Projeto Conte sua História
Depoimento de Raphaela dos Santos
PCSH_HV863
Então vamos lá.
A gente sempre começa a perguntando seu nome completo, o local e sua data de nascimento.
Rafael do Santo Rei. Nasci dia 20 de março de 1999. E endereço completo?
Data de nascimento.
20 de março de 1999.
E em que cidade?
Rio de Janeiro.
E qual é o nome dos seus pais?
Simone e Sandro.
E onde eles nasceram?
Aqui no Rio de Janeiro.
E o que os seus pais fazem?
Meu pai é bombeiro. E minha mãe é uma empreendedora. É uma dona de um negócio, dona de um bar.
E como eles são?
Minha mãe é bem agitada. Mas ela é muito prática. Ela pega as coisas e resolve na mesma hora. Ela não é tão calorosa, essa coisa de ficar dando beijinho e abraço toda hora Mas ela é muito prática, limpa as coisas, arruma Se tiver que resolver alguma coisa, ela resolve logo E o meu pai já é ao contrário, já é menos prático e rápido Principalmente rápido, porque ele é o tipo Pessoa que demora mais pra fazer as coisas, ter aquela comida um pouco maior Mas já é super caloroso, amoroso Tipo, a relação se completa nesse sentido, né? Pra mim que é filha E você tem irmão? Tenho, eu tenho duas irmãs irmãos de sangue mesmo, e o meu irmão também, que assim, a gente não é de sangue, mas a gente se considera, porque assim, os meus pais, eles são separados. E a minha mãe, ela tá com outra pessoa já tem alguns anos. Só que todo mundo se dá bem, então ele é também tipo como um segundo pai pra mim. E o filho dele é que virou o meu irmão também. Então a gente... A gente se fala como se fosse de sangue mesmo.
E você lembra de onde você passou a infância?
Tipo, qual casa? Lembro, passei na casa dos meus pais.
E como ela era?
Ah, era... É um pouco assim, deixa eu me lembrar. Era... Era intensa. Era bem intensa, porque a gente tinha... Naquela época eu não tinha muito social, assim, pra fora. Meu social era completamente dentro da minha casa. Então era intensa nesse sentido, assim, tipo... Eu sentia assim que meu mundo meio que girava em torno só do meu pai e da minha mãe. Então, tudo ficava mais intenso, né? Não tinha, assim, muitos outros assuntos.
E como era o seu dia a dia?
Era... escola. Infância, tipo, adolescência, criança. Era, tipo, escola. de videogames. E desenhar, desenhava muito e jogava muito videogame, assim. E ia pra escola. Mais jovem eu não era muito de passear, assim, não. Mas ficava, sei lá, horas jogando.
E como que era na tua escola?
Eu tive duas escolas. E elas foram, tipo, completamente diferentes, assim, porque no meu primeiro colégio era na Sombra Desco, aqui do Rio de Janeiro. Eu, naquele colégio, eu já não tinha muitos amigos, eu me sentia, assim, meio excluída, tinha uma certa dificuldade, assim. Eu conversava mais com os professores, eu procurava fazer atividades mais com os professores. Mas era aquela conversa de jovem pra adulto, um pouco diferente Não é aquela zoeira toda de dois jovens na escola Aí eu mudei de colégio E aí eu fui pra Fundação Azorca, quando eu tava com uns 15 anos Uns 15, 16 anos Aí, quando eu fui pra lá, eu pirei assim super popular na escola. Tipo, esse problema de essa coisa de me sentir excluída, com certeza eu não estive lá. E aí lá já era, tipo, muitos amigos. Eu sentia, tipo, vários grupos. Às vezes eu ficava... Às vezes eu me sentia até um pouco cobrada, porque se eu não dava atenção para os meus amigos, eles começavam a reclamar. Tipo, ela não liga mais pra mim, o velho fala mais comigo, eu falo mais com eles Aí o outro grupo de amigos vinha e falava, ela não liga mais pra mim, não sei o quê Então era maneiro, eu adorava Eu me sentia uma Anitta da vida, chegava assim, sou famosa.
E nesse seu primeiro colégio teve algum professor que tenha te marcado?
Olha, teve. Teve uma professora, o nome dela é Mariô, que nós viramos amigas e nós somos amigas até hoje. Também uma coisa interessante é que ela é a professora mais jovem do colégio. Ela tinha, tipo, uns 20 e poucos anos. Então eu também sentia que a diferença de idade não era muito grande e isso, assim... Fazia com que eu me sentisse mais à vontade, assim. Pensava, ah, ela é jovem que nem eu, tipo. Ela me entende.
E o que você mais gostava de fazer quando você era criança?
É... O que eu mais gostava de fazer era jogar. Jogar. É. Eu fazia algumas outras coisas também, mas o que eu mais gostava mesmo era jogar.
E por que você mudou de colégio?
Meus pais, eles... Eles conversaram comigo e disseram pra mim que esse colégio era mais... Como é que eu vou dizer? Ele era mais... Melhor, mas assim, tinha mais conteúdo, era mais... Ele era um colégio técnico. Então, também tinha... Eles davam também oportunidade de estar... Lá tem um regime militar também, então como pai bombeiro, eu também tinha essa paixãozinha, tipo, com a disciplina militar. Então, tipo, ah, eu sonho com isso pra minha filha e tal. E eu na época, ah, eu era meio nem sim nem não, tipo, vamos lá, vamos descobrir.
E o que você queria ser quando você crescesse? Você tinha um sonho assim?
Eu tinha vários. Era difícil escolher. Primeiro eu... Primeiro eu pensei dentro dos jogos, já que era a coisa que eu mais fazia, mais gostava de fazer. E aí eu pensei, quem sabe eu possa trabalhar naquela parte em que Eu escrevo histórias de jogos, porque o que eu mais amava de jogos eram as histórias. E o fato de que a diferença do filme pro jogo é que o jogo você estava lá tendo a história, mas você também estava participando dela. Então eu me sentia mais ativa, né? Só que aí eu fui começando a testar, e aí eu comprei um caderninho, começava a escrever várias histórias de terror, porque eu amava terror. Mas aí eu percebi que aquilo ali era apenas um hobby. Que não era uma coisa que eu me sentia à vontade a ponto de trabalhar com aquilo Já que o trabalho são muitas horas, então eu pensei, ah, não E aí eu fui me apaixonando por fotografia E aí pensei em querer ser fotógrafa Aí eu ia testando assim, desse jeito Eu pegava esses robôs quando eu estava e começava a fazer com muita frequência E começava a fazer de graça pros amigos Pra testar mesmo se era isso que eu queria fazer na minha vida E aí a fotografia aconteceu a mesma coisa. Eu vi que era um hobby. Tão hobby, né? Que é uma coisa que, tipo, ah, quando tá com tempo livre, eu faço, eu amo. Mas, tipo, muitas horas, me deixa ficar tanto, eu ficava enjoada. E aí, nesses testes todos, eu acabei descobrindo o meu propósito de fato, que é a dança. Dançando, assim, sem querer, eu descobri, fui fazendo, eu pensei, não é isso. Porque isso, eu poderia ficar 24 horas, eu poderia dar aula de graça, tipo, Me apaixonei. Não me enjoou nunca.
Mas rapidinho, voltando um pouco para a sua escola. Como que você ia para a escola?
Eu ia a pé. Porque ficava bem pertinho aqui da minha casa. Mas assim, era umas 30 minutos, 40 de caminhada. Mas eu também adorava. Adorava caminhar, eu ia ouvindo música. me distraindo, pensando em várias coisas, aí eu adorava. Eu ia com a minha irmã. Minhas duas irmãs, uma delas é a minha gêmea. Então, tipo, mesma idade, assim, aí a gente ia juntas, né? E a gente já ficava o caminho todo conversando, era ótimo.
E vocês visitavam na mesma sala?
Não. Eles tinham uma política no colégio que eles não juntavam os irmãos, porque eu até perguntei sobre isso para os meus professores. E eles me falaram que é porque já tiveram casos de irmãos gêmeos que, tipo, às vezes começavam a discutir no meio da aula. Tipo, mas era aquela coisa de irmão mesmo, mas assim... Aí eles começaram a separar para isso não acontecer.
E durante a juventude, Você tinha amigos, você saía? Como você se divertia?
Eu tinha amigos, mas eu quase nunca saía. Meus pais, eles não costumavam me deixar sair. Quando eles deixavam eu sair, era tudo muito exigente. Era tudo que precisava ser de dia. Precisava ter um limite de horas, tipo, ah, você vai ficar na sua quatro horas Precisava, tipo, eu não ir sozinha Aí eles também trabalhavam muito, então eles não podiam me levar nem buscar E aí eles pediam pra minha irmã mais velha E às vezes a minha irmã não tinha como, aí eu não podia ir Tinha várias coisas, também não poderia ser sozinha com algum menino Precisava ser com menina, e se fosse com menino Precisava ser, tipo, num grupo de amigas e que estivesse com algumas meninas também Enfim, várias regras Ou seja, eu acabava quase pra sair Mas a gente socializava, assim, pela internet Jogando, às vezes, ou quando eu ia pra escola Aí eu não estudava tanto porque eu queria ficar conversando Porque eu pensava, eu não posso sair então aqui eu também vou socializar pra caramba aqui.
E como era isso pra vocês, de não poder sair tempo? Como você se sentia?
Ai, era horrível. Eu me sentia... Eu sentia que eu tava atrasada, que eu tava... Não vivendo tudo que eu poderia, que eu queria, porque eu via os meus amigos saindo Às vezes quando era um grupo, às vezes todos eles reunidos, menos eu E aí eu sentia essa coisa toda como se estivesse rolando uma festa, assim Várias vezes e eu não estivesse participando, sabe?
E aí você conseguia conversar com seu pai ou não rolava?
Eu já tentei Mas no meio da conversa eu ficava revoltada Porque os meus pais tinham vários motivos que eu não concordava E aí eu começava a ficar revoltada do tipo Não é possível que alguém pensa assim e tal E a gente, às vezes, acabava discutindo Aí eu fui começando a parar de falar sobre esses assuntos Procurava outras soluções Por exemplo, essas regras todas, essas coisas todas Eu ficava questionando tudinho, eu falava Principalmente com o meu pai, porque o meu pai, na minha família, era meio que patriarca. Ele era tipo a última voz da casa. Então eu ficava questionando com o meu pai e a gente discordava. Sei lá, vou passar um exemplo. Essa coisa de você não pode ir sozinha, sua irmã tem que te levar e tal. Aí eu começava, eu não sou mais criança. Ah, eu tenho 16 anos já. Eu já sei andar sozinha. Ah, mas você não sabe pegar o ônibus. Ah, mas eu preciso aprender assim. Eu preciso ir pra aprender e tal, sei o quê. Aí começava aquela discussão.
E o seu bairro, como que era?
Meu bairro... É assim... Eu moro numa rua que é... É tipo... Praticamente do lado da comunidade aqui É meio que o comecezinho, mas a gente meio que não considera Porque dentro da comunidade, além dos alugueles serem mais baratos, a gente também não paga água, não paga luz Tem umas coisas assim E como essa rua é tudo cobrado direitinho e tal, a gente não considera Mas na prática É bem parecido, porque essa coisa de perfeições do fluxo, ou dizer assim, do movimento, né? Passando aquelas armas, essas coisas e tal, elas já aconteciam. Mas, até que era tranquilo, porque eu via essas coisas, mas não tinha muito conflito, que eu acho que é o maior problema das comunidades, que esse conflito de tiras, essas coisas, quase não tinha.
Mas você mora na mesma casa dessa infância hoje em dia?
Hoje em dia sim. Hoje em dia muda bastante. Desde que eu fiz uns 18, 19 anos, que aí começou a julgar uns conflitos aqui.
Mas voltando então rapidinho pra sua juventude, como que eram as relações amorosas?
As Virgilas Indomorosas? É. Caraca, eu nunca parei pra pensar nisso. Eu, eu acho que era uma doideira. Era uma loucura. Porque, não sei, não sei porque, mas pensava. Porque, assim, eu comecei a minha vida sexual, assim, ativa, muito jovem. muito nova. Eu comecei assim com 13 anos. Então, era uma loucura, porque eu já queria ter relações sexuais, mas eu ficava confusa com o lado sentimental. Tipo, às vezes eu não queria nada a ser com ninguém, às vezes eu queria. Então, era confuso nesse sentido. Por causa dessa... Essa minha decisão, eu tive vários ficantes e poucos namorados Eu só quis, de fato, fechar o relacionamento quando eu tava com 20 anos Aí eu conheci um homem maravilhoso, eu fiquei completamente apaixonada e pensei Ele, o cara certo E aí eu pensei também, bom momento pra mudar o meu estilo de relação amorosa E a gente decidiu até morar junto Nós casamos assim, não chegamos a fazer aquela festa, aquele ritual Porque a gente tava juntando os dinheiros ainda Mas a gente... Eu digo que a gente foi casado, porque a gente viveu aqui um casado Morou junto e a gente decidiu ter essa coisinha linda aqui, que tá participando.
E vocês estão juntos ainda?
Oi?
Vocês estão juntos ainda?
Não. Não amorosamente. Mas nós somos grandes amigos. Porque a gente se separou não porque aconteceu algum problema, ou a gente brigou, não foi nada disso Foi por coisas da vida mesmo, uma questão de uma grande oportunidade na vida dele De realizar alguns sonhos que tem a ver com propósitos da vida dele, valores, questões pessoais Que acabou não se conectando com o meu momento de vida, o momento que eu tô vivendo na minha vida agora, que eu tô investindo na minha carreira, mas procurando criar o próprio negócio também, ter uma coisa independente, que eu tô concluindo a minha capacitação pra dar aula de dança, mas eu tô formando uma equipe, porque eu tô querendo fazer uma coisa que seja independente, eu não precisar Trabalhar pra alguém. Eu poder, tipo, eu mesma, sabe, abrir a minha academia e tudo mais. Enfim, são várias ideias. Eu ainda tô organizando tudo e tal, mas o lugar que, tipo, eu tô treinando, que tá sendo fundamental pra eu crescer como professora, todos os workshops, a própria capacitação, todas essas coisas estão tudo aqui no Rio de Janeiro. E... Ele, o grande amor da minha vida, ele saiu do Rio de Janeiro pra poder realizar as sessões dele Então a gente decidiu se separar por causa disso, porque... Não que eu não tivesse vontade de ir junto Eu tenho vontade, mas como eu tô vivendo esse momento da minha vida agora, da minha carreira, como se tem a ver com os meus sonhos também, não se conectou, sabe? Por questão de situação mesmo Mas a gente ainda sente um carinho muito grande pelo outro, a gente se fala bastante, ele procura vir pra cá, tá assim, o mais próximo possível dela, a gente tá sempre juntos. Orgulho.
E como vocês se conheceram?
Ah, já? Então, eu trabalhava no bar da minha mãe. Aí... Eu era garçonete de lá, né? A gente se conheceu assim, eu estava trabalhando, normal. E aí chegou ele, assim... Eu acho ele muito lindo, assim, gata, aquela pessoa que... Nossa, eu olhei a primeira vez e já pensei, nossa, muito lindo, gata. Já me chamou a atenção, o sorriso dele, a simpatia. E a gente se conheceu assim, tipo, simples assim. Ele chegando onde eu trabalhava e pedindo pra comprar um salgado comigo. Eu já senti, naquele momento, a conversar, a plantinha crescer. Me atrair pelo sorriso e tal. E eu era uma pessoa que, naquela época do meu trabalho, eu começava a conversar muito com os clientes. Então a gente começou uma conversa ali, naquele atendimento também. Aproveitando que o bar estava vazio mesmo, não tinha ninguém, a gente começou a bater um papinho, Aí tiveram outros dias que ele começou a passar lá, passar lá, passar lá. E aí os papinhos foram aumentando, foram ficando mais profundos, a gente se enfrentando, se aprendendo mais e tal. E ele morava ali perto. E aí começou a brotar aí. Aí fomos evoluindo. Depois começamos a sair pra encontros e tal. Depois a gente foi morar junto. Foi muito incrível.
E quando vocês foram morar juntos, vocês foram só vocês dois?
Isso.
E como foi isso de mudar de casa?
Olha, não foi fácil não, porque a minha mãe ficou doida. Tipo, a gente não tinha muito dinheiro. Eu tinha o meu trabalho, mas era um salário mínimo. Ele também tinha o trabalho dele também, era o salário mínimo E... Então a gente também não queria... É uma casa muito luxuosa e a gente, tipo, se sentia tão apertado pra pagar o aluguel E no final a gente ficou precisando sobrar dinheiro pra nada, pra sair e tal Então a gente foi escolher uma casinha bem lá dentro da comunidade Bem pequenininha, porque não só nós dois, mas assim, minha mãe Quando descobriu que, tipo, minha filha ia morar dentro do morro, ela ficou, tipo, não... Cara, ela não, tipo... Ela... Ela fez de tudo, assim, ela tentou de tudo tentar me convencer de não ir porque ela tava morrendo de medo, assim Aquele medo de mãe, de preocupação E aí, algumas vezes eu ficava irritada com ela E a gente acabava discutindo no voo também por causa disso. Tipo, me deixa ser independente, me deixa seguir a minha vida. Mas no final a gente acertou.
E como que foi a separação dos seus pais pra você?
Foi muito impactante. Muito mesmo. Porque assim, o meu pai, ele foi preso logo nessa época que meus pais estavam se divorciando. E eles já estavam se divorciando há um tempo já. Mas como assim, eles têm três filhas juntos, eles moravam na mesma casa, né? Então tinham todas essas questões pra resolver. Eles foram resolvendo isso aos poucos, né? Mas... já estavam, assim, divorciados, né? Aquela coisa de, sei lhe dizer, de relação de corpos, né? De namorar e tudo mais. Eles já estavam bem separados. Mas eu estava muito acostumada, assim, com eles dois juntos. E foi muito impactante, assim, o divórcio dele. Logo depois, o meu pai já foi preso. Então, veio uma segunda coisa, Nos primeiros momentos eu não sabia, assim, nem por onde começar Tipo, eu não sabia se eu ficava feliz ou se eu ficava triste, se eu ficava... Os dois! Foi bem... Foi muito... Me impactou muito, assim, me abalou muito Na época eu tava com... 16, 17 anos, então eu tava naquele... Na meu novo colégio, né, que eu comecei Mas eu tava há pouquinho tempo lá, então... Ainda tava nessa adaptação também, aí veio essa bomba.
E você lembra do dia que eles contaram que eles iam se preparar?
Pergunta de novo.
Você lembra do momento quando eles contaram que eles iam se preparar?
Na verdade, eles não chegaram a me contar, assim, não teve essa conversa. Mas assim, como ficou bem claro que eles estavam se separando, mas assim, pelas atitudes, eu fui começando a entender, mas a conversa que mais, assim, meio que me contou indiretamente, foi quando meu pai chegou pra mim e a gente tava Nessa época, a gente estava se aproximando muito. Por incrível que pareça, a gente estava pegando uma situação que não era boa e estava tentando criar algo bom com isso. Então, quem sabe, melhorar a nossa relação. E aí, a gente foi se reconectando. A gente não estava muito conectados em um tempo. Porque como o divórcio é todo um processo antes de um casal se divorciar Eles começam a brigar muito, discutir muito essas coisas E todo esse clima de tensão dentro da minha casa meio que me desconectou muito dos meus pais E aí nesse momento a gente começou a voltar a se conectar de novo Tanto que ele começou a me chamar para ter conversas maduras, conversas adultas. Achei que isso foi fundamental, até porque como eu estava nos 16, 17, eu estava mesmo nesse processo de estou entendendo que estou saindo da adolescência, quase me formando, começando a entrar na vida adulta e é impactante para um adolescente também. Isso me ajudou muito a me desenvolver, porque ele começou a me chamar e conversar bem abertamente, né filha? Eu e sua mãe, a gente não tá se dando bem, né? Você tá vendo, a gente tem brigado e tal E aí ele me pedia conselhos, tipo, o que você acha que eu devo fazer? Aí ele dizia como ele se sentia em relação a ela, que no caso... Aí eu não vou entrar em muitos detalhes, porque aí como é o pessoal dele, é o sentimento dele Mas tipo, ele se abria, falava o que ele tava pensando, o que ele tava sentindo Porque às vezes, o que que tá fácil, o que que tá difícil? Tipo, ele se abria assim pra mim, nos conectou assim completamente, porque aí eu me sentia à vontade também, eu me abria também, eu me sentia de volta assim, dentro da família. Tipo, não tem como eu fingir que vocês não estão se separando, eu vejo, sabe? E como no comecinho das brigas deles, eles tentavam me esconder, isso... Me abalava muito, porque eu tinha essa sensação de como se eu não fosse filha, como se eles não quisessem me envolver Eu já nos 16, 17 eu me sentia adulta, então eu pensava, pô, já sou uma adulta e eles não querem me envolver, tipo tal E aí foi meio que assim, a conversa de separação foi meio que desse jeito.
E como que foi pra você e pra toda a sua família quando o seu pai foi preso?
Pra mim foi... foi muito... eu vou dizer intenso, porque não tem como uma emoção só te escrever. Primeiro eu fiquei muito triste, né? Foi a emoção, assim, que mais... que eu mais consegui enxergar, né? Mais depois. Isso nos primeiros meses. Mas depois, nos outros meses, Aí eu já fui conhecendo uma tal de raiva, uma tal de medo também, ansiedade e outras coisas. E isso impactou muito a minha vida acadêmica, eu na escola. Porque por causa disso, eu comecei a me sentir muito desmotivada para estudar, quem sabe até para me formar. E aí eu repeti de ano a primeira vez. E aí fui, aí fiz, aí consegui passar de ano. E aí no outro ano eu repeti mais uma vez. Então, tipo, tava muito difícil pra mim estudar. Deixa eu só ligar o meu celular. E aí quando eu repeti de ano a segunda vez, eu decidi largar a escola. Decidi desistir, não vou mais me formar, eu... Tando-se tudo... Estava bem, assim, revoltada E a minha mãe... Aí, nessa época de eu decidir largar o prédio, meu pai tinha sido preso há muito tempo, há dois meses E eu tinha perdido totalmente o contato com ele Porque eles evitam ao máximo, né? Jovens, crianças, até adultos mesmo, eles tentam evitar Porque o ambiente é muito tenso, você, assim, vê muita coisa. E como também estava muita balada, estava difícil até de passar de ano. Imagine, naquele momento de tragedia, ter certas coisas. Então, assim, minha família, também os advogados, policiais, enfim, as pessoas que na época estavam envolvidas para resolver essas coisas. Todos eles também acharam que não era uma boa hora. Então a gente meio que perdeu o contato e eu só falava com a minha mãe O outro lado da família tentou ao máximo ajudar, mas eu tava tão revoltada que eu também... Eu fiquei naquele estado assim de eu quero ficar um pouco sozinha, tipo pra refletir e tal Então quando meus tios, meus primos, eles tentavam me visitar, me ligar, saber como tava, mandar mensagem, eu falava, não quero falar com ninguém Me deixou sozinha, não sei o quê. E eles, assim, preocupados, mas respeitaram. Então, a gente não teve muita interação nessa época. E a minha mãe, que era uma das poucas que estava, me acompanhava, fez de tudo pra não largar o colégio. Mas eu cheguei pra ela e falei assim, eu vou largar você, queira ou não. Se você não quiser que eu largue a escola, assim, conversando direitinho, falando lá com o colégio, Eu vou tomar o meu jeito de largar esse código, nem que eu tenha que repetir em diante propositalmente pra eu ser expulsa E aí, como eu falei isso pra ela, ela pensou, já que você está falando que de qualquer forma você vai fazer Então é melhor a gente fazer na boa mesmo. Tipo, vamos lá e conversar com o seu colega e tal E aí fomos lá e abrimos a minha vaga. Fiquei segurando, já não queria mais E aí eu até pensei depois em fazer o Enem, naquela época ainda existia aquela opção de você fazer e se formar pelo ensino médio pelo Enem. Só que aí eu comecei um, dois, três primeiros meses a estudar e depois eu não tive motivação de novo e larguei. Pensei, ah, foda-se, desvejo, eu vou mais me formar. Pensei, vou virar tatuadora e pronto, não precisa de diploma pra ser tatuadora. Aí foi assim.
E aí você não voltou?
Não, eu voltei. Eu voltei a estudar anos depois. Tipo, nessa época eu tava com 16. Aí quando eu tava com... 20. Quando eu tava com 20 eu... Nessa época, eu comecei a ter alguns problemas de saúde mental Eu fiquei tão abalada que, assim, né? Essas coisas, a desmotivação pra estudar e tal, não sei o quê Comecei a ficar com depressão, alguns outros problemas também que foram... E aí eu fui fazer uma terapia Fui começar o meu tratamento, tipo, dois anos depois, 20 anos depois, eu estava super melhor Já tava, tipo, no finalzinho do tratamento, tipo Meio que transtorno não existe mais Praticamente não existe mais, mas, tipo Ainda tava fazendo aquela conclusãozinha, né? De observação Vamos ver se você vai se manter assim mesmo E aí eu já tava começando a voltar a estudar Eu tô até hoje Porque eu tava já... Eu tava estudando muito, tipo caramba, fazendo várias provas, aí veio essa coisa da pandemia. E aí, deu uma parada, mas eu tava formando já. Tô superativa mais rápido. Eu comecei um pouquinho antes de engravidar, né? E aí, eu mesmo grávida, ainda tava estudando. Então, eu tava... Antes de ir lá, ensina, geria energia. Só nessa pandemia mesmo, que...
E nessa época que você falou que você teve depressão, como que foram? Foram alguns anos assim?
Foi.
Nessa época que você falou que você teve depressão, como que foi? Foram alguns anos desse jeito?
Foram uns anos. Foram... Foram uns três anos. Eu comecei a enxergar isso, né? Eu tenho até uma... uma crença de quem sabe eu já estivesse já um pouco antes, né? Mas, desde que assim, eu comecei a ter acompanhamento, foram uns três anos, porque eu comecei estudando de 8, eu não lembro se chegou a ser no final do ano, ou se foi no início, ou no meio, não lembro. Eu sei que eu tava com 18. E aí foi de 19 a 20, foram uns três anos. Foi muito complicado, porque eu tinha aquela força de vontade, não, na verdade era um desejo de realizar meus sonhos, de seguir os meus objetivos, porque eu já tinha me descoberto no mundo da dança e tudo mais. E eu também... Às vezes eu tinha momentos de pico e de ansiedade. Então, o pico vinha sendo tipo... Acordei hoje e simplesmente quero dar aula de dança. Rafaela, não é assim, né? Você nem se doou ainda. Então, eu começava a ter conflitos assim, nessas horas. Tipo... Às vezes tinha o desejo, mas aí essa coisa da depressão de... É como se tivesse um muro de tela, né? Tipo... Não existe, assim, as atitudes necessárias pra poder realizar aquele desejo. E às vezes tinha esses espíritos de ansiedade, era meio confuso. Porque eu também... Quando eu tava nesse estado de ansiedade, eu pensava assim, ah, eu quero ir pra hoje ou pra amanhã. E aí, às vezes, eu passava cinco dias assim, tipo, tentando arranjar alguma forma de ir em algo. Mas, tipo, não era o que eu acreditava. Alguma forma de conseguir realmente realizar aquilo, assim, de um dia pro outro. Então, por exemplo, quando eu comecei... a dança que eu faço é pole dance. Aí eu comecei a fazer um curso de pole dance, né? Ok, eu estou Pra quem quer dar aula, né? Você começar a fazer, a aprender, ok. Mas aí eu começava, tipo, dava essas crises de ansiedade, eu começava a treinar loucamente, passava o dia inteiro suando muito, tipo, como se isso fosse acelerar, como se fosse fazer eu virar professora mais rápido. E aí quando eu abaixava esse estado de ansiedade, eu caía na real. Começava a lembrar, tipo... Primeiro eu preciso de um ensino médio, né? eu preciso de uma coisa e tal. E aí eu me senti assim, oscilando nesses dois estados. Porque quando eu vi que caía na realidade, é que eu costumava ficar um pouco mais depressiva. Então o que faltava mesmo era uma equilibrada. Um pouco menos de intensidade, assim. Acelerar é bom, mas não precisa tipo mergulhar na depressão. Acelerar também é um pouco bom, né, que você se dedica mais, mas também não precisa fazer como se você fosse morrer amanhã. E aí foi meio que na terapia que eu fui equilibrando essas coisas.
E quando você entrava nesse estado depressivo, o que você fazia normalmente?
Eu... Eu costumava... Primeiro, eu costumava fumar muito. Nessa época, com 16 anos. Comecei a fumar com 16 anos Foi assim, bem assim... Um pouco depois, meu pai foi preso, larguei a escola, tal Aí eu comecei a fumar E aí, primeiramente, eu fumava muito Comecei a beber muito também E comecei também a me alterar Esses eram os escapes, né? E aí, como que era? Era assim... Como é que era? Então, eu tinha essas oscilações, né? Então, quando eu tava, tipo, no estado de treta, eu ficava olhando, assim, porque eram cortes muito intensos. Tava mesmo, assim, pra valer. Então, Tem várias cicatrizes até hoje, porque muitos dos meus sócios estão cheios de cicatrizes Então, às vezes, eu parava pra pensar em como era isso, quando eu ficava olhando aquela cicatriz E aí, quando eu tava meio depressa, eu ficava pensando assim... O que é que não fazia sentido nenhum? Tipo, o que que eu estou fazendo? Eu não sei o que eu estou fazendo Eu tinha essa sensação de... vazio E aí... Quando eu estava ansiosa, eu lembro da minha mãe porque quando eu ficava ansiosa, eu começava a limpar a casa loucamente Eu lembro da minha mãe porque ela fazia isso também, assim, mais saudável Porque ela fazia assim, porque ela se sentia bem, mas menos intenso Eu fazia assim, no meio da crise, eu olhava aquelas cicatrizes Ficava ansiosa, não sei o que fazer, e aí começava a limpar a casa, então... Às vezes eu fazia a faxina, eu começava a botar escada, limpar o ventilador, limpar o acondicionado Fazer um computador, respirar o sulfato, e tipo, às vezes a minha avó ia chegar e falava, não dá nem piso E aí eu ia falar, mas eu vou limpar de novo, cheia de energia lá.
E nessa época, como era a relação com as suas irmãs?
É... Nesse iniciozinho de... que eu tava em tratamento, eu tive um... assim, a minha mãe, ela... Ela... teve muitas brigas, muitas discussões com o meu pai, quando eles... um pouco antes de certeza, precisavam se separar e tal. E eu, é... Eu ficava com raiva toda vez que ela começava a falar mal dele Às vezes apafando mesmo E aí eu comecei a ter umas discussões com a minha mãe Eu decidi me afastar um pouco dela e ficar, tipo... Eu fiquei mais colada com as minhas irmãs Aí nessa época eu colhei muito mais especificamente com a minha irmã mais velha E aí, nessa época, ela que sempre foi muito religiosa, desde novinha, eu lembro que ela já meditava muito, já praticava bastante religião, que é uma religião bem diferente, que é a Wicca, que é a bucharia, paganismo. Então, além de religiosa, ainda era moderna, né? E aí, nessa época, eu já sentia curiosidade, quem sabe, por algum religião. Eu tinha as minhas dúvidas se alguns seres mitológicos existiam. E como dentro da UICA a gente trabalha com esses seres mitológicos, eles acreditam que existe uma energia, que ela seja uma espécie de energia divina também, que está conectada com fagas, dragões e tal, isso me chamou muita atenção. E aí eu comecei a ficar muito curiosa de querer estudar religião também nessa época. Ela estudava há muitos anos, recebeu vários treinamentos de mestres e tal. Nessa época ela tinha acabado de formar como uma mestre também na religião, então a gente começou a abrir. A primeira turma dela, discípulos e tal, pra começar a dar aula. E aí ela me convidou, ela falou, né, eu sei, ela falou pra mim, né, Titiana, curiosidade, é um tempo atrás, então você quer participar da aula, visita pra gente e tal? Eu falei, claro que eu quero! E aí, por causa disso, a gente começou a passar, tipo, muitas horas Juntas, perto de todos, a gente estudava um monte. Tudo a gente se tornava positiva. A cultura do paganismo é muito diferente. Então, como eu também estava muito acostumada com essa coisa da igreja e tudo mais, era como se eu encontrasse um tesouro cada vez que eu descobria coisas novas, o que eu achava demais. Eu penso muito assim na cultura, porque até mesmo essa questão do fumo também, a gente acabava que conseguia trabalhar dentro da religião, então a gente tinha que transformar. Até as coisas que não eram positivas, a gente conseguia elaborar e transformar em positivo. Então, por exemplo, a questão do fumo, a religião, ela me motivava bastante a superar, porque dentro da cultura, da nossa cultura, que a gente estava estudando na época, as ervas são sagradas. Ou seja, eu meio que aprendi que a gente não deve usar nem mesmo as ervas de uma fórmula completamente mundana. Então, como eu fumava pra me sentir melhor, aquela coisa bem mundana, tipo, pra sentir um prazer mundano, Conforme eu fui estudando, me dedicando, eu fui me motivando a, pelo menos, no mínimo, reduzir. No mínimo, reduzir. Porque é muito difícil também, tipo, parar de um dia para o outro. Mas com essas coisas, esses ensinamentos... Porque o que eu fumava era tabaco. Então, assim, a gente falava da erva para a baca. E abriu várias mentes, porque como eu estava muito acostumada a beber aquele cigarro industrial e tal, eu nunca tinha nem parado para pensar sobre o tabaco, o que é, o que é uma esmaela e tudo mais, assim como os chás, né? Aí eu fui trabalhando todas essas questões.
E você acha que... Essa sua irmã e esse caminho religioso que vocês foram entrando, te ajudou a sair dessas crises?
Olha, a minha irmã sim, mas a religião não. Não acho que ajudou, porque assim, como eu estava nessa época muito desilimitada, e quando eu comecei a estudar religião, foi um pouquinho antes de começar os meus tratamentos, então ela não tinha, também, um suporte Pra conseguir conciliar os dois, né? Tipo, o seu processo de cura com essa nova dedicação. Então, como eu não tive, não tinha ainda esse acompanhamento, foi um gatilho pra eu piorar. Mas, assim, tendo pelo lado bom, me ajudou porque meio que a piora me empurrou pra finalmente começar os meus tratamentos. Porque, assim, Eu tive o que o meu psiquiatra, na época, chamou de crise dissociativa. Isso aconteceu dentro da religião. Porque assim, como eu já tava meio que na depressão, tinha ansiedade, o nível tava normal e tal, aí eu comecei a entrar na religião, aprender várias coisas e meio que misturou com essas minhas sombras. E aí eu comecei a Não querer olhar pra isso, pra essa depressão, pra essa ansiedade, pra essas coisas Não querer atrapalhar, não querer melhorar E aí eu criei uma nova identidade Onde eu mudei o meu nome e mergulhei mentalmente nessa nova identidade como se eu realmente pudesse ser outra pessoa. Então, assim, eu criei... Isso aconteceu dentro da religião, porque na Uíca nós temos o nome de bruxa, a gente fala, que é tipo... Eu sou apelida pra uma coisa assim, religiosa. Então, assim, eu peguei esse nome de bruxa e não só escolhi o nome de bruxa, eu tenho Pensei, não, eu vou ser uma nova... Eu criei uma persona, tipo Uma pessoa que não sou eu, porque eu até mudei o meu visual na época Eu fiquei loura e tal E mudei o meu nome e, tipo, eu esqueci o meu nome de batismo, o meu nome Rafaela E a minha memória, eu comecei a esquecer também as coisas que a Rafa, eu, tinha passado realmente Então, o meu psiquiatra me explicou que esse movimento, eles chamam de crise necessitiva Que é quando você... você vira outra pessoa mesmo, tipo, como é que eu vou explicar? a sensação de que a Rafa tinha morrido. Então, se você falar que não dá, Rafaela, eu... Depois de uns meses já adotando esse novo nome, eu meio que nem sabia mais bem quem era ela. Tipo, bem louco mesmo. E aí... Eu acabei descobrindo isso porque eu, tipo... Teve um dia que eu... Eu não sei se foi uma crise, um assunto, sei lá. Eu só sei que eu... Foi meio que uma discussão. E aí eu não lembro o que a gente estava falando. Eu só lembro que eu ouvi alguma coisa que eu fiquei muito mal. Tipo gatilho, assim, né? E aí, quando eu fiquei muito mal, eu, tipo, simplesmente saí de casa naquele momento. Na mesma hora, assim, muito rápido, tipo, um robô Foi bem batido mesmo Saí de casa e comecei a andar pela rua E tipo, só andar E aí foi nesse dia que eu meio que... Acabei indo parar no hospital E eu meio que tava andando inconsciente Porque o que eu tô te contando, você consegue perceber que eu não lembro muito bem como eu cheguei lá Então eu meio que, se eu não gatilhar, eu fui andando meio que inconsciente, né? Meio automática, assim. Só andando, andando, andando, aí eu fui pra um hospital, e lá nesse hospital, até o hospital do bombeiro, que é um bombeiro e tal, eu tenho direito lá. E lá, tipo, tinha uma equipe já de psicólogos e tudo mais, e eles, com sorte, eles estavam lá e eles me acolheram na mesma hora, eles repararam que tinha alguma coisa estranha, Do jeito que eu apareci lá E aí, foi naquele dia que eu meio que comecei o meu tratamento Porque a minha psicóloga, naquele dia Ela meio que me obrigou entre a gente Tipo, não, hoje você não sai daqui Até eu ter certeza de que eu ia sentar melhor E foi falando, né? Explicando que depois desse dia, no mínimo, eu ia precisar de algum acompanhamento no mínimo duas vezes na semana, uma vez na semana, enfim. E aí, que eu comecei, aí depois eu acabei precisando de um psiquiatra além, de um psicólogo, e aí ele me explicou, ah, você teve, ah, foi bem dissociativa, ah, você dissociou, tal, explicou todas essas coisas da identidade, que aconteceu só por causa da religião. Tipo, muito louco. Eu até nos começos dos meus tratamentos, eu realmente precisei desapegar totalmente da religião pra elaborar tudo isso.
E aí você ficou no hospital.
Naquele dia eu fiquei. E aí... a minha psicóloga, ela ficou com medo de... de me mandar pra casa. E foi aí que eles começaram a conversar comigo sobre uma possibilidade de, quem sabe, eu ficar um pouco internada. Porque lá, eles têm também um espaço pra gente se diversificar. Porque como eu tô começando a ter esses gatilhos imparáveis, O medo de todo mundo era, tipo, acontecer mais alguma vez e eu acabar chegando no hospital, sabe? Acabar chegando em outro lugar, enfim, nervoso e tal E aí... Pensando nisso tudo que eu já te contei, toda coisa que eu tava sentindo e tal, eu tava fazendo uma lista As formas de escape também já não estavam boas, né? Tumar, essas coisas Eu fui pensando, pensando, pensando e eu acabei concordando com a ideia e decidindo me internar mesmo E foi assim, foi uma internação voluntária Eu escolhi, eu pedi E aí eu fui internar e aí eu passei 15 dias lá.
E como foram esses 15 dias?
Assim, é... Pode até parecer meio louco o que eu vou falar, mas foi muito bom. Foi maravilhoso, porque... Pode parecer meio louco, porque eu acho que a gente tá tão acostumado com aquela coisa de filme de terror, sabe? Que a gente pensa, ai meu Deus, esses filmes são psiquiatas. A gente pensa em pessoas maquiadas de palhaços. fazendo coisas muito loucas, enfim, só essas coisas que a gente vê em filme. E isso aqui não é nada disso, na vida real, não é nada disso mesmo. E assim, eu achei que foi bom, porque quando eu tava assim, eu tava meio que num isolamento social, não tava tendo praticamente nenhum contato humano, a não ser com a minha mãe, com as Como tava tão confusa essas questões de, né, eu não tava muito bem com a minha irmã, essas questões dela, essas questões de, ai, eu e meu pai e tal, e minha irmã, é, eu meio que enlouqueci com a religião e tipo, uma das coisas que a gente mais fazia era falar sobre a religião, que foi um jeito meio conflituosa a nossa relação, a gente também começou a discutir com o povo e tal, esses eram os meus únicos contatos naquela época. Então, foi muito bom porque, primeiramente, eu comecei a lembrar que existe um mundo, existe um mundo agora Que existem outras pessoas, que existem outras situações, que existem outras áreas da minha vida, não só da minha família Mas, tipo, outras coisas que eu posso pensar, outras coisas que eu posso... Por exemplo, eu fiz muitas amizades lá dentro Então, tipo, no segundo dia que eu tava lá, eu já tava pensando nisso. Tipo, nossa, eu tô num lugar que... Sei lá, eu me senti viva. Eu sei que foi uma situação tensa, mas eu senti que eu estava fazendo algo comigo, que alguma coisa estava acontecendo na minha vida, que eu estava me movimentando de alguma forma. Eu comecei a me sentir, assim, super animada Tipo, é como se eu tivesse esquecido que eu tava em internação Eu parecia que eu tava de férias, assim Estou de férias, eu estou me retirando do mundo através de uma postura errada Eu estou de férias, tipo E um momento de autocuidado Então, cada dia lá era... foram 15 dias, né? Mas cada dia lá era, tipo, incrível Eu tinha, tipo, realmente essa sensação de Eu estou procurando esses anos perdidos E eu tô encontrando uma lojinha cada dia que passa Porque era a minha relação com os enfermeiros, era a minha relação com os médicos Era a minha relação com os psicólogos, tinha as assistentes sociais Tinha os meus colegas de internação E aí tinha umas amigas mulheres e tinha uns amigos homens Então, nossa, minha vida de repente apareceu super empolgante Tipo, não tinha nada, eu tava sentindo que não tinha nada, né? Aquele vazio De repente, eu tenho várias coisas, assim Fiquei super animada super alegre. E aí, o tanto que eu aproveitei esse momento, porque eu tenho, assim, um dos meus taças de personalidade. Eu sou uma mulher muito comunicativa. Então, quando eu comecei assim, né, já me senti melhor e tal, eu fui usar o meu potencial pra conversar e fazer amizades. E aí, eu meio que dei a ideia de todo mundo se juntar, porque quando eu cheguei lá, Era todo mundo muito recuado, muito assim E eu cheguei, tipo, há de cabelo vermelho que fala com todo mundo e tal E aí eu falei, gente, vamos... Primeiro eu fui falando com todo mundo separado Primeiro eu fui conhecendo cada um separado E quando eu fiz a amizade com todo mundo, eu pensei assim Vamos juntar todo mundo e ser geral ali, todo mundo junto E aí eu dei a ideia da gente todo dia, uma vez no dia se reunir na varandinha do fumo, porque tinha uma varandinha do fumo lá Tipo, na gente não podia fumar em local fechado, então a gente tinha uma varandinha E aí a gente puxava várias cadeiras, sentava lá pra fumar E aí eu pensei, vamos todo mundo ficar sempre aqui Até quem não fuma vai sentar aqui também, vai ficar todo mundo aqui pra gente conversar e virar amigo Isso aqui vai ficar mais legal do que é Porque às vezes dava muita angústia, às vezes dava... Porque a gente ficava meio entediado, né? Porque tá meio isolado ali e tal. Então, eu tive essa ideia pra gente também se levantar. E aí a gente aproveitava esses momentos e começava a se abrir sobre as nossas histórias de vida, sobre o porquê que a gente tava ali, o que aconteceu, o que a gente sentia, o que os médicos falavam, a gente conversando assim. De paciente para paciente, sabe? Tipo... Às vezes era muito engraçado, porque às vezes a gente... Às vezes eu, tipo, um dos meus amigos lá, não estava muito legal com a psicóloga dele Então, às vezes ele falava assim... Não, aí... Toda vez que eu vou falar com a minha psicóloga, a minha psicóloga, ela fica falando que eu tenho que fazer isso, que eu tenho que fazer aquilo E aí eu fico muito falada com ela, enfim... Ela é muito legal nessas coisas, porque... Porque eu me sentia, assim, parte do mundo Eu sentia que tinham pessoas completamente diferentes de mim Mas que estavam passando pela mesma coisa E isso é que é conexão, né? Não é exatamente você ser igual Mas é, tipo, você conseguir se conectar com outras pessoas Porque nós sempre temos alguma coisa em comum E é meio que isso que liga a gente, né? O que você tem em comum comigo E como naquele momento da minha vida eu tava completamente transformada, o que a gente tinha em comum era que todos estávamos transformados, mas que a gente estava se cuidando. E era ótimo, porque assim, a gente, no final da nossa reunião diária, a gente sempre começava a motivar o outro. Então, e a gente trocava carinho, trocava amor, tipo, não tão Ela tinha regras, você namorar, essas coisas, não podia Mas, por exemplo, eu tinha um cordão de pedra muito especial Eu sou esotérica, adoro essas coisas de... A pedra, a energia, o incenso, a pela, não sei o quê E aí eu tinha comprado uma pedra que era pra equilíbrio emocional E aí... Um desses dias, a gente sentava lá, contando as nossas histórias. Assim, era todo mundo muito diferente, mesmo tipo de idade, de sexo, de beleza de vida, tudo. E um dos meus amigos lá era um senhorzinho muito idosinho, né? E ele começou a, enquanto a gente estava contando as nossas histórias, ele começou a se emocionar muito. Tipo, começou a chorar muito porque ele meio que tava se sentindo desacreditado. Pra ele ter... Pra ele já ser muito velho, então ele começou a falar, então eu sou muito bonita. E... Né? Eu... Eu sou muito velha, eu não sei mais o que eu vou viver e tal. Tipo, eu meio que não sei se dá tempo pra dar um jeito na minha vida ainda, né? E... E aí eu... Eu dei pra ele esse celular. presente pra ele, pra tipo, ser um símbolo de de esperança, né? Porque eu, assim, eu comprei com ele, né? A gente, seu apoio, né? A gente se motivou e aí eu fui dar esse presente pra ele, né? E falei assim, olha, você vai sair daqui e toda vez que você olhar pra esse presente que eu tô te dando carinho, até porque a nossa amizade, assim, lá com o pessoal internado foi inédita, inédita, porque a maioria das pessoas a gente realmente não sabia se a gente ia voltar a se ver depois, se a gente saísse de lá. Então, eu dei pra eles, mesmo que a gente não se fale mais, né, quando você for embora daqui ou quando eu sair, eles também sabem quem vai sair primeiro, enfim. Você sempre vai olhar pra essa tela e você vai se lembrar de que você Tem sempre uma oportunidade de dar o mais possível Sabe, essa pedra vai ser tipo uma âmpora, né? Uma âmpora pra você se sentir melhor pra quando você tiver naqueles dias difíceis pra você se melhorar Porque essa pedra eu comprei pra ser um equilíbrio emocional pra mim Então, tipo, todas as vezes que eu me sentia muito, muito, muito triste Eu pegava, fazia uma oração com essa pedra Então, tipo, agora eu tô te passando ela pra poder você começar a fazer isso também Então, tipo, é... Olha quanta coisa, tipo, parece até... A gente se conectou, assim, de verdade. Foi incrível.
E você mais tem contato com alguém de lá?
Tenho com uma pessoa só. Muito legal isso também, porque eu não fazia ideia. Eu não imaginava que a gente ia manter amizade. Mas foi a pessoa que, de todas lá, que eu mais me aproximei Não vou escolher o nome dele aqui, mas assim, ele tem uma idade mais próxima da minha E, sei lá, a gente, por alguma razão, a gente se dava melhor, a gente era mais próxima, desde o primeiro dia E o mais engraçado que eu lembro até hoje é que eu falei pra ele assim Todos os dias, nós dois estávamos malhando, exercitando, criando várias pequenas coisinhas, os micropassos, né? Micropassos pra poder se cuidar e se curar. E aí a gente, fazendo essas coisas, tem um dia que eu cheguei pra ele e ele começou a falar pra mim. Será que eu vou estar aqui no céu? Será que eu vou estar aqui no céu? Aí eu falei pra ele assim, olha, O dia que a gente sair daqui, a gente vai sair juntos! E aí ele falou, eu tô aí e tal, você tá falando isso pra você se sentir melhor e tal, você é muita amiga minha. Eu falei, não, eu tô falando sério, isso vai acontecer mesmo. Tipo, você acredita em energia? Eu estou mandando as minhas energias pro universo, eu estou dizendo, eu estou dando uma sugestão pra Deus. Deus vai me ouvir e tal. E no dia que os médicos vieram falar pra mim, né, Olha, então, você vai embora hoje?" Eu fui conversar com esse meu amigo, eu falei, você acredita? Os médicos me liberaram, eu já tô melhor e tal E ele falou, você está falando sério? Eu também! E aí eu fiquei tipo, não acredito! A gente sentou e a gente começou a chorar, sem felicidade, rindo só a gente entendido. Aí ele falou pra mim, você falou naquele dia mesmo, e aconteceu mesmo, eu falei tipo, é? Foi muito bom.
E como foi esse dia que você teve alta?
Então, nesse dia, a gente recebeu alta no mesmo dia, então eu já falei pra ele, Vamos passear agora, tipo, 20 dias aqui preso Vamos pra algum lugar, vamos pra uma praça, alguma coisa assim Vamos socializar com pessoas livres E aí, no mesmo dia, uma coisa que a gente chama de comum é esse espírito aventureiro É corajoso, tipo, tá bom, legal, vou mesmo, vamos completamente desapegado. E aí a gente foi mesmo. E a gente saiu do hospital e já foi dali pra uma praça city, ali pertinho, e já comprou um café, um bolinho de chocolate, porque a gente também não tinha o prazer de comer um bolo de chocolate lá dentro, essas coisas. E aí a gente já, comendo bolo de chocolate, bebendo café, pensando, ai meu Deus, como ser bom, como... Nunca mais vou esquecer de agradecer todos os dias 15 dias sem um cafezinho, sem um pão de chocolate A gente não podia tomar café, né? Porque a gente... Os médicos diziam que nós já éramos ansiosos o suficiente Então nada de estimulantes Aí a gente... Eu trouxe ele até aqui pra minha casa, que eu lembro Eu tava semana com a minha mãe, aí trouxe ele pra casa pra gente socializar mais à vontade. A gente assistiu filmes reflexivos e motivacionais sobre o momento que a gente tava passando, não sei o quê. E desde esse dia a gente manteve a amizade até hoje, a gente é amigo.
Que incrível! E como que foi pra sua família, assim, quando você contou que você ia ficar lá?
Que eu ia ficar internada? Olha... Minha vida foi intensa na família. Pelo o que eu me lembro, assim, da forma como eles... A forma como eles me olhavam, sabe? Porque não foi uma questão de comunicação, foi uma questão de expressão mesmo. Tipo, é... A minha mãe, ela é muito empática, sabe? Ela tem essa qualidade, esse dom de se colocar tanto no lugar do outro e, assim, tanto empática a ponto de, às vezes, até sentir também. A pessoa vê um pouco da dor que o outro tá passando. Então, às vezes, eu tinha a sensação, ela falando contigo, de quando ela tava, tipo, Triste, né? Tipo, preocupada também. Tava me vendo ali. E também porque contei várias histórias em Viver, né? Eu já tava super animada lá dentro. Mas ela lá fora, ela não sabia o que tava acontecendo. Então ela ficava tipo, meu Deus, será que ela tá bem? Será que ela tá tendo amigos? Será que ela tá conversando com alguém? Ou será que ela não tá? O que ela fica pensando? Como é que ela tá? Tipo, o gato dela tá aqui, eu tô cuidando do gato dela. Ela fala que tá pensando no gato dela. Viver! E a outra parte da minha família, os meus tios, os meus primos, que eu contei pra você que eu tava revoltada e não tava querendo falar com ninguém, nessa época, apesar disso que tava acontecendo, foi um bom momento também pra gente se reconectar. Eles vieram de longe, né, a maioria deles morava em lugares muito longe desse mundo e fizeram questão de vir de longe, vir pra me ver, pra me visitar, pra saber como eu estava. Então, assim, apesar de não ser tão empolgante, né, os momentos que eu vi a minha família, porque eu lia, eu tenho uma percepção de... é por isso que o meu propósito é a dança. Eu tenho muito essa coisa de... a expressão facial corporal. Como eu vejo isso muito em mim, eu também acabo que eu sinto muito isso na outra pessoa. Era impossível não entender o rosto do meu tio e da minha tia. Aquela cara de tipo... Eu estou falando coisas positivas pra você porque você está precisando de apoio, mas aquela cara de... Não sei se eu sinto pena, não sei se eu sinto tristeza, não sei se eu sinto raiva, enfim. Não gosto de viver sozinha aqui. E ninguém gosta, né? E aí, apesar de ter... um pouco dessa atenção foi muito bom, porque é por isso que soldados que lutam na guerra juntos viram amigos tão rápido, porque assim, isso também é uma forma de você se conectar mais profundamente, você criar um vínculo muito melhor, com certeza distante do artificial, que é também esses momentos difíceis, mas que a gente aproveita para se apoiar, se ajudar, Então, tipo, nesse momento eu continuei a falar comigo e com a minha família E eu falo com eles até hoje e a nossa relação é, tipo, incrível A gente se encontra, brinca, ri, assim A gente é muito... se dá bem, assim, muito conectado por causa disso que aconteceu, sabe? Se não fosse isso, eu não sei se eu ainda estaria revoltado de não falar comigo e com a minha família Então eu vejo que foi algo muito positivo, me ajudou muito.
E seu pai, você mantém contato?
Ainda não, mas eu estou me comprovidenciando isso, tipo, na medida do possível Porque eu também preciso me reconectar com ele Mas ele também está fazendo tratamento psicológico e tudo mais Então, como eu não quero ser especial, eu tô, tipo, vendo junto com a minha família, junto com a minha mãe também, com os amigos, né, que eu também tô compartilhando um pouco disso, e principalmente com alguns profissionais da área da saúde, pra ver uma melhor forma de como a gente vai voltar a se falar, de ver que, assim, não vá, assim, me abalasse, não vá, tipo... Porque eu já tô furada, né? Então, a preocupação é, tipo, você vai se manter assim? Ou será que vai se manter... Aí, muito impactante, né? O medo de, sei lá, ter uma recaída. Então, tipo, eu tô desenrolando ainda. Tudo nos micropassos. Cada dia uma pequena vitória, mas, assim, vai fluindo. Eu tenho que pensar, assim, como tá tudo encaminhando bem, Quem sabe daqui a alguns meses a gente vai ouvir isso falar. Eu já tive um primeiro passo que foi enviar uma carta pra ele. Na época eu tava pensando assim, como a gente poderia começar com pouca intensidade, a não ser uma coisa muito impactante, quem sabe uma carta. Eu descobri que eu amo fazer cartas, porque eu tava internada e eu fazia cartas pra todo mundo. Eu sempre fiz cartas antes, por causa da gratidão, cartas de gratidão pra um monte de gente. E aí, eu pensei, ah, vou fazer uma carta pra ele também. E aí, comecei com a minha mãe, né? Achei importante, né? Ela saber, ela acompanhar, né? Tudo bem com você, é importante pra mim, né? Tal, assim, vocês têm uma história, minha história é uma história diferente, minha mulher e meu ex é diferente, meu e o da sua filha, tal. E aí, a gente foi conversando e tudo bem dessa forma, né? Pra mim, tudo assim, tudo bem. Aí, eu mudei, mas, assim, é... Estou Esperando, porque essa pandemia aí toda eu não tenho certeza ainda se ele já leu, se já chegou nele, se ele já escreveu alguma coisa, já enviou, se por acaso vai chegar em mim em breve, talvez demore, porque tá tudo meio parado, né? Então aí eu tô esperando, por enquanto na curiosidade. Não fui respondida ainda.
E teve algum profissional Nesse hospital que tem aqui marcado muito?
Tem. Tem sim. É... Eu acho que... Olha... A maior... Quase todos os profissionais... Olha... É que tudo foi tão marcante. Eu vou escolher um. É... o enfermeiro, que era o nosso personal trainer, entre aspas, que a gente colocou o apelido de personal trainer porque ele era um enfermeiro que vinha todo dia de manhã acordar a gente e mandava todo mundo levantar pra pegar sol. Foi até aí que eu descobri um novo hábito, tipo o hábito de pegar sol pelo menos 15, 20 minutos por dia, que é saudável, não sei o que. Eu não sabia de nada disso. E ele, tipo, não, tem que pegar sol, porque vocês são em tratamento e o sol libera... Não lembro se endorfina, dopamina, não lembro, mas ele explicava, assim, em termos técnicos, né? Libera isso, aquilo... E aí a gente ia pra, tipo, o segundo andar, entre aspas, de uma varandinha que tinha lá, que era uma varanda que não tinha teia. Porque, tipo, a varanda que a gente ficava tomando, ela tinha telha, ela era meio aberta, mas ela tinha, tipo, mais grades, né? Pra gente não sair de lá E essa varanda, ela não tinha muitas grades Era um lugar que a gente só ia, assim, com bastante supervisão, os enfermeiros, todo mundo lá E ela era mais assim, tipo uma quadra, um pouco menor, mas... Entrava o sol e tal E aí ele trazia a gente pra lá e ele... Mandava a gente movimentar o corpo de alguma forma. Ah, não quero saber. Faz alguma coisa aí. Faz alguma coisa de chinelo. Faz alguma coisa, qualquer coisa. Aí eu só falava isso. Isso também é bom pra saúde. E aí... E aí ele sabia ensinar algumas coisas também. Aí ele começava a dar aula pra gente também. De exercício físico. E aí a gente começava a malhar todo mundo junto. E aí, foi muito impactante, porque, assim, desde o primeiro dia que ele começou, no dia seguinte, no outro dia, no outro, no outro, eu tava sempre, assim, esperando o momento de acordar de manhã e ouvir a coisinha dele de novo, falando, levanta pra pegar o sol e tal, porque é divertido. Conforme ele tinha, tipo, malhando e tal, A gente começava a dar várias risadas, soltava várias piadas, cantava música. Ele vinha porque era de muito tempo bombeiro. E eles ficam, tipo, cantando em quartel. São muito engraçadas. E, cara, é muito bom. Bem bom.
E como você recuperou a Rafaela?
Então... Primeiro, é... escrevendo esse nome pra mim várias vezes, relendo esse nome, sabe, pra tentar... A nossa memória... Quando eu confundo, eu sei que eu comecei a esquecer as coisas. Mas, na verdade, ainda tá ali, né? Então, eu meio que fui falando esse nome pra, tipo, as memórias voltarem e eu começar a me lembrar de quem eu realmente sou. E aí, o primeiro O primeiro passo foi esse, foi escrever muitas vezes esse nome, mexer nas minhas redes sociais, porque eu tava com esse nome de bruxa, né? Então, o que eu começava a montar, botava meu nome de volta. Começar pras pessoas que eu tinha pedido pra não me chamar de Rafaela e me chamar por outro nome, começar a falar, ó, me chamei de Rafaela agora. E pensei também em mudar o visual, porque como eu adotei um visual diferente, Não só por paixão ou estilo, mas com essa ideia de que eu vou ser uma nova pessoa Eu resolvi deixar o cabelo, mais precisamente O cabelo associado a essa pessoa que eu não quero mais Eu não quero mais esse cabelo E aí, eu era loura, né? E aí eu pensei, nunca mais vou ser loura Eu já não gostei mesmo, gente Eu pintei e não me achei muito atraente de loura Eu pensei, vou aproveitar que eu não gostei Aí eu pintei o cabelo de vermelho Eu já tive um campeonato de vermelho já há um tempo atrás, já tinha experimentado e gostado. E nessa época eu gostei ainda mais, muito, muito mais. Porque eu me senti não só outra pessoa, mas eu me senti eu mesma. Apesar de ser meio louca essa história, a volta é sempre muito boa. Quando você começa a ter uma volta em você, né?
E você foi internada uma vez só, ou não?
Foi mais uma vez. A primeira vez foram 15 dias. E as outras vezes, eu tive mais 5 internações, no total foram 6. Só que as outras internações foram todas muito curtas. Porque eu já tava num outro estágio já. dentro do meu tratamento. Eu já tinha melhorado em muitos pontos, então o pessoal que estava me acompanhando, eles me explicaram que seria um movimento um pouco de regressão se eu ficasse muito mais tempo lá. Então, é claro que o acolhimento ele sempre existe e como Todas as pessoas voluntárias, quando eu ia lá e falava que eu queria me internar de novo, eles não fechavam as portas pra mim. Mas eles estavam fazendo o máximo possível pra eu manter o mínimo lá. Então, tipo, a segunda vez que eu me internei, eu fiquei um dia. Aí no segundo dia, já viu já, as assistentes sociais, elas entravam várias vezes pra falar comigo lá, mais do que os médicos. E aí ela chegava e eu falava, olha, tudo bem? E aí? Tá toda pra ir embora? Você já quer sair? Então era bem... E aí eu fiquei quatro dias. Quatro dias eu já tava saindo. Aí as outras vezes era assim também. Fiquei... Na terceira vez eu fiquei dois dias. Na quarta vez eu fiquei três. Na quinta eu fiquei dois. E no sexto dia eu fiquei três dias. Então foram bem quatro dias. E aí eu depois... dentro das terapias, eu fui até entendendo também, né, que movimento era esse, que era um movimento, assim, de zona de conforto. Tem tudo a ver com essa palavra regressão, porque a minha psicóloga estava me explicando que eu já tinha me curado de algumas coisas e era um movimento com quem está sentindo muita dificuldade de manter a transformação. Então, tipo, é meio que Entre aspas, né? Você querendo voltar atrás, né? A zona de conforto nesse sentido, né? Porque lá talvez estivesse mais fácil do que como tá hoje, mas aí a gente foi elaborando, tipo, porque isso não é bom, né? E aí, depois dessa externação, eu já consegui absorver isso 100% e já não vou internar mais.
E o que fazia, assim, O que acontecia pra você ter esse desejo de voltar lá?
O que acontecia é que eu queria evitar ao máximo todo tipo de conflito Só que o conflito é uma coisa... Tudo bem, a gente pode diminuir a intensidade, né? Mas sempre vai existir conflito familiar, por exemplo Até no tempo de amizade, às vezes até no trabalho Sempre tem alguns momentos que a gente precisa encarar isso, a gente até cresce com isso Só que eu não queria, assim, eu queria viver um mundo em que as pessoas não brigassem nunca, não discutissem nunca Com sempre amor, 100% da vida amor, carinho Não que não seja amor, mas assim, que as pessoas nunca em um momento discutissem, discordassem Principalmente discutir e muito menos brigar E aí... E aí todas as vezes que começava a discutir dentro de casa, discutia um dia, depois discutia dois, quando discutia já três vezes eu já tava querendo voltar Era meio que uma fuga desse conflito E aí... Mas aí com isso eu aprendi a encarar de uma forma mais saudável E.
Tudo isso aconteceu antes de você encontrar o seu namorado.
Seu ex-namorado. Graças a Deus! Porque eu estava muito assim... Ah! Naquela época.
E como que a dança entrou... Oi?
Desculpa. Eu encontrei com ele quando toda essa onda tinha passado e eu já estava, tipo... bem no finalzinho do meu documento. Então, assim, tinha alguns problemas, aquelas coisas que eu... que são coisas, assim, mais cotidianas. Tipo, não é aquela coisa, assim, de uma explosão muito grande. Era, no máximo, tipo, ah, eu estou mais estressada hoje, ah, hoje eu estou um pouco mais ocupada, esse dia eu estava mais animada, mas... Dava mais normal, sabe? Não era aquela coisa de... Ai, meu Deus, eu vou sair por aí andando e, meu Deus, esquecer o quê que eu tô andando. Paralongar, como sempre. Não eram essas coisas desse jeito.
E como que a dança entrou na sua vida?
Oi?
Como que a dança entrou na sua vida?
Ah, então. Eu estou fazendo até um clipe sobre isso. E eu já tinha descoberto uma paixão pela dança antes de ter passado por isso que eu vou te contar, que foi um pouquinho antes da minha internação Nessa época que eu tive essa fuga de sucesso da índia, que eu comecei o meu tratamento Eu iniciei um tratamento de terapia, com psiquiatra também, mas um mês alguns meses ou algumas semanas, assim, bem pouco antes de decidir me internar, né? E nessa época, o iniciozinho, eu... teve um dia que eu acordei e eu simplesmente não conseguia mais falar. Então, tipo... E assim, não era não falar, assim, pelos exames, eram não falar por ansiedade, o que eu acho até mais diferente é porque, sei lá, quando você fala assim, ah, não falar, né? Você imagina assim, um pouquinho mais, ah, beleza. Mas não era isso. Na verdade, era o contrário. Era tanta ansiedade, tanta agitação que eu tava sentindo, os meus pensamentos, eles estavam, tipo, flutuando, assim, tão rápido, que a palavra passou a não ser mais. O meu diálogo ficou completamente interno. E existia, assim, uma fragilidade minha nessa época muito grande, que era um medo, um medo muito intenso de ser julgada e criticada. Então, como a minha ansiedade estava lá em cima, me juntou com esse medo da crítica, do julgamento, as palavras não saíam mais também, porque... Eu tinha uma sensação de, se eu começar a soltar o berba aqui, vai sair todas as coisas pela minha cabeça, vai sair tanta coisa, eu acho que ninguém vai entender nada E aí eu senti o medo de ser educada e praticada por isso Então, é claro que no dia em que eu acordei sem falar, eu não tava pensando em tudo isso que eu tô te contando É que conforme as terapias eu elaborei, me entendi melhor e tal Mas na época, tipo, eu não entendia nada Na época eu simplesmente parei de falar e pronto E eu precisava encontrar uma forma de fazer com que as pessoas me entendessem sem usar as palavras. E, assim, como era uma coisa fisiológica, quando eu fui no médico, eles até me examinaram, né? Abra a garganta, abre a boca, faz assim, né? Pra ter certeza. Não era nada fisiológico, era totalmente mental. Mas, assim, a voz não saía, mas eu poderia falar muda, sabe? Mas as pessoas não entendiam nada, não iam assim. Isso foi a primeira coisa que eu tentei, mas aí eu pensei, cara, não tá dando certo. Eu estou falando amor-mudo, né? E as pessoas estão entendendo calor, entendeu? Era impossível. E aí eu comecei a deixar a criatividade fluir. Eu pensei, cara, eu preciso fazer alguma coisa. E aí eu comecei a usar a minha expressão corporal e facial, como que eu preciso da Totalmente na dança, porque não é só se movimentar, né? A dança é uma coisa que é teatral também. Então, todo mundo que é do mundo da dança também tira um momento pra treinar, além das técnicas, só a sua expressão corporal, facial. É teatral porque a expressão facial também existe, não é só corporal. Existe até um jeito específico de andar, né? Pra você se expressar e tudo mais E eu fui deixando isso, fui nessa época, fiquei umas duas semanas, mais ou menos, sem falar nada E comecei a conseguir, o mais legal foi que eu consegui me envolver com as pessoas só assim, dessa forma Fazendo mímica, mas assim, conforme eu consegui Eu tô lembrando aqui, era muito engraçado os conversos É bom porque eu realmente consegui me envolver Porque quando eu finalmente parei de tentar falar com a boca Mímica, assim, na boca e usar o corpo E a expressão facial, cultural Eu consegui, eu me senti comprimidinha Porque, tipo, as pessoas... Eu falava uma coisa e elas conseguiam me entender Meu Deus, eu me compreendei no mundo É isso que eu preciso fazer, as pessoas me entendem pela expressão corporal, é a dança mesmo, inclusive comigo. Inclusive eu fiz até uma amizade nessa época, que é um amigo meu que eu sou muito amiga dele até hoje, também por causa disso. Porque eu me lembro que eu não tava falando nada nessa época, né? Mas eu tava procurando viver a minha vida o mais normal possível apesar disso. E... é... E a gente virou amigo, assim, sem eu precisar usar nenhuma palavra E tudo começou porque eu estava tocando reggae no texto que a gente tava E eu vi que ele gostava também de reggae Começou a falar disso, cantar e tal E aí eu comecei a dar sinais pra ele de que eu também amava aquilo E aí a gente... Por um acaso, assim, ele não teve nenhum tipo de julgamento, nenhum tipo de crítica de pensar... Essas pessoas malucas, né? Não me fala, né? Eu teve essa coisa e simplesmente falaram, ah, chega aí, senta aqui, vamos conversar. E era super engraçado porque ele tava tentando me decifrar e outras expressões corporais lá e a gente conseguia sempre se entender. Então eu tinha aqueles momentos de ele falar assim, ah, é isso, se você tá dizendo, tipo, Tipo, acertou! Estava entendendo! E aí, a gente virou muito amigo, assim, por causa disso. E aí, duas semanas depois, eu comecei a voltar a falar, fiquei melhor. A gente manteve a amizade, e é uma história que a gente até hoje guarda com muito carinho, que foi sensacional.
E você conversava com o corpo, você falava com o corpo no espaço da dança? Tipo numa escola de dança?
Oi?
Dito de você falar com o corpo, era dentro de uma escola de dança ou não?
Como assim?
E se tá me contando dessa forma de expressão com o corpo, era no dia a dia?
Isso. Eu já tinha, eu já dançava nessa época. Mas eu ia no dia-a-dia, não era em escola, sabe? Às vezes eu precisava dançar beijo pras pessoas me entenderem. É claro que é um pouco diferente, né? De uma performance e tal, mas... Tipo... Dançar beijo!
E quando que surgiu a dança, assim? Qual foi a primeira vez que você teve contato com a dança?
Foi... O primeiro contato foi... Assim, de vivência que você diz ou tipo a inspiração?
Oi?
Você diz o primeiro contato tipo de vivência mesmo, de experiência. Foi um pouquinho depois que eu ter largado o colégio. Muitos anos que eu... Eu já estava me descobrindo nesse mundo da dança. Eu já tinha experimentado algumas vezes, muitos anos antes, uns 14 anos, num clube particular que existia dessa escola, da dança brasileira, porque ela tinha um conceito de esporte, arte, todos participavam. E aí eu tive a oportunidade já de provar o gostinho nesse clube, provei o gostinho um pouquinho também na época que eu fiz teatro, porque eu era mais nova também. E o teatro que a gente fazia, o professor é demais, ele é incrível. Sempre tinha uma coreografia no final. Eu pensava, cara, eu estou aqui só pra dançar a parte final da coreografia, mas faça eu procurar uma dança, não quero ficar fazendo teatro aqui. E aí já desvendecei e comecei a pesquisar na internet. Eu queria me aprofundar mais. Tá, legal, eu descobri que eu amo dança, mas eu quero saber qual dança eu quero agora. E aí eu pesquisei em vários vídeos na internet, Balé, jazz, hip-hop, dance... Não sei o que eu comecei a estudar lá E aí eu descobri o maravilhoso hobby Eu vi, eu achei uma coisa mais linda e eu pensei Eu vou experimentar para ver se é isso mesmo E na prática, tudo isso que eu estou achando E quando eu fiz a minha primeira aula, minha professora Nossa, a minha primeira professora, ela é demais, cara Não, a primeira não, a segunda, menina Eu fiz dois meses de aula, no terceiro mês é que eu mudei de professora, né? Aí, ela é incrível porque ela é muito alta astral Isso combina muito comigo, porque eu sou assim, né? Super animada, positiva, amava muito reggae e tal E aí a gente se conectou muito e, tipo, é uma dança meio esportiva também Porque tem a parte da acrobacia, que precisa ter muita coragem pra subir mais de 300 metros de altura Lá em cima, e tipo, você se prender só com a perna, e soltar o braço, e ficar assim... Tem que ter muita coragem, confiança E tem que ser muito apaixonado por adrenalina, isso é uma coisa que com certeza eu sou Eu descobri o meu mundo ali, porque eu pensei, não é só a dança, é uma dança Tem muita adrenalina e isso é o que eu amo, sabe? Esporte radical, aventura, essas coisas. E aí eu pensei, nossa, aqui é perfeito. Eu tenho um pouco dessa vibe da adrenalina, né? De uma forma que eu consigo, além de dançar, também deixar fluir o meu lado mais sexual, mais feminino. Então, eu também fiquei apaixonada. E ela, tipo, super... o tempo todo na aula, lá... Linda! Arrasou! Isso aí! E tal... É que eu fiquei apaixonada mesmo!
E como você se sente quando você tá dançando?
Eu... Nossa, eu... Dá até uma coisa, assim... Eu não sei, porque... Eu me sinto infinita. Não vou dizer, assim, nem incrível, porque... Vai além, isso é incrível. Eu me sinto bonita. Eu me sinto... Eu sinto que todos os meus medos, eles vão embora. Ou, no mínimo, eles entram numa salinha e ficam escondidinhos ali. Eu nem percebo que eles estão ali. E isso me dá muita, muita, muita vontade de viver, cada vez mais. Porque quando eu tô me movimentando, conectada com a melodia da música também. Então, eu sinto como se eu estivesse fazendo uma trança no cabelo, sabe? Mas um cabelo gigante, um cabelo que nunca acaba. E eu tô o tempo todo fazendo uma trança, o que é uma conexão meio que infinita, sabe? Porque os movimentos, quando eu tô dançando, eles vão falando meio que um dentro do outro, quando eu encaixo e levanto. Tem ascenso. É tipo uma montanha-russa, sabe? Assim, falando de sentimento, né? Que primeiro eu me sinto subindo da montanha-russa e aí, de repente, eu odeio. Você dá aquela sensação de frio na barriga. E depois eu sei que eu vou subir de novo. E, assim, o mais legal é que, apesar de toda essa adrenalina e diversão, eu acho que a montanha-russa descreve perfeitamente o que eu sinto quando estou dançando. Porque, apesar... Dessa adrenalina toda, tem também uma coisa que é muito segura E muito confiante, né? Porque quando a gente tá na montanha-russa, a gente sabe que a gente não vai... Apesar da gente sentir aquele frio na barriga, aquela coisa tipo... Uou! Fica até com a gente em direção ao fregante Eu sei que eu estou presa ali, né? Quando a gente tá na montanha-russa, a gente volta com ferro, assim, né? Volta sujo, volta com ferro, a gente segura ali Então, tipo, é uma adrenalina, uma coisa muito gostosa, mas que eu sei que eu tô estável, que eu tô, tipo, confiante, que eu tô segura, sabe? E esse clipe, né?
Onde surgiu?
Então, surgiu desse momento da minha vida atual que eu tô concluindo a minha capacitação pra finalmente realizar meu sonho de dar aula E aí eu pensei Que eu preciso ser bastante criativa, mas eu quero, além da criatividade, eu quero unir o meu trabalho, o meu propósito de vida com a minha história de vida Porque, afinal, se eu não tivesse passado por tudo que eu passei, eu não seria quem eu sou hoje Então eu quero mostrar pras pessoas todo o caminho Também pra motivar, porque como eu já tive experiências de transtornos, né? Depressão, ansiedade, todas essas coisas Também pra, quem sabe, motivar alguém que hoje está passando por isso E esteja precisando de uma luz, de uma motivação Alguém que diga, eu já passei tudo isso, né? Quanta história intensa, né? Mas apesar disso, a cura sempre existe, ela sempre tá lá Você vai se curar e você também pode pegar e se inspirar e fazer algo que nem eu tô fazendo agora, né? Que é pegar tudo o que você passou Não sentir vergonha do que você passou, mas se sentir mais forte com isso Eu mostrar pras pessoas e transformar isso numa coisa bonita, que pra mim é arte. Na arte eu consigo mostrar isso de um jeito bonito. Então, essa é a intenção. Mostrar quem eu sou, conciliar com o meu trabalho, com o que eu vou ganhar e também motivar as pessoas. Até porque eu, Rafaela, acredito que todo mundo tem uma arte. Mesmo aquelas pessoas que não se identificam assim. em trabalhar com arte, mas ela tem, no mínimo, como hobby. Porque a arte, ela tem essa conexão com a nossa essência, nosso eu mágico. Então, assim, dá pra você fazer isso usando o meu trabalho como motivação, até mesmo dentro de um hobby. Se você é escritor, você fazer um livro, não precisa ser aquela coisa de Hollywood. Pode ser um ponto, entendeu? Já é foda pra caralho. Já é tiro. Pode ser, ah, eu não sou escritora, não sou dançarina, mas eu sou pintora, eu sou desenhista. Vai fazer um desenho, um quadro, assim, do que você passou e, enfim, tudo o que passou de intenso se torna uma coisa linda. Transforma. É muito lindo. É muito lindo.
Rafaela, deixa eu te falar uma coisa. A gente tem uma entrevista marcada agora. com outra pessoa e no Zoom a gente não consegue fazer duas ao mesmo tempo. Mas eu não quero que a nossa conversa acabe. Será que a gente consegue continuar amanhã?
Com certeza! Eu também!
Você pode?
Posso! Oba! Bom o nosso namorado? Bom, bom. Vamos marcar.
Que hora... Como que tá o seu dia? Como que tá a sua vida aí? Que horário que é bom pra você?
Deixa eu pensar aqui na rotina. Eu costumo... Eu costumo resolver, assim, aquelas tarefas mais essenciais, tipo limpar a casa, fazer comida e também cuidar dela mais de manhã. Então, acho que fica melhor pra mim o horário se for... Ou no final da tarde ou à noite. Mas, assim, você me avisa. Porque qualquer coisa que ficar muito melhor pra você de manhã, eu ainda assim consigo dar uma adaptada, porque tá tudo bem flexível. A hora que eu tiro pro curso a capacitação, o trabalho, a malhar, a cuidar da casa, eu posso pegar e mudar o horário, entendeu? Tá super flexível.
Tá, então vamos, assim, eu só preciso confirmar com todo mundo, mas assim, por volta de umas 5, 6 da tarde. Você acha que rola?
Rola, rola. Amanhã, né? Amanhã, umas 5, 6.
Isso. Amanhã.
Tá, perfeito.
Só pra gente continuar, porque tem muita coisa ainda. Aham, eu tô... Quero saber dessa pequenininha.
Oi?
Eu quero saber dessa pequenininha também. Da filhota.
Tá, filhota!
Então, ó, eu vou marcar certinho E aí eu confirmo... Posso te mandar um WhatsApp? Ou você prefere e-mail? Que que é melhor? Prefiro WhatsApp Tá, aí eu te mando, confirmando o horário, e te mando o link no Zoom Aí a gente faz a mesma coisa que aqui, pode ser?
Tá, pode, com certeza! Oba!
E enquanto isso, então... Ou, se não acontecer um tempo Separar umas fotos, assim, que você tiver da sua vida Ah.
Mas pode deixar Eu vou procurar várias coisas, eu vou te mandando tudo, depois você vai ver Assim, quanto mais eu tiver, melhor Vou procurar de tudo que a gente falou, tipo Na época antes da internação, depois da internação Eu tenho a família lá atento, eu vou te mandando tudo Oba!
Combinado, então Então até amanhã e muito obrigada por estar dividindo com a gente essa história incrível Ah, obrigada.
Você também. Você não sabe quanto eu amo você, gente. A gente se conectando aqui é muito bom.
Então eu te espero amanhã, tá bom?
Tá bom.
Um beijo em vocês duas.
Beijo.
Tchau.
Tchau.
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