P/1 – Juleanderson, nós vamos começar a entrevista. Além de mim, Márcia Trezza, o Édipo Ferreira também vai fazer algumas perguntas para você no decorrer da entrevista.
R – Uhum.
P/1 – Para começar, nós vamos perguntar desde a sua infância, até os dias de hoje... sobre várias coisas, mas só da sua vida, tá?
R – Uhum.
P/1 – Então para começar, qual o seu nome completo?
R – Meu nome completo é Juleanderson Ribeiro dos Santos.
P/1 – Você tem algum apelido?
R – Leandro.
P/1 – Leandro?
R – Isso.
P/1 – E como é que te deram esse apelido?
R – Minha mãe. Minha mãe não gostou muito do meu nome, aí colocou Leandro para ficar mais fácil.
P/1 – E quem escolheu o seu nome Juleanderson?
R – Foi o meu pai, ele foi me registrar e colocou esse nome.
P/1 – Ele contou para você ou para a sua mãe porque ele escolheu esse nome?
R – Ah, não. Ele somente escolheu, gostou e ficou assim.
P/1 – E ele te chama como?
R – Ele me chama de Leandro também.
P/1 – Depois que sua mãe começou a te chamar de Leandro, você sabe se ele ficou bravo? Você sabe de alguma história dessas?
R – Não, ele escolheu esse nome porque ele trabalhava no Rio, aí ele via muito cinema... e ele viu esse nome, gostou e colocou em mim.
P/1 – Mas quando sua mãe começou a chamar você de Leandro, você sabe se ele achou ruim?
R – Ah, não, acho que não.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, mais dois irmãos.
P/1 – Como eles chamam?
R – Luan e Bruno.
P/1 – Quando você nasceu Leandro?
R – 29 de maio de 1986.
P/1 – Os seus irmãos são mais velhos ou mais novos?
R – Mais novos, eu sou o mais velho da família.
P/1 – Que idade eles têm?
R – Um tem 22 e o outro tem 17.
P/1 – Leandro, qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R – O nome do meu pai é Francisco Osório dos Santos e, da...
Continuar leituraP/1 – Juleanderson, nós vamos começar a entrevista. Além de mim, Márcia Trezza, o Édipo Ferreira também vai fazer algumas perguntas para você no decorrer da entrevista.
R – Uhum.
P/1 – Para começar, nós vamos perguntar desde a sua infância, até os dias de hoje... sobre várias coisas, mas só da sua vida, tá?
R – Uhum.
P/1 – Então para começar, qual o seu nome completo?
R – Meu nome completo é Juleanderson Ribeiro dos Santos.
P/1 – Você tem algum apelido?
R – Leandro.
P/1 – Leandro?
R – Isso.
P/1 – E como é que te deram esse apelido?
R – Minha mãe. Minha mãe não gostou muito do meu nome, aí colocou Leandro para ficar mais fácil.
P/1 – E quem escolheu o seu nome Juleanderson?
R – Foi o meu pai, ele foi me registrar e colocou esse nome.
P/1 – Ele contou para você ou para a sua mãe porque ele escolheu esse nome?
R – Ah, não. Ele somente escolheu, gostou e ficou assim.
P/1 – E ele te chama como?
R – Ele me chama de Leandro também.
P/1 – Depois que sua mãe começou a te chamar de Leandro, você sabe se ele ficou bravo? Você sabe de alguma história dessas?
R – Não, ele escolheu esse nome porque ele trabalhava no Rio, aí ele via muito cinema... e ele viu esse nome, gostou e colocou em mim.
P/1 – Mas quando sua mãe começou a chamar você de Leandro, você sabe se ele achou ruim?
R – Ah, não, acho que não.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, mais dois irmãos.
P/1 – Como eles chamam?
R – Luan e Bruno.
P/1 – Quando você nasceu Leandro?
R – 29 de maio de 1986.
P/1 – Os seus irmãos são mais velhos ou mais novos?
R – Mais novos, eu sou o mais velho da família.
P/1 – Que idade eles têm?
R – Um tem 22 e o outro tem 17.
P/1 – Leandro, qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R – O nome do meu pai é Francisco Osório dos Santos e, da minha mãe, Maria da Penha Ribeiro dos Santos.
P/1 – Qual a atividade do seu pai?
R – Pescador.
P/1 – Sempre foi pescador?
R – Sempre foi pescador.
P/1 – E sua mãe?
R – Dona de casa, né, sempre foi dona de casa.
P/1 – Ela, em algum momento da vida, também foi pescadora?
R – Não.
P/1 – Nem marisqueira.
R – Nem marisqueira.
P/1 – E seus avós, dos dois lados, eles são vivos?
R – São vivos.
P/1 – Qual a atividade dos seus avós e das suas avós?
R – Meus avós, homens, um que é o pai da minha mãe, trabalhava na parte rural, na roça. E o meu avô por parte de pai, também era pescador, é aposentado.
P/1 – E suas avós?
R – Minhas avós sempre foram dona de casa.
P/1 – As duas?
R – As duas.
P/1 – Alguma das duas trabalhou na roça?
R – Todas elas trabalharam na roça também antigamente.
P/1 – O que é que elas contam, assim, se é que elas contaram alguma coisa para você, do trabalho da roça? As suas avós.
R – Um trabalho sofrido na roça, muito pesado... trabalhava no café, na plantação de mandioca, fazendo farinha. Um serviço pesado, né.
P/1 – Seu avô, que trabalhava na roça, plantava café?
R – Café e mandioca para fazer farinha.
P/1 – Onde era? Aqui mesmo?
R – Aqui mesmo no Espírito Santo, aqui no nosso bairro.
P/1 – Os seus avós nasceram aqui em Itapemirim?
R – Todos eles em Itapemirim.
P/1 – E as suas avós, você falou que também trabalharam na roça?
R – Todas elas também.
P/1 – Na mesma plantação?
R – Não, separado, mas do mesmo jeito.
P/1 – E elas contam se vendiam as coisas que plantavam?
R – Vendiam, eles viviam disso. Aí os filhos foram crescendo, casando e tomando um rumo para o lado da pesca. Aí acabaram com isso e vieram para cá. Morávamos na roça, viemos morar no litoral e agora aposentados.
P/1 – Você sabe da história porque eles contaram, sobre a ida pro litoral?
R – Bem, eles trabalhavam na roça, aí foram enfrentando dificuldades nas plantações... Como os filhos já não estavam ajudando mais e é preciso muita gente para ajudar com plantação, eles desistiram, acabaram vendendo tudo e comprando o terreno aqui, no litoral, passando a morar aqui, vivendo desse jeito.
P/1 – O seu avô que trabalha, agora se aposentou da pesca?
R – Uhum.
P/1 – Você lembra de histórias que ele contava para você?
R – Lembro, ele conta histórias até hoje.
P/1 – É?
R – Conta.
P/1 – E tem alguma que você gosta ou gostava muito de ouvir?
R – Sobre a pesca?
P/1 – Algumas histórias...
R – Ele gosta de contar histórias sobre quando ele morava na roça... Quando ele ainda pescava, mas ainda morava lá, aí depois ele passou a morar aqui definitivamente. Ele ia pra lá à noite, chegava do pesqueiro à noite, de madrugada, aí tinha que ir pra lá e sempre era muito escuro. Ele não tinha medo, mas as pessoas de antigamente contam muitas histórias sobre ver coisas, contam e é engraçado escutar, é legal escutar essas histórias, né.
P/1 – Você lembra de alguma para contar para a gente, que ele contava para vocês? Dessas viagens?
R – Ah, sim. Ele contava que via tocha de fogo, lobisomens, pessoas debaixo de árvores, vultos. Mas só que as pessoas da roça antigamente eram muito corajosas, aí eles não tinham medo, eles viam e deixavam lá quieto, né. O certo é não mexer, né, tem que passar direto. E essas histórias que eles contam são legais.
P/1 – Você quando era criança, tinha medo de alguma delas?
R – Ô, até hoje eu tenho.
P/1 – É?
R – Eu não sou muito corajoso não, mas se precisar a gente vai.
P/1 – Tem alguma lenda aqui nessa região?
R – Hum, que eu saiba não. Só na parte da roça mesmo.
P/1 – E você ainda vai para a roça?
R – Não, tem algumas pessoas da nossa família ainda que moram lá e trabalham com esse tipo de trabalho, no café, no cultivo da mandioca. Às vezes a gente vai lá para visitar, mas só para visita mesmo.
P/1 – Sei. E de quando você era criança, você lembra de alguma coisa marcante do seu pai e da sua mãe? De quando você era bem criancinha.
R – Ah, meu pai e minha mãe sempre se deram bem. Não foi uma vida muito boa, mas porque antigamente a gente tinha mais dificuldades. Hoje está melhor para viver, financeiramente... Mas foi boa a vida, graças a Deus.
P/1 – No que a vida era boa?
R – No sentido de.... Porque eu era criança, ainda não vivia nesse ramo da pesca, mas a gente tinha uma vida boa, eu estudava e nunca faltava nada, graças a Deus.
P/1 – Você sempre estudou, Leandro?
R – Eu comecei a estudar na idade certa, e estudei até os 15 anos, até a oitava série.
P/1 – Sei.
R – Aí dos 15 anos em diante eu comecei a pescar. Aí pescava e, quando dava, fazia o supletivo, mesmo trabalhando no mar. Aí foi desse jeito que continuei e terminei os estudos.
P/1 – Esse supletivo, como ele era? Você ia para o mar e mesmo assim conseguiu terminar os estudos?
R – Isso.
P/1 – Então como funcionava esse curso?
R – Eu comecei a pescar com 15 anos, fui trabalhar até os 17 anos, mais ou menos. Aí nos 17 anos, eu parei um pouco, um ano, e comecei a estudar. Aí foi quando fiz o supletivo e terminei. Não estava estudando e trabalhando ao mesmo tempo, eu parei para poder terminar os estudos.
P/1 – Entendi.
R – Aí depois eu retornei pro mar.
P/1 – Ah, tá. E como era, a primeira escola que você foi?
R – Primeira escola?
P/1 – É, você lembra como era?
R – Lembro.
P/1 – Conta um pouco como era essa escola. É aqui mesmo?
R – Aqui mesmo em Itapemirim, aqui no nosso lugar mesmo, é a escola Magdalena Pisa, que até hoje tem esse nome. Eu comecei a estudar ali desde a minha infância, desde criança até a terceira série. Aí em diante eu passei para outra escola que é aqui também, a Estadual Leopoldino Rocha, foi onde eu estudei até a oitava série.
P/1 – Você gostava da escola quando você era pequeno?
R – Ah, adorava. Gostava de estudar e, nunca reprovei, graças a Deus. Quando eu estudava, era bem empenhado, mas as dificuldades foram aumentando, aí tive que trabalhar e tive que abandonar.
P/1 – Você lembra de uma professora que gostou muito?
R – Professora?
P/1 – Ou professor, né, não sei.
R – É, professora eu lembro do primário.
P/1 – Ham.
R – Rute e Osana. Elas são muito legais, eram muito legais e são até hoje.
P/1 – Como elas eram, para você gostar mais delas?
R – Ah, a gente era novinho, elas tinham muito carinho pela gente, paciência... Porque tem professora que não tem muita paciência, mas elas eram muito dedicadas e a gente gostava muito delas.
P/1 – E você lembra quando começou a aprender a escrever? Você lembra como foi?
R – Ah, isso é meio difícil de lembrar, mas foi ali mesmo na segunda série, a gente já estava aprendendo alguma coisa.
P/1 – E você fazia muita arte na escola, muita bagunça?
R – Não, eu sempre fui quietinho. Eu era muito bagunceiro quando era muito pequeno mesmo.
P/1 – É? O que é que você aprontava?
R – Ah, eu acertava pedras nas crianças [risos], mordia, não é a toa que a minha Sheila até hoje é assim também.
P/1 – É mesmo?
R – É, mas é criança, né.
P/1 – E maior, você não aprontava?
R – Não.
P/1 – Aprontou uma coisa que até hoje ficou marcada?
R – Não, graças a Deus nunca briguei com ninguém.
P/1 – E as brincadeiras de quando você era criança? Quais eram?
R – As brincadeiras? Ih, eram tantas. A gente brincava de pique-esconde, de latinha, rodar o rodo no papel de leite.
P/1 – Como que é isso?
R – A gente pregava a sacola de leite em um litro de refrigerante, e em um cabo de vassoura.... Saía rolando na rua fazendo barulho, coisa de criança.
P/1 – Um saco de plástico?
R – Isso.
P/1 – Em uma coisa de refrigerante?
R – Isso.
P/1 – Em uma garrafa de refrigerante?
R – É, ia rolando no chão e o plástico ia rodando, ia fazendo barulho. É, criança gosta de barulho, né.
P/1 – Vocês mesmo quem faziam?
R – Nós mesmos.
P/1 – Você nasceu aqui já perto do mar?
R – Sempre. Eu nasci em Anchieta, em um município próximo, mas sempre morei aqui.
P/1 – É que você falou que nasceu em Anchieta, mas você disse que a sua família veio logo para Itapemirim, né?
R – Não, a gente sempre morou aqui. É porque aqui não tinha muito recurso, agora que tem, né, hospitais, essas coisas. Aí, lá que tinha e lá que faziam os partos das crianças.
P/1 – Ah, mas sua família então sempre...
R – Sempre foi daqui.
P/1 – É, isso que eu tinha entendido.
R – Uhum.
P/1 – Então você, desde criança, se lembra do mar?
R – Sim, desde criança, fui criado no mar.
P/1 – E como que é ser criado no mar? O que vocês faziam?
R – Ah, muito bom. Pequeno, assim, nossos pais não deixavam, é perigoso... mas a partir dos 13 anos em diante, a gente vinha, brincava muito no mar, nadava, remava botinho, assim que vai aprendendo, né.
P/1 – E teve alguma história no mar que ficou marcada também?
R – No mar?
P/1 – Você ou algum amigo seu? Algum susto ou alguma coisa diferente?
R – Sim. Já trabalhando?
P/1 – Ah, não, ainda brincando.
R – Ah, ainda brincando.
P/1 – Lá para os seus 12 anos? Você já ia brincar, né, para o mar?
R – Ah, não, sempre tranquilo.
P/1 – Nunca aconteceu nenhuma coisa que até hoje vocês lembram, com os amigos?
R – Não, graças a Deus não.
P/1 – E aprender a nadar, como era?
R – Ah, mas filho de pescador parece que já sabe nadar, já nasce sabendo nadar. Eu aprendi sozinho, não tenho lembranças de ninguém ter me ensinado não.
P/1 – Já nasce sabendo?
R – Parece que já. E os pais deixavam a gente brincar, né... a gente aprendeu devagarzinho e hoje a gente sabe, né?
P/1 – Leandro, se você fosse falar da sua mãe para alguém, como você falaria dela?
R – A minha mãe?
P/1 – É.
R – Ah, a minha mãe, uma mulher sempre muito dedicada aos filhos, até hoje é. Uma pessoa muito boa, sempre foi dona de casa, ela nunca trabalhou... mas em matéria de cuidar dos filhos ela sempre foi muito dedicada e uma ótima mãe.
P/1 – É? Ela era brava quando você era pequeno?
R – É, toda mãe tem os momentos de braveza, para corrigir os filhos nos momentos errados, mas sempre controlado.
P/1 – E do seu pai?
R – Meu pai.
P/1 – O que você poderia dizer dele? Principalmente quando você era mais novo, né, lembranças que você tem da convivência com ele.
R – Não, meu pai também sempre foi uma pessoa muito boa, nunca levantou a mão pra gente em momento nenhum, sem agressão ou bater na gente, foi sempre na conversa. Assim que a gente vivia, ele é uma pessoa muito boa também, uma pessoa tranquila, uma pessoa brava e uma pessoa muito boa também.
P/1 – E quando você começou a ficar mais velho, adolescente, qual a diversão dos adolescentes?
R – A diversão era vir para a praia, pular dos barcos, ficava brincando ali nadando. E como eu disse para você, a gente remava os botinhos, ficava no meio dos pescadores descarregando o barco. E assim era a nossa diversão.
P/1 – Era divertido ficar ali no meio dos pescadores?
R – Isso.
P/1 – O que vocês ficavam fazendo?
R – A gente ficava ali, ajudava a descarregar pra ganhar peixe, para levar para casa. E o divertimento era esse, não tinha coisa melhor.
P/1 – Você aprendia alguma coisa nesse momento?
R – Ah, aprende muita coisa. A partir daí que muitos vão trabalhar nessa vida, que vão gostando.
P/1 – O que você lembra que achava bacana? Que achava legal na vida do pescador? Que te impressionava?
R – O mar. O mar aberto, porque a gente imagina a embarcação navegando mar adentro e, aí a gente fica muito curioso para descobrir o que tem além da ilha, porque quando a gente ia, era só até a ilha.
P/1 – E como você começou a trabalhar na pesca?
R – Eu comecei com meu pai, ele era comandante de embarcação. Aí, eu tinha 15 anos e, tem que trabalhar, né, ele me fez esse chamado, contra minha mãe... mas a gente tinha que trabalhar porque era ele sozinho com dois irmãos. Aí eu ingressei na pesca junto com ele e até hoje, graças a Deus, não tenho nada a reclamar, essa vida é muito boa.
P/1 – Leandro, quando ele te chamou para ir para a pesca, qual foi sua reação?
R – Sempre quis ir. Sempre esperei esse chamado dele, quando ele chamou eu topei logo e fui.
P/1 – Antes de ir pro mar, você aprendeu alguma coisa?
R – Ah, aprendi sobre o mar?
P/1 – Sobre tudo que tem na pesca, que envolve a pesca.
R – Ah, sobre a pesca mesmo, eu não sabia de muita coisa não. Aí depois a gente foi aprendendo, vai aprendendo de pouco a pouco, que o mar é inesperado, a todo o momento. A gente aprende todo dia, é sempre desse jeito.
P/1 – Antes de ir para o mar, você já sabia alguma coisa de técnica, de como se pesca?
R – Ah, já. Algumas coisas eu já sabia por que os nossos pais também iam ensinando a gente, conforme a gente ia no barco junto com eles, aí eles vão ensinando e a gente tinha uma noção, assim.
P/1 – Que noção você já tinha quando foi?
R – Ah, de empatar um anzol, de como largar a linha para pegar o peixe, iscar a isca, essas coisas.
P/1 – Esse básico você já sabia?
R – Isso.
P/1 – E truques que você aprendeu, que só vocês sabem? Segredos de pescador?
R – Tem alguns pescadores que têm os truques deles e, eles não contam para ninguém, né, porque é segredo. Mas esse tipo de pescaria nossa, por exemplo, esse que eu trabalho no Espinhel, todo mundo conhece. Quem trabalha, né?
P/1 – Seu pai é o comandante da pesca?
R – Não, hoje meu pai não trabalha mais como comandante. Ele já parou de comandar barco tem uns cinco anos. Eu estava comandando há uns três meses e, agora também dei uma viagem no lugar do meu cunhado, que é o comandante do barco. Mas mais trabalho de tripulante mesmo na embarcação, no convés.
P/1 – E alguém da sua família tem um barco?
R – Tem, eu moro hoje com meu sogro, ele tem uma embarcação que é dele mesmo... e tem esse cunhado meu que também tem embarcação dele mesmo. Eu tenho tios que tem embarcações também. É, todo mundo tem.
P/1 – Você acha possível conseguir um barco, trabalhando como pescador? Ou é muito difícil?
R – É possível. É possível sim, tem como.
P/1 – Vocês vendem para quem o peixe?
R – A maioria dos compradores dos pescados são daqui mesmo, a Tune Brasil, Fish Brasil, daqui mesmo.
P/1 – Mas daqui você diz de Itapemirim?
R – Itapemirim.
P/1 – Vocês trazem o peixe para cá, ou vocês vendem em outro lugar?
R – Não, a gente trabalha lá no alto mar e a gente traz o pescado para cá, para nossa região, para vender aqui.
P/1 – Vocês ainda trabalham aqui, nessa região?
R – Eu trabalho.
P/1 – Você tem quantos anos agora?
R – Eu tenho 26.
P/1 – Então faz 11 anos que você trabalha como pescador?
R – Isso.
P/1 – E você percebeu alguma mudança nesse tempo, Leandro, em relação à pesca? Depois em relação a se ter peixe, não ter peixe? Se mudou alguma coisa.
R – Sim, quando eu comecei a pescar, não tinha tecnologia das embarcações. E hoje a tecnologia é maior, de aparelho, sondas. Aí facilita o pescado, a encontrar a pescaria. Hoje, devido à tecnologia, que todas as embarcações agora têm, ficou mais fácil.
P/1 – Nesses 11 anos, você percebeu mudanças na quantidade de peixes aqui na região?
R – Bem, no nosso setor aqui pesqueiro, tiveram mudanças devido a muitas embarcações que trabalham na área, no decorrer do ano, no ano inteiro. Mas nesse tipo de pescado que eu trabalho, que é o Espinhel, não tem muita dificuldade porque é o tempo que ajuda, a quadra de lua. Aí muitas das vezes você tem que acompanhar isso, as quadras de luas, para conseguir um pescado melhor.
P/1 – O que é quadra de lua?
R – A gente tem costume de trabalhar na lua escura. E já tem outros tipos de pesqueiro, o atum, o dourado, que já são melhores na lua cheia, na lua clara, que facilita mais o pesqueiro.
P/1 – E na forma que vocês pescam, é melhor a luz escura por quê?
R – A lua escura, porque é um peixe que sai para procurar a comida dele no escuro. E o nosso Espinhel é o que vai luz nos anzóis, aí o peixe se encanta com a luz, e a gente consegue pegar ele.
P/1 – Leandro, você já passou algum medo forte ou algum susto no mar?
R – Passei.
P/1 – Como foi?
R – Eu estava trabalhando no alto-mar, e nós estávamos amarrados atrás de uma embarcação ancorada. Essa embarcação tinha uma viração de tempo, estava pesada e virou, de madrugada, umas duas horas da madrugada. E estava todo mundo dormindo, que a gente pesca só de dia, né? Aí eu vi, junto com o meu pai, a embarcação já quase naufragando mesmo, e a gente conseguiu resgatar todo mundo... quando amanheceu o dia, colocamos a tripulação toda dentro da nossa embarcação e a levou para a terra. Foi um susto porque já tinha muita gente cansada, quase desistindo, a gente conseguiu resgatar todo mundo e trazer para a terra.
P/1 – Como vocês fizeram para resgatar?
R – Ah, a gente encostou perto da embarcação e eles vieram nadando para o lado do barco, a gente conseguiu pegar todo mundo e embarcar na nossa embarcação. Foi desse jeito, foi um susto de madrugada porque uma embarcação estava naufragando na nossa beira, eu particularmente nunca tinha visto, foi um susto.
P/1 – E com vocês, o barco de vocês, teve alguma coisa assim? Não desse jeito, mas...?
R – Não, graças a Deus. Tem vezes que a gente pega muito vento lá no mar, a gente fica um pouco assustado porque o mar fica muito agitado, aí você tem que saber manobrar a embarcação, para ondas altas não atingirem de cheio e quebrar a embarcação, prejudicando a viagem.
P/1 – Você aprendeu a dirigir barco desse tipo?
R – Já, desde criança. A gente aprende, é fácil, controlar um barco é fácil.
P/1 – Para fazer tudo isso que você acabou de falar?
R – Isso.
P/1 – Quando tem muito vento?
R – Isso, quando tem muito vento, você tem que ficar sempre em cima dele, nunca deixar o barco atravessado no vento. Você sempre deve manter ele emproado no vento para ele ficar sempre seguro.
P/1 – De frente para a onda?
R – De frente para a onda.
P/1 – Por que, se ficar de lado...?
R – De lado é perigoso, né, é perigoso tombar a embarcação com as ondas altas ou quebrar a embarcação mesmo, porque é madeira, não aguenta.
P/1 – Você diz que já foi comandante de barco?
R – Fui.
P/1 – E aí? Como foi? Você falou: “Eu sou novo”?
R – É, foi uma experiência legal porque eu nunca tinha comandado uma embarcação. Mas a gente já tinha pescado, eu já tinha uma noção.
P/1 – O que faz o comandante?
R – Ah, o comandante é responsável pela embarcação, conduzir a embarcação para o pesqueiro e conseguir o pescado para trazer de volta pra casa. Porque a gente sai para o mar com despesas e você tem que cobrir essas despesas para depois conseguir arrumar o pescado, conseguir o ganho para você. Aí a responsabilidade está toda no comandante, para colocar a embarcação em cima do pescado, ter a noção do lugar que tem o pescado para trazer de volta.
P/1 – Leandro, eu queria conversar um pouco com você sobre os jovens participando na pesca. Você disse que talvez porque agora os jovens estejam buscando mais trabalho... Você ouve algum comentário deles, sobre o que é ser pescador, essa relação com o mar, alguma coisa que chama a sua atenção? Eles gostam?
R – Muitos dizem que é uma fonte de renda melhor e não conseguem estudar, muitos jovens não se interessam muito pelos estudos, e é assim que muitos vão para o mar e ficam trabalhando até certa idade.
P/1 – E você? Você continua na pescaria, como pescador, por quê?
R – Bem, eu continuo na pescaria, porque eu também gosto, né, e porque financeiramente é melhor do que muitos empregos aqui... no nosso lugar, não digo em outros lugares que eu não conheço, mas no nosso lugar é onde está a melhor fonte de renda para manter uma família.
P/1 – Você continua solteiro?
R – Não, eu sou casado. Tenho uma filha.
P/1 – Como chama a sua esposa?
R – Minha esposa se chama Ariane.
P/1 – E a sua filhinha?
R – A minha filha se chama Sofia.
P/1 – Faz tempo que você se casou?
R – Tem dois anos.
P/1 – E a Sofia tem quantos anos?
R – Tem um ano e quatro meses.
P/1 – Como você começou a namorar com a sua esposa? Você lembra?
R – Lembro, como se fosse hoje. Eu pescava e conheci ela, o pai dela também é pescador. Aí namorando, a gente resolveu se casar.
P/1 – Mas você lembra o dia que começaram a namorar?
R – O dia?
P/1 – Ou a época?
R – A época? Foi no mês de fevereiro, no finalzinho do tempo de Carnaval. Aí que eu a conheci, graças a Deus.
P/1 – E a sua filhinha, quando ela nasceu, como foi para você?
R – Minha filhinha? Quando eu descobri que a minha esposa estava grávida foi um susto, porque não esperávamos, a gente não era casado ainda. A gente não era casado oficialmente, a gente viva junto, aí foi um susto. Eu fui criado na Igreja e sei certinho como ter responsabilidade com os filhos, aí assumi, e graças a Deus estou até hoje casado.
P/1 – Você frequenta a Igreja Católica, ou?
R – Católica.
P/1 – Católica. E o dia que ela nasceu, você estava no mar ou estava em terra?
R – Não, eu estava em terra, esperando.
P/1 – E você lembra como foi para você, quando soube, “Ah, nasceu”?
R – Eu que levei ela para nascer, fomos fazer um exame de ultrassom, aí a médica falou que já estava na hora de nascer. Aí uma hora depois que ela fez o ultrassom, disse: “Vocês vão para o hospital que daqui a meia hora eu já estou lá e a sua filha vai nascer”. E aí foi um susto, de repente, ainda estava com oito meses e pouco, mas sempre erra a data. Mas foi muito emocionante.
P/1 – E mudou depois que ela nasceu, a sensação de quando você vai para o mar?
R – Não, a saudade é sempre grande quando a gente vai para o mar, e a vontade de estar próximo, né, a gente fica 13, 15, até 20 dias no alto-mar... em um espaço confinado, só homem, ali numa embarcação tão pequena, pouco espaço para ficar tantos dias, e dá vontade de ir embora, a vontade de estar em casa com a família é muito grande.
P/1 – Leandro, se você tivesse oportunidade de ter outro trabalho, você sairia da pesca ou não?
R – Para sair da pesca, só se arrumar um emprego que dê condições para manter a minha família e viver bem. Mas sim, tenho coragem sim.
P/1 – Você acha que a pesca pode ser um trabalho para os jovens?
R – É, é uma boa opção para muitos jovens que, às vezes, vivem em terra, à procura de emprego e não conseguem, dependendo as condições financeiras. Muitos jovens querem tudo, se vestir bem, possuir um meio de transporte... E o mar oferece tudo para os jovens, pra quem quer trabalhar.
P/1 – A condição do pescador está boa agora ou podia estar melhor?
R – A condição do pescador agora é boa, mas podia ser melhor.
P/1 – Como você acha que podia melhorar?
R – Na parte de pescado, na hora da venda do pescado. Porque os compradores de peixe não pagam o preço merecido, porque eles compram o pescado da gente por um valor e vendem pelo dobro ou triplo do que compram da gente. E se fosse melhor nessa parte, muitos pescadores viveriam muito melhor do que hoje.
P/1 – Você acha possível fazer alguma coisa em relação a isso?
R – Não, acho que não. Porque já foi falado muitas vezes em reuniões aqui no nosso setor, mas é uma situação que não tem solução.
P/1 – Você nunca ouviu nenhuma proposta para mudar isso?
R – Não.
P/1 – Você participa de alguma associação, de alguma organização de pescadores?
R – Não, eu sou associado da Associação dos Pescadores, que é essa próxima, a Aped [Associação de Pescadores].
P/1 – Só da Aped?
R – E da colônia dos pescadores aqui do senhor Aureli.
P/1 – E tanto a colônia ou a Aped, tem alguma ação em relação aos pescadores, que você acha importante? Eles fazem alguma coisa pelos pescadores?
R – Sim, a Associação trabalha com os pescadores na parte de documentações, para você ficar legalizado para trabalhar nas embarcações. E a conduzir a gente no caminho certo para viver sempre atualizado.
P/1 – A gente vai mostrar esse vídeo, não todo, mas uma parte, para outros jovens. Você gostaria de falar alguma coisa, não estou dizendo, “Ah, deixe uma mensagem”, não é isso.
R – Uhum.
P/1 – Mas você gostaria, se você fosse conversar com vários jovens, de falar alguma coisa em relação a pesca para eles?
R – Sim, eu posso falar para o jovem que se hoje ele tiver condições de estudar e conseguir arrumar uma coisa melhor na vida, a não ser a pesca, vai fundo. Mas não dizendo que a pesca é um meio de trabalho ruim, é bom, mas é um trabalho que requer muito da sua vida, mais da metade da sua vida no alto-mar. E quem trabalha em terra vive mais com a família, é uma opção melhor. É isso que eu posso falar para os jovens.
P/1 – E em relação ao mar, eu queria saber, se você fosse falar do mar, da tua relação com o mar, como descreveria isso?
R – Bem, em relação ao mar... eu gosto muito de pescar. Eu tive várias oportunidades de trabalhar em outros lugares, mas optei pelo mar porque eu gosto muito, é um lugar contagiante. E quem gosta mesmo do mar se fascina quando vai pescar. É uma coisa que vicia a gente... quando a gente está em terra, a vontade é de estar lá, no mar.
P/1 – O que fascina tanto no mar?
R – O pescado. A emoção de pegar o peixe vivo e embarcar ele, a emoção é de chegar em um pesqueiro e topar bastante pescaria, para vir embora logo. A emoção é essa, você chegar lá e logo arrumar o pescado, para vir embora logo, a ansiedade.
P/1 – E os perigos?
R – Ah, os perigos são muito, nos períodos do alto mar. Lá mesmo a gente vai logo dizendo os perigos na hora de pescar, do peixe te levar para a água, você enrolar uma linha na mão, essas coisas. Aí a gente sempre tem que manter bastante atenção para não acontecer um sinistro, né.
P/1 – Então fala se você tem algum sonho. O maior sonho?
R – O maior sonho que eu tinha na vida da pesca era ser comandante, como eu já fui... e possuir minha própria embarcação. É o meu sonho.
P/1 – Legal. E além da pesca, tem outro?
R – Além da pesca? Não, graças a Deus é só isso mesmo, viver bem com minha família, o que já está acontecendo hoje.
P/1 – Muito bom. A gente terminou. O que você achou de fazer essa entrevista, contar essa história?
R – Muito legal passar para as pessoas que se interessam nessa área, um pouco do nosso conhecimento.
P/1 – Está ótimo.
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