenho conhecimento, certo? Então vou falar coisas que realmente... Bobagem. Eu sei que, completando, depois de todas essas crises que houve, o Grupo se saiu, sobressaiu aí e está numa situação bastante privilegiada.
P/2 – Senhor Antônio, como é que feita a venda dos produtos Votorantim, como é feito o Marketing disso, o senhor tem...
R – Veja bem, eu vou dizer mais a parte da onde está, que são os produtos de fundo e tudo mais. Isso aí tem diversos pontos que vão... Eles vão, como que eu diria... Eles vão constatar diversos segmentos, tanto de firmas, como também de pessoa jurídica, tanto jurídica como física. Eles vão contatar para oferecer os produtos dele, mostrar qual... O que a Votorantim oferece de vantagem, questão dos fundos que ela tem, certo? As taxas dela são melhores comparando com outras, o risco é menor. Então tudo isso é um conjunto de informações que o próprio officer na hora em que dirigir no, propenso no... Vão oferecer tudo isso. As vantagens que a Votorantim está dando a eles no rendimento, na garantia, na confiabilidade, tudo isso. Então é feito um trabalho que os officers, eles vão ou para apresentação, ou vão visitar clientes aqui, apresentados por outros e tudo mais. Então, eles vão ser depois clientes nossos, que até então seriam próximos, dentro do contexto de clientes.
P/1- Eu não sou muito boa em economia, a nossa área é outra, mas o senhor acabou de falar uma coisa que me chamou atenção: o Banco Votorantim tem uma das melhores taxas de juros, é isso?
R – Taxa dá o rendimento, juros dá o rendimento dos fundos que você aplica.
P/1 – E isso ele consegue este tipo de trabalho, de oferecer esse serviço para as pessoas. Como que ele mantém? Qual é a diferença do Banco Votorantim para outros bancos que têm...?
R – O próprio administrador, quem faz lá as operações, que é bem operado, tudo mais, ele proporciona essas taxas melhores. Então você pode ter um banco, outro banco, outra instituição que tem alguma taxa melhor dentro do Fundo, mas precisa fazer uma análise também do risco que está correndo. E muitas vezes você aplicar na instituição, te dá o rendimento maior, pode não ser uma garantia. Não estou dizendo que esses que dão mais que a gente, não tem a sua garantia. Tem, é lógico. Mas muitas vezes tem o seu risco. Então, ele está, assim, numa posição bastante privilegiada, devido à administração que administra os Fundos, bem administrados, são profissionais dedicados que está se fazendo. Então, ele faz realmente para ter essa posição que os Fundos da Votorantim alcançam. Inclusive são divulgados nos canais competentes a posição deles. São bem privilegiados.
P/2 – Senhor Antônio, nesses anos que o senhor está no setor financeiro, o que o senhor indicaria como uma mudança absolutamente fundamental dentro desse setor que o senhor acompanhou e que teve que também se modificar, de acordo com essas novas tendências do mercado? O que o senhor indicaria como sendo o ponto de toda uma revolução do sistema financeiro?
R – Olha, eu não sou a pessoa a ser balizada para te responder essas...
P/2 – Nessa área que o senhor atua.
R – Não, eu acho que lá não tem o que mudar porque está indo muito bem. Então o jogo está ganhando, não se mexe.
P/2 – Mas a coisa permaneceu estável?
R – Não, sempre...
P/2 – Houve mudanças...
R – Eu digo na administração dos fundos, aumentou essa administração. Então, propiciou que houvesse essa colocação nos fundos que tem lá, de administração deles. Então, dizer para você que teria que mudar, eu não sou a pessoa realmente abalizada para mudar isso, mudar aquilo.
P/2 – O senhor está na Votorantim desde 1954. O que o senhor acha que foi, o que a Votorantim deu para o senhor que foi fundamental para a sua vida de 1954 até hoje? Porque a gente sabe que são várias coisas, mas o que o senhor acha que absorveu mais?
R – Aprender muito nessa parte, na parte que está atuando. Eu estou, assim, muito ligado aos acionistas, às suas particularidades, tudo mais. Então sempre atuei mais ligado aos acionistas. Então quando me perguntou o que deveria fazer, eu não tenho bagagem nesse sentido para poder dizer para você, melhor fazer assim ou fazer assado. Então fico, mais ou menos, limitado. Você não pode estar dizendo para fazer assim, fazer assado, quando você não está atuando naquela área. Se tivesse atuando, então poderia ter condições de dizer alguma coisa. Mas como não se atua naquela área, minha área é mais ou menos restrita aos acionistas, então fica meio complicado dizer alguma coisa porque eu estaria falando alguma coisa sem ter conhecimento. Então prefiro não opinar sobre isso aí.
P/2 – E como que é essa área do senhor de atuação em relação aos acionistas? Como que é o cotidiano desse trabalho?
R – São os investimentos que eles fazem no próprio Banco, pagamentos que eles precisam fazer, toda essa parte mais realmente... As particularidades que eles necessitam.
P/1 – Fazendo as contas, vão fazer daqui a pouco 40 anos...
R – Eu? 50.
P/1 – Não, de Votorantim.
R – 50.
P/1 – 50?
P/2 – 50 anos.
R – 1954.
P/2 – 1954.
P/1 – É verdade, 50 anos de Votorantim. Então, vamos dizer que o senhor se criou no Grupo, o senhor passou a sua adolescência, a sua juventude, chegou na idade madura, o senhor casou, o senhor teve filhos, netos. Todo esse outro lado da sua vida junto a Votorantim, ao Grupo. Pelo que nós conhecemos de tudo que as pessoas falam, o Grupo Votorantim tem valores. As pessoas nesses anos todos foram... Vou dizer alguns, depois o senhor completa, que é de honestidade que são metas de trabalhos, de seriedade dentro da nossa sociedade, no nosso país. O senhor acha que esses valores de uma família, de um grupo, interferiram também na sua trajetória pessoal, não só profissional na Votorantim?
R – Você descobre porque você está trabalhando, a honestidade com que você está trabalhando, então você acaba se espelhando no que eles são para você também... Não que se não fosse assim, você ia ter uma tendência diferente. Mas acho que acaba se espelhando nos valores que eles têm. São honestos, são trabalhadores, são tudo que você possa... Eu não estou dizendo isso daí não, pelo fato de eu trabalhar há 50 anos. É que você acaba, como se diz, tirando todo esse tempo que você trabalha com eles, com a família, acaba tirando essas virtudes deles, essas... Agora não me ocorre as palavras para falar, mas toda essa valorização que eles têm em tudo e por tudo. São humanos, são... O que a pessoa precisar, eles estão atenciosos a fazer, ajudar e tudo mais, no modo geral.
P/1 – O senhor sabe, não sei se é da sua área, se é próxima, ou se o senhor ouviu comentários do Banco, os investimentos sociais. O Banco tem essa área de investimentos?
R – Tem, tem.
P/1 – E o senhor poderia falar de alguns que o senhor...
R – Eu sei que tem alguns. Eu sei porque, inclusive, como eu trabalhava no caixa, na Votorantim, os pagamentos que tinham, sabia que era direcionado para algumas instituições. Associação Cruz Verde e o da criança...
P/1 – É deficiente?
R – Deficiente. Eu sei que tem uma gama muito grande... O que você perguntou mesmo?
P/1 – De investimentos sociais.
R – Investimentos sociais.
P/1 – Isso sempre foi uma preocupação do Grupo?
R – Sempre, sempre.
P/1 – Eu acredito que nesses anos que o senhor passou, o senhor deve ter ouvido de outras áreas também, de outras unidades sem ser do Banco que faziam esse tipo de coisa. E o senhor acha que esta atitude da Votorantim influencia nos próprios funcionários? É um exemplo?
R – Como assim? Eu não entendi a sua pergunta.
P/1 – Vamos dar uma pausinha para uma água?
[pausa]
P/1 - Retomando um pouquinho, seu Antônio, nós estávamos falando da responsabilidade social, do quanto isso pode refletir com os funcionários. Eu queria que o senhor falasse um pouquinho disso e falasse um pouco desse investimento que o Grupo faz com os próprios funcionários.
R – Na questão de investimento social que você falou...
P/1 – Isso.
R – Para os funcionários, eu acho que é ótimo porque estão vendo onde estão trabalhando, a preocupação que a empresa onde eles trabalham, a preocupação da empresa com o âmbito social. Isso aí para mim, eu acho que é bastante válido porque eles estão vendo com quem eles estão trabalhando.
P/1 – E a Votorantim investe muito nos seus funcionários?
R – Investe. Cursos dentro da área que estão fazendo, cursos para aperfeiçoamento. Enfim, logicamente, isso daí vai o quê? Além de reverter para a empresa, lógico, vai se aperfeiçoar no curso, para o funcionário é uma bagagem a mais que ele vai ter, que mesmo depois venha a sair do Grupo por motivo qualquer, ele tem uma bagagem maior de conhecimentos. Além do que, do próprio dia-a-dia dele e esses cursos que foram oferecidos pela empresa para ele exercer dentro do que ele está fazendo, que vai também, diretamente ou indiretamente, a bagagem dele de conhecimento, enfim, na parte profissional dele.
P/2 – São 49 anos de trabalho. Nesses 49 anos de trabalho o senhor acompanhou a trajetória do Banco Votorantim e de alguma forma o senhor acompanhou a trajetória também da família, desde o senador até essa nova geração que administra o Grupo. O senhor gostaria de falar alguma coisa, alguma personalidade dessa família que tenha marcado o senhor, profissional à trajetória?
R – Veja bem. Acho que todos eles seguiram o mesmo, vamos dizer assim, a mesma escola do senador, José Ermírio de Moraes, que é o pai de um dos meninos, doutor José e os demais. Doutor José é falecido, que Deus o tenha, eu gostava muito dele. Então, todos eles seguiram essa escola do doutor José, do doutor Moraes. Então, todos eles são afim pelo trabalho. Então tudo como é que veio isso aí? Vem tudo, uma parte lá de trás, do pai, Moraes e está embutindo nos filhos, está assim, assim, assado. Quando o doutor Moraes faleceu, alguém chegou a pensar que pudesse haver uma separação dos filhos. Mas nada, nada, nada. Continuaram completamente unidos e crescendo e é esse império nacional que nós temos pela frente. Trabalhei com todos eles, ainda continuo trabalhando, evidentemente. Trabalhava diretamente com o doutor José, doutor Antônio também. Doutor Clóvis, também. Doutor Clóvis, ele veio a ser o marido de um... De um dos irmãos, vai. Porque são três irmãos e uma irmã. Então o doutor Clóvis é o cunhado, no caso. Ele já faleceu. Então trabalhei com todos eles diretamente. Trabalhava com o doutor José que... É que você tinha mais, não é mais, é que estava mais em contato com ele. Então quando ele... Quando ele faleceu, eu fiquei bastante chocado, bastante... Lógico, estar sempre com ele, todo dia estava com ele. Então, de uma certa forma, me abalou. Teve aquele sentimento, pelo fato de estar em convívio com ele no tempo. Então, me perdi um pouquinho na resposta. Você tinha perguntado? Desculpa.
P/2 – Como foi essa convivência e como o senhor se espelhou, se o senhor se espelhou em alguém dentro da família Votorantim? Com valores a essas pessoas?
R – Todos eles têm os seus valores. Citar que um tem mais, outro tem menos, não está certo. Todos eles têm. Tudo que eles fazem, fazem tudo em conjunto, não vou falar separadamente. Todos eles têm, têm o seu valor, seus valores iguais.
P/2 - Quando o senhor fala, o doutor José é o filho?
R – Doutor José é o filho - que é irmão do doutor Antônio, que faleceu agora, quando houve lá a explosão das torres, no mesmo dia ele faleceu. Dia 11 de outubro.
P/1 – 11 de setembro.
R – De setembro, desculpa.
P/2 – O senhor tem alguma memória do senador?
R – Do senador, veja bem, com o começo lá com ele. Então ainda era dentro daquela função de office-boy, então não tinha, assim, nada com ele. Só o via todo dia, que ele vinha sempre para o escritório. Então, não tinha assim, um contato, nenhum. De uma outra vez para pegar uma assinatura dele quando aparecia, mas era bastante... Era bastante, como diz? Não era muito usual, mas conhecia de vista.
P/2 – A ligação do senhor era mais com o doutor José, mesmo?
R – Isso aí depois de eu ter passado, quando eu passei para tesoureiro. Então você tinha uma ligação maior. Você trabalhar numa área assim que tenha ligação com finanças, com dinheiro propriamente, então você tem uma ligação um pouco maior com a diretoria, por motivos óbvios, tá? Então você fica mais ligado a ele do que o outro rapaz, outra pessoa que trabalha na Tesouraria, mas que não é encarregado, não é. Então você tem, motivado pela função que você exerce, tem uma ligação diretamente com eles.
P/2 – Senhor Antônio, mais uma vez eu volto nessa questão, que eu acho que é importante. Qual é a importância da Votorantim na vida do senhor?
R – É bastante. Minha mulher sempre falou: “Você precisa arrumar uma cama e ir para lá, tá?” (risos) Porque, veja bem - eu digo por mim, os outros eu não sei – eu sempre trabalhei com amor à camisa, trabalhei me dedicando realmente naquilo que eu estava fazendo. Eu procurava bastante responsabilidade no que eu estava fazendo. Então procurava me dedicar ao máximo naquilo que estava fazendo porque eu gostava do que estava fazendo. É diferente do que você trabalhar, fazer alguma coisa porque você tem que trabalhar, tem que fazer, então você faz. Você vai para lá, vai para cá... Mas eu não. Eu trabalhava e trabalho ainda com o mesmo afinco, de quando comecei como boy lá em 1954. Então é com vontade. Eu vestia realmente a camisa da Votorantim. Não é puxação de saco, mas eu trabalhava com vontade. Eu gostava, eu gosto de trabalhar. Não só por eles, mas pelos colegas também que você tem um companheirismo de um modo geral muito bom. Isso é bom para o ambiente de trabalho. Você está trabalhando onde não há fuxico, nada. Você está trabalhando no negócio... Você está falando com uma pessoa, está falando com ele, ele não vai te fazer fuxico lá por trás.
P/1 – Não vai querer passar perna...
R – Não, não vai querer sua cabeça de escada. Então é muito bom, pelo ambiente e pelo que eles oferecem. Então preciso falar para você, sempre vesti a camisa por esse motivo. Realmente eu tinha. Muitas vezes, eu me dedicava à empresa lá - eu não digo mais que a família, mas era uma segunda família. Me lembro que uma ocasião, tem um fato pitoresco com a minha esposa. Tinha um torneio de buraco lá no bar da gente e por um final do torneio que houve, então a minha participação. Então quem é noivo foi com a noiva, casado foi com o marido, quem era namorado, tudo mais. Então, minha esposa, ela foi sozinha. Eu estava trabalhando. (risos) Ela ficou muito possessa com isso. “Poxa vida, leva a cama para lá, então!” Essas observações de esposa. Então, realmente, achei... Ali era um divertimento porque eu tinha que estar presente, a minha esposa estava lá, tinha ali o segundo lugar, o campeonato, o negócio todo. Mas eu tinha negócio, estava, tentei ficar, tinha que ficar lá porque tinha que estar passando para as pessoas. Então, nessa linhagem a minha dedicação com eles.
P/2 – Senhor Antônio, eu vou voltar bem ao começo, onde você conheceu a sua esposa?
R – Minha esposa eu conheci... No Bairro da Penha tinha - eu sou casado há 40 anos - tinha aquele chamado “vai e vem”. Então ficava na calçada para as moças passando. Não sei se ainda têm, vocês que são moços ainda, não sabem? Vocês não sabem nada disso. No meu tempo era diferente. (risos) Então, calhou de eu estar lá nesse “vai e vem” lá, parado, vendo passar e esse negócio todo. Então, ela assim, me agradou, visual, tudo mais. Depois você ia conversar, bater um papo e depois começou a se andar um pouco mais apressado, estava ela e mais uma colega dela, mais uma menininha com a idade dela. Começou a andar um pouco mais apressado, até chegar uma hora que eu aproximei, chegar, parar para conversar, tudo mais. Ela começou a se queixar que estava doendo o pé e eu: “Poxa, e você andando tão rapidamente assim?” Então começou aí o nosso namoro.
P/2 – E algum filho do senhor se interessou em continuar... Em começar uma trajetória na Votorantim?
R – Eu tenho dois que começaram a trajetória na Votorantim. O mais velho começou também como office-boy, ficou um tempo, eu acho que uns 10 no Grupo. Depois saiu, acabou querendo fazer alguma coisa por conta própria. A pessoa acaba tendo esse ideal da vida, quer fazer alguma coisa por conta própria. Saiu, foi trabalhar por conta própria. E o outro, o mais novo, ele se formou na Faculdade da Mackenzie, depois foi fazer estágio lá. E lá ficou, continuou e ficou também lá uns pares de anos no processamento de dados. Depois saiu, foi para outro lado. Ficou também acho que uns 10 ou 12 anos, também. Depois saiu e foi trabalhar em outro segmento, também dentro de processamento de dados. E continua agora fora, está na Editora Abril.
P/1 – Senhor Antônio, voltando um pouquinho à Votorantim - eu acho que não perguntei exatamente isso, posso ter passado por perto - mas a que se deve esse crescimento da Votorantim nesses anos todos?
R – Você perguntou alguma coisa a respeito já disso.
P/1 – Mas eu acho que não foi tão direto, não foi exatamente isso. Eu falei um pouco da diversidade de atividades da Votorantim, mas como que o senhor vê isso nesses anos que o senhor está dentro da Votorantim, como que o senhor olha, de uma pessoa que trabalha lá há tantos anos, que convive com Votorantim diariamente, esse crescimento dessa empresa, do conhecimento que o senhor tem das empresas no Brasil?
R – Pela dedicação dos próprios donos.
P/1 – Donos. O senhor acha que é essa a diferença? O diferencial de outras.
R – Você pega o falecido Matarazzo, aí. Matarazzo não é aquele primeiro número um das empresas?
P/1 – Verdade.
R – Faleceu...
P/1 – Acabou.
R – Acabou. Faleceu o doutor José, continuou.
P/1 – Com o porte da Votorantim, nós não temos, acho, outra empresa, outro grupo no Brasil?
R – Eu acho que como um grupo nacional assim, privado realmente, porque eles não tem... São dos quatro irmãos, eu acho que ainda continua sendo o maior grupo nacional. Tem investimento fora, fábricas fora. Enfim, vão crescer bastante. Não foi há cinco anos atrás, mas foi evoluindo pelo desempenho deles, da própria família, dos dirigentes, em termos profissionais que eles pegam, também. Logicamente que a maioria não faz verão, evidente. Não é só eles falarem e melhora a retaguarda. Se não é um cara que não se dedica, não faz as coisas, também não conseguiriam alcançar onde estão. Então, pelo desempenho deles, como também pelos profissionais que eles admitem, que também colaboraram em estar nesse império que é a Votorantim.
P/1 – Não só pelo sucesso, mas eu acho que também um pouco pelo respeito que eles têm com os funcionários.
R – Certo.
P/1 – Eu acredito que se não tivesse, o senhor não estaria lá há 50 anos.
R – Com certeza.
P/2 – Senhor Antônio, o senhor pensou em algum instante em se aposentar ou mesmo deixar a Votorantim? Houve algum momento dessa reflexão?
R – Não. (risos)
P/2 – O senhor pensa em se aposentar?
R – Eu?
P/2 – É.
R – Olha, eu estou aposentado já... Desde 1983.
P/2 – O senhor foi, automaticamente recolocado no Grupo?
R – Me aposentei muito bem.
P/1 – O senhor não chegou nem a tirar umas férias?
R – Eu tiro de vez em quando, mas você tirar férias... Eu não sei muito ficar sem fazer nada. É muito... Não dá para mim. Eu tive há seis anos atrás, seis ou sete, eu tive um enfarte. Eu cheguei a enfartar, tudo mais. Não cheguei a colocar... Bom, eu fiquei lá, em julho, e foi uma temporada normal depois do ocorrido, fiquei uma temporada em casa. Eu estava ficando angustiado. Você via uma televisão, você lia um livro, via um filme, não estava legal, não estava. Estava ali afoito de ficar sem fazer nada. Voltei ao médico para aquelas consultas normais depois do evento, e: “Tudo bem, mas se você quiser uns 15, 20 dias, pode ficar mais em casa ou...”. “Doutor, olha doutor, então o senhor faz um favor para mim: o senhor me dá um atestado me liberando já hoje para trabalhar porque senão vai me dar um outro enfarte ficar lá em casa sem fazer nada”. Então, o que eu disse para você: eu nunca pensei em parar. Tenho que me acostumar com a idéia, tá? Porque ninguém é eterno em qualquer setor, em qualquer área, em qualquer atuação que ele tenha. Normalmente estes mais antigos, no caso eu e outros mais que já saíram. Então, você precisa começar amadurecer essa idéia de que, de uma hora para outra, você vai ter que sair. É a sequência normal das coisas. Tem que dar lugar aos outros mais jovens, talvez com outras idéias. Enfim, isso aí é normal. Mas você precisa realmente amadurecer essa idéia, que amanhã ou depois, seja em breve ou não, sei lá o quê, que você também, vai chegar a sua hora de sair. Isso é normal. Então você precisa, dentro da sua cabeça, saber que daqui a pouco, médio ou muito tempo, você vai ter que também dar lugar ao outro com... Então, eu já estou pensando nessa... Não que eu queira. “Seu Antônio, muito obrigado pelo seu serviço, mas vai descansar”.
P/1 – Estou vendo que o senhor não quer sair mesmo. Não quer sair.
R - Não, eu não saio. Só saio se eles me mandarem: “Seu Antônio, tchau”. Eu digo para você: eu sinto prazer de estar lá dentro. Sinto mesmo.
P/2 – Senhor Antônio, a minha pergunta é no sentido para que o senhor faça uma pequena avaliação: o senhor acha que um jovem hoje com uma história parecida com a do senhor teria as mesmas chances de crescimento dentro do Grupo Votorantim que o senhor teve?
R – Jovem como eu dentro... Desculpa estar perguntando outra vez.
P/2 – Por exemplo, um jovem hoje, que tem uma história parecida com a do senhor, quando entrou no Grupo Votorantim, o senhor acha que ele teria as mesmas oportunidades de crescimento que o senhor teve?
R – Sim. Se ele fosse merecedor, fosse uma pessoa de confiança, trabalhadora e todos esses quesitos, com cem certeza. Eu estou há 50 anos no Grupo. Tem mais lá. Tem um rapaz que saiu há pouco tempo, também estava com 70 anos, tinha 56, 57 de Grupo. Tem um que trabalha na ativa ainda e está com 62 anos de Grupo. Então, por quê? Porque a confiabilidade, o esforço da pessoa, a dedicação, tudo mais. Todos esses quesitos, está entrando agora, tem todos esses quesitos, logicamente ele vai ser reconhecido e ser mantido num período desse, a não ser que não queira. Pessoa está, tem essa trajetória, fica todo esse tempo, mas depois ele: “Ah, vou experimentar outra coisa. Não quero mais laranja, eu quero limão”. Sei lá, faz parte da pessoa querer mudar, enfrentar novos horizontes, novos desafios. Isso é comum, mas teria a mesma chance que tive não só eu, como outros também que estão aí há muito tempo dentro do Grupo.
P/1 – Senhor Antônio, como o senhor vê a importância do Grupo Votorantim no crescimento econômico do país?
R – É muito expressivo. Bastante expressivo pelos empregados que mantém, que dá emprego a esse mundaréu de gente que eles têm. São não sei quantas empresas que eles têm, então dá emprego a muita gente, não só diretamente, como indiretamente. Na parte do social também, que eles também fazem muitas coisas. Então, a importância, atribuo bastante significativa do Grupo em si, nessa particularidade.
P/2 – Senhor Antônio, tem alguma história que tenha marcado bastante o senhor nesses 50 anos de Votorantim? Pode ser uma história que o senhor acha que seria interessante estar contando para gente, algum fato.
R – Que tenha marcado?
P/2 – Que tenha marcado o senhor na trajetória profissional ou na trajetória do Grupo?
R – Não. Que eu me lembre assim, não.
P/1 – Senhor Antônio, como o senhor vê a importância desse Projeto 85 Anos do Grupo Votorantim?
R – Olha, eu não me inteirei desse projeto 85 anos, então não posso estar te opinando, tá? Porque, como eu digo para você, eu faço as coisas lá, acabo deixando de participar de alguma coisa, desse próprio 85 Anos, em estar ali no dia-a-dia. Então, realmente não atentei para esse Projeto 85 Anos, como eu já devia… Pelo meu tempo de casa, devia ter tido, como diz, tomado mais conhecimento desse projeto deles. Mas está prometido.
P/1 – O Projeto 85 Anos, o resgate desses 85 anos que os funcionários que estão trabalhando e que estejam fora, ex-funcionários, que são importantes para o Grupo, que conte essa história da Votorantim. Que ajude a acrescentar esse resgate dessa memória, que ela não se perca, que ela não desapareça. Então, por isso que o senhor veio hoje aqui. Foi uma das pessoas que foi indicada, que foi lembrada pelo Grupo, como uma pessoa importante, para estar vindo dar o seu depoimento dos 85 anos, que está sendo completado esse ano.
R – Certo.
P/1 – Como que o senhor se sente em estar aqui dando o seu depoimento?
R – Me sinto, assim, bastante lisonjeado de terem me convidado e me indicado para que viesse participar desse evento, dessa entrevista. E quero crer que tenha atendido aí, talvez meio incompleto, porque muitas vezes a pessoa acaba as coisas esvoaçando nas respostas como deveriam ser.
P/1 – Não, não, foi bom.
R – Mas falei para vocês o seguinte: que muitas vezes, embora eu esteja no Banco, a minha atuação não me permite falar de economia, já ia falar para vocês bobagem. Então me limito a não falar nada porque não é... Não sei, não acompanho, não sei.
P/1 – Alguma coisa que nós não perguntamos que o senhor gostaria de falar?
R – Vocês perguntaram tudo. (risos)
P/2 – O senhor gostaria de deixar alguma mensagem para as Indústrias Votorantim, para o Grupo Votorantim, para os funcionários da Votorantim?
R – Não sou muito bom em...
P/1 – Não, sinta-se à vontade. Se o senhor não quiser dizer nada...
R – Não, eu já penso em encontrar as coisas certas para falar para... Bom, para o Grupo, para os acionistas, para os dirigentes, que eles continuem com essa dinâmica que eles têm, todos eles, a família de um modo geral, para continuar que esse Grupo venha a ser, cada vez melhor, cada vez mais destacado. Que vai ser por causa do quê? Por causa do desempenho deles, já falei isso há pouco atrás, e pelo desempenho dos funcionários, das oportunidades que eles dão, que o Grupo dá aos funcionários. E para os funcionários, que eles também se empenhem nessa continuidade que eles estão dando até então, que isso aí reflete, não só para o Grupo como para eles também, que tudo que eles estão desempenhando pelo Grupo, isso daí de uma certa forma reverte para eles financeiramente, conhecimento, tudo mais. Então, a mensagem que eu daria para os funcionários seria essa daí: se dediquem ao que estão fazendo, ao Grupo, isso aí reverte para eles financeiramente, com bagagem de conhecimento.
P/1 – Então, senhor Antônio, o Museu da Pessoa agradece por ter vindo...
R – Faço votos que eu tenha ido de encontro ao que vocês pensavam de mim, tá? Que tenha sido uma entrevista... Eu não sou muito de falar. Então eu estou falando até demais. Sou mais quieto do que falam. Mas eu quero crer que tenha sido de bom aproveitamento. Lógico, com os cortes necessários que têm que ser feitos.
P/1 – O Museu agradece e a Votorantim agradece. Sabemos o quanto o senhor é ocupado...
R – E eu sou agradecido também em terem me convidado para fazer depoimento.
P/1 – Obrigada.
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