Eu trago dentro de mim dois eventos, àqueles que chamo de “meus Woodstock” pois embora sejam dois eventos distintos eles tiveram efeitos importantes em minha vida...eles marcaram ao mesmo tempo duas gerações, uma que no fim dos anos 70 para o início dos 80 conhecia o crepúsculo de seus dias e outra que no mesmo período conhecia a aurora dos seus , ambas viram juntas as últimas apresentações do futebol arte da seleção brasileira entre 1978 e 1982, ambas viram o alvorecer do futebol força e de resultados das seleções da Alemanha e Itália no mesmo período, ambas viram a massificação nos meios de comunicação e a banalização da vida que marcou a virada das décadas, ambas assistiram com um misto de medo e desconfiança a guerra das Malvinas na vizinha Argentina e ambas acreditaram de todo o coração de que um novo tempo surgia com a abertura e a redemocratização nos termos da música de Ivan Lins e semelhante à canção “Amanhã” de Guilherme Arantes...
O festival de Woodstock é a marca da geração de 60 e marcou as duas ou três gerações seguintes levando reflexos por toda as décadas de 70 e 80 e lançando ecos na década de 90...dias de paz, amor, sexo, drogas e Rock’n roll.
Assim foi pra mim o II Festival de Águas Claras que aconteceu em 1982, eu fui para acompanhar boa parte da turma, mas foi lá que realmente eu entrei em acesso direto às muitas tribos de “malucos”, pessoas que gostavam de Rock, mas que viviam em uma época onde o Hard Rock ainda comandava e o Heavy Metal dava seus primeiros passos e neste contexto eles eram conhecidos pelo termo de "“roqueiros pauleira” e curtiam um pouco de “pop-rock”, Rock progressivo e até mesmo deram o principio para um tipo de Rock brasileiro que recebeu a alcunha carinhosa de “Rock rural” e existiam no final dos anos 70 e começo dos 80 e lancei as sementes daquilo que sou hoje...sob o som de gente conhecida como Raul Seixas, Sá e Guarabira e de...
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Eu trago dentro de mim dois eventos, àqueles que chamo de “meus Woodstock” pois embora sejam dois eventos distintos eles tiveram efeitos importantes em minha vida...eles marcaram ao mesmo tempo duas gerações, uma que no fim dos anos 70 para o início dos 80 conhecia o crepúsculo de seus dias e outra que no mesmo período conhecia a aurora dos seus , ambas viram juntas as últimas apresentações do futebol arte da seleção brasileira entre 1978 e 1982, ambas viram o alvorecer do futebol força e de resultados das seleções da Alemanha e Itália no mesmo período, ambas viram a massificação nos meios de comunicação e a banalização da vida que marcou a virada das décadas, ambas assistiram com um misto de medo e desconfiança a guerra das Malvinas na vizinha Argentina e ambas acreditaram de todo o coração de que um novo tempo surgia com a abertura e a redemocratização nos termos da música de Ivan Lins e semelhante à canção “Amanhã” de Guilherme Arantes...
O festival de Woodstock é a marca da geração de 60 e marcou as duas ou três gerações seguintes levando reflexos por toda as décadas de 70 e 80 e lançando ecos na década de 90...dias de paz, amor, sexo, drogas e Rock’n roll.
Assim foi pra mim o II Festival de Águas Claras que aconteceu em 1982, eu fui para acompanhar boa parte da turma, mas foi lá que realmente eu entrei em acesso direto às muitas tribos de “malucos”, pessoas que gostavam de Rock, mas que viviam em uma época onde o Hard Rock ainda comandava e o Heavy Metal dava seus primeiros passos e neste contexto eles eram conhecidos pelo termo de "“roqueiros pauleira” e curtiam um pouco de “pop-rock”, Rock progressivo e até mesmo deram o principio para um tipo de Rock brasileiro que recebeu a alcunha carinhosa de “Rock rural” e existiam no final dos anos 70 e começo dos 80 e lancei as sementes daquilo que sou hoje...sob o som de gente conhecida como Raul Seixas, Sá e Guarabira e de gente pra mim até então desconhecida como Língua de Trapo, Premeditando o Breque e Placa Luminosa e curtindo um ambiente de “pós-hippies” os herdeiros de um movimento agonizante e que se recusava a morrer mais de dez anos depois do Woodstock eu comecei a ser o que sou hoje.
Parte de mim odiou o festival, choveu demais, muita lama, pouca coisa pra fazer, comida horrível...mas por outro lado o clima de amizade, companheirismo, solidariedade era algo mágico...a falta de tabus, leis, regras e normas, o nudismo expontâneo e o respeito por este nudismo, o sexo carregado de um tipo de afeto sem obrigações ou culpa, e a sensação de que tudo era permitido embora nem tudo fosse conveniente e o que não se desejasse podia ser recusado foi o que pela primeira vez na minha então curta mas vivida vida me colocou em contato com Gaia a mãe terra e me fez sentir parte de algo maior mas nem por isso mais importante que eu...
Assim também foi pra mim o I Rock’n Rio em 1985 quando realmente ele teve mais jeito de “Rock”, embora muita coisa deixasse a desejar em relação ao estilo como Baby Consuelo(Hoje Baby do Brasil), Erasmo Carlos ou Ney Matogrosso eles eram inegavelmente grandes artistas e cantores, depois eu julgava válido a presença deles com base na MINHA VISÃO do Rock nacional, principalmente se levarmos em consideração a importância de Erasmo Carlos para o Rock brasileiro dos anos 60, Ney Matogrosso na época dos Secos e Molhados e mesmo a “nordestíssima” Baby Consuelo com seu na época marido o fantástico guitarrista Pepeu Gomes...e depois o festival aconteceu no auge do estilo Heavy Metal Rock no Brasil, quando o Hard Rock já era ignorado pela geração que vinha, os “roqueiros pauleira” era vistos de forma preconceituosa por esta geração e chamados pejorativamente de “bicho grilo” e quando a indústria fonográfica havia percebido o filão que o ramo era e decidiu explora-lo...pra mim foi o pico, ver Ozzy Ousborne, AC/DC, Iron Maiden, Whitesnack, Scorpions e até mesmo Nina Haggen e Queen.
Eu voltei realizado, foi como se eu tivesse plantado em Águas Claras e colhido no Rock’n Rio e percebi que neste último eu havia virado mais uma página de minha vida, cada um deles representou “o primeiro dia do resto de uma das minhas vidas”.
Águas Claras marcou uma geração, foi o fechar de portas e o apagar das luzes de um tempo mais inocente, mais feliz, um tempo onde as coisas eram mais simples, a vida mais doce e a morte mais distante, um tempo de paz e amor livre curtidos com sexo, bebidas alcoólicas, cogumelos e fumo e de uma geração perdida entre dois mundos ao viver a sua juventude entre duas décadas distintas: a segunda metade dos esquisitos anos 70 e a primeira metade dos sintéticos anos 80 sem viver a totalidade da primeira e sem assumir a seguinte já que seu ciclo se encerrou no meio da década, foi o fim de uma geração herdeira de uma filosofia já agonizante no final dos anos 60, pessoas solidárias, amigas e afetuosas mas tudo de uma forma muito expontânea, a primeira geração cujo despertar sexual se deu no sob o signo do sexo “quase” livre, onde o Rock era símbolo de esquisitice e no Brasil se curtia o “Rock Rural” (criado aqui) junto com o Hard Rock Anglo-americano, onde as tatuagens não eram modismo, eram ligadas a motivos místicos, esotéricos, psicodélicos, onde gostar de Rock era sinônimo de ser meio alienado, meio “maluco beleza” como dizia Raul Seixas, uma geração para quem o Rock significava a marginalidade da rebeldia de ser diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade, a última geração a fazer bailinhos nas salas de suas próprias casas ... a primeira edição do Rock’n Rio foi o “começo do fim do mundo” para esta geração um pouco politizada por ter vivido os últimos anos da década de 70 e os primeiros da década de 80, mas foi também o alvorecer daquela que viveria TODOS os anos 80 e assumiria os anos 90, o Rock’n Rio marcou o nascimento desta geração, a dos filhos daqueles que viveram os loucos anos 60 mas que ou eram pessoas cuja vida difícil tornaram-nos adultos sisudos e ligados ao trabalho ou eram pessoas que por serem da classe média foram da turma do “Paz e amor” e depois se tornaram da turma da “Frustração e ódio” por verem que seus sonhos de paz e amor mal eram sonhos, os filhos destas pessoas formaram uma geração que viveu sua juventude nos recessivos anos 80 onde estava se acordando da longa noite chamada “Regime militar”, a primeira geração cujo despertar sexual deu-se sob o signo do medo da AIDS, onde o Rock era símbolo do uso de drogas, de criminalidade e de agressividade gratuita, uma geração onde as tatuagens eram um modismo ligado as bandas de Rock, símbolos orientais ou de artes marciais, onde gostar de Rock era uma forma de intimidação dando uma sensação de ser alguém perigoso e digno de medo, contudo ainda assim a última geração a curtir junto com a anterior os bailinhos de musica lenta, uma geração que junto a anterior com base nesta transição do regime militar para uma leve democracia assistiu ou participou do surgimento de grupos ligados ao socialismo, ao comunismo, ao anarquismo, que sofreu até da influência da geração anterior e do movimento Punk e foi desenvolvendo seus próprios valores mas tornou-se igualmente consumista como seus rivais da chamada “geração Shop center” e hoje conhecidos como “teens” e com isso foi pouco a pouco sendo absorvida ou simplesmente se perdendo dentro desta última tornando-se a grande “geração coca-cola” imortalizada na canção de Renato Russo, uma geração que ao contrário da anterior era extremamente egoísta e egocentrista, pessoas que viam no Rock não uma forma de rebeldia mas a desculpa para atos de delinqüência injustificada e que viam na turma ou na tribo urbana não a chance de fazer parte de algo maior ou de compartilhar com iguais mas apenas os meios para se obter o poder mediante a violência para se obter respeito através do medo, uma tola conduta visando a virilidade onde ser parte de uma “gangue” era garantia de chocar as pessoas e ser temido, respeitado e poderoso ao mesmo tempo da garantia de segurança já que uma “gangue” garante que seus componentes se defendam mutuamente, pode-se ser agressivo contando com os outros para a necessidade de defesa... a rebeldia a partir de então foi pasteurizada e institucionalizada no sentido de servir aos interesses comerciais da sociedade de consumo, do capitalismo financeiro moderno, pela industria do consumo, a mídia desenvolveu todo o sistema e todo o processo de incorporação das tribos urbanas a fim de torna-las nichos de consumo e sua contracultura produtos lucrativos...assim como aconteceu com o hippies no final dos anos 60 ao verem seus ideais e sonhos serem incorporados e vendidos pelo industria de consumo a ponto do festival de Woodstock tornar-se a maior manifestação do movimento e também marcar o começo de seu fim, assim também foi o I Rock’n Rio para mim e todos àqueles que são como eu...é algo que ao mesmo tempo que me enche de orgulho me enche de tristeza pois eu participei daquilo que foi o fim de uma era e depois daquilo que foi o começo de outra que também foi um fim pois esta outra era acabou sendo uma morte em si mesma ao destruir rapidamente tudo àquilo que foi criado nos rebeldes anos 50, nos loucos anos 60 e nos esquisitos anos 70 e enterrar uma geração que engatinhava na primeira metade dos anos 80 e que viram seus sonhos, anseios, valores e ideais rapidamente incorporados pela industria de consumo tanto quem em 1991 quando foi realizada a Segunda edição do Rock’n Rio a sua maior marca foi o consumismo e o capitalismo, tanto que o festival registrou a venda de 521 mil litros de refrigerantes, 88 mil pedaços de pizza, 130 mil hot-dogs, 152 mil sanduíches diversos, 18 mil camisetas e 17 mil CDs e fitas, isso só no oficial sem contar a pirataria e o que foi vendido extra oficialmente...e o grande exemplo de capitalismo está na imposição dos organizadores do evento para que o já lendário Legião Urbana que na época havia explodido com cerca de um milhão e meio de cópias vendidas fazer a abertura do show do cantor Prince, já decadente e que mal havia vendido 15 mil cópias no Brasil...eu me vi entre estes dois mundos, me sentia parte da geração de Águas Claras mas havia nascido na geração Rock’n Rio, chorei a morte da primeira e me frustrei com os passos da segunda até muitos anos depois encontrar meu próprio lugar... estes foram os meus dois Woodstock.
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