AIDS 40 ANOS – O QUE VI DA AIDS
A Aids chegou no início dos anos 90 no meu Município. E por ser Polo de Atenção à Saúde, Colatina iniciou não só o tratamento dos seus Munícipes como também dos municípios vizinhos.
Foi neste contexto que cheguei ao Programa Municipal de IST/Aids, que na época era apenas uma Comissão de pessoas envolvidas na causa: Médico, Bioquímico e Técnico de Laboratório.
As pessoas pereciam em menos de três meses; mal dava tempo de criar laços. O aumento contínuo de casos e necessidades essenciais por comida e teto tornava nosso dia a dia frenético na tentativa de ajudar o outro.
Contudo foi nessa época que comecei a me humanizar; era impossível não se envolver e de repente me vi envolvida: nos anseios de uma mãe que só queria ver, decentemente, o filho morto no caixão, o usuário que só queria um amigo para comer junto e conversar; o jovem que não queria mais viver, pela decepção de um amor HSH traído e que pude tornar seus últimos dias felizes; e os que viveram com medo ontem e que hoje vivem com alegria.
Na época, funcionária administrativa efetiva do Estado e cedida, pela Municipalização ao Município, absorvi, junto com uma colega da Regional, a necessidade de formar um Serviço onde as pessoas seriam acolhidas em suas necessidades, cadastradas, notificadas e encaminhadas, se necessário.
O Programa foi se fortalecendo através das parcerias; Unidades de Saúde, hospitais, entidades filantrópicas, funcionários e posteriormente usuários. O Hospital onde alguns médicos apenas olhavam os pacientes hoje se transformou num hospital de referência para HIV/Aids; testando seus usuários e descobrindo precocemente sua sorologia diminuindo drasticamente os óbitos por Aids.
A Aids não só modificou o cenário municipal de Atenção à Saúde como também a minha vida. Virei uma estudiosa no assunto, uma defensora da causa, o que resultou em 26(vinte e seis anos)...
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AIDS 40 ANOS – O QUE VI DA AIDS
A Aids chegou no início dos anos 90 no meu Município. E por ser Polo de Atenção à Saúde, Colatina iniciou não só o tratamento dos seus Munícipes como também dos municípios vizinhos.
Foi neste contexto que cheguei ao Programa Municipal de IST/Aids, que na época era apenas uma Comissão de pessoas envolvidas na causa: Médico, Bioquímico e Técnico de Laboratório.
As pessoas pereciam em menos de três meses; mal dava tempo de criar laços. O aumento contínuo de casos e necessidades essenciais por comida e teto tornava nosso dia a dia frenético na tentativa de ajudar o outro.
Contudo foi nessa época que comecei a me humanizar; era impossível não se envolver e de repente me vi envolvida: nos anseios de uma mãe que só queria ver, decentemente, o filho morto no caixão, o usuário que só queria um amigo para comer junto e conversar; o jovem que não queria mais viver, pela decepção de um amor HSH traído e que pude tornar seus últimos dias felizes; e os que viveram com medo ontem e que hoje vivem com alegria.
Na época, funcionária administrativa efetiva do Estado e cedida, pela Municipalização ao Município, absorvi, junto com uma colega da Regional, a necessidade de formar um Serviço onde as pessoas seriam acolhidas em suas necessidades, cadastradas, notificadas e encaminhadas, se necessário.
O Programa foi se fortalecendo através das parcerias; Unidades de Saúde, hospitais, entidades filantrópicas, funcionários e posteriormente usuários. O Hospital onde alguns médicos apenas olhavam os pacientes hoje se transformou num hospital de referência para HIV/Aids; testando seus usuários e descobrindo precocemente sua sorologia diminuindo drasticamente os óbitos por Aids.
A Aids não só modificou o cenário municipal de Atenção à Saúde como também a minha vida. Virei uma estudiosa no assunto, uma defensora da causa, o que resultou em 26(vinte e seis anos) trabalhando com HIV/Aids e 20(vinte anos) como Coordenadora do Programa Municipal de IST/Aids.
Ganhei um presente há 05(cinco) anos: minha neta nasceu em 01/12. As vezes penso que foi coincidência, penso também que tem fatos que ninguém explica; o parto era para ser em novembro… Contudo tinha que ser em um dia que eu jamais esquecerei; com a Maternidade naquele mês tendo a “saída de maternidade” na cor vermelho e ela nascendo sadia, uma princesa! Uma princesa, que virou uma guerreira, dias depois quando teve que lutar por sua vida(pela mãe ter realizado uma mamoplastia redutora, o que afetou sua capacidade de amamentar), o bebê teve desidratação. Mas, com a ajuda de “anjos” que Deus coloca entre nós, se recuperou e hoje é a nossa alegria.
E é com alegria que vivo cada dia, não mais como Coordenadora mas como pessoa que viu, ouviu e acreditou, no passado, que teríamos que tecer diariamente nossas esperanças em prol de um futuro cada vez melhor.
Se me perguntarem se um dia foi igual a outro, digo categoricamente não! Porque com a Aids aprendi a viver um dia de cada vez; a valorizar o ar que respiro e sobretudo a respeitar o santuário que está dentro de cada um.
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