Histórias de Alagados

A Coleção Histórias dos Alagados é fruto de uma pesquisa (https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-16082016-115100/pt-br.php) sobre o percurso formativo dos moradores do bairro do Uruguai em Salvador da Bahia. O Uruguai é um dos bairros pertencentes ao território conhecido como Alagados, cuja origem se deu a partir da ocupação da maré, com a construção de casas de palafitas por migrantes vindos, sobretudo, do interior da Bahia em busca de oportunidades, quando a região se tornou pólo industrial de Salvador, nos anos 30. Esse projeto acadêmico encontrou uma forte sinergia com a missão do Museu da Pessoa de tornar acessíveis histórias de vida, reconhecendo-as como patrimônio da humanidade. O material apresentado é um recorte com foco em relatos de experiências. Os depoimentos de Zezito, Hilda, Secundino, Nina, Eline, Helvécio, Arnaldo, Carminha, Eurídice e Eulália ilustram a tessitura de projetos pessoais e comunitários em meio a tantas violências. Por isso, dar visibilidade a essas pessoas tem um valor que ultrapassa o âmbito privado. São histórias de vida que ilustram a luta pela dignidade, o valor do encontro humano, a fé que dá sentido ao sofrimento, e o sentimento de pertença a um território construído com as próprias mãos. São histórias que colocam em evidência a nossa humanidade, tantas vezes abafada pelas urgências do cotidiano, e que se tornam para nós fonte de força vital e sinal de esperança. O projeto de dar visibilidade a esse material tão rico só pode ser concretizado à medida que se tornou comunitário. Foi a partir do encontro com a jovem cineasta Aline Lewinski, a quem não tenho palavras para agradecer, que ele ganhou forma. A intuição do valor dessas histórias e dessas pessoas para a sociedade nos uniu em torno desse sentido comum. A sensibilidade, determinação e persistência da Aline para tratar e editar um material que não havia sido produzido para esse fim e que, portanto, não tinha a qualidade necessária, foi fundamental. Por isso também, optamos por postar os trechos transcritos das falas, de modo que se possa acompanhar com mais clareza os depoimentos. Agradeço ainda ao Sr. Secundino Neres dos Santos, que me acompanhou em todas as entrevistas, ao João Miguel Lins dos Santos Castro, que contribuiu com o seu talento de fotógrafo e que foi incansável na intermediação da relação com os moradores, à Hilda Almeida, que foi uma interlocutora fundamental, e a todos os entrevistados e seus familiares que autorizaram essa publicação. Dedico em especial essa coleção àqueles que já se foram; que através dessas memórias, suas vidas continuem dando frutos: Eurídice, Helvécio, Carminha, Arnaldo e Nina. Suzana Filizola Brasiliense Carneiro