Alessandra: a rebeldia
O início de meu relacionamento com Alessandra, mais do que em outros casos, foi marcado por uma profunda reflexão relativa à minha capacidade de suportar o compartilhamento do sofrimento alheio, em sua dimensão física e, consequentemente, existencial. Meus questionamentos diziam respeito às possibilidades de manter-me presente, sem dissociações defensivas, posição necessária para a oferta do holding, pois Alessandra encontrava-se severamente doente de aids.
Na verdade, há algum tempo começara a delinear-se no serviço a necessidade de acompanhamento e cuidados psicológicos de maneira mais sistematizada para as crianças soropositivas para o HIV matriculadas em nossa referência, o Ambulatório de Moléstias Infecciosas de Santo André. A equipe começara a demandar intervenções focadas nos aspectos socioemocionais e algumas famílias já haviam procurado assistência psicológica que ficara ao encargo de minha colega de equipe de mesma formação, Lilian Sabião Bastidas.
Acompanhando pacientes adultos em entrevistas individuais quando demandavam, atuando no plantão de acolhimento e dando andamento à oficina psicoterapêutica de velas ornamentais, já pudera, naquela altura do trabalho, dar-me conta do sofrimento desses pacientes. Temia sucumbir ao sofrimento dos pequenos, caso tivesse que assisti-los. Por outro lado, procurava aceitar a ideia de que não conseguiria manter-me afastada por muito tempo do envolvimento com as crianças e jovens, pois nada garantia, em termos da equipe, que eu me ocupasse apenas dos adultos.
Adiei o quanto julguei necessário e o quanto me foi possível diante do cerco que se fechava, o contato com as crianças soropositivas, pacientes, a meu ver, potencialmente mais capazes de fazer emergir no clínico dolorosos sentimentos que eu temia não tolerar. Meus temores eram alimentados pela ideia de que à criança cabe, estritamente, a condição de vítima diante da soropositividade materna,...
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O início de meu relacionamento com Alessandra, mais do que em outros casos, foi marcado por uma profunda reflexão relativa à minha capacidade de suportar o compartilhamento do sofrimento alheio, em sua dimensão física e, consequentemente, existencial. Meus questionamentos diziam respeito às possibilidades de manter-me presente, sem dissociações defensivas, posição necessária para a oferta do holding, pois Alessandra encontrava-se severamente doente de aids.
Na verdade, há algum tempo começara a delinear-se no serviço a necessidade de acompanhamento e cuidados psicológicos de maneira mais sistematizada para as crianças soropositivas para o HIV matriculadas em nossa referência, o Ambulatório de Moléstias Infecciosas de Santo André. A equipe começara a demandar intervenções focadas nos aspectos socioemocionais e algumas famílias já haviam procurado assistência psicológica que ficara ao encargo de minha colega de equipe de mesma formação, Lilian Sabião Bastidas.
Acompanhando pacientes adultos em entrevistas individuais quando demandavam, atuando no plantão de acolhimento e dando andamento à oficina psicoterapêutica de velas ornamentais, já pudera, naquela altura do trabalho, dar-me conta do sofrimento desses pacientes. Temia sucumbir ao sofrimento dos pequenos, caso tivesse que assisti-los. Por outro lado, procurava aceitar a ideia de que não conseguiria manter-me afastada por muito tempo do envolvimento com as crianças e jovens, pois nada garantia, em termos da equipe, que eu me ocupasse apenas dos adultos.
Adiei o quanto julguei necessário e o quanto me foi possível diante do cerco que se fechava, o contato com as crianças soropositivas, pacientes, a meu ver, potencialmente mais capazes de fazer emergir no clínico dolorosos sentimentos que eu temia não tolerar. Meus temores eram alimentados pela ideia de que à criança cabe, estritamente, a condição de vítima diante da soropositividade materna, não havendo a menor possibilidade de atribuir-lhe implicação nos acontecimentos que resultaram em sua contaminação. Para ela não houve sexo desprotegido nem comportamentos transgressivos em relação ao uso de drogas, condutas sobre as quais a responsabilização pessoal acaba por favorecer a elaboração no caminho da aceitação da doença. Para a criança vítima de transmissão vertical a sorte fora lançada desde sempre, sua história começara ali, não há passado pessoal que justifique o dano à saúde. É como herança fatídica que inescapavelmente reconhecerá sua soropositividade. Imbuída de tais pensamentos participei de um primeiro encontro organizado por minha colega, Lilian, que começara a ocupar-se das crianças.
Por ocasião da comemoração do Dia das Crianças, levamos um grupo de 5 delas para lanchar na rede McDonald´s, passeio extremamente demandado por elas. Todas as crianças presentes, que se encontravam na faixa etária dos 10 anos, já eram conhecedoras de sua condição especial de saúde.
Lamentavelmente não posso afirmar que tivemos uma tarde feliz! Inicialmente tímidos, os jovens lentamente dirigiram-se para os brinquedos especialmente dispostos pela lanchonete devido a ocasião e efetivaram alguma atividade de maneira muito contida, envolvendo-se pouco uns com os outros. A impressão que tínhamos é que nosso encontro também estava, de certa forma, “contaminado” pelo vírus HIV, na medida em que este era, sabidamente por eles, o denominador comum do grupo, emprestando um caráter triste para nossa reunião.
Inaugurei desta forma meu convívio com os pré-adolescentes soropositivos e demorei alguns dias para elaborar meu impacto emocional, claramente composto de fortes sentimentos compassivos.
Retomei contato com Alessandra, que conhecera naquele encontro, quando novamente a psicóloga Lílian solicitou-me que a acompanhasse em uma visita que faria à menina, internada já há 15 dias no Hospital Emílio Ribas. No trajeto percorrido entre as cidades de Santo André e São Paulo, a colega dividiu comigo o que sabia a respeito da vida da garota.
Alessandra era órfã de pai e mãe, ambos falecidos de aids quando ela era ainda um bebê. O casal fizera uso de drogas injetáveis, conduta que, provavelmente os levara à contaminação. O pai de Alessandra faleceu primeiro e encontrava-se detido pela justiça na ocasião, a mãe sobreviveu ao pai por alguns meses. A dificuldade de aceitação da morte do esposo e de seu próprio diagnóstico conduziu a mãe da garota a condutas temerárias de recusa ao tratamento médico para si e para a menina. Em função da emergência de defesas patológicas frente à assustadora realidade, chegou a amamentar a filha à revelia de toda orientação recebida a respeito da contraindicação mandatória do aleitamento.
Após a morte da mãe, Alessandra já sabidamente soropositiva, passou à guarda da avó paterna. Esta senhora tornou-se também, oficialmente, responsável por um adolescente, filho mais velho do casal, soronegativo, porém, psiquiatricamente diagnosticado como esquizofrênico e em uso de medicação de controle. Separada havia muitos anos do marido, a avó contava com o auxílio das tias maternas da menina que se incumbiam de levá-la às consultas médicas, coletas de exames e submissão a todo e qualquer procedimento médico que se fizesse necessário, tarefa que cumpriam com grande devoção.
Lilian completou suas informações contando-me que Alessandra, embora muito bem cuidada pelos familiares que seguiam à risca as orientações médicas, não estava respondendo bem ao tratamento. Evoluíra pouco em desenvolvimento físico e encontrava-se bastante emagrecida.
Sua competência imunológica encontrava-se bastante reduzida e a doença evoluía impiedosamente. Encontrava-se internada devido a um quadro febril importante, de causa, até então, desconhecida e resistente a qualquer arrefecimento.
Ainda que após esta exposição encontrasse-me de sobreaviso para a visita, a cena que assistimos ao entrar no quarto do hospital tornou nossos corações apertados, como pudemos compartilhar em momento posterior. Alessandra que se encontrava deitada e coberta, acompanhada da avó e de uma tia, ambas muito ansiosas e apreensivas pela ausência de diagnóstico do quadro febril, mostrou-se apática e indiferente ao contato. Reagiu como se não se importasse com a presença de sua psicoterapeuta, a Lilian, e não emitiu sinais que evidenciassem reconhecimento de minha pessoa. As duas mulheres, após colocarem Alessandra sentada na cama para nos receber, ocuparam o silêncio agradecendo nossa presença e expondo às expectativas relacionadas à elucidação daquele quadro infeccioso, o que levaria a efetiva conduta médica para tratá-lo.
Enquanto estávamos no quarto duas jovens estudantes de psicologia pediram permissão para conversar com a paciente. De forma lúdica, colocaram a cabeça de dois bonecos do tipo fantoches na porta, que se apresentaram como os interlocutores de Alessandra. A tia, após obter o consentimento de Alessandra para que os bonecos entrassem no quarto, consentimento este sinalizado apenas com um gesto afirmativo de cabeça, tentou animar a menina a tornar-se responsiva às conversas e brincadeiras propostas. A senhora pontuava que os bonecos já eram velhos conhecidos e mostrou-se festiva em relação a eles, procurando incentivar a garota. Sua psicoterapeuta e eu adotamos o mesmo comportamento. Todos estes esforços de nada adiantaram e Alessandra, desanimadoramente, pediu que os bonecos se retirassem, pois queria voltar a deitar-se, alegando cansaço em voz muito baixa. Lilian e eu também logo nos retiramos, respeitando e permitindo o descanso da menina.
Nossa desalentadora visita não se encerrou antes da frustrada espera pela psicóloga responsável pelo setor hospitalar, com quem desejávamos fazer contato para saber se apatia de Alessandra se manifestava como uma constante ou era apenas pontual. Na verdade, além da preocupação com sua condição física, tornamo-nos extremamente preocupadas com o quadro emocional da menina e procurávamos solicitar atenção especial. Esperamos em vão, a moça ocupada com outros pacientes, não pode nos receber. No caminho de volta nos encontrávamos muito tristes e cogitamos um prognóstico desfavorável para a situação da jovem paciente.
Esta experiência, bem como o impacto do primeiro encontro com o pequeno grupo de crianças soropositivas, do qual, claramente, Alessandra era a mais doente, levou-me ao questionamento a respeito de minha capacidade emocional de suportar os fortes sentimentos presentes nesta clínica.
Seria necessário permitir que os acontecimentos se dessem, permanecer maximamente presente, manter minha sensibilidade em plano de conduta acessível e enfrentar toda uma prática clínica, certamente, composta de dolorosos sentimentos, inevitavelmente vivenciados compassivamente na medida em que não lançasse mão de defesas dissociativas.
Naquela ocasião fui ajudada pela sorte. Alessandra teve a elucidação de seu quadro clínico. Tratava-se de um problema odontológico e a extração de um dente sanou seu sofrimento físico. Após a alta hospitalar, ainda debilitada pela baixa imunidade, que justificava a grave infecção decorrente de um simples problema dentário, passou a usar, além dos antiretrovirais, medicação especial com objetivo de evitar novas infecções oportunistas.
De volta ao acompanhamento psicoterápico, uma nova intercorrência teve lugar em sua vida. Lilian, que havia completado a tarefa de revelação de diagnóstica, entrara em licença médica em função da evolução de risco de uma gestação recém confirmada. Minha colega psicóloga apenas conseguiu comunicar seus pequenos pacientes que teriam a continuidade do atendimento comigo.
A acalentada ideia de constituir um grupo de pacientes pré-adolescentes para iniciar uma oficina psicoterapêutica ao modelo das oficinas Ser e Fazer do IPUSP, onde eu dava curso ao doutoramento, foi então precipitada. Esta se apresentava como alternativa para o acolhimento das três jovens, em seguimento com Lilian, pelas quais eu teria que me responsabilizar. Unindo-as a uma quarta garota com quem havia iniciado contato com finalidade de oferecer-lhe a participação na oficina, até então apenas um projeto, coloquei meus planos em andamento e assim nasceu a oficina de confecção de bijuterias, batizada “Oficina de Pulseirinhas”.
O início da relação mais íntima com Alessandra não foi nada fácil. Tornei-me a herdeira do ressentimento originalmente dirigido à primeira terapeuta pelo afastamento e, provavelmente, também dirigido aos seus pais, cujas mortes, possivelmente vivenciara como abandono.
Nos encontros da oficina psicoterapêutica, preparada especialmente para as garotas, eu era rechaçada o tempo todo, de diferentes maneiras por Alessandra. A garota não se referia a mim pelo meu nome, Vera. Antes me criou um apelido que julgava ofensivo, “Véia”. Ria-se de sua criação e observava para as outras meninas que não usava o codinome apenas porque evocava meu nome, mas por ser verdade que eu era uma velha. Não dava muita atenção a meu comando, muitas vezes necessário para dirigir a atividade. Muito inteligente, fazia piadas de mau gosto envolvendo minha pessoa. Exigia maior atenção que as outras e desejava fazer um número maior de peças de bijuterias com minha ajuda exclusiva para si. Dizia não ter paciência para “...ficar colocando miçanguinhas no fio...”, porém, nunca deixava de comparecer ao encontro clínico. Quando eu me recusava a atender seus pedidos, devido ao receio de que as outras se sentissem preteridas, ficava muito brava. As outras meninas achavam estranho seu comportamento e não a compreendiam.
Certa vez Alessandra deixou de lado o material da oficina de bijuterias e pediu para se ocupar da fabricação de velas com o material existente no mesmo consultório-atelier, destinado a oficina dos adultos. Monitorando-a em relação aos perigos do manejo do fogão, de uso necessário para derreter a parafina, permiti ingenuamente que se envolvesse com esta atividade. Acredito, porém que, antes de fazer velas, seu objetivo era o de me colocar descompensada, pois, incentivando uma das outras garotas, ambas fizeram uma sujeira enorme com a parafina. Rapidamente derrubaram parafina derretida por todo lugar, chão e nas próprias roupas. O trabalho que tive para proceder à limpeza colocou-me de fato, enfurecida. Tive que tirar-lhes as calças jeans e tênis para raspar toda aquela parafina. No final do encontro pronunciei enfaticamente que:
Vera: ...nunca mais farão velas, enquanto não souberem se comportar!
Senti-me muito desconfortável após aquele encontro e não deixei de pensar que as outras duas garotas, que apenas observaram a bagunça, haviam também sido submetidas à minha repreensão.
Logo após aquele incidente disse ao grupo todo que acreditava que Alessandra agia desta forma porque sentia raiva por ter sido separada de sua psicoterapeuta, assim como também de seus pais. Disse-lhes que pretendia continuar trabalhando com elas e acrescentei que esperava que nada me acontecesse para interromper nosso trabalho, que afinal não estava nos meus planos afastar-me delas. Acrescentei que, no entanto, não sabia se estava nos planos da vida.
Aos poucos, ainda mantendo as piadas e referindo-se a mim por “Véia”, Alessandra começou a mostrar seu lado espirituoso e inteligente de forma mais positiva. Imitava o pato Donald e outros personagens de desenhos de maneira a que era impossível o grupo não “cair” na risada. Fazia inúmeros “barulhinhos” com a boca até conseguir o riso solto de todas nós. Muitas vezes pedíamos suas imitações com as quais nos divertíamos.
Seu comportamento referente à abordagem da temática do HIV era de reserva e contenção, assim como das outras jovens, porém com nuances mais agressivas. Vale ressaltar que sempre respeitei o movimento das garotas não tentando aproximações que pudessem ganhar caráter invasivo. Habitamos, no entanto, um ambulatório de moléstias infectocontagiosas e encontra-se material educativo, permanentemente, presente nas salas de atendimento. Assim como procurava não as invadir com tal temática, por outro lado, não buscava ocultá-la. Todas eram conhecedoras de sua condição especial de saúde e sabiam que o grupo se encontrava reunido em função de terem o mesmo diagnóstico.
Em determinada ocasião, as garotas chegaram para o encontro e se envolveram com um álbum de figurinhas que alguma delas havia trazido. Não estavam entusiasmadas para as bijuterias e não sabiam o que queriam fazer... Enquanto folheavam o álbum referente a um programa, uma espécie de novelinha para crianças chamada “Alegrifes e Rabujos”, na qual existiam personagens que eram bruxas, uma das meninas pegou em cima de um armário um folder que divulgava um evento do dia 1 de dezembro, dia mundial de combate à aids, pedindo informações a respeito. Alessandra imediatamente soltou o seguinte comentário:
Alessandra: Que coisa mais chata, detesto isto e falar disto...
Vera: O que foi Alessandra?
Alessandra: Nada não, é esta bruxa aqui, eu estava dizendo que detesto ela...
Respeitando seus movimentos defensivos e sobrevivendo a seus ataques, lentamente a garota foi modificando seu comportamento. Já não se referia a mim com “Véia” e deixou de lado sua acidez.
Quando o bebê de Lilian nasceu comuniquei-lhes o fato alegremente. Minha conduta de compartilhar o acontecimento fez com que Alessandra procurasse-me no final do encontro. Buscando estar a sós comigo, precipitou-se a me pedir formalmente que não queria mais mudar de psicóloga!
Garanti-lhe a manutenção de nosso vínculo e a continuação de nosso trabalho. Seu alívio foi perceptível, perpetuando o avanço no arrefecimento da agressividade.
Um fato de outra ordem, porém, preocupava-me. Alessandra permanecia sendo a mais debilitada das garotas do grupo. Crescera pouco, estava emagrecida e com os cabelos muito ralos e não tivera ainda a suspensão da Gamaglobulina, tomada mensalmente. A ideia de que poderíamos vir a perdê-la se fosse alcançada por uma evolução desfavorável da doença não me saia do pensamento. Além dessa preocupação e lamento por sua situação, pensava nos desdobramentos emocionais que o agravamento de sua saúde poderia ter para as outras garotas, estas estáveis do ponto de vista da saúde física.
Entretanto, felizmente, Alessandra foi convidada a participar de um protocolo de pesquisa que reunia de maneira inédita alguns antiretrovirais. Tal conduta foi adotada por sua infectologista na medida em que o esquema em uso se mostrava falido para a contenção da replicação viral, o que justificava seu debilitamento.
A própria garota comunicou-me a respeito do acontecido, demonstrando perfeita compreensão relativa à seriedade que envolvia a decisão de sua família, chamada em reunião com uma junta médica, para a concordância da adoção dos novos procedimentos. Fazendo uso da nova combinação de drogas, em alguns poucos meses a garota respondeu de forma muito positiva ao novo tratamento. Ganhou altura e peso e tomou corpo de adolescente, surgindo assim os primeiros sinais das transformações da puberdade, inibidas até então pelo comprometimento de seu desenvolvimento em função da doença. Logo em seguida contou-me alegremente que não precisava mais tomar a “Gaba” .
Nossos encontros psicoterapêuticos em grupo, contextualizados pela “Oficina de Pulseirinhas”, seguiram até que se esvaíram no tempo e espaço ocupados pelos novos compromissos assumidos pelas garotas, que já haviam se tornado mocinhas de aproximadamente 13 anos. Antes de deixarmos de nos ver regularmente, chegamos, ainda em grupo, a poder recordar o difícil temperamento de Alessandra nos tempos passados do início da oficina.
Um dia a avó de Alessandra me telefonou para dizer que gostaria que os encontros fossem retomados. Desejava que eu operasse minha influência sobre a neta. Contou-me que desde que começara a jogar no time de futebol feminino da escola, sendo uma das jogadoras mais requisitas, Alessandra só pensava nos campeonatos e corria o risco de perder o ano escolar por falta de dedicação aos estudos!
Não pude deixar de pensar que seu temperamento rebelde pudera ser dirigido para interesses mais saudáveis, tanto do ponto de vista físico como emocional. Neste novo período de vida, as sombrias ameaças da doença, em momento de trégua, lhe deixaram em paz.
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