RELATO DE VIVÊNCIA : MUSEU DA PESSOA
“40 anos da Resposta Brasileira à AIDS”
Por Iamara Lopes
Eu cresci vendo a história da AIDS acontecer diante dos meus olhos.
Era uma época em que a doença carregava medo, estigma e silêncio.
E antes mesmo de entender a dimensão do que estava acontecendo no Brasil, eu aprendi a sentir a dor das famílias que perdiam seus filhos, irmãos, amigos muitas vezes sozinhos, escondidos, sem amparo e sem despedida.
Vi o preconceito destruir pessoas antes mesmo do vírus.
Vi mães que tinham vergonha de dizer o diagnóstico, amigos afastados, vizinhos que cruzavam a rua com medo de um abraço.
A AIDS marcou uma geração inteira com um tipo de sofrimento que não cabia nos noticiários.
Eu também perdi pessoas queridas.
Algumas foram levadas rápido demais, outras lutaram até o fim com dignidade e força.
Mas nunca esqueci o medo nos olhos delas ,não da morte, mas do abandono.
Com o tempo, aprendi que a resposta brasileira à AIDS foi construída por gente comum:
profissionais exaustos que não abandonavam seus pacientes;
mulheres que cuidavam de seus familiares sem receber orientações;
pessoas vivendo com HIV que se uniram para exigir respeito;
e muitos de nós, testemunhas silenciosas, que vimos a história mudar dia após dia.
Hoje, quando olho para trás, percebo o tamanho da transformação.
A ciência avançou, o tratamento evoluiu, a informação venceu a ignorância.
Mas a memória daquela época continua viva em mim , não pela dor, mas pela coragem das pessoas que enfrentaram o desconhecido.
Contar essa história é honrar todos que foram silenciados.
É dizer que eles existiram, lutaram e deixaram marcas profundas no Brasil.
É lembrar que a AIDS não é só uma doença:
é um período da nossa história que revelou preconceitos, mas também revelou humanidade.
Eu envio este relato porque acredito que memória também é cura.
E porque tudo o que vi e vivi , faz parte...
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RELATO DE VIVÊNCIA : MUSEU DA PESSOA
“40 anos da Resposta Brasileira à AIDS”
Por Iamara Lopes
Eu cresci vendo a história da AIDS acontecer diante dos meus olhos.
Era uma época em que a doença carregava medo, estigma e silêncio.
E antes mesmo de entender a dimensão do que estava acontecendo no Brasil, eu aprendi a sentir a dor das famílias que perdiam seus filhos, irmãos, amigos muitas vezes sozinhos, escondidos, sem amparo e sem despedida.
Vi o preconceito destruir pessoas antes mesmo do vírus.
Vi mães que tinham vergonha de dizer o diagnóstico, amigos afastados, vizinhos que cruzavam a rua com medo de um abraço.
A AIDS marcou uma geração inteira com um tipo de sofrimento que não cabia nos noticiários.
Eu também perdi pessoas queridas.
Algumas foram levadas rápido demais, outras lutaram até o fim com dignidade e força.
Mas nunca esqueci o medo nos olhos delas ,não da morte, mas do abandono.
Com o tempo, aprendi que a resposta brasileira à AIDS foi construída por gente comum:
profissionais exaustos que não abandonavam seus pacientes;
mulheres que cuidavam de seus familiares sem receber orientações;
pessoas vivendo com HIV que se uniram para exigir respeito;
e muitos de nós, testemunhas silenciosas, que vimos a história mudar dia após dia.
Hoje, quando olho para trás, percebo o tamanho da transformação.
A ciência avançou, o tratamento evoluiu, a informação venceu a ignorância.
Mas a memória daquela época continua viva em mim , não pela dor, mas pela coragem das pessoas que enfrentaram o desconhecido.
Contar essa história é honrar todos que foram silenciados.
É dizer que eles existiram, lutaram e deixaram marcas profundas no Brasil.
É lembrar que a AIDS não é só uma doença:
é um período da nossa história que revelou preconceitos, mas também revelou humanidade.
Eu envio este relato porque acredito que memória também é cura.
E porque tudo o que vi e vivi , faz parte de quem eu sou hoje.
Iamara Lopes
Brasileira
Neuropsicopedagoga, escritora e testemunha da história viva da AIDS no país.
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